domingo, 13 de dezembro de 2020
Resumo do capítulo X de A Guerra dos Tronos
quinta-feira, 10 de dezembro de 2020
A nostalgia da infância em Fernando Pessoa
A nostalgia da infância
. A nostalgia
constitui um conceito diferente da saudade (por exemplo, a saudade de alguém
ausente). O sentimento da nostalgia é a lembrança de uma felicidade longínqua e
aparentemente perdida, como se o passado fosse, por natureza, melhor do que o
presente.
. Por
outro lado, a infância é um motivo literário muito antigo e diretamente
associado a valores como a pureza do ser humano e a inocência que o estado
adulto já não permite. Encarada como uma espécie de paraíso perdido, a
infância provoca muitas vezes atitudes nostálgicas.
. A
decetividade que caracteriza o presente do eu lírico leva-o frequentemente
a manifestar-se nostálgico em relação à infância.
. O
tempo da infância, porém, é idealizado, sendo apresentado como um símbolo
da inconsciência, ingenuidade, inocência e felicidade (ou seja, uma época
dourada que se associa à ausência da dor de pensar) e do sonho
(isto é, do refúgio num mundo de fantasia que permite ao eu libertar-se
das amarras da realidade).
.
Insatisfeito com o presente e incapaz de o viver em plenitude, o eu
poético refugia-se numa infância idealizada, regra geral, desprovida de
experiência biográfica e submetida a um processo de intelectualização. De
facto, trata-se de uma nostalgia imaginada, intelectualmente trabalhada e
literariamente sentida.
. O
próprio eu tem consciência de que a infância é uma época idealizada,
visto que, na realidade, nem enquanto era criança ele parece ter sido feliz: “E
toda aquela infância / Que não tive me vem, / Numa onda de alegria / Que não
foi de ninguém” (poema “Quando as crianças brincam”).
.
Deste modo, a evocação da infância não passa de uma tentativa infrutífera de
evasão da melancolia do presente através de um passado que, porque
concebido apenas ilusoriamente como um paraíso perdido, acaba por não
permitir ao eu libertar-se da tristeza, do tédio e da angústia que o
atormentam.
. Para
Pessoa, a infância é o passado irremediavelmente perdido, o tempo
longínquo em que era feliz sem saber que o era, o tempo em que apenas
sentia, inconsciente daquilo que sentia, sem pensar. Era o tempo em que ainda
não procurava conhecer-se e, por isso, era um ser uno, não fragmentado em
diversos «eus».
. A
passagem da infância à idade adulta não é um processo evolutivo e
tranquilamente natural; pelo contrário, é um processo de rutura, de corte, de
morte: “A criança que fui vive ou morreu?”. Frequentemente, sente-se habitado
por «outro», diferente da criança que foi: “Sou outro? Veio um outro em mim
viver?”.
.
Assim, o passado e o presente opõem-se, não se complementam. O
passado – da infância – é alegria, felicidade inconsciente, enquanto o presente
é nostalgia, ânsia, desconhecimento de si mesmo e do futuro.
Sonho e realidade em Fernando Pessoa
Sonho e realidade
. Quando
falamos de sonho, podemos referir-nos a duas dimensões. Por um lado,
sonho, em sentido literal, refere-se à vivência, por alguém adormecido, “de
recordações ou de traumas que nesse mundo (chamado onírico) se manifestam, às
vezes de forma aparentemente incoerente ou até absurda.” Por outro lado, “o
sonho pode referir-se também ao chamado «sonhar acordado»”, ou seja, aos
projetos orientados para um futuro que há de vir. Nesse futuro, o que foi
sonhado (isto é, desejado) vem a realizar-se ou não.
. Pessoa
faz contrastar o sonho e a realidade. O eu lírico não encontra a
felicidade na realidade do quotidiano, porque é dominado pela frustração,
pelo vazio ou pelo tédio existencial. Então, idealiza o sonho,
onde acredita conseguir realizar-se e atingir a plenitude, a felicidade ou o
equilíbrio.
. Na
sua poesia, o mundo do sonho (o espaço onírico) não funciona como forma de
evasão ou escape, mas como um lugar onde o eu acredita que pode
recuperar uma experiência perdida (a da infância) ou ser o que não se é no
mundo “real”.
. O eu
sonhado não é uma outra pessoa; é, sim, uma outra faceta do eu lírico:
“Não sei se é sonho, se realidade”. O sujeito sente-se, pois, dividido entre o
que é “realmente” e o que desejava ser. Está simultaneamente presente nestes
dois mundos: nós somos, de facto, a realidade e sonho que sonhamos; ou, recorrendo
às palavras de Shakespeare, “Nós sonhos a matéria de que são feitos os sonhos”.
. Se,
na situação anterior, não há uma distinção clara entre o real e o onírico,
noutros caso o eu lírico crê que ele próprio se encontra na fronteira
entre estes dois mundos: “Entre mim e o que em mim / É o que eu me suponho /
[…] corre um rio sem fim”.
. No
sonho, o eu lírico começa por se imaginar outro, um eu
idealizado. Esse eu sonhado pode viver num outro espaço (uma ilha, um
país, um palácio) onde, num primeiro momento, tudo parece perfeito e ele acredita
ter encontrado a felicidade e a harmonia: “Ali, ali [na ilha do sonho] / A vida
é jovem e o amor sorri.”. No entanto, num segundo momento, após uma reflexão
mais atenta, o sujeito lírico constata que esse estado de perfeição é ilusório
e que o sonho não é solução para os problemas existenciais que o minam: “Ah,
nessa terra também, também / O mal não cessa, não dura o bem”.
. Assim
sendo, o sonho não resolve as insatisfações e as ansiedades do eu
lírico. Isso sucede porque o sonho é uma ilusão ou porque não é
resposta para os problemas que se geraram: o tédio, o vazio existencial, as
saudades da infância perdida.
. Por
outro lado, o sonho pode ser, muitas vezes, uma forma de evasão para um eu
poético que se sente prisioneiro no interior de si mesmo: “Quem me amarrou a
ser eu / Fez-me uma grande partida. // Debaixo deste amplo céu, / Nem tenho
vinda nem ida”.
. O
poeta “passou a sua vida” a pensar e a sonhar. De facto, autoanalisa-se,
recorrendo permanentemente ao pensamento, tentou iludir a vida através dos
sonhos, mas, porque se entregou intensamente ao pensamento e se virou para o
sonho, acabou por se separar do mundo e não atingiu a felicidade.
. Em
“Não sei se é sonho, se realidade”, o poeta manifesta a esperança de alcançar a
felicidade através do sonho, no entanto acaba por duvidar da possibilidade de
viver tal forma de felicidade. E conclui mesmo que é impossível vivenciar a
felicidade no sonho, pelo caráter efémero do bem e permanente do mal, o que
gera um grande desânimo e desilusão.
. No
final, o eu poético conclui que não é no sonho, de facto, que
podemos encontrar a felicidade, mas no íntimo, no interior de cada ser
humano.
. No
poema “Entre o sono e o sonho”, o eu poético apresenta-se dividido
entre aquilo que é, na realidade, e o que desejava ser no sonho.
O real é pautado pela inatividade e pela inércia, enquanto o mundo onírico se
caracteriza pela idealização, pelo que o eu desejaria ser. O «rio»
constitui, no poema, a fronteira que separa a realidade do sonho; enquanto
aquele flui, o eu está parado. Sempre que o eu se tenta aproximar
da realidade, o rio já passou, pelo que nunca é possível aproximar o eu
real do eu sonhado.
A dor de pensar em Fernando Pessoa
A dor de pensar
. O
pensamento permite ao homem ter consciência da sua existência (logo, na
perspetiva de Fernando Pessoa ortónimo, aqueles que pensam são superiores aos
inconscientes).
.
Contudo, o pensamento sistemático, a razão omnipresente provoca a dor de pensar
no eu, dor essa que decorre de uma tendência permanente para
refletir sobre a realidade e para intelectualizar as suas emoções
(terá sido mero acaso o facto de Pessoa, em “Autopsicografia”, ter selecionado
a dor como exemplo da sua teoria poética?).
. O
poeta tem consciência de que existe um enorme fosso entre aquilo que sente e o
que pensa que sente, ou seja, está consciente de que não consegue exprimir o
que realmente sente, o que gera nele angústia. Esta constatação leva-o a
desejar não pensar.
. A
dor de pensar – de ser lúcido – é a consequência da constante racionalização
das emoções, da análise, da abstração. A intelectualização excessiva causa
sofrimento, dor, angústia e frustração. De facto, o poeta sofre, porque é
incapaz de se libertar da razão / do pensamento permanente e omnipresente, que
o leva sistematicamente a refletir sobre a realidade e a intelectualizar as
suas emoções. Assim sendo, torna-se impossível desfrutar da sua vida e
vivências.
. O
poeta apresenta-se angustiado e abúlico, centrado sobre si mesmo, sofrendo a
dor de pensar, a distância entre o sonho e a realidade e, sobretudo,
dividido entre a inconsciência e a consciência, entre o sentir e o pensar, numa
tentativa de ultrapassar a infelicidade e a angústia geradas pelo pensamento.
. Para
ultrapassar a dor de pensar, o poeta deseja ser inconsciente e apenas sentir.
É o que sucede nos poemas “Ela canta, pobre ceifeira” e “Gato que brincas na
rua”, bem como em “A lavadeira no tanque”, nos quais ele exprime o desejo de
ser inconsciente como a ceifeira ou irracional como o gato, para, assim,
fugir à dor de pensar e ser feliz.
. No
entanto, o eu acredita que aquele que não pensa, que é
inconsciente, não pode ser verdadeiramente feliz, visto que não tem
consciência da sua suposta felicidade. Assim sendo, a tentativa do poeta de ser
libertar da dor de pensar acaba por redundar em fracasso.
. Em
“Ela canta, pobre ceifeira”, manifesta, de facto, o desejo de ser inconsciente
(como o gatou ou a ceifeira), mas tendo consciência disso. Porém, este desejo é
um paradoxo, é impossível de concretizar, o que mostra que é impossível libertar-se
da dor de pensar e, consequentemente, que a tentativa de alcançar a
felicidade é igualmente impossível de se concretizar. Com efeito, o poeta
aspira à vida instintiva e dirige-se à ceifeira, encantado pelo seu cantar,
exprimindo a aspiração impossível de ser conscientemente inconsciente.
. A
ceifeira e o gato são felizes, porque não pensam, enquanto o poeta não alcança
a felicidade porque é racional.
quarta-feira, 9 de dezembro de 2020
quarta-feira, 2 de dezembro de 2020
Na aula (XXXVII): uma questão de zeros
Aula de Português sobre Fernando Pessoa:
- Quem inventou o zero?
- Foi um senhor Zero.
Rafael M.
terça-feira, 1 de dezembro de 2020
A crise de 1383-1385
A peste negra em Portugal
Fim da Idade Média e o início dos tempos modernos
▪ grande recessão económica;
▪ guerras sucessivas flagelaram as
populações;
▪ alterações climáticas diminuíram a
produção agrícola;
▪ períodos de fomes cíclicas;
▪ grande instabilidade social: os
burgueses acusavam os senhores de saques, de cobrar taxas enormes e de lhes
fazer concorrência desleal no comércio; levantamentos populares, com os
burgueses a agruparem-se em reuniões para se defenderem das desvalorizações; a
«arraia miúda», cansada de tanta exploração, atacava os castelos;
▪ a pandemia de peste negra,
originada na Crimeia e que se espalhou pela Europa entre 1347 e 1350,
que terá causado a morte de um terço da população europeia – esta pandemia foi
a principal causa do caos que se viveu na Europa.