A ação central
é constituída pela longa retrospetiva da vida de Quina, tia de Germa, a partir
do momento em que, baloiçando-se na velha "rocking-chair", a recorda
com saudade e alguma nostalgia, e começa e termina no mesmo espaço (a casa da
Vessada), com as mesmas personagens em diálogo (Germa e Bernardo Sanches).
A ação central
gira, pois, à volta de Quina, iniciando-se no momento em que se dá origem à sua
evocação por Germa e termina na altura em que, cerca de oitenta anos depois, se
regressa ao tempo da evocação. Por arrastamento, dela fazem parte os membros de
sua família. O primeiro plano da intriga é ocupado pela protagonista e sua
família. A história de Quina é, logo de início, substituída pelo relato das
vidas de Maria da Encarnação e Francisco Teixeira, suas aventuras e
desventuras, com inúmeras divagações e comentários sobre o lugar da mulher na
família e na sociedade e os efeitos nefastos da existência do homem. E a
história das relações de Maria e Francisco Teixeira é muito importante para a
compreensão do comportamento de Quina: o seu desprezo pelos homens, a sua
frustração amorosa e compensação psicológica pelo poder económico e domínio dos
outros. As relações da família ocupam, pois, um lugar determinante na obra. Mas
também o peso do dinheiro e da propriedade têm grande relevo.
O narrador dá
saltos no tempo, utiliza o resumo, não se preocupa com a estruturação sólida da
intriga, pois o importante é o contar e a atenção ao pormenor (da paisagem, do
vestuário, da aparência física ou duma reação somática). Há, ocasionalmente,
alusões ao envelhecimento progressivo de Quina, mas o leitor não assiste ao
processo de evolução da protagonista). A inexistência de uma intriga bem
estruturada permite um discurso digressivo. Ainda assim, é possível
distinguirem-se alguns núcleos de ação que se organizam em torno de dois eixos:
o da conquista do poder material e espiritual e o da análise introspetiva da
sua alma, na relação com os outros e com os objetos:
A recordação da
vida de Quina é frequentemente interrompida por cortes e digressões suscitadas
pela necessidade de recriação de ambientes e costumes e enquadramento de
figuras e controlada por um narrador omnisciente, cujo ponto de vista
profundamente irónico e devastador confere a todas as personagens e aos
ambientes evocados uma feição negativa. Esta tendência para a digressão e
reconstituição de ambientes faz com que a protagonista seja muitas vezes
substituída por personagens e acontecimentos secundários relacionados com ela e
com o grupo e o modo de vida em que ela se move. De tal modo que poderíamos
dizer que o romance é, antes de mais, a história de uma família rural desde,
pelo menos, o último quartel do século XIX. A partir da segunda metade deste
século, começa a notar-se uma evolução da sociedade rural, no sentido de uma
culturização da sua burguesia que, pela ameaça ao equilíbrio de um cosmos
restrito, merece a reação conservadora de Quina, representativa de um superior
estado de espiritualidade, de poder e prestígio sociais.