Português

quinta-feira, 9 de abril de 2020

Origem e significado de corona e vírus

     Frederico Lourenço revela, neste seu texto [corona-e-vírus-em-tempo-de-corona-vírus] a o3igem das duas palavras, bem como o seu significado primitivo, além do erro que consiste a sua junção numa só palavra.

«Duas palavras gregas (com roupagem latina) dominam a actualidade mundial. Se, por um lado, a formulação que ouvimos todos os dias («coronavírus») fere os meus ouvidos de helenista/latinista – pois como é que um substantivo («corōna») pode qualificar outro substantivo («vīrus»)? -, por outro lado tenho-me entretido com os pensamentos ziguezagueantes sobre estas duas palavras, suscitados pela sua repetição permanente. Sentado ontem ao balcão de um pequeno restaurante de Coimbra, enquanto o noticiário televisivo repetia em tons histéricos o nome «coronavírus», dei por mim a pensar como as palavras têm a sua história; e como as pessoas a quem o ensino actual nega a possibilidade de estudar Grego e Latim passam ao lado dessa história. Por via da herança grega e latina, palavras como «corōna» e «vīrus» têm uma história milenar, cuja viagem (pelo menos a reconstruível) começa com Homero e tem ponto de passagem no Novo Testamento.
À partida, quando olhamos para as palavras latinas «corōna» e «vīrus», diríamos que nada têm a ver uma com a outra: a primeira tem como sentido primário «grinalda», «coroa»; a segunda tem como sentido primário «veneno». No entanto, na utilização mais antiga que se conhece destas duas palavras, elas estão estranhamente ligadas por um denominador comum: o arco do qual se disparam flechas.
À imagem do arco está associada a palavra grega «korōnē» (donde deriva em latim «corōna») desde a Ilíada, poema em que o termo serve para designar a ponta do arco.
Por seu lado, a palavra latina «vīrus» é a forma itálica da palavra grega «īós» (que no tempo de Homero talvez ainda se pronunciasse «wīós»). Esta palavra «īós», antepassada da nossa palavra «vírus», é objecto de fascínio para os helenistas, porque tem três sentidos à primeira vista diferentes: «flecha»; «veneno»; «ferrugem».
Podemos questionar hoje se, linguisticamente, a etimologia de «īós» no sentido de «flecha» é a mesma de «īós» no sentido de «veneno» e «ferrugem»; mas os antigos não tinham essa consciência. Se perguntássemos a Homero a razão de as palavras para «flecha» e «veneno» serem homógrafas, ele responder-nos-ia certamente que, muitas vezes, as flechas são portadoras de veneno pelo facto de serem envenenadas. O arco do qual a primeira flecha da Ilíada é disparada (arco esse, justamente, cuja descrição no Canto 4 nos dá a primeira atestação da palavra «korōnē») é tacitamente suspeito de disparar flechas envenenadas.
Porquê? Porque o médico militar nesse canto da Ilíada, «quando viu a ferida, onde embatera a seta aguda, / chupou dela o sangue e, bom conhecedor, nela pôs fármacos / apaziguadores» (Ilíada 4.217-219).
Depois de Homero, «korōnē» e «īós» seguiram caminhos divergentes. No que diz respeito a «korōnē», há que referir a sua acepção ornitológica («corvo»), o que terá talvez conduzido à acepção de «coroa», quiçá inspirada pela crista de algum pássaro. No entanto, em grego a acepção de «coroa» é rara. Quando os soldados romanos tecem uma coroa de espinhos para pôr na cabeça de Jesus, a palavra grega é «stéphanos» (στέφανος); na Vulgata, no entanto, lemos «corōna».
Por seu lado, a palavra grega «īós» («veneno»), correspondente a «vīrus» em latim, está praticamente ausente do Novo Testamento, embora surja de modo curioso na Epístola de Tiago, onde a primeira ocorrência aponta para a acepção de «veneno» (Tiago 3:8) e a segunda para a acepção de «ferrugem» (5:2). Note-se que a conotação associada a «īós» em grego é quase sempre negativa; mas temos uma excepção curiosa na expressão para designar o mel, que Píndaro inventa num dos seus poemas: «veneno [īós] inofensivo das abelhas».
Também em latim, «vīrus» tem quase sempre uma conotação negativa; contudo, o poeta Estácio, no séc. I d.C., surpreende-nos ao referir um «vírus benigno» com propriedades medicinais, que pode ser colhido «nos campos dos Árabes» (Estácio, «Silvae», 1.4.104).
Que «vīrus» será esse em concreto? Estácio não nos diz. O facto de lhe chamar «benigno» leva a crer que será bem diferente do nosso coronavírus, que, fiel à história mais antiga das palavras que o compõem, tem percorrido em flecha o mundo inteiro.
Um último pensamento: vários autores romanos (Horácio, Plínio [tio], Marcial) aplicaram ao substantivo «vírus» o adjectivo «grave». Esperemos que este vírus que agora nos ocupa se reveja mais na sua identidade homérica de flecha… e que acabe por se tornar, já agora, como escreveu Píndaro, ἀμεμφής: inofensivo.».

Três retratos femininos em Os Maias

     Trata-se de um estudo muito interessante, focado em três das personagens do romance Os Maias: Maria Monforte, Maria Eduarda e a Condessa de Gouvarinho.

     A tese de mestrado pode ser encontrada aqui [três-retratos-femininos-os-maias].

A História na Inaudita Guerra da Avenida Gago Coutinho

     «N‟ “A Inaudita Guerra”, estabelece-se um diálogo conciliador entre a História e o Maravilhoso e ambos se conjugam para alertar sobre a necessidade de interrogar as raízes de um presente à deriva de valores e de certezas. Sendo o insólito o elemento estruturador dos seis contos que integram a obra, A Inaudita Guerra na Avenida Gago Coutinho, estes mantêm operativa uma combinatória de estratégias e de procedimentos técnico-discursivos, de forma a veicular uma moral que não se realiza dentro das expectativas do leitor. Subversivos e provocatórios, os contos têm em comum o facto de encenarem confrontos, onde o Bem é esmagado pelo Mal, funcionando, assim, como veículos de expressão e/ou contestação de ideologias.»

     Para aceder, clicar aqui [estudo].

Figurações do feminino em Frei Luís de Sousa

     «Como em outros textos de Garrett, existe em Frei Luís de Sousa uma ideia do feminino que se projecta no encontro entre uma ordem natural e social das coisas que a esse sexo diz respeito e a visão masculina da perturbação que pode advir da diferenciação feminina. Os lugares do feminino surgem disseminados pelo discurso e este ensaio procura apontar como isso acontece. O facto de género e sexo surgirem, em duas das figuras do drama, numa complexa relação que tentaremos explicitar constitui um curioso estímulo à releitura do drama de Garrett.»

     Para ter acesso ao estudo, basta clicar aqui [figurações-do-feminino].

Para uma leitura de Contos Exemplares

     «Há uma narrativa breve nos Contos Exemplares de Sophia de Mello Breyner que sempre me impressionou. Chama-se “Retrato de Mónica” e é uma sátira feroz da alta burguesia dominante sob a ditadura de Salazar. Como o regime da sátira não é habitual em Sophia, este conto coloca-se em manifesta dissonância em relação aos outros contos e à restante obra da autora.»

     O estudo pode ser encontrado aqui [contos-exemplares].

O significado de árvores, flores e frutos na poesia de Eugénio de Andrade

     «A obra de Eugénio de Andrade (1923-2005) é rica em alusões a diversas árvores, frutos, flores, e folhas de erva. Neste artigo, examino esta curiosa recorrência na poesia eugeniana, realçando: a) o significado simbólico e a ressonância mítica de certas plantas; b) a associação destes vegetais às idades do ser humano; c) a ligação intertextual com plantas mencionadas em obras de outros autores. O meu objectivo é provar que os elementos vegetais na obra do escritor português não só reflectem uma paixão telúrica, como também apresentam um significado endoliterário e exoliterário, e cultural.»

     O artigo pode ser encontrado aqui [árvores-flores-frutos-eugénio-de-andrade].

COVID-19: ponto de situação do dia 8 de abril


Uma leitura de A Inaudita Guerra da Avenida Gago Coutinho

     Neste trabalho, podemos encontrar uma proposta de leitura orientada do bem conhecido conto de Mário de Carvalho. Para ter acesso ao mesmo, basta clicar na ligação entre parênteses [leitura-orientada].

O Cavaleiro da Dinamarca : proposta didática

     Trata-se de uma proposta da autoria de Rosa Couto sobre a abordagem da obra de Sophia de Mello Breuner. O trabalho pode ser encontrado aqui: [proposta didática].

quarta-feira, 8 de abril de 2020

COVID-19 na Alemanha





     A Alemanha apresenta mais de 107 mil infetados pelo coronavírus e "apenas" 2016 mortes.

     O que poderá explicar este tão baixo número de vítimas do novo vírus? Bom, desde logo há que tomar nota de que há uma diferença entre morrer do coronavírus e morrer com coronavírus. Ou seja, uma pessoa com cancro que morra infetada pode ver a sua morte registada como sendo motivada pela sua situação oncológica.

     Assim sendo, nesta compatibilidade mórbida há que ter em conta os critérios usados pelos diferentes países.

COVID-19: ponto de situação do dia 7 de abril


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