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sábado, 9 de agosto de 2025
Resumo do conto "Um lenço bordado"
Um pai e um filho aguardam, escondidos, a chegada de um veículo que transporta homens importantes, diferentes dos locais, para serem passados a salto para Espanha.
O trecho seguinte do texto - que oscila entre dois tempos, um passado e o presente - apresenta-nos o povo da localidade, envergando trajes de festa para receber uma ilustre personalidade que passará pela região.
O menino, curioso, observa as estrelas e conta paralelepípedos, até que acaba por adormecer. Ao ouvir um motor, o pai acorda-o, e ambos veem o táxi com os cinco passageiros, que descem e são rapidamente conduzidos para longe da estrada. O clima muda, anunciando uma tempestade que se aproxima, e todos se refugiam numa loja. Entre os recém-chegados conta-se um casal distinto. Durante a tempestade, o homem dialoga com a criança, explicando que se encontra em fuga, porque há pessoas que lhe querem mal por pensar diferente. Quando a chuva passa, o grupo parte, guiado pelo "passador", um contrabandista conhecedor das passagens fronteiriças e com contactos do outro lado da fronteira. O homem promete à criança regressar um dia para ajudar outras como ele e dá-lhe um lenço branco com duas letras encarnadas bordadas como lembrança.
O trecho final centra-se de novo no presente. Na estrada, a população aguarda, ansiosa, a comitiva. Quando finalmente chegam carros de luxo, um homem surge à janela de um deles e acena. Um jovem acerca-se dele e oferece-lhe um lenço branco com duas letras encarnadas bordadas, esclarecendo que o faz para que se lembrasse dele.
sexta-feira, 8 de agosto de 2025
Resumo do conto "No casino de Ledesma"
Este conto narra um episódio protagonizado por António, um contrabandista raiano português, em terras espanholas.
O texto inicia-se com a chegada de um guarda-civil à pousada onde António está a comer. A presença da polícia deixa-o inquieto e desconfiado. O sargento, depois de perguntar por ele ao estalajadeiro, aproxima-se da mesa e chama-o pelo nome, deixando-o atordoado e alarmado. Como poderia aquele homem saber quem ele era?
O guarda pergunta-lhe se é galego ou português, ao que António responde ser galego, procurando evitar problemas. O sargento tenta saber o que está ali a fazer. António responde que procura trabalho, porém a resposta não convence o polícia, que continua a insistir e lhe faz um aviso misterioso ("Si llevas café al casino, no lleves más de cinco kilos."), que indicia que foi denunciado e que os guardas conhecem as suas atividades de contrabando. O aviso tem toda a aparência de uma tentativa de proteção elada. António fica perplexo, mas finge normalidade, tentando recuperar o apetite enquanto o sargento desaparece por uma porta da estalagem.
À noite, cinco contrabandistas dirigem-se ao pátio do casino, onde entregam as suas cargas, presumivelmente de café. São recebidos por um funcionário, enquanto António, curioso, observa por uma pequena janela um homem a manusear notas sob vigilância armada, o que indicia a operação ilegal que ocorre no interior do casino. António tenta compreender o aviso que o sargento lhe fizera, enquanto observa outro homem que entra, fala com o funcionário e faz uma chamada telefónica. No pátio, cansados, os contrabandistas descansam e adormecem.
Um portão abre-se com estrondo. Um grupo de guardas entra no pátio, depois da filha do estalajadeiro os ter informado que chegou à cidade um grupo de portugueses suspeito de contrabando. Um sargento interrogara-a e descobrira que um deles se chama António e que traziam café. Embora a rapariga não soubesse o destino final da mercadoria, um vendedor afirmou que o café ia para o casino. O carabineiro reagiu com inquietação, percebendo que os portugueses estavam em risco. O sargento, embora angustiado pela sua origem portuguesa, reúne cinco homens e parte em direção ao casino, preparando-se para agir com firmeza, norteado pelo dever.
Os contrabandistas atravessam a ponte romana de Salamanca e encaminham-se para uma venda escondida numa ruela, na qual são recebidos por um homem que os reconhece lhes oferece sedas para contrabandear, em substituição do café. António aceita.
O conto termina com o protagonista a soprar três vezes o caldo antes de o comer, o que simboliza um breve momento de alívio antes de dar continuidade à vida arriscada do contrabando.
Resumo do conto "Quarenta e dois dias e quarenta e duas noites"
Um pai dá uma moeda de vinte e cinco tostões para comprar doces, aparentando normalidade, enquanto se prepara para partir, levado por homens num carro. Em Vilar Formoso, o subchefe informa-o que será levado para Coimbra e dá-lhe conselhos como se comportar aí.
Chegado à cidade dos estudantes, é brutalmente interrogado, sendo sujeito a tortura física, após a qual é conduzido para um calabouço subterrâneo, um local escuro onde passará quarenta e dois dias e quarenta e duas noites. O prisioneiro permanece em silêncio, tentando dormir. Passado algum tempo, é novamente retirado da cela e interrogado, mas continua a não responder, pelo que é acusado de se fazer passar por valente e é ameaçado com mais agressões. Cinco homens cercam-no e começam a espancá-lo intensamente, como se ele não passasse de um saco de pancada para pugilistas.
A descrição da violência que é exercida sobre ele é profundamente gráfica: o rosto incha, o sangue escorre, cambaleia, quase perde a consciência. Até dos ouvidos sai sangue. Mesmo sujeito a tão extrema violência, o protagonista resiste. Um dos cinco torturadores exige que confesse, ameaçando mesmo matá-lo, porém ele continua a insistir que não conhece os homens de que falam e que nada tem a ver com qualquer negociação ou conspiração. O espancamento só termina quando o chefe manda parar.
Alguns dias depois, é levando novamente à sala de interrogatório, onde se encontra outro detido. Perguntam-lhe se conhece o outro homem e a resposta é negativa. O interrogador volta-se então para o outro prisioneiro, repetindo a pergunta. Este, completamente debilitado por sucessivos espancamentos brutais, diz que conhece o protagonista e recorda-lhe os homens que passaram para Espanha, mas ele nega. Perante a continuação da negação dos factos que desejam que confesse, segue-se nova cena de violência, marcada por mais um espancamento, tão intenso que chega a perder a consciência.
Horas depois, desperta, com dificuldade para abrir os olhos e com o corpo coberto de equimoses e inchaços. Lentamente, tenta recuperar-se, levanta-se com esforço e vai para o chuveiro. Enquanto isso, os agentes torturadores observam-no secretamente por trás de um espelho falso. Quando se apercebem de que não toma banho, um deles confronta-o com agressividade, gritando que a água custa dinheiro e ameaça-o de que, se não se banhar, o matará. Mesmo perante esta ameaça, o protagonista não cede e responde que lhe é indiferente morrer naquele dia ou no seguinte.
Com o corpo entregue e o olhar perdido, parece ver uma nuvem negra de aves necrófagas, uma metáfora da aproximação da morte. Os agentes atiram-no para a tarimba e deixam-no aí. De seguida, entra num sono profundo e, no meio da escuridão, surge uma luz intensa. Uma figura angelical surge e aproxima-se dele. Toca-o e ele sente-se envolvido por uma sensação de felicidade celestial. De mãos dadas, partem juntos, simbolizando a sua morte e libertação espiritual. Sobre a tarimba, uma moeda de vinte e cinco tostões brilha e transforma-se em pó, o que simboliza a transitoriedade da vida e o valor efémero das coisas materiais perante a morte.
quarta-feira, 6 de agosto de 2025
Resumo do conto "Bento, o curandeiro"
O conto tem como personagem central Bento, um homem magro, de estatura média e aparência frágil, que vive num remoto povoado nas margens do rio Côa. Desde os sete anos, após o falecimento do pai, era pastor, pastoreando cabras na companhia de Lobato, o seu cão. Foi nesse ambiente de carência e solidão que cresceu, nunca tendo frequentado a catequese ou a escola.
A sua comunicação com os outros seres humanos era muito difícil, o que contrastava com o modo fácil como se entendia com os animais. Raramente sorria e tinha um olhar opaco e vazio, como se carregasse o peso do mundo nos olhos. Não obstante a sua forma de ser, Bento era, na realidade, um homem bondoso, sendo procurado por várias pessoas da aldeia e das redondezas, nomeadamente por quem sofria de doenças persistentes ou se sentia vítima de mau-olhado ou feitiçaria.
Este facto reforça a crença popular de que Bento possuía um dom, citando-se o exemplo de um menino que chorou três vezes dentro do ventre da mãe e, após ser curado pelo curandeiro, tal episódio foi percecionado como sinal do seu poder de adivinhação e cura. Alude-se ainda ao pormenor de Bento possuir uma cicatriz em forma de cruz no céu da boca desde bebé, após um episódio de alergia aftosa.
O narrador revela que conheceu o protagonista em 1949, ano em que a sua mãe, já sem saber o que fazer para tratar a doença, decidiu recorrer a Bento, por sugestão de uma prima. O padre Cristóbal, informado da situação, sugeriu que embebesse um ramo de oliveira em água benta e benzesse o filho. Se houvesse uma reação agressiva, era sinónimo de que a criança estava possuída ou sob o efeito de feitiçaria; se não, o problema seria físico, pelo que deveria consultar um médico. Apesar de algum ceticismo, a mãe acabou por o levar a Bento, após o que as febres passaram, mas, na véspera do Dia de Finados, à meia-noite, a criança afirma ter visto a silhueta de uma mulher aos pés da sua cama. Ti Maria do Rosário, uma vizinha, recomenda uma consulta com o curandeiro.
A mãe prepara o jumento e, ao amanhecer de uma terça-feira de 1949, partem rumo à aldeia onde Bento mora. No caminho, param numa igreja para se abastecer de água, prosseguindo depois para Castelo Bom. À sua chegada, encontram uma multidão de pessoas, muitas com galinhas, chouriças, morcelas e farinheiras, uma forma de pagamento ao curandeiro. Bento chega já de noite e começa a atender quem o quer consultar, enquanto a mãe e o filho se abrigam na cozinha. Já é bem tarde quando o casal que os antecedia é chamado. A mulher, exausta, adormece encostada à chaminé. Após a última consulta, o curandeiro declara-se esgotado, aconselha que pernoitem no palheiro e regressem na semana seguinte.
Aquando da segunda visita, Bento aparece novamente ao anoitecer. Quando chega a vez de atender o narrador, este sente uma dor no estômago e o coração começa a bater mais depressa, mostrando todo o seu nervosismo. Todavia, apesar da longa espera, o curandeiro não o chama, pois acaba por dar prioridade a um homem que aparenta estar possuído, retorcendo os olhos e espumando pela boca. O atendimento é muito demorado e, com o passar das horas, o narrador e a mãe adormecem de cansaço, enrolados no xaile junto à chaminé. Acabam por ser despertados por uma mulher que está de saída, porém já é muito tarde e não resta ninguém na cozinha. Bento, mais uma vez exausto, volta a não os atender e sugere de novo que pernoitem no palheiro e regressem na semana seguinte. A mãe do narrador revolta-se, acreditando que o curandeiro está a zombar deles por não levarem qualquer oferta como as outras pessoas.
Em seguida, o narrador relata que, a pedido da Ti Maria do Rosário, resolve finalmente perguntar à mulher que frequentemente vê aos pés da cama se ela é desta mundo ou do outro e o que deseja dele. Assim, na sexta-feira seguinte, o narrador aguarda a aparição para a questionar, contudo adormece sem querer. Quando desperta, sente um frio gélido no rosto e avista a mulher, silenciosa, aos pés da cama. Ele questiona-a, mas ela não responde. No dia seguinte, conta à mãe e à vizinha o episódio. Na noite desse dia, tem uma visão mais nítida: a figura é jovem, apresenta uma das faces em carne viva e um ferimento que se estende até o pescoço. Além disso, tem o ventre dilatado, como se esteja grávida, e tem uma mão sobre ele, enquanto chora silenciosamente.
Ao saber do sucedido, Ti Maria do Rosário diz que se trata de Cremilde, uma jovem do seu tempo que perdeu o primeiro filho, falecido ao nascer com o cordão umbilical enrolado no pescoço, e nunca mais conseguiu engravidar. A partir desse momento, enlouqueceu: passava os dias a lavar-sena ribeira, chorava, colhia ramos de giesta, amarrava-os ao ventre e voltava ao povoado com as mãos coladas à barriga e um sorriso desfigurado e perturbador. Um dia, ao adormecer, foi atacada por um lobo, que a matou, deixando o corpo esfacelado de cima a baixo. Na noite em que esta história é contada, regressa a febre do narrador, que começa a delirar, invocando o nome «Cremilde» repetidamente e descrevendo, em transe, o que aconteceu com o bebé.
Na manhã seguinte, a mãe pede à vizinha uma carroça, onde acomoda o filho com palha e uma manta, e os dois partem em direção à casa de Bento. Este chega ao entardecer, entrega as cabras à ordenha, lava as mãos com sabão de banha de porco como de costume e recebe o narrador e a mãe. No quarto, pede à criança que abra a boca e mostra à progenitora a cruz gravada no céu da boca do filho.
Três dias depois, Ti Maria do Rosário, aflita, pede ajuda à mãe do narrador, pois a sobrinha, Ermelinda, está prestes a dar à luz, mas o parto está complicado. Os dois vão até lá, e o narrador pede que todas as mulheres saiam do quarto e o deixem a sós com a parturiente. De seguida, lava as mãos e coloca-as sobre o ventre de Ermelinda, sem lhe tocar, tal como vira Bento fazer aquando da primeira tentativa de consulta. O rapaz sente o calor concentrar-se na ponta dos dedos e começa a fazer movimentos circulares, no sentido dos ponteiros do relógio. O calor aumenta, e o narrador transpira intensamente, enquanto uma sensação semelhante a um formigueiro toma conta do seu corpo. Ermelinda sente o bebé a rodar dentro do ventre, mudando para a posição de cabeça para baixo, pronto para nascer. As parteiras são chamadas e o parto corre normalmente.
Na noite anterior, Cremilde tinha aparecido ao narrador pela última vez: ela vagava pelo quarto, com as mãos sobre o ventre grávido, chorando em silêncio. Em determinado momento, deteve-se aos pés da cama, fez movimentos circulares com as mãos no sentido dos ponteiros do relógio, sorriu-lhe e desapareceu para sempre. No entanto, começou a ser visitado por outras figuras, que lhe revelam o que está por vir e o que deverá fazer. Uma dessas visitas é a de Bento, que lhe aparece em espírito e o informa de que o tempo do narrador chegou. Além disso, diz-lhe que, dentro de sete dias, será procurado por um jovem, que deverá atender somente quando o visitar pela terceira vez. Então, deverá confirmar se o jovem tem uma cruz no céu da boca, como ele mesmo tivera.
Após a morte de Bento, espalha-se a notícia de que há um novo homem, que mora numa pequena aldeia da raia, que faz bem às pessoas. Deste modo, as pessoas das redondezas começam a procurá-lo por causa das suas maleitas.
terça-feira, 5 de agosto de 2025
Resumo do conto "O burburinho"
O casal Maria e José seguia em silêncio através de um matagal espesso. Ele guiava um jumento, enquanto ela levava o filho recém-nascido ao colo. Ao chegarem a uma bifurcação, o animal parou subitamente, o que surpreendeu José, que tentou forçá-lo a seguir em frente, no entanto o jumento resistiu. O casal receou que se tratasse de algum perigo próximo, como, por exemplo, um lobo. Subitamente, um redemoinho (isto é, um burburinho de vento) surgiu na sua frente.
José, conhecedor das crenças populares da região, gritou a Maria que fizesse cruzes com os dedos, no entanto a mulher, preocupada sobretudo em proteger a criança que carregava, apenas conseguiu fechar os olhos. O fenómeno desapareceu rapidamente, o burro voltou a obedecer ao dono e o casal prosseguiu o seu caminho. Pouco depois, Maria sussurrou que se sentia mal. O companheiro tentou acalmá-la e encaminhou-se na direção de um casario próximo, onde sabiam existir uma pousada. Aí, foram acolhidos e levados para um espaço onde havia feno e Maria poderia descansar. José, exausto, permaneceu ao lado da esposa, medindo-lhe a febre com as mãos. Do andar de cima, chegaram-lhes vozes e passos misteriosos, aumentando o clima de mistério e inquietação.
De repente, uma voz convidou-os a subir e comer um caldinho. José aquiesceu e deparou-se com duas pessoas na cozinha: um mulher, ajoelhada junto à lareira, retirava uma panela do lume; um homem, sentado à mesa, servia vinho. Durante a refeição que se seguiu, o homem perguntou o que os levara até ali, e José respondeu que vendiam louça espanhola, vindos de Cidade Rodrigo. Após ter sido questionado sobre o motivo por que Maria não subira para comer, declarou que estava com febre. A mulher da casa insistiu com José que a chamasse.
Quando este regressou com a companheira e o bebé, encontrou uma vela acesa sobre a mesa e uma malga com água. A dona da casa pediu, então, que Maria se sentasse perto do lume e deu início a um ritual popular de cura: colocou o utensílio de cozinha no colo, verteu azeite e começou uma reza misteriosa, em voz baixa, com palavras ininteligíveis. Durante a oração, a misteriosa mulher realizou movimentos circulares com os antebraços sobre o peito de Maria, unindo água e azeite, num ritual que durou vários minutos.
Terminada a reza, a mulher aproximou a vela da malga e José pôde ver o seu conteúdo: a tigela estava cheia de bichos, mais de cem, todos de aspeto horripilante e nauseabundo.
Quanto ao título do conto, de acordo com a crença popular, «burburinhos» ou redemoinhos de vento eram tidos como obras de bruxas e possuíam poderes maléficos. Para se proteger, quem os avistasse deveria fazer cruzes com os dedos; caso contrário, poderia ser vítima de um bruxedo.
segunda-feira, 4 de agosto de 2025
Resumo do conto "Meia-lua ou a história do menino levado"
A estrutura do conto assemelha-se a uma reportagem, feita por alguém não identificado, que entrevista e grava conversas com diversas pessoas que testemunharam ou têm conhecimento do evento que vai ser narrado.
Certa noite de verão, a primeira pessoa entrevistada acorda a meio da mesma e apercebe-se de que o filho de três anos já não se encontra entre os pais, onde o tinham deitado. A família, por causa do calor e de vigiar as medas de trigo para não serem roubadas, pernoitara na eira.
O segmento seguinte do texto apresenta a visão de uma irmã do menino levado, que na época contava dez anos. Como consequência do que sucedera ao irmão, pensou no que acontecera durante vários dias e recusou-se a pernoitar fora de casa durante as semanas que se seguiram.
Segue-se a voz do povo, que ficou a conhecer a história ao serão do dia seguinte, quando as pessoas se reuniram na rua, pela fresca, depois da ceia. Essa voz dá conta do espanto geral pelo facto de quer os pais quer as outras pessoas que pernoitaram nas eiras não terem dado por nada.
O quarto segmento apresenta a versão de uma figura não identificada, alguém que estava nas eiras nessa noite e que participou na busca do desaparecido. O seu testemunho acrescenta um pormenor à história, caracterizada até agora por um grande mistério: a criança caminha quatrocentos metros sem se lembrar de o ter feito. Além disso, acrescenta que acordara nessa madrugada, incomodado com um zunido estranho nos ouvidos.
O segmento seguinte acrescenta novo dado: a criança, de apenas três anos, teve de saltar uma parede de um metro de altura. A voz que fala é a de um tio / uma tia do menino e aposta na crença popular: tinham sido as bruxas, que levam os bebés de noite, sem os pais se aperceberem, para fazerem bruxarias. Golpeavam-nos numa mão ou numa perna e enchiam um dedal de sangue para usarem nas encruzilhadas dos caminhos.
Através da figura seguinte, ficamos a saber que todas as vozes que foram ouvidas até aqui são testemunhos dados ao narrador, que os grava. Os acontecimentos tiveram lugar há mais de quarenta anos e que vai contar tudo o que sabe e que naquele tempo não contara nem à esposa por receio da PIDE. O fenómeno desenrolou-se na madrugada de 14 para 15 de julho de 1960, numa época em que se dedicava ao contrabando. Nessa madrugada, ao regressarem da sua atividade, foram surpreendidos pela polícia e cada um escapuliu-se por onde pôde. A testemunha voltou para trás, para casa. Depois de esconder a carga de contrabando, reparou num avião que, subitamente, parou e ficou a pairar no céu, emitindo uma luz mais intensa do que a das estrelas e que foi mudando de tonalidade e de forma. Enquanto prosseguia o trajeto para casa, viu surgir outra luz, esférica, de menor dimensão e totalmente branca. Depois de ter girado em torno da alaranjada, desceu e a personagem perdeu-a de vista.
Duas horas depois, voltou a avistar a luz branca, já que a alaranjada se conservava parada no céu. Escondeu-se atrás dos muros e foi-se aproximando da luz. Então, abriu-se uma portinhola e, da nave, saiu uma figura com forma humana, transportando uma criança nos braços. A figura dirigiu-se para a meda onde os pais da criança dormiam. Nesse momento, alguém tossiu dentre os que pernoitavam no local, enquanto a misteriosa entidade transpunha o referido muro. Pouco depois, as duas naves «encontraram-se», viu-se um relâmpago silencioso e as luzes desapareceram.
O testemunho final é novamente o do progenitor inicial, que começa por dar conta da aflição que o atingiu quando deu pelo desaparecimento do filho, receando que pudesse ter caído num dos muitos poços que havia por ali e morresse. Foram dar com ele no caminho do Linteiro, junto às alminhas, a noite da eira, a quatrocentos metros de distância de onde dormiam. Não possuía qualquer ferimento, à exceção de um pequeno golpe na perna esquerda, com a forma de um «C» invertido, uma espécie de meia-lua, que lhe deixou uma cicatriz. É então que o narrador lhe mostra uma sua cicatriz exatamente igual: "Mas... quem é o senhor?...".
domingo, 3 de agosto de 2025
Resumo do conto "Há coisas..."
O conto narra uma experiência inquietante vivida numa noite de verão. Acordado repentinamente em plena madrugada, o narrador sente um medo profundo e solidão, com o coração disparado e o quarto mergulhado num silêncio assustador.
Subitamente, ouve-se um ruído estranho e sem explicação aparente, que intensifica a sensação de medo, evocando memórias infantis de fantasmas e lendas noturnas. O temor é apontado como consequência do desconhecido e da possibilidade de que as histórias de fantasmas sejam reais. Apesar de tentar racionalizar a situação, atribuindo o barulho a uma brisa da madrugada, todavia o facto de a janela do quarto estar fechada deixa em aberto a dúvida e mantém o mistério e o clima de inquietação. De facto, «há coisas» inexplicáveis que nos cercam na solidão.
Quando ouve novamente o som, estremece: parece-lhe que unhas arranham a parede, perto do seu ouvido. Assustado, lembra-se de Bieito, uma personagem de um conto galego que foi enterrada viva por engano. De facto, o desgraçado acordou a caminho da sua derradeira morada e arranhou desesperadamente as tábuas do caixão. Um dos que carregavam o caixão pareceu ouvi-lo, mas, duvidoso, permaneceu calado. A lembrança aprofunda a sua sensação de pavor. Questiona-se então se os sons que escuta são reais ou fruto da sua imaginação. Quando mais sons sinistros ecoam no quarto, sente-se fisicamente afetado e quase cede à vontade de gritar por ajuda, mas hesita. Com efeito, recorda-se da história de Bieiro e o medo de parecer louco fá-lo ficar em silêncio.
De seguida, reflete sobre as possíveis consequências da sua reação, nomeadamente alarmar outras pessoas, não conseguir provar o que ouviu e descobrir, eventualmente, descobrir que nada havia. O medo do ridículo e do desconhecido mantém-se calado. No escuro, com os olhos abertos, sente-se indefeso no meio da escuridão. Senta-se na cama, sentindo um frio intenso e uma angústia profunda, como se algo invisível e ameaçador estivesse a seu lado.
O protagonista acende a luz e o medo dissipa-se de imediato. Observando o quarto, descobre que o motivo de medo do narrador é apenas um gafanhoto dourado, pousado na mesinha de cabeceira. Seguidamente, desfaz-se do intruso e começa a recuperar o sangue frio e a razão, refletindo sobre como medos tão intensos podem nascer de algo inofensivo. Superstições e crenças parecem-lhe agora ridículas.
No entanto, ao desligar a luz e retornar ao descanso, o narrador tenta convencer-se de que os medos e os fantasmas são um mero produto da mente. Porém, ao fechar os olhos, um sopro gélido acaricia-lhe o rosto, o que o faz ter a certeza inquietante de que não está só, reinstalando-se a dúvida de que algo não racional pode, de facto, estar presente.
sábado, 2 de agosto de 2025
Resumo do conto "A camisa de linho"
O conto "A camisa de linho" inicia-se de forma misteriosa, com um som suave de batidas à porta da casa de Jacinto, um viúvo solitário que vive isolado num casebre de granito desde que perdeu a esposa, Maria, despertando a sua curiosidade. Apesar do isolamento, Jacinto não sente a falta de companhia humana, pois conta com a presença constante do seu cão, Nero, que o acompanha fielmente e parece compreender-lhe os estados de alma, reagindo às emoções do dono, especialmente quando Jacinto se mostra triste ou pensativo.
Ao ouvir as batidas, Nero, que dormitava aos pés de Jacinto, acorda subitamente, alerta e começa a ladrar, sinalizando algo incomum. O homem levanta-se com algum esforço e vai até à porta, acompanhado do cão. Ao abrir a porta, não vê ninguém e imagina tratar-se de alguma travessura de criança. Contudo, quando se prepara para a fechar, nota que Nero tem o focinho enfiado num embrulho de papel estranho.
Jacinto apanha o embrulho deixado à porta e examina-o. Intrigado, sai à rua e observa em redor, mas não vê ninguém. Senta-se na ombreira, abre o objeto com um canivete e no interior encontra uma camisa de linho branca. Nesse instante, Nero começa a ladrar e corre na direção de algo suspeito. Pouco depois, surge uma galinha preta detrás de uma laje com musgo, cacarejando. O animal persegue-a, mas ela consegue escapar, desaparecendo no telhado de um celeiro abandonado.
Jacinto chama o cão, que regressa com relutância. Afaga-o e graceja, lembrando-se então do dito popular ("Nu sabes o que se diz das galinhas pretas?") sobre galinhas pretas, e percebe o significado da estranha entrega: aquela camisa de linho constituía um presságio ou possuía um sentido oculto.
Há muito tempo, numa madrugada, Jacinto regressava exausto a casa após uma dura jornada de contrabando. Cansado e faminto, separou-se dos companheiros ao chegar ao povoado e seguiu sozinho. Subitamente, deparou com uma mulher misteriosa, paralisada, como se tivesse criado raízes no chão, que lhe disse enigmaticamente: "Nu sabes o que se diz das galinhas pretas?!", como se se tratasse de uma cantiga memorizada. De seguida, implorou-lhe que a levasse para casa, prometendo-lhe uma camisa de linho e pedindo que não contasse a ninguém acerca do encontro. Confuso e sem entender o que se estava a passar, o homem acabou por ceder, movido pela aflição crescente dela e pelo amanhecer que se aproximava.
Jacinto levou a mulher até casa, onde ela lhe agradeceu e renovou a promessa feita. O velho nunca falou do episódio a ninguém e também jamais recebeu qualquer recompensa. Com o passar do tempo, o estranho acontecimento caiu no esquecimento, até àquele momento em que lhe bateram à porta e lhe deixaram tão estranho presente.
Arrastando o corpo cansado, Jacinto dirige-se à cozinha, senta-se junto à lareira e chama Nero. Em voz alta, reflete sobre o que aconteceu naquela madrugada, associando a misteriosa mulher à crença de que galinhas pretas são almas do diabo, bruxas transformadas que, se não regressarem a casa antes da meia-noite, perdem o feitiço e ficam paralisadas.
Jacinto observa por instantes a camisa de linho e lança-a ao lume. Nero deita-se aos seus pés e os dois contemplam em silêncio as chamas.
sexta-feira, 1 de agosto de 2025
Resumo do conto "A lenda das cruzes caiadas"
O conto fala do avô Tonho, que morou sozinho na sua casa durante quase meio século. Quando morreu, há mais de vinte anos, cortaram a eletricidade, trancaram a moradia, que se foi deteriorando com a passagem do tempo e o abandono, ficando cheio de poeira e humidade. Antes, a casa era vibrante, cheia de filhos (dez) e vida, o que contrasta com o presente, em que se encontra em ruínas, tomada pelos espíritos de quem nunca a deixou.
Quando o último filho saiu de casa e Tonho ficou sozinho, os aldeãos tentaram atemorizá-lo para que fosse viver com os filhos, porque estavam preocupados com ele, com o facto de viver sozinho,porém o avô sempre contestou que não havia lugar para si além daquela casa.
O tempo passou, o povoado foi ficando deserto e o avô Tonho foi ficando tristonho e, um dia, pintou uma cruz branca na porta da casa e aconselhou a vizinhança a fazer o mesmo. Três dias depois, o seu corpo foi encontrado à porta da casa de Ramiro, o bêbado, com uma cruz branca pintada no peito. De igual modo, todas as casas ostentavam uma cruz branca pintada nas portas.
Os herdeiros cortaram a luz e fecharam a casa, até que um dia de verão voltaram à residência e encontraram um caderno, oculto numa frinca da parede granítica: era o diário do avô. O livro continha histórias escritas pelo pinho do defunto, episódios da sua vida ou produto da sua imaginação..
Apenas uma das histórias o tinha protagonista: num dia de outono, perto do regato dos salgueiros, sentiu um sopro frio na cara. Pouco depois, começou a chover copiosamente e de repente instalou-se a escuridão. Desatou a correr para casa e, quando chegou a um vinhedo, ouviu vozes misteriosas. Recordou então um antiga lenda que dizia que a cada setenta anos, na noite de 31 de outubro, "demónios negros, nascidos das sombras, cercavam o povoado e sugavam as almas de quem não caiasse uma cruz na porta de casa". Por isso, mal chegou a casa, desatou a pintar cruzes nas portas das casas.
Análise da cantiga "Bispo, senhor, eu dou a Deus bom grado", de Estêvão da Guarda
Estamos
na presença de uma cantiga de escárnio e maldizer que aborda o conflito
sucessório entre D. Dinis e seu filho, D. Afonso IV, constituída por três sétimas
e uma finda de quatro versos, em cobras singulares. É, além disso, uma cantiga
de mestria (isto é, não tem refrão) e atafinda, em versos decassílabos e com rima
emparelhada e interpolada, segundo o esquema ABBACCA. As cantigas que
aludem ao assunto mencionado foram produzidas maioritariamente após a morte de
D. Dinis, na corte do seu filho bastardo, D. Pedro Afonso, o conde de Barcelos,
o que significa que constituem dos últimos testemunhos da lírica
galego-portuguesa. Além disso, convém ter sempre presente que os trovadores se
posicionaram apenas de um lado: o do rei-poeta.
O ciclo
a que nos estamos a referir conta com cinco cantigas de autoria de importantes
trovadores, como João de Gaia, Estêvão da Guarda e do próprio conde de
Barcelos. Os visados são pessoas que teriam tirado proveito do conflito e,
dessa forma, conseguido lugar de destaque na corte de D. Afonso IV, como é o
caso de Miguel Vivas, bispo eleito de Viseu, um clérigo provavelmente oriundo
de Lisboa e confessor da rainha D. Isabel de Aragão, tornando-se depois uma
importante figura da corte, a quem já acompanhava enquanto infante. Em 1325,
Miguel Vivas já desempenhava o cargo de clérigo; além disso, foi primeiro vedor
da chancelaria real, ocupando depois o cargo de chanceler, posições que ocupou
entre 1325 e 1338. As suas ligações privilegiadas com o monarca são atestadas
ainda pelo facto de o rei o ter escolhido para padrinho da sua filha, a infanta
Leonor. Paralelamente, foi acumulando um vasto número de canonicatos em várias
dioceses do reino, ascendendo depois ao cargo de bispo de Viseu em 1329 ou
1330, situações que provavelmente nunca se viu confirmada pelo papa, uma vez
que Miguel Vivas surge sempre designado como «eleito» de Viseu. Já antes de
subir a esta cátedra, tinha estado envolvido na questão da sucessão da diocese
do Porto, sendo o candidato preferido por Afonso IV, porém a sua candidatura
acabou por ser preterida pelo papa em favor de D. Vasco Martins em 1327. O
último ato público que dele é conhecido data de 1338, pelo que é possível que tenha
falecido pouco tempo depois. Na composição, Estêvão da Guarda retrata Miguel
Vivas como um bajulador do rei, sem qualidades virtuosas para realmente gozar
da sua privança.
Em
suma, o bispo Miguel Vivas oi confessor da rainha D. Isabel e manteve relações
estreitas com D. Afonso IV, quando este ainda era infante. Esses laços
aprofundaram-se durante os primeiros anos do reinado, tendo o clérigo passado a
ter uma série de privilégios de benefícios. Posteriormente e graças a essa
relação próxima, foi indicado para bispo de Viseu, embora não tenha assumido a
dignidade, pois o Papa João XII sustentava outro candidato, D. Vasco Mariz,
escolhido em 1327. São estes acontecimentos que justificam o tratamento que
Estêvão da Guarda lhe dá nesta cantiga: “eleito de Viseu”. Além disso, o
trovador faz assentar os eu texto na ironia e no duplo sentido entre a privança
de que o bispo gozava junto do rei e o facto de ter sido privado do benefício
(de ser bispo). Note-se, por outro lado, que o trovador não condena a privança
em si, pois ele mesmo ocupou um lugar de prestígio junto de D. Dinis, de quem
dizia ser “vassalo e criado”, uma proximidade que muito o beneficiou, pois
levou-o a ser um dos nobres mais importantes do reino. Após se ter posicionado
a favor do monarca no conflito sucessório, ao assumir o trono, D. Afonso IV
manteve-o como conselheiro para assuntos externos. Assim sendo, o ato de o rei
indicar um privado para uma dignidade de destaque, como uma diocese, não
configurava desvio só por si. A crítica de Estêvão da Guarda incide,
justamente, no caráter de Miguel Vivas que, se não fosse privado do rei, não
teria o «talam» para essa posição.
A
cantiga não apresenta refrão – cantiga de mestria – e é caracterizada pelo
recurso à “atehuda ata a finda”, em que as pausas sintáticas não são as mesmas
das pausas estruturadas pelas estrofes, prolongando a leitura do verso final de
uma estrofe para o primeiro da seguinte (enjambement) até o final da
cantiga. Isto permite ao trovador jogar com a ambiguidade do terno «privado»,
usando-o ora como nome, ora como particípio passado, prevalecendo este último.
Na
primeira estrofe, o trovador expõe a situação: agradece a Deus a «privança»
(confiança, intimidade) com o rei de que Miguel Vivas beneficia. Conhecendo o
seu caráter (“porque eu do vosso talam sei”), deseja que seja privado dessas benesses
e de tudo o mais (“e porque eu do vosso talam [caráter] sei / qual prol
[vantagem, proveito] da vossa privança terrei / rogo eu a Deus que sejades
privado / do [pre]bendo e de quant’ al havedes:”). Repare-se que, através do
recurso à atafinda, a mensagem da primeira estrofe prossegue na segunda, como
se pode constatar pela citação acima feita, que engloba o seu primeiro verso. O
«prebendo» era a renda do bispado. O trovador prossegue com a sua ironia: não
foi a honra pro altos feitos ou a sabedoria do bispo que o alçaram, tampouco a
fidelidade, mas o seu caráter bajulador, exemplificado pelo facto de fazer “sempre
quant’a ‘l-rei prouguer” (v. 9).
Os versos
subsequentes da segunda estrofe prosseguem a sátira dirigida ao bispo de Viseu,
que o rei deseja para seu privado: “pois que vos el por privad’assi quer”. De
seguida e depois de ironizar os altos feitos e a sabedoria de Miguel Vivas (“e
pois que vós altos feitos sabedes” – v. 11), o trovador afirma o seguinte: “e
quant’em sis’e em conselho jaz, / Varom, senhor, pois desto al rei praz” (vv.
12-13). Nestes versos, há uma repetição semântica na sequência “varão / senhor”,
que, se pensada como duplo vocativo, não oferece qualquer acréscimo sintático.
No entanto, se o nome «senhor» for apenas um vocativo, o nome «varão» pode
apontar para uma suposta inocência do rei por confiar na sensatez e nos
conselhos do clérigo.
Na
transição da segunda para a terceira estrofe, voltamos a encontrar a atafinda:
o trovador confia que o Papa o privará da nomeação, quando souber que o rei
confia mais nele do que noutro varão qualquer: “fio per Deus que privado seredes
/ per este Papa, quem duvidaria / que nom tiredes gram prol e gram bem / quand’
el souber que, pelo vosso sem, / el-rei de vós mais doutro varom fia”. Nestes versos,
por outro lado, o trovador enfatiza a falta de bom senso e a imaturidade do rei
ao confiar no bispo. Além disso, a terceira cobla continua a assentar no equívoco,
relativamente ao termo «privado», entre o valor substantivado (“sereis conselheiro”)
e de particípio passado (“sereis despojado”).
O
desfecho da cantiga, na finda, é taxativo: o trovador afirma que o bispo será
privado dos seus benefícios e da sua dignidade, tendo que pagar a “contia”
(quantia pré-estipulada paga aos funcionários nobres). O clímax da cantiga é
atingido, portanto, na finda, voltada para a realização da justiça: o bispo
deve pagar pela sua farsa, uma vez que o seu lugar de «privado» do rei é
resulta unicamente da bajulação e os seus conselhos não são ajuizados, visando
apenas o benefício próprio egoísta. A professora Graça Videira Lopes propõe uma
dupla leitura para a finda, a partir da forma verbal “exalcem”. Assim, a
catedrática afirma que os versos finais poderão significar “quem duvidará que
vo-lo elogiem grandemente” ou “quem duvidará que vos subam o pagamento” (devido
a este cargo, o benefício). Por outro lado, sustenta que Estêvão da Guarda
parece, nesta cantiga, felicitar Miguel Vivas pela sua nomeação para o cargo,
acrescentando que a composição joga com os dois sentidos da palavra «privado»
(nome e particípio passado): se lermos as estrofes encadeadas até à finda, é o
segundo sentido da palavra que sobressai.
Por
outro lado, a cantiga não se limita a denunciar o facto de o clérigo se
beneficiar da sua proximidade com o rei, pois também realça os danos que tal
benefício causam a terceiros. Com efeito, as falhas de caráter do bispo e o
desejo pelo poder prejudicam o reino em si ao revelarem a inocência do rei,
mas, na realidade, também prejudicam o trovador.
quarta-feira, 30 de julho de 2025
Análise do poema "Isto"
▪ Este
poema é uma espécie de esclarecimento em relação à questão do fingimento
poético enunciada em “Autopsicografia”: não há mentira no ato de criação
poética; o fingimento poético resulta da intelectualização do “sentir”, da
racionalização.
▪ De
facto, o poema tem todo o aspeto de ser uma resposta a possíveis reações à
teoria da criação poética expressa em “Autopsicografia”. Esta ideia é
confirmada pelos dois versos iniciais do poema: “Dizem que finjo ou minto /
Tudo que escrevo.”. O sujeito nulo indeterminado (“Dizem”) sugere
que houve reações (erradas e negativas) à sua teoria da criação poética
expandida naquele poema, às quais o «eu» responde com um claro e incisivo “Não”.
▪ De seguida,
apresenta o motivo por que “fingir” não significa “mentir”.
l Título
▪ O
título procura traduzir a ideia de que o poema constitui uma resposta, um
esclarecimento a uma dúvida surgida: é “Isto” que se pretende dizer. Note-se,
por outro lado, que o poema parece constituir uma realidade exterior e motivasse
o distanciamento necessário para o exercício da razão.
l Assunto:
tal como Autopsicografia, este poema
funciona como uma espécie de arte poética, na qual o poeta expõe o seu conceito
de poesia como intelectualização da emoção.
l Tema:
o fingimento poético.
l Estrutura
interna
• 1.ª parte (1.ª estrofe)
▪
Aparentemente, alguém indeterminado (“Dizem”) terá acusado o poeta de mentir: “Dizem
que finjo ou minto / Tudo que escrevo.”. De facto, o poema parece constituir
uma resposta a supostas críticas provenientes de possíveis interpretações de “Autopsicografia”.
▪ No
entanto, ele refuta essa acusação, afirmando que o ato de criação poética se
caracteriza pela sinceridade e espontaneidade (“simplesmente”),
pois sente “com a imaginação”. Quando escreve poesia, o poeta não mente; pelo
contrário, é sincero: ele usa a imaginação, a razão, intelectualiza as emoções
e os sentimentos e regista-os no poema através de um ato racional. Imaginar em
poesia não significa mentir, faltar à verdade. Fingir é sentir com a
imaginação, enquanto mentir é sentir apenas, usar unicamente o coração, os sentimentos
e emoções. Na perspetiva dos outros, há o fingimento como mentira, que se opõe
ao fingimento como resultado da articulação entre a imaginação e a emoção (esta
é a perspetiva do sujeito poético) – fingir não é mentir.
▪ As
emoções são a matéria-prima, a matéria poética que, só depois de
pensadas/imaginadas, se materializam em poesia, fruto de um trabalho
intelectual. Isto significa que estão aqui em confronto duas conceções opostas
no que diz respeito ao ato de escrever poesia: uma defende que o poeta se
confessa quando escreve; a outra defende que a poesia é um produto da
imaginação e da inteligência.
▪ Por
outro lado, reforça a ideia de que a criação poética implica apenas a emoção
intelectualizada, a que foi filtrada pela inteligência, ou seja, as
emoções/sensações são somente matéria poética “em bruto”, que devem ser, em
primeiro lugar, ficcionadas/imaginadas e só posteriormente materializadas no
poema.
▪ Quando
afirma que sente com a imaginação, está a associar duas faculdades humanas de
naturezas diferentes. As emoções que exprime no poema são o produto de um ato
racional: o de imaginar. É este o sentido da antítese presente nos versos
3 a 5: “Eu simplesmente sinto / Com a imaginação. / Não uso o coração”.
▪ Assim
sendo, o papel do coração e da imaginação no ato de criação poética é muito
claro: o coração é o ponto de partida para a imaginação, ou seja, o poeta parte
do que sente, mas recria o sentimento através da razão, afastando-se, desta
forma, do que inicialmente sentiu.
• 2.ª parte (2.ª estrofe)
▪ O
sujeito poético clarifica, neste passo do poema, a natureza do ofício do
poeta. Assim, este vive num mundo (“falha ou finda”) que o deixa
insatisfeito, mas tem consciência de que existe outro mundo, outra realidade
melhor (“linda”): é o mundo da poesia, de contornos idealistas.
▪ A
segunda estrofe assenta numa comparação, através da qual o sujeito
poético afirma que as emoções, sejam elas negativas – de frustração ou
insucesso (“o que falha ou finda) –, sejam positivas – os sonhos, as vivências,
os anseios, os insucessos –, ou seja, a realidade que vive e experiencia, constituem
um terraço, situado “Sobre outra cousa ainda”, mais bela, algo que considera
perfeito e que o fascina, que é a realidade imaginada, isto é, a poesia, o
produto da intelectualização dessas emoções (arte e a sua dimensão estética). O
terraço é a divisão que separa o plano da realidade (o mundo sensível) e o
plano da imaginação (mundo intelectual), é o patamar que encobre a beleza real
(existente no mundo intelectual).
▪ O
terraço, no fundo, é uma divisória entre o mundo físico e o mundo da realidade
perfeita que é a poesia. A comparação sugere que as emoções são idênticas a um
terraço, que se situa sobre uma “outra cousa” mais linda, ou seja, a escrita
poética. Esta realidade racionalizada – a intelectualização do sentimento –
encerra a beleza do ato de criação poética.
• 3.ª parte (3.ª estrofe)
▪ O
poeta escreve distanciado das emoções (“escrevo em meio / Do que não está ao pé”
– vv. 11-12), livre da dimensão sensível para encontrar a emoção estética. O
poeta trabalha, através da razão, as emoções expressas no poema e cabe ao
leitor senti-las. Escrever poesia é “imaginar”; sentir é tarefa que cabe ao
leitor.
▪ A
criação poética só se concretiza através do distanciamento da realidade emocional,
do “coração”, do “terraço” e do mundo material, e da libertação de todas as
perturbações emocionais (“Livre do meu enleio”), através do fingimento (“Sério
do que não é”).
▪ O
poeta situa-se entre (“em meio”) dois mundos – o da realidade física e o da
poesia – e deve libertar-se do que o rodeia para compor o poema. Desta forma,
pode ascender ao mundo das formas puras e belas, ou seja, ao mundo da poesia (versos
11 e 12). Ele sente essa necessidade de se afastar do que “está ao pé”, visto
que, sendo a escrita um ato artístico e solitário até, exige o recurso à
imaginação, sendo necessário afastar-se do que “está ao pé”, ou seja, das
sensações imediatas, dos sentimentos, pois estes enleiam, enganam.
▪ De
facto, para escrever poesia, o poeta deve afastar-se das aparências, das
imperfeições (“enleio”) da sua realidade e saber que este não é o mundo da
poesia, que é perfeito.
▪ No
verso final do poema (onde estão presentes a interrogação, a ironia
e a exclamação), o sujeito poético reforça a sua teoria: o
distanciamento do poeta relativamente ao coração, às emoções, no ato de
criação, pela intelectualização das sensações, introduzindo um novo
interveniente – o leitor –, a quem está reservado o papel de sentir as emoções
suscitadas pela leitura do poema.
▪ Este
verso, de certa forma, atribui um estatuto de inferioridade à figura do leitor,
comparativamente ao poeta. Por isso, ironicamente, afirma que o leitor se
limita a sentir, como se fosse incapaz de usar a razão. Este sentirá qualquer
coisa de completamente diferente do que o poeta sentiu. O poeta recusa a função
central do sentimento e da emoção no trabalho de criação poética. Por outro
lado, valorizam-se o efeito provocado no leitor e a importância da
interpretação do ato de leitura. Em suma, o poeta não sente, deixa
isso para os que leem, para quem não é poeta.
▪ Em
suma, nas palavras de Carlos Reis, “o poeta denuncia [no poema] um
erro: fingir ou mentir parecem designações sinónimas e capazes de
designar o ato de escrever poesia, mas não é assim. Trata-se de recusar
a emoção (“não uso o coração”) e de optar pela imaginação: é desta e
do fingimento que provêm a poesia e os heterónimos. A “outra coisa” (aquilo
de que a poesia fala) está distante do autor real e resulta da construção
fingida e comandada pela imaginação e não pelo sentimento; este,
quando muito, é próprio do leitor e da leitura que ele leva a cabo, mas não
interessa ao poeta, a não ser como fingimento.” (in Leituras Orientadas –
Fernando Pessoa).
l Papel
do leitor e do poeta na poesia
Ao poeta cabe criar, de forma
racional e artística, as emoções que expressará no poema, enquanto ao leitor
cabe sentir as emoções e vivê-las.
l Pessoa
verbal
▪ Em “Autopsicografia”,
é usada a 3.ª pessoa, dado que a teoria da criação poética expendida tem um
valor universal, pois aplica-se a todo e qualquer verdadeiro poeta.
▪ Em “Isto”,
é usada a 1.ª pessoa, visto que o «eu» poético se apresenta como um exemplo de
poeta, num tom confessional e intimista.
l Estrutura
formal
▪ Estrofes: 3 quintilhas
▪ Métrica: versos hexassilábicos
(Di | zem | que | fin | jo ou | min|)
▪ Rima:
- esquema rimático: ababb
- rima cruzada e
emparelhada
segunda-feira, 28 de julho de 2025
Resumo dos capítulos de O Malhadinhas
A função
do primeiro capítulo é apresentar a personagem principal é apresentar
a personagem principal, os seus interesses e motivações, iniciando-se com uma
reflexão do almocreve sobre o contraste entre o presente e o passado, contraste
esse que traduz o seu saudosismo, que perpassa toda a narrativa. No capítulo
inicial ainda, encontramos dois elementos muito importantes: o mulinho, a quem
o protagonista se refere sempre com carinho e que está ligado às peripécias mais
importantes da sua vida; Brízida, a figura que impulsiona os atos mais marcantes
da sua existência. Em suma, logo no primeiro capítulo, deparamos com os fios
condutores de várias ações: a saudade, o mulinho, Brízida, os dois rivais e tio
Agostinho.
O segundo capítulo gira
em torno da figura de Brízida que, como é a mola impulsionadora de vários atos
de almocreve, contribui para realçar a sua psicologia. O episódio central é a
luta com o de Santa Eulália. A presença em cena de Rita contribui para destacar
a figura de Brízida e para enfatizar a força motivadora que ela constitui para
o protagonista.
O terceiro capítulo centra-se
no rapto de Brízida: o Malhadinhas enamora-se da prima, porém, tendo dúvidas
acerca do amor da rapariga e confrontado com os avanços de um abade novo e
galã, rapta-a e foge pelos campos, em busca do padre amigo que os há de casar.
Foca igualmente a perseguição que sofre da parte de tio Agostinho e o triunfo
final do almocreve na luta contra as forças adversas.
Desflorada
a mulher, o quarto capítulo centra-se na relação conjugal entre os primos e
no esforço feito para se afirmar perante tio Agostinho, a quem não inspira
confiança. O protagonista esforça-se para mudar o seu comportamento, a sua
conduta, agora com o estatuto de homem casado. Sucede, no entanto, que essa
transformação não se concretiza. Por último, ficamos ainda a par dos episódios
em que intervêm o Capa-Cavalos de Sendim e o Bisagra a feira.
O capítulo cinco tem
como episódio central a rixa entre o almocreve Malhadas e o tenente da Cruz, da
qual sai vitorioso o protagonista. Este vê-se cercado por um grupo de homens
armados, liderados pelo tenente, com a intenção de o matar, por causa de
desentendimentos e rivalidades antigas. Malhadinhas enfrenta os adversários com
uma foice e traça um círculo no chão, desafiando quem o quiser atacar. No auge
da rixa, surge em cena Bernardo do Paço, uma figura simultaneamente respeitada
e temida na região, que intervém em defesa do almocreve. Assim, Bernardo
repreende o tenente e desmobiliza e Cruz é humilhado, enquanto Malhadinhas e Bernardo
selam a sua amizade na venda da Maria Bicha com vinho.
O sexto capítulo relata
dois episódios. O primeiro compreende a agressão violenta e pública de Bisagra
ao padre Antunes, quando o encontra com a sua esposa. O escândalo subsequente
tem como consequência a correção dos comportamentos dos envolvidos, e
Malhadinhas orgulha-se por ter, indiretamente, contribuído para isso com a sua
má língua. O outro episódio consiste na recordação de uma visita do
protagonista a casa de Duarte, durante a qual, após muita bebida, primeiro elogia
Joaquina, a mulher do amigo, e depois insulta violentamente, levando a que
Duarte finalmente se imponha na própria casa e «meta» a mulher na ordem. Deste
modo, o almocreve comprova a funcionalidade da língua enquanto meio para
«endireitar o mundo que andasse torto», desmascarando a hipocrisia e impondo
uma forma de justiça, seja provocando um escândalo conjugal seja restaurando a
autoridade de um amigo sobre a esposa.
O sétimo capítulo tem
como fulcro a aventura vivida com o almocreve Fontinha, a fuga, que determina o
abandono da profissão de almocreve. Durante uma confraternização com o regedor
e os cabos, acabam todos por se embriagar, e Malhadinhas, percebendo que
poderia ser preso por distúrbios e insultos, foge de Aveiro durante quatro
anos. Outro episódio refere-se à ajuda a Bernardo, o amigo que o salvara em
tempos de apuros (cap. V), que agora encontra em perigo, cercado por ciganos e
espanhóis. Os dois enfrentam juntos os inimigos e escapam com dificuldade do
aperto, mas o seu cavalo quase morre de exaustão. Para recuperar o prejuízo da
iminente perda do animal, finge que este ainda está saudável, enche odres de
vento simulando carga e acaba por o vender, enganando o comprador. O cavalo
acaba por “deitar a alma” «na primeira ladeira».
O capítulo oito tece
considerações acerca da relação do protagonista com Brízida e relata a vingança
sobre Bentinho, que lhe «desviou» a neta. De facto, depois de tecer comentários
sarcásticos sobre a sua numerosa descendência, Malhadinhas alude à desonra
causada por duas netas, nomeadamente Luísa, que foi seduzida por Bentinho, um
barbeiro e curandeiro charlatão. Inicialmente, o almocreve mostra-se tolerante,
acreditando que o namoro irá desaguar em casamento, no entanto muda de atitude
ao descobrir que Bentinho apenas se vangloriava da conquista e desonrava a
neta. Durante a festa de São sebastião, dominado pela raiva e pela vergonha,
decide vingar-se. Espera-o à saída e agride-o violentamente. De seguida, foge,
mas é encontrado pela guarda, que lhe diz que ninguém o condenará, visto que se
limitou a lavar a honra.
O penúltimo capítulo
descreve a aventura vivida na serra com o frade Joaquim das Sete Dores,
um homem corpulento, astuto e falador, que lhe pede boleia. Durante o percurso,
os dois conversam sobre a vidam a fé, superstições e mezinhas populares. O
frade, que tem fama de saber lidar com partos difíceis e proteger mulheres de
males no resguardo, dá a Malhadinhas três nóminas (amuletos religiosos),que ele
diz serem eficazes para proteger Brízida e os filhos. Desde então, a esposa do
protagonista nunca mais teve partos difíceis nem faltou leite para os filhos.
Este é um capítulo revelador: o almocreve conclui, no presente, a veracidade
das palavras do frade, ditas no passado, a propósito da sua profissão. Por
outro lado, este capítulo prepara o desfecho da narrativa. A saudade do passado
e do ofício acentua-se. O episódio na serra e a conversa com o frade constituem
um ponto de partida para a reflexão do presente, momento em que a ação se
conclui. Com efeito, é exatamente no momento em que corre perigo, em que
enfrenta a agressividade do clima e do espaço (o nevão na serra, o frio, a
ameaça dos lobos), que Malhadinhas faz o balanço da sua vida, das agruras do
seu ofício, o que motiva o comentário do frade, que lhe mostra como, em todos
os ofícios e situações, há ossos duros de roer. A agressividade do espaço está
em consonância com a agressividade do protagonista, que se vai moldando às
circunstâncias sociais e do espaço. O seu instinto de luta apura-se perante a
hostilidade do ambiente. Por último, este episódio vivido pelo almocreve vai
deixar marcas profundas nele: no futuro, já velho, recordá-lo-á, para dar razão
ao frade, assumindo-se então como um homem plenamente realizado que não renega
as duras vivências que lhe permitiriam afirmar-se como herói.
O capítulo X dá conta das preocupações de
Malhadinhas relativamente à vida após a morte, nomeadamente a preocupação com
esse momento, não por medo, mas por crença. O protagonista queixa-se dos
impostos absurdos cobrados por uma velha cavalgadura que mal valia os guizos de
um gato. Indignado com o «governo de ladrões», decide vender o cavalo e, com
esse negócio, encerra em definitivo o seu ofício de almocreve, confessando, porém,
profundas saudades desse tempo. Mais tarde, já idoso e doente, acredita estar
próximo da morte, por isso chama o padre, confessa-se, recebe o viático e pede
a Brízida para ver a espingarda que fora sua companheira de vida. Desconfiada,
a esposa recusa entregar-lha, o que se mostra uma atitude sensata, visto que a
intenção de Malhadinhas era disparar sobre ela e sobre si, movido pelo ciúme e
pelo medo de refazer a vida após a sua morte. Apesar dos maus presságios
(incluindo o barbeiro, que o dá por morto), todos ficam surpreendidos ao
assistirem à sua recuperação momentânea, no entanto, consciente da proximidade
do fim, sai pela última vez à rua, amparado no seu velho cajado. Senta-se num
poial de pedra e, sereno como um romeiro cansado, adormece de vez.
Análise de O Malhadinhas
I. Cronologia de Aquilino Ribeiro
II. Biografia de Aquilino Ribeiro
III. Obra de Aquilino Ribeiro
IV. Ação
1. Introdução
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