As sibilas eram
videntes antigas, provenientes da Ásia Menor e existentes na Grécia desde a
época arcaica. A princípio existiria só uma, que se foi multiplicando e
recebendo nomes conforme os lugares.
Na Grécia, a
mais célebre é a do templo de Apolo, em Delfos. Este santuário torna-se
importante a partir do século VIII a.C. Os escritores e filósofos importantes
da Grécia antiga falam dos oráculos de Apolo. As respostas eram dadas pela
Pétia; depois de ter feito fumigações de louro e de cevada e bebido água da
fonte de Cassótis, recebia as emanações sulfurosas provindas de uma fenda
existente no coração do templo, entrava em delírio, proferindo assim as
palavras enigmáticas que iriam orientar as ações dos que as consultavam. Vivia
só e em castidade. Guardava a casa do seu deus, mantendo acesa a chama do seu
culto. Na sua solidão, recebia a inquietação dos homens e transmitia o recado
dos deuses. Ouvindo as preocupações, os problemas, as angústias, os segredos da
vida humana, alcançava a capacidade de entender o mistério da existência.
Na Itália, a
mais famosa é a Sibila de Cumas. É esta que acompanha Eneias aos infernos, no
canto VI da Eneida, e lhe prediz o futuro. A Sibila de Cumas é uma das
cinco, pintadas por Miguel Ângelo em alternância com os Profetas, no teto da
Capela Sistina.
O título do
romance terá sido escolhido, tendo como ponto de referência a vida da Sibila de
Delfos e os seus oráculos.
Esse título não
está exatamente em conformidade com o desenrolar da intriga. Com efeito, o
signo "sibila" aponta para as capacidades espirituais da
protagonista, quando, afinal, o que a intriga nos revela é uma Quina excecionalmente
dotada para manter e aumentar o património familiar. São raras e débeis as suas
demonstrações sobrenaturais e as suas capacidades divinatórias. Por exemplo, no
caso do desaparecimento da filha louca de Estina, a sua concentração e as rezas
são impotentes para resolver a situação que vem a ter um trágico desenlace. De
facto, o que se destaca em Quina é a forma como conquista um certo poder
material, o importante é manter ou aumentar o património, que só pode ser
transmitido a outro membro da família. Daí ela ter constituído Germa sua
herdeira universal, sem atender aos pedidos insistentes de Custódio. O dote é
como o sangue: só pertence à família, só pode ficar dentro dela, vence a morte.
No
desenvolvimento da ação, é importante considerar o título, pois ele, nesta obra,
poderá ter uma intenção irónica, servindo para desmascarar uma ambiência rural
onde proliferam a crendice, a superstição, o instinto de sobrevivência, o
sentimento arreigado da propriedade e a obsessão do dote que é preciso levar
aos vindouros intacto e, se possível, alargado. Procurar-se-ia, deste modo,
reconstituir um modo de vida provinciano que, em Portugal, nos anos 50,
começava a desaparecer ou, pelo menos, a ser ameaçado pela modernização e pela
industrialização.
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