sábado, 17 de setembro de 2022
Análise do Capítulo I de Iracema
quinta-feira, 15 de setembro de 2022
Vida e obra de José de Alencar
A sua produção literária é vastíssima e insere-se em vários domínios: romance, poesia, história, teatro. Dentre as suas obras, destacam-se Cinco Minutos (1860), As Minas de Prata (1862), Diva (1864), Iracema (1865), O Gaúcho (1870), Senhora (1875), O Sertanejo (1875).
Foi um escritor que gerou muita polémica: uns julgam-no genial, magistral; outros fazem dele um secundário contador de patranhas de índios e vaqueiros. Uns elogiam o seu estilo e amor à "língua brasileira", outros irritam-se perante a exuberância das imagens. Se os comentários negativos são maus, os positivos correm o risco de o transformar num contador de histórias para adolescentes, o que tem criado a imagem de um romancista que não se pode levar a sério.
Mas, na verdade, Alencar está para a prosa romântica como G. Dias está para a poesia: é o mais importante ficcionista do Romantismo brasileiro, quer pela sua vasta obra, quer pela variedade dos temas versados e pelo estilo. É um marco na tradição literária brasileira e foi o primeiro escritor a devotar-se integralmente à sua obra, mesmo nos momentos em que era um político.
- uma fase primitiva ou aborígene, que são as lendas e mitos da terra selvagem e conquistada (ex.: Iracema);
- a segunda fase é histórica: representa o consórcio do povo com a terra americana (ex.: Guarani);
- a terceira fase começa com a independência política e espera escritores que formem o verdadeiro gosto nacional (ex.: Gaúcho).
Dentro do romance alencariano, podemos destacar alguns tipos:
terça-feira, 13 de setembro de 2022
O Romantismo no Brasil
segunda-feira, 12 de setembro de 2022
Análise de Macunaíma, de Mário de Andrade
Análise do poema "O Capoeira", de Oswald de Andrade
Análise do poema "Canto do regresso", de Oswald de Andrade
Por outro lado, a composição
constitui uma paródia de “Canção do Exílio”, da autoria de Gonçalves Dias, de
1843, uma paródia forte e profundamente crítica contra a alienação social,
marcada pelo humor. Dito de outra forma, estamos perante um diálogo entre um
modernista do século XX (Oswald de Andrade) e um romântico do século XIX
(Gonçalves Dias). O poema deste último, de cariz romântico, foi publicado na
obra Primeiros Cantos, de 1857, e apresenta um sujeito lírico que, distante
da sua terra natal, expressa a saudade da sua pátria através da lembrança da
fauna e da flora características do Brasil. O título é diferente; possuem
praticamente as mesmas palavras, mas, em vez de idealizar, ele exagera. Além
disso, ambos os textos abordam o nacionalismo ao citarem a saudade da terra
natal, paisagens brasileiras e riquezas do país.
A intenção de Oswald de Andrade ao
parodiar o poema de Gonçalves Dias passa por romper com as estruturas do
passado, fazer uma revisão crítica histórico e cultural e evidenciar uma nova
identidade brasileira, tudo características do Modernismo.
O tema da composição prende-se com o
nacionalismo, outro traço modernista, mas, apesar disso, o poema não deixa de
evidenciar os aspetos negativos que fizeram parte da história brasileira ao
mencionar o termo «palmares», que constitui uma alusão ao Quilombo dos
Palmares, símbolo da resistência à escravidão. De facto, ao referir-se-lhes, em
vez de «palmeiras», faz uma alusão a Zumbi dos Palmares, um escravo fugido,
símbolo da abolição, configurando, pois, uma referência crítica à escravidão no
Brasil. De forma sintética, a referida substituição vocabular não foi
aleatória, visto que «palmares” se refere ao local de resistência em que os
negros escravizados se refugiavam, liderados por Zumbi dos Palmares. Assim
sendo, este poema aponta para algo que é ignorado na poesia de Gonçalves Dias:
o período da escravatura, que marca a identidade nacional (do Brasil). Por
outro lado, quando o poeta usa o diminutivo «passarinhos», em vez de «aves»,
usado por Gonçalves Dias, rompe com a estética do Romantismo, uma forma de
aproximar a linguagem da forma mais simples e livre possível, característica do
Modernismo.
Oswald de Andrade joga, logo nos
versos iniciais, com os advérbios de lugar «aqui»/«lá», que sugere a distância
espacial que separa o «eu» da sua terra, sendo que, no caso deste poema, a sua
saudade é delimitada a São Paulo, à Rua 15, ao progresso de São Paulo. Ainda na
primeira estrofe regista-se a quebra do canto do sabiá, na palmeira. A “terra”
do «eu» “tem palmares”, onde quem gorjeia é o mar, facto geograficamente
correto. No terceiro verso, o sujeito poético refere o canto dos passarinhos,
desvinculando-os do espaço-referência da canção matriz (o sabiá a cantar na
palmeira).
A segunda estrofe gira em torno de
uma ideia nacionalista, visto que o «eu» relaciona as virtudes da sua terra (“mais
rosas, mais ouro, mais terra”).
A terceira estrofe é uma sequência
que confirma a ideia da anterior e nela o sujeito poético dirige uma súplica a
Deus: que não o deixe morrer sem voltar à sua terra (“Não permita Deus que eu
morra / Sem que volte para lá”). O último verso desta estrofe é retomado / repetido
no primeiro da quarta e, no seguinte, em sequência, o «eu» especifica e delimita
o «lá»: “Não permita Deus que eu morra / Sem que volte para lá”. Assim, a sua
terra é São Paulo e o que lhe causa saudade é a Rua 15 (“Sem que veja a Rua 15”),
símbolo do progresso e da pujança económica do Estado.
Este poema expressa a saudade da sua
terra, mas de modo menos idealizado do que os românticos faziam, já que, por
exemplo, os elementos naturais, muitos valorizados pelos poetas românticos,
como as “rosas” e os “passarinhos”, são referidos ao lado de elementos
característicos do século XX, época em que esta composição foi dada à estampa,
como a referência ao “progresso de São Paulo”, a qual sugere a ideia de um país
que se industrializava. Por outro lado, São Paulo sintetiza toda a pátria
brasileira.
Análise do "Manifesto Antropófago", de Oswald de Andrade
Este manifesto tem como vertentes a
recusa da importação literária e a ideia de uma poesia e literatura realmente
brasileiras: “olhar com olhos livres” foi a ideia que ficou como grande marca,
pois significa que não se deve seguir nenhuma escola, mas usar as coisas como
elas são. De facto, antes a cultura brasileira em geral limitava-se a
reproduzir o que era feito no estrangeiro; agora, este texto clama aos artistas
brasileiros por originalidade e criatividade, pretendendo celebrar o
multiculturalismo, a miscigenação.
A intenção passava por não negar a
cultura estrangeira, mas absorvê-la, processá-la e misturá-la com os elementos
da cultura brasileira, visando a promoção de uma independência cultural, a
partir da intertextualidade e do beber em diversas fontes.
O manifesto foi buscar a designação
ao grego «Anthropos» (antropo), termo que significava “homem” e que está
na origem de múltiplas palavras da língua portuguesa (antropologia, antropólogo,
etc.). Por seu turno, “fagia” (fago) advém do grego «phagein», que
queria dizer “comer”. Assim sendo, “antropófago” remete para a ideia de
canibalismo, que, no manifesto, ganha um sentido simbólico e metafórico. Logo
no início, o autor afirma o seguinte: “Só a antropofagia nos une.
Socialmente. Economicamente. Filosoficamente.” Ora, estas frases sintetizam
a ideia central do documento. Já no título encontrávamos uma palavra que remetia
para o mesmo campo semântico. Neste caso, a ideia é a de que a cultura
brasileira deve «comer», «deglutir» a cultura do «outro» (estrangeira) e
incorporá-la na brasileira, expandindo-se para outros setores: social,
económico e filosófico. Por outro lado, estamos na presença de outro dado
simbólico: o canibalismo do índio tinha como objetivo incorporar as
características positivas da sua vítima.
Em sentido semelhante vai a
apropriação adulterada de um extrato de Hamlet, peça de Shakespeare (“To
be or not to be”): «Tupi, or not tupi that is the question». Trata-se de
intertextualidade, da apropriação da cultura de outro povo para a adaptar à
realidade local. Por outro lado, estamos na presença de uma forma de homenagem
ao autor britânico e um gesto de criatividade ao proceder-se à reinterpretação
de uma frase clássica.
Por outro lado, o termo «manifesto»
remete para uma “declaração pública em que se expõem os motivos que levaram à
prática de certos atos que interessam a uma comunidade” ou para um “texto
programático de uma escola literária ou de um movimento literário” (in
Infopédia). Assim sendo, a escrita de um manifesto possui um viés político e
ideológico e visa a persuasão.
A ideia do manifesto surgiu quando
Tarsila do Amaral, casada com Oswald de Andrade, lhe deu como presente de
aniversário o quadro “Abaporu” (aba = homem; poru = que come), pintado em 1928.
Ao ver a pintura, o poeta Raul Bopp questionou Oswald: “Vamos fazer um
movimento em torno desse quadro?”