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sábado, 16 de agosto de 2025

Resumo do conto "Naquela tarde"

    O conto "Naquela tarde" retrata um momento de tensão e conflito ocorrido no interior de uma sala de aula. O professor Morgado entra nervoso, ciente de que será alvo de uma armadilha já aplicada por uma aluna a outros colegas, como Maria do Céu, que originara um escândalo e até dera origem a uma intervenção policial. A estratégia da estudante é acusar o professor de bullying, um plano premeditado pra o incriminar, e, ao sair da sala, acionar os pais e as autoridades.
    De facto, a intenção é acusá-lo de «ostracização», ou seja, de a isolar intencionalmente, impedindo que se integre na turma, quando, na verdade, é a própria aluna quem se senta numa carteira, sozinha, e se isola dos demais. De seguida, ameaça sair da sala e acionar os pais e a polícia. No entanto, nessa tarde, o professor Morgado reage à situação de forma inusitada: não cede ao medo, corre para a porta da sala e impede a saída da aluna. Contactado por esta, o pai, retratado como um «Golias», desloca-se à escola, furioso. Todavia, o professor adota uma atitude firma, não se intimida e resiste às ameaças.
    A atitude do docente traz-lhe e aos restantes alunos uma sensação inédita de vitória e esperança, em contraste com a sucessão de derrotas e desistências que vinham marcando professores daquela turma.

Resumo do conto "A profecia de Daniel"

    O texto abre com a localização da ação num dia frio e agreste. Uma família está reunida à volta da lareira, enquanto Tia Tê Judite comenta que aquele é um dia bárbaro. A conversa deriva, de seguida, para reflexões sobre o fim do mundo, com a velha a afirmar, baseando-se na Bíblia, que ele acabará em fogo. É então que Susana recorda a figura de Daniel Manquinho, um coveiro solitário, manco e temido pelas crianças.
    O homem tinha sido encontrado morto, sentado, enlameado, com a picareta no colo e um sorriso nos lábios, já em estado de decomposição, pois falecera há três dias. Antes de morrer, tinha cavado a própria sepultura junto ao casebre onde vivera, perto do cemitério. A família comenta sua vida triste: órfão desde os 14 anos, tornara-se coveiro para conseguir sobreviver. Esse ofício, apesar de macabro, dava-lhe um prazer secreto a morte das pessoas, visto que isso lhe trazia trabalho e dinheiro, algo que o fazia sentir-se importante.
    Enquanto a tempestade se faz sentir no exterior, um clarão corta o céu e um trovão sacode a terra. Ezequiel conclui que cada dia constitui o fim do mundo para alguém. Aquele dia fora-o para o velho Daniel, que morrera sozinho, sem companhia, como vivera.

Resumo do conto "História de um presépio"

    No primeiro dia das férias de Natal, as crianças saem cedo de casa, ainda com o nevoeiro a pairar, bem agasalhados com botas, gorros e luvas, transportando um machado, para procurar o pinheiro perfeito no pinhal mais próximo. Eles examinam diversas árvores: umas são muito grandes, outras pequenas, feias ou pouco atraentes. Finalmente, optam por um pequeno pinheiro e cortado com um misto de pena e determinação.
    De regresso a casa, a árvore é colocada dentro de um balde com pedras, perto da chaminé. De seguida, descem até o vale em busca de musgo abundante e viçoso para revestir o presépio, que arrancam com as mãos frias e cheias de caruma. Por vezes, levam também uma cavaca, que será usada para formar a gruta do presépio.
    Com jornais estendidos no chão, caixas para nivelar e o pinheiro firme no balde, as crianças começam a montar o pinheiro. O musgo cobre o chão, as caixas são preenchidas, trilhos são desenhados com farinha (o mesmo ingrediente usado para confecionar as filhós natalícias) e cancelas feitas de cana são espetadas o musgo. A construção é povoada com as escassas figuras que possuem: o Menino Jesus na gruta, junto do burro e da vaca, São José e Nossa Senhora, os Reis Magos e um pastor com o seu borrego. A promessa da mãe de comprar mais imagens nunca se concretiza.
    O pinheiro é decorado ainda com uma estrela feita de papel de prata no topo, fitas delicadas acumuladas ao longo dos anos, além de mais alguns ornamentos simples. Por outro lado, usam algodão para simular neve e espalham-no pelo presépio. Na noite de Natal, colocam um sapatinho junto à chaminé, esperando encontrá-lo cheio de presentes na manhã seguinte. Mesmo antes de dormir, as crianças são surpreendidas pela neve a cair no exterior da casa.

Resumo do conto "Vida de uma vida"

    O conto acompanha Zé Gonçalves, um homem de 97 anos. Numa tarde tranquila, encontramo-lo a refletir sobre o passado. Apesar da idade avançada, conserva o olhar vivo e uma sensibilidade que evidencia a profundidade das suas experiências. A sua existência foi marcada pelo trabalho árduo, cultivando a terra e cuidando das vacas para garantir o sustento da família. Além disso, enfrentou momentos terríveis, como a morte de dois filhos durante o parto, o que deixou marcas profundas na sua alma, que ele carregou com resignação e força.
    Em determinada fase da sua vida, por ordem da junta de freguesia, começa a trabalhar na recuperação do caminho da ribeira, mas é interpelado e confrontado por Ti António Jarro, um homem com fome de conflito que ninguém compreende. A tensão entre os dois cresce, até que, numa disputa violenta, Zé Gonçalves mata o oponente em legítima defesa. Ele é preso, mas acaba por ser absolvido cinco meses depois.

Resumo do conto "Do lado de lá do mar"

    O conto narra a experiência intensa e sensorial de um soldado português envolvido na guerra do Ultramar. A narrativa tem início com uma evocação poética do mar, das ondas e do cheiro a sal, sugerindo a travessia física e emocional.
    No momento de mais intensidade, o protagonista participa numa operação militar, atravessando um rio em silêncio antes de ser envolvido numa explosão de violência: tiros, fogo, correria, confusão, tudo um cenário de brutalidade.
    O texto finaliza com o herói ferido mortalmente, atingido no peito, evocando a imagem do "dormeur du val", uma referência a um poema de Rimbaud. Mesmo a caminho do último suspiro, há uma busca de beleza e transcendência, ao olhar para o céu e procurar a constelação da Ursa Maior. A narrativa termina com uma nota de ternura e aceitação: "Dorme, menino, dorme."

Resumo do conto "Aniversário"

    O conto apresente a reflexão de uma mulher de 89 anos que, no final de uma tarde de outono, se senta à janela e contempla o mundo à sua volta, enquanto rememora o tempo da infância, nomeadamente os tempos em que frequentava a então escola primária, hoje encerrada e sem o barulho contagiante das crianças.
    Ao longo da narrativa, compara o seu corpo envelhecido (as mãos rugosas, a pele seca, os cabelos grisalhos) com a memória da menina que foi outrora. Apesar da idade bem avançada, os seus olhos mantêm o brilho e a vitalidade de outrora. Viúva há muitos anos, veste-se de preto como todas as viúvas da sua terra, todavia sente grande aversão por essa cor, que associa à tristeza e à morte. Recorda o marido com carinho, imaginando-o a trabalhar no jardim como quando estava vivo, e pensa na própria morte com serenidade, sem o medo que sentira quando era mais nova. Reflete também sobre o sentido de continuar a viver e considera a possibilidade de transmitir histórias e experiências aos mais jovens, embora lamente que poucos a queiram ouvir.

quarta-feira, 13 de agosto de 2025

Resumo do conto "O Eremita"

    O conto "O Eremita" narra a odisseia de um professor, conhecido comumente por Toninho, diminutivo de António, que decide abandonar a profissão e a vida agitada para viver isolado no meio dos montes, procurando uma existência mais autêntica. Deste modo, instala-se num pequeno casebre que herdara e que reconstruíra, com a ajuda da comunidade, e passa a levar uma vida simples, criando alguns animais e deslocando-se periodicamente à aldeia.
    Um jornalista,  curioso com a notícia da mudança radical de vida do ex-professor, vai ao seu encontro, guiado por Ti Augusto, um habitante local. No entanto, ao chegarem junto do casebre reconstruído, não encontram Toninho. Curioso, o jornalista decide espreitar o interior da habitação. E cima da mesa, encontra uma edição de D. Quixote aberta numa página onde se destaca uma citação sobre a liberdade, o que esclarece o motivo e o sentido da escolha do antigo professor.
    O conto termina com o jornalista e Ti Augusto deixando o local, acompanhados pelo som distante de Platão, o mastim fiel que acompanhava sempre o «eremita». O primeiro pede ao segundo que lhe conte histórias de contrabando, parecendo considerar que a narrativa em torno da opção de Toninho não teria o impacto esperado. Afinal, em vez de uma história fabulosa com um desenvolvimento do arco da velha, encontrou «apenas» uma história de liberdade. 

Resumo do conto "No limiar da vida"

    Um homem entra num café, senta-se sozinho e começa a folhear um jornal de trás para a frente, observando casualmente o ambiente e uma empregada apressada. Enquanto lê o periódico, depara com um texto sobre o escritor José Cardoso Pires.
    Noutra página de jornal, encontra fotografias a preto e branco, e uma delas desperta a sua atenção em particular: ele reconhece nela uma mulher que conheceu, o seu rosto, o olhar, o sorriso e até o perfume. Essa imagem desperta-lhe memórias da juventude, como, por exemplo, a primeira vez que a viu de minissaia, o primeiro "olá", o primeiro sorriso. A emoção que essas recordações lhe trazem é tão intensa que lágrimas escorrem pela face e caem sobre a página, borrando a fotografia.
    A empregada passa novamente perto de si e o homem descobre uma semelhança desconcertante entre ela e a figura da fotografia, incluindo o perfume. Ao regressar à leitura do jornal, encontra na secção de "fait-divers" uma notícia sobre um fotógrafo que, na sequência de um acidente rodoviário ocorrido há três anos, permanecia em estado vegetativo, sendo a esposa a única sobrevivente ilesa. O homem compreende então que a mulher da notícia era a da fotografia e que ele mesmo era o fotógrafo.
    Voltando à página da necrologia, vê que a imagem da figura feminina tinha desaparecido. De seguida, sorri, dá a mão à mulher que sempre estivera ali e acorda.

Resumo do conto "O caçador"

    A narrativa acompanha João durante uma caçada, sempre cauteloso, atento ao ambiente e seguindo o cão Farrusco, que fareja o rasto de uma presa. Em determinado momento, o animal indica a presença de uma lebre, todavia o protagonista recorda um episódio anterior em que falhou dois tiros, algo incomum para ele, tido como um excelente atirador. Ti Ventura demonstra toda a sua incredulidade por João ter deixado a lebre escapar nessa ocasião.
    Ele explica que falhara o primeiro tiro para não atingir o cão, que cruzava a linha de fogo no momento em que se preparava para disparar. Ti Ventura, satisfeito com a explicação, reconhece que o caçador não erraria de outra forma.
    Regressando à caçada presente, João aproxima-se silenciosamente, posiciona-se e, num momento preciso, surgem duas lebres em simultâneo. Ele dispara rapidamente dois tiros quase simultâneos, abatendo ambas. O conto encerra com Farrusco alcançando os animais já imóveis, confirmando o êxito do caçador.

Resumo do conto "Perseguição"

    O título do conto retrata a sua ação: a fuga de um contrabandista durante a noite, envolta num ambiente de tensão e mistério.
    O texto abre com a descrição do grupo movimentando-se como sombras, silenciosas e cautelosas, até o amanhecer. Dada a atividade a que se dedicam, a luz do dia é vista como inimiga. Em determinado momento, o grupo é surpreendido por um ruído suspeito, um reflexo da presença nas imediações de um guarda civil, um carabineiro. A perseguição inicia-se: o contrabandista corre pelos campos e procura esconder-se, passando despercebido entre trabalhadores rurais.
    Durante a espécie de caçada, ocorrem diálogos tensos em português e espanhol, o guarda ordena-lhe que o contrabandista largue a carga e se entregue. Perante a sua resistência e obstinação, são disparadas rajadas de metralhadora e um cão que acompanha os policiais ataca-o ferozmente, até ser controlado pelo dono. Mesmo acossado desta maneira, o contrabandista consegue criara distrações, atravessar a fronteira e manter distância dos perseguidores, até chegar junto de um povoado e, numa jogada astuta, grita por ajuda aos guardas-fiscais portugueses, confundindo os carabineiros. Estes, surpreendidos pela atitude e sem a compreender, ficam a pensar no caso, enquanto o contrabandista desaparece.
    O final do texto retoma o seu início: há quem diga que se transformou em fantasma, desaparecendo sem deixar rasto, e que os carabineiros sentiram um silêncio ameaçador, como o voo de um dragão invisível prestes a roubar-lhes a alma e a identidade.

domingo, 10 de agosto de 2025

A expulsão contemporânea do Paraíso

Mohr


    O cartune de Burkhard Mohr, intitulado Expulsion from paradise (publicado a 5 de agosto de 2025), funciona como uma alegoria sobre a catástrofe ambiental contemporânea e a insuficiência das respostas políticas para o problema. Numa primeira apreciação, vemos as figuras bíblicas de Adão e Eva, nuas e enquadradas no contexto da iconografia clássica, viajando numa jangada minúscula que ainda sustenta uma árvore verde. No lado oposto, irrompe uma massa avassaladora de detritos, uma onda onde a palavra PLASTIC (plástico) se impõe em letras maiúsculas e onde um documento intitulado AGREEMENT (Acordo) é engolido e rasgado. A referência bíblica estabelece de imediato um enquadramento moral e mítico (queda, perda do paraíso), enquanto os objetos quotidianos que compõem a onda, concretamente os copos, as garrafas, os talheres e os sacos, mostram que o “pecado” moderno não é metafísico, mas material e social.
    A jangada é desenhada com traço firme mas económico; ela é frágil, feita de troncos, e a árvore é pequena, o que sugere que o “paraíso” remanescente é mínimo e vulnerável. Em contraste, a massa de plástico é desenhada com maior densidade de sinais: traços soltos, rasgos, objetos reconhecíveis sobrepostos, uma coloração que mistura amarelo e verde doentio, e até um núcleo quase negro, um buraco voraz que confere à onda uma qualidade de máquina devoradora. A tipografia manual de PLASTIC, dispersa no interior da massa, converte o material em força discursiva; não se trata apenas de lixo, mas de um sujeito-agente que age sobre o mundo.
    Da boca de Adão sai um balão que contém uma fala sua: “The apple tasted good anyway!”. Ela constitui simultaneamente uma ironia e uma crítica mordaz: ironia, porque reduz o drama à satisfação imediata; crítica, porque salienta a lógica que sustenta a crise, isto é, o prazer momentâneo, o consumo imediato, a dissonância cognitiva perante consequências coletivas. Ao remeter explicitamente para o fruto que originou a expulsão bíblica, a frase transforma o plástico numa espécie de novo “fruto proibido”: agradável, conveniente, mas letal a longo prazo. Há aqui uma crítica dupla: ao indivíduo hedonista que prefere o prazer imediato e aos sistemas que transformam esse prazer em hábito de massa (indústria do descartável, publicidade, infraestruturas que normalizam o uso único).
    A folha de papel contendo a palavra “AGREEMENT”, presa à onda prenhe de lixo por uma espécie de pionés, configura uma denúncia do consumismo, bem como da forma como as pessoas poluem o ambiente. Por outro lado, a inscrição do cartune no contexto de uma conferência da ONU realizada em Genebra sobre a poluição por plástico, explicitada na legenda, convida o leitor a ver o acordo como algo que existe, se negoceia, porém, na prática, é impotente diante do comportamento quotidiano das pessoas. A imagem sugere que os compromissos são frágeis, ou seja, não passam de pedaços de papel arrastados por lógica económica que os supera. Além disso, a hiperbolização do tamanho da onda face à pequenez humana dramatiza a assimetria de poder entre sistemas (indústrias, cadeias de consumo, ecossistemas) e indivíduos. Outra leitura crítica possível gira em torno de um certo fatalismo. A imagem da onda inexorável e a folha do AGREEMENT a ser arrastada podem gerar uma sensação de desesperança: se até os acordos se rasgam, que eficácia cabe à ação política?
    Em suma, Expulsion from paradise é um cartune que condensa uma denúncia complexa em imagens nítidas e memoráveis: converte o plástico em personagem e em agente destruidor, transforma acordos em papel inútil e usa o mito de Adão e Eva para sublinhar uma perda histórica e comportamentos que condenam o ambiente terrestre.

sábado, 9 de agosto de 2025

Resumo do conto "Mantença inteira"

    O conto gira em torno de Maneca Gouveia, um homem de origens humildes, mas muito perspicaz e dotado de humor refinado. O seu discurso está recheado de frases espirituosas e ditos memoráveis, como os seguintes: "Enchei a barriga, nem que seja de ramalhos, pois o gosto só está na boca."; "Com o vinho, os homens não perdem o juízo, perdem é a vergonha.".
    Maneca era conhecido entre familiares e amigos pelos chistes inesperados e pela subtileza do humor, muitas vezes subversivo e irónico. Em determinado momento, após perder dinheiro apostado na ceifa, ele observa um frasco que a mulher guardava e, sem mais nem menos, quebra-o intencionalmente contra uma laje. Uma das atividades centrais entre os povos da raia é o contrabando, bem como a travessia clandestina de pessoas para o outro lado da fronteira, as quais exigem perícia e ludíbrio das autoridades, muitas vezes através do suborno, que lhes abre portas e sustenta a sua reputação. As cargas de contrabando mencionadas no texto são de café, pesando cada saco quatro arrobas, armazenados e escondidos, prontos para serem transportados de modo sigiloso pelas estradas ou trilhos que evitam a fiscalização dos polícias.
    Maneca anuncia que vai partir para Pitorino, também chamado Ituero de Azaba, um povoado vizinho em Castela, junto à ribeira Azaba. Ele e a esposa deslocam-se para lá uma vez por ano, por alturas de novembro, regressando após as primeiras neves, perto do Natal, fixando-se numa casinha alugada por algumas pesetas, onde oferecem serviços de calçado aos habitantes locais. O seu ofício de artesão (tamanqueiro) começa com o corte do couro, usando moldes de cartão, e a montagem com pregos de cabeça chata num bastão de amieiro, formando o "cabeçal", recortado em "quadras de Lua". Ele trabalha sem ferramentas sofisticadas, socorrendo-se apenas de tesoura, cutelo, navalha, martelo e um banco. Durante diversos dias, do nascer ao pôr do sol, fabrica tamancos sem parar, pressionado pelas solicitações da população, que exigia novos pares para a festa de Santa Bárbara.
    No dia 5 de dezembro, data da festividade, homens e mulheres têm os seus tamancos prontos. O tamanqueiro, seguindo o costume, acorda cedo com o som dos foguetes anunciando o início da festa. Depois da missa, dirigem-se ao adro e assistem à arrematação dos roscones, após o que o povo se dispersa: os homens vão à taberna e as mulheres voltam ao seu universo doméstico. À tarde, Gouveia e o amigo Martín encontram-se na venda do Constantino, entretendo-se até à chegada da noite. Após o último trago e já saciados, o espanhol convida o tamanqueiro para sua casa. Aí, Martín acolhe-o junto ao lume, oferece-lhe um barranhão de tremoços e diz-lhe que o lume é "meia mantença".
    Gouveia e a mulher regressam a casa, não sem antes convidar Martín a visitá-lo por alturas do Santo António. Depois de assistirem à tourada, já de noite e com o frio a apertar, vão para casa de tamanqueiro. Lá, este acende o lume da lareira e, de propósito, acende também um segundo lume na cozinha. De seguida, oferece a Martín um barranhão de tremoços, repetindo a frase, adaptada, que o amigo lhe tinha dito quando o recebera em casa: "Coge tchotchos, amigo Martín!... que una lumbre es media mantenza, pero dos son mantenza entera!". Ou seja, o tamanqueiro acrescentara ao lume um segundo fogo para completar a "mantença inteira", pagando dessa forma a hospitalidade recebida em dezembro: "Cá se fazem, cá se pagam."

Coimbra tem um rácio de médicos 70 vezes superior aos concelhos com maiores carências

medicina

 (c) Página 1

Resumo do conto "Um lenço bordado"

    Um pai e um filho aguardam, escondidos, a chegada de um veículo que transporta homens importantes, diferentes dos locais, para serem passados a salto para Espanha.
    O trecho seguinte do texto - que oscila entre dois tempos, um passado e o presente - apresenta-nos o povo da localidade, envergando trajes de festa para receber uma ilustre personalidade que passará pela região.
    O menino, curioso, observa as estrelas e conta paralelepípedos, até que acaba por adormecer. Ao ouvir um motor, o pai acorda-o, e ambos veem o táxi com os cinco passageiros, que descem e são rapidamente conduzidos para longe da estrada. O clima muda, anunciando uma tempestade que se aproxima, e todos se refugiam numa loja. Entre os recém-chegados conta-se um casal distinto. Durante a tempestade, o homem dialoga com a criança, explicando que se encontra em fuga, porque há pessoas que lhe querem mal por pensar diferente. Quando a chuva passa, o grupo parte, guiado pelo "passador", um contrabandista conhecedor das passagens fronteiriças e com contactos do outro lado da fronteira. O homem promete à criança regressar um dia para ajudar outras como ele e dá-lhe um lenço branco com duas letras encarnadas bordadas como lembrança.
    O trecho final centra-se de novo no presente. Na estrada, a população aguarda, ansiosa, a comitiva. Quando finalmente chegam carros de luxo, um homem surge à janela de um deles e acena. Um jovem acerca-se dele e oferece-lhe um lenço branco com duas letras encarnadas bordadas, esclarecendo que o faz para que se lembrasse dele.

sexta-feira, 8 de agosto de 2025

Resumo do conto "No casino de Ledesma"

    Este conto narra um episódio protagonizado por António, um contrabandista raiano português, em terras espanholas.
    O texto inicia-se com a chegada de um guarda-civil à pousada onde António está a comer. A presença da polícia deixa-o inquieto e desconfiado. O sargento, depois de perguntar por ele ao estalajadeiro, aproxima-se da mesa e chama-o pelo nome, deixando-o atordoado e alarmado. Como poderia aquele homem saber quem ele era?
    O guarda pergunta-lhe se é galego ou português, ao que António responde ser galego, procurando evitar problemas. O sargento tenta saber o que está ali a fazer. António responde que procura trabalho, porém a resposta não convence o polícia, que continua a insistir e lhe faz um aviso misterioso ("Si llevas café al casino, no lleves más de cinco kilos."), que indicia que foi denunciado e que os guardas conhecem as suas atividades de contrabando. O aviso tem toda a aparência de uma tentativa de proteção elada. António fica perplexo, mas finge normalidade, tentando recuperar o apetite enquanto o sargento desaparece por uma porta da estalagem.
    À noite, cinco contrabandistas dirigem-se ao pátio do casino, onde entregam as suas cargas, presumivelmente de café. São recebidos por um funcionário, enquanto António, curioso, observa por uma pequena janela um homem a manusear notas sob vigilância armada, o que indicia a operação ilegal que ocorre no interior do casino. António tenta compreender o aviso que o sargento lhe fizera, enquanto observa outro homem que entra, fala com o funcionário e faz uma chamada telefónica. No pátio, cansados, os contrabandistas descansam e adormecem.
    Um portão abre-se com estrondo. Um grupo de guardas entra no pátio, depois da filha do estalajadeiro os ter informado que chegou à cidade um grupo de portugueses suspeito de contrabando. Um sargento interrogara-a e descobrira que um deles se chama António e que traziam café. Embora a rapariga não soubesse o destino final da mercadoria, um vendedor afirmou que o café ia para o casino. O carabineiro reagiu com inquietação, percebendo que os portugueses estavam em risco. O sargento, embora angustiado pela sua origem portuguesa, reúne cinco homens e parte em direção ao casino, preparando-se para agir com firmeza, norteado pelo dever.
    Os contrabandistas atravessam a ponte romana de Salamanca e encaminham-se para uma venda escondida numa ruela, na qual são recebidos por um homem que os reconhece lhes oferece sedas para contrabandear, em substituição do café. António aceita.
    O conto termina com o protagonista a soprar três vezes o caldo antes de o comer, o que simboliza um breve momento de alívio antes de dar continuidade à vida arriscada do contrabando.
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