A recusa da
cronologia linear e a introdução no romance de múltiplos planos temporais que
se interpenetram e se confundem, constituem a fundamental linha de rumo do
romance coetâneo, magistralmente explorada por William Faulkner, por exemplo. A
confusão da cronologia e a multiplicidade dos planos temporais estão
intimamente relacionadas com o uso do monólogo interior e com o facto de o
romance moderno ser frequentemente construído com base numa memória que evoca e
reconstitui o acontecido.
O chamado nouveau
roman, designação imposta pelos jornalistas a um certo tipo de romance
aparecido em França depois de 1950, é a última expressão desta já longa
aventura que o romance empreendeu na ânsia de se libertar dos padrões
tradicionais do enredo romanesco. Nas teorias e nas obras dos seus
propugnadores, convergem a lição e o exemplo dos impressionistas, sobretudo
James Joyce e Virgínia Woolf, do romance americano de Faulkner e Dos Passos,
etc.
Na conceção de
Alain Robbe-Grillet, o romance deve desembaraçar-se da intriga e abolir a motivação
psicológica ou sociológica das personagens, devendo conceder, em contrapartida,
uma atenção absorvente aos objetos, despojados de qualquer cumplicidade afetiva
com o homem. O próprio Robbe Grillet classificou um dos seus romances, O Ciúme,
como «uma narrativa sem intriga», onde só existem «minutos sem dias, janelas
sem vidros, uma casa sem mistério, uma paixão sem ninguém».
Vítor Aguiar e Silva, Teoria da Literatura
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