Português

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Elementos do género épico

            Segundo Aristóteles, na obra Poética, de que restam apenas os fragmentos que estudam e comparam a tragédia e a epopeia, esta deve caracterizar-se por ter:

§    uma ação épica expressiva de grandeza e heroísmo de forma solene;

§    um protagonista (rei, grande dignitário, herói) que, além da sua alta estirpe social, devia revelar grande valor moral;

§    unidade de ação (Homero não narra, na Ilíada, somente a Guerra de Tróia, mas um grande numero de outros factos passados);

§    os episódios: enriquecem a obra, sem quebrar a unidade de ação;

§    o maravilhoso;

§    a utilização do modo narrativo pelo poeta em seu próprio nome ou assumindo personalidades diversas;

§    a reduzida intervenção do poeta: depois da Proposição e da Invocação, Homero logo fez agir as personagens, quando a ação estava já numa fase adiantada, permitindo este processo posteriores analepses e prolepses.


Aplicando a norma aristotélica a Os Lusíadas, constatamos a presença dos seguintes elementos:

a)      Ação: a descoberta do caminho marítimo para a Índia por Vasco da Gama, como acontecimento culminante da História de Portugal até à data da composição da obra e definidor do perfil do herói, o povo português.
            Havia determinadas qualidades que a ação de uma epopeia devia reunir: a unidade, a variedade, a verdade e a integridade.

1)      Unidade: todas as partes ou séries de acontecimentos devem constituir um todo harmonioso.

2)      Variedade: é conseguida através da inserção de episódios (pequenas ações reais ou imaginárias), cuja função é embelezar a ação e quebrar a monotonia de uma narração continuada, mas sem prejudicar a unidade, por meio do estabelecimento de uma relação com o acontecimento ou a figura de que a ação se ocupa em cada momento.
           São variados os tipos de episódios que encontramos n’ Os Lusíadas:
Ø       mitológicos:
§      Consílio dos Deuses no Olimpo (I, 20-41);
§      Consílio dos Deuses Marinhos;
Ø       bélicos:
§      Batalha de Ourique (III, 42-54);
§      Batalha do Salado (III, 107-117);
§      Batalha de Aljubarrota (IV, 28-44);
Ø       líricos:
§      Formosíssima Maria (III, 102-1-6);
§      Morte de Inês de Castro (III, 118-135);
§      Despedida do Restelo (IV, 89-93);
Ø       naturalistas:
§      Descoberta do Cruzeiro do Sul (V, 14);
§      Fogo de Santelmo (V, 18, vv. 1-4);
§      Tromba Marítima (V, 16, 2.ª parte – 22);
§      Escorbuto (V, 81-83);
§      Tempestade (VI, 70-91);
Ø       simbólicos:
§      Sonho Profético de D. Manuel (IV, 67-75);
§      Velho do Restelo (IV, 94-104);
§      Adamastor (V, 37-60);
§      Ilha dos Amores (IX, 51-92 e X, 1-143);
Ø       humorístico: Fernão Veloso (V, 30-36);
Ø       cavalheiresco: Doze de Inglaterra (VI, 43-69).

3)      Verdade: tratamento de um assunto real ou, pelo menos, verosímil.

4)      Integridade: estruturação de uma narrativa com princípio, meio e fim (introdução, desenvolvimento e conclusão).


b)      Personagem: o herói da ação é o povo português, um herói colectivo, simbolicamente representado por Vasco da Gama, herói individual.


c)      Maravilhoso: intervenção de entidades sobrenaturais na ação, umas favorecendo (Júpiter, Vénus, Marte), outras dificultando (Baco).
            Há vários tipos de maravilhoso n’ Os Lusíadas:
Ø       maravilhoso pagão: a intervenção de numerosas divindades da mitologia pagã;
Ø       maravilhoso cristão: o recurso ao Deus dos cristãos, a “Divina Guarda”;
Ø       maravilhoso misto: a intervenção próxima (no mesmo episódio) de Deus e dos deuses pagãos;
Ø       maravilhoso céltico: a intervenção de fadas, bruxas, feiticeiras.


d)      Forma:
F      narrativa em verso;
F      dez cantos;
F      estrofes: oitavas (média de 110 por estrofe);
F      metro: versos decassílabos, geralmente heroicos;
F      rima cruzada (seis primeiros versos) e emparelhada (dois últimos), segundo o esquema abababcc.


ELEMENTOS
CONCRETIZAÇÃO
N’ OS LUSÍADAS
CARACTERÍSTICAS

. A ação: acontecimentos representados ao longo da obra.


. Viagem de Vasco da Gama, acontecimento culminante da História de Portugal.

. Unidade: ligação entre as diversas partes.
. Variedade: inserção de episódios para quebrar a monotonia e embelezar a ação.
. Verdade: assunto real ou, pelo menos, verosímil.
. Integridade: criação de uma intriga com princípio, e fim.

. A personagem: os agentes ou heróis da ação.


. Vasco da Gama.

. O Povo Português (“o peito ilustre lusitano”).

. Camões?

. E os deuses, mais homens que deuses?


. Individual e principal, com uma dimensão simbólica um povo de marinheiros.

. Herói colectivo, fundamental numa epopeia.

. Herói individual (ou colectivo, porque representativo do homem do Renascimento, completo, soldado e escritor, guerreiro e Velho do Restelo?).

. Não são meros símbolos, têm paixões humanas, identificam o êxito e o fracasso, a vitória e a derrota (Vénus Baco).


. O maravilhoso: intervenção de seres sobrenaturais na ação.


. Júpiter, Vénus, Marte, etc.

. Deus (a Divina Providência cristã).

. Pagão: deuses pagãos.

. Cristão: Deus do cristianismo.

. Misto: mistura dos dois anteriores.

. Céltico: magia, feitiçaria.


. A forma.



. Dez cantos.
. Narrativa em versos decassílabos, geralmente heroicos, agrupados em oitavas.
. Rima cruzada nos seis primeiros versos e emparelhada nos dois últimos.
. Esquema rimático: abababcc.


Título Os Lusíadas

            A palavra “lusíadas” deriva de Luso, filho de Líber ou companheiro de Baco, deus do vinho ou da alegria. Luso nasceu e povoou a zona ocidental da Península Ibérica, onde fundou um reino a que deu um nome derivado do seu: Lusitânia, como explica Camões:
“Esta foi Lusitânia, derivada
De Luso ou Lisa, que de Baco antigo
Filhos foram, parece, ou companheiros.”
Os Lusíadas, canto III, est. 21

            Historicamente, quando os Romanos conquistaram a Península Ibérica, dividiram-na administrativamente em três províncias, tendo designado por Lusitânia a que compreendia a região situada a sul do rio Douro.
            No século XVI, os autores portugueses renascentistas começaram a utilizar o termo “lusitanos” como sinónimo de “portugueses”. Luís de Camões foi buscar o nome Lusíadas a André de Resende, que a usa nas obras Vicentius Levita et Martyr (1545) e Erasmi Encomion e a uma epístola, provavelmente de 1561, dirigida ao poeta Pedro Sanches.
            De acordo com o autor, “A Luso unde Lusitânia dicta est, Lusíadas adpellavimus Lusitanos et a Lysa Lysiadas, sicut a Aenea Aeneadas dixit Virgilius”, isto é, “de «Luso», origem do termo «Lusitânia», criámos o apelativo «Lusitano», e de «Lusa», «Lusíadas», assim como de «Eneas», «Enéadas»”.
            Deste modo, ao aproveitar o termo criado por André de Resende, Camões atribui à sua obra, “não um nome através do qual entrevíssemos ações de um herói” (como Aeneada, Orlando Inamorato, Orlando Furioso, etc.); “não um nome que suscitasse a limitada evocação de uma ação militar, posto que grande” (Ilyada, Thebaida, Pharsalia, etc.), ou de uma grande viagem, como Odyssea, Argonautica, mas um nome que “anuncia a história de todo um povo – Os Lusíadas”.

Hernâni Cidade, Luís de Camões, o Épico (adaptado)

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

«Persistência da Memória»

«Persistência da Memória», Salvador Dali

Uma imagem que perdura

“Persistência da Memória” é o título atribuído por Salvador Dali a uma das suas principais pinturas a óleo. Dali nasceu em Figueres, Catalunha, a 11 de maio de 1901 e faleceu a 23 de janeiro de 1989, na sua terra natal. Formou-se na Escola de Belas-Artes de San Fernando em Madrid, destacando-se sobretudo pelo seu trabalho surrealista. As suas obras atraem a atenção pelas incríveis combinações de imagens bizarras, oníricas, com excelente qualidade plástica. O seu trabalho mais conhecido, “Persistência da Memória” foi concluído em 1931 e está exposto no Museu de Arte Moderna, em Nova Iorque, desde 1934.
Na tela, encontram-se representados três relógios que marcam diferentes horas, cujas formas derivam de um queijo (camembert) que o autor observava enquanto pintava. O pintor mostra o tempo e a memória, através dos relógios moles e dependurados, sugerindo que o tempo é maleável, não é rígido, mas sim mutável, relativo, onde passado e presente se fundem. Observa-se nas formas dos relógios uma evidente conotação sexual, sobretudo no relógio central, estendido sobre uma pedra que simula a caricatura do próprio Dali, representado no quadro de olhos fechados e caído, sendo destacado, num fundo preto, como uma premonição do seu tempo futuro. O artista coloriu os relógios de azul, cor do espaço infinito, cuja perspetiva também se direciona ao infinito.
Na obra, estão também presentes formigas na parte de trás do relógio laranja e uma mosca no relógio derretido à esquerda. As formigas representam a decadência, e o ato de atacar o relógio como se ele fosse um produto orgânico é outro sinal da sexualidade inserida na obra, onde as formigas procuram satisfazer os instintos. A mosca em cima do relógio figurativamente indica que o tempo voa.
 Ao ver o terreno, percebe-se que não existe qualquer vegetação ou vida no solo ou até mesmo na água vista no horizonte. O artista retratou o tempo parado e a vida morta pela pausa do tempo, ou seja, sem o tempo não há vida, segundo Dali. O solo pintado de cor terra, pó da vida eterna, uma vez que tudo vira terra e se renova. As cores do anoitecer delimitam a linha do horizonte, encontro de terra e mar, fundidos no céu infinito, misto de sonho e realidade. A obra tem como fundo a paisagem de Porto Lligat, em Barcelona. Os penhascos e o mar são iluminados com uma luz transparente e melancólica, uma vez que este lugar faz relembrar Dali da sua infância. Pode notar-se também um contraste entre o macio e o duro, estando o primeiro representado pelos relógios e o segundo pelos rochedos.
A obra “A Persistência da Memória” foi assim nomeada devido ao facto de ser dificilmente esquecida. Segundo Dali, as formas e as cores da obra ficam gravadas na memória até mesmo de quem a observou apenas uma vez.
Esta obra centra-se na obsessão humana com tempo e a memória. Sendo uma pintura que desencadeia variadas interpretações e controvérsias devido a origem dos relógios derretidos, sendo portanto um desafio descodificá-la e uma imagem inolvidável.

Bibliografia:
          - www.artgalleryabc.com/next90.html;
          - http://pt.wikipedia.org/wiki/Salvador_Dal%C3%AD;
          - http://pt.wikipedia.org/wiki/A_Persist%C3%AAncia_da_Mem%C3%B3ria;
          - http://www.infopedia.pt/$persistencia-da-memoria-(pintura);
          - http://noticias.universia.com.br/destaque/noticia/2012/01/07/903289/conheca
            -persistencia-da-memoria-salvador-dali.html.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Redução do horário semanal de trabalho

     Um grupo de 100 académicos e políticos alemães estão a pedir um horário de 30 horas semanais sem um corte nos salários, noticia hoje o jornal alemão Tageszeitung, citado pela CNBC. Os peticionários argumentam que uma semana de trabalho mais curta é a melhor forma de lidar com o aumento da taxa de desemprego no país, contribuindo também para o aumento da produtividade dos trabalhadores.

Poesia universitária (I)

A um certo colega de ano:

          Por uma loura do quinto ano
          fiquei louco do tutano
          e quando com ela passeio na rua
          sinto-me mais alto que uma grua.

          E todo ufano
          pago-lhe um lanche no Bocage
          e não ligo aos colegas do ano
          e se lhes ligo logo lhes dou um ultraje.

          Porque eu sou um tipo digno
          e com uma classe sem igual
          e por isso não ligo ao parvalhão indigno

          Que me estraga o engate
          e me envergonha
          e por isso me perdoem sempre que eu os maltrate.

                                                  Bajus

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Do desespero

Uma professora de 47 anos atirou o filho autista da janela do 4º andar do hotel Ibis de Bragança e suicidou-se de seguida, escreve este domingo o Jornal de Notícias (JN).
Professora atira filho pela janela e suicida-se

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Aldrabice:

Doutoramento retirado à ministra alemã da Educação por plágio

     A Universidade de Düsseldorf, na Alemanha, decidiu retirar o doutoramento da actual ministra da Educação, Annette Schavan, 57 anos, depois de confirmar que as suspeitas de plágio levantadas por um blogue anónimo, em 2012, tinham razão de ser. A ministra defende a legitimidade da sua tese, defendida em 1980, e promete recorrer. Porém, o seu lugar no governo alemão da conservadora Angela Merkel (CDU) passou a estar em perigo.

Calendário de exames - Secundário (2.ª fase)


Clicar na imagem para aumentar.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Calendário de exames - Secundário (1.ª fase)


Clicar na imagem para aumentar.

"Endless Love" - Diana Ross e Lionel Richie


     We are getting old...

As considerações pessoais do poeta

            O poema épico de Camões destina-se a celebrar e a glorificar o povo português, em especial os heróis que tornaram a Pátria grande, a partir da viagem de Vasco da Gama à Índia. No entanto, o poeta, homem lúcido e experiente, demonstra, em diversos momentos, o seu desencanto e o seu pessimismo face a uma pátria em crise, “mergulhada numa austera, apagada e vil tristeza”. Este facto justifica-se se tivermos presente que Os Lusíadas foram publicados 74 anos após a viagem de Vasco da Gama, num momento em que o Império português se encontrava já em decadência e pressagiava um futuro negro.
            As reflexões apresentam uma estrutura semelhante, resultante do facto de surgirem, regra geral, no final dos cantos e após um acontecimento que os motiva. Para além disso, a linguagem é característica de um discurso judicativo (expressão de juízos de valor) e valorativo (expressão de juízos críticos e subjetivos) que se traduz no uso de adjetivação valorativa, frases exclamativas e apelativas, interrogações retóricas, interjeições, construções negativas, anáforas, apóstrofes e enumerações.
            Nas palavras de Zaida Braga e Auxilia Ramos, «Estes momentos constituem não só um reflexo da mentalidade do homem renascentista (pela sagacidade e análise crítica evidenciada), mas também contêm (pela intemporalidade que veiculam) uma intenção didática e interventiva.
            Com efeito, o espírito humanista de Camões não podia subestimar uma meditação sobre os valores, baseada nas suas experiências de vida e nas suas preocupações. É assim que, num texto de natureza épica, somos regularmente confrontados com momentos de reflexão e intervenção que desinstalam o leitor.»
            Resumindo, o poema procura cantar a grandeza do passado de Portugal e dos portugueses, um pequeno povo que “deu novos mundos ao mundo”, que dilatou a fé cristã, que abriu novos rumos ao conhecimento, mas fá-lo estabelecendo um contraste com o presente. De facto, ao cantar os feitos e os heróis do passado, Camões procura mostrar aos portugueses do seu tempo a sua falta de grandeza e, em simultâneo, procura incentivar D. Sebastião a conduzir o reino a um futuro de novas glórias, que se oferece para cantar.

            As reflexões são as seguintes:

. Canto I (105-106) – Reflexão sobre a fragilidade da condição humana:
. Acontecimento motivador da reflexão: a chegada da armada portuguesa a Mombaça, após a superação das armadilhas preparadas por Baco;
. Camões alude aos perigos que os portugueses enfrentarão durante a viagem, provenientes de enganos, ciladas e traições, bem como de guerras e tempestades;
. Reflete sobre a insegurança e a fragilidade da vida / condição humana;
. Note-se que esta reflexão surge no final do canto I, isto é, num momento em que os navegadores ainda têm um longo e difícil caminho a percorrer.

. Canto III (142-143) – Reflexão sobre a importância e o poder do amor:
. Acontecimento motivador: os amores de D. Inês de Castro e D. Pedro e de D. Fernando e D. Leonor Teles;
. Camões reflete sobre o poder do amor, que todos toca e transforma.

. Canto IV (95-104) – Reflexão sobre a ambição e a procura da fama:
. Acontecimento motivador: as despedidas em Belém;
. O poeta reflete sobre a procura insensata da fama e a ambição desmedida, que acarretam consequências dolorosas para o ser humano.

. Canto V (92-100) – Crítica à falta de cultura e de apreço pelos poetas por parte dos portugueses:
. Acontecimento motivador: o fim da narrativa de Vasco da Gama ao rei de Melinde;
. Camões mostra como o canto dos heróis e dos seus feitos incita à realização de novos feitos;
. De seguida, dá exemplos do apreço que os antigos heróis gregos e romanos tinham pelos seus poetas e da importância que atribuíam à cultura e à poesia, compatibilizando as armas e o saber;
. Lamenta a falta de interesse pelas artes e pelas letras por parte dos seus contemporâneos;
. Adverte para a necessidade de imortalizar os feitos dos portugueses através da arte;
. Reitera, movido pelo amor à pátria, o seu propósito de continuar a cantar os feitos e os heróis portugueses.

. Canto VI (95-99) – Reflexão sobre o caminho para a fama e a glória:
. Acontecimento motivador: a Tempestade e o agradecimento de Vasco da Gama a Deus pela proteção recebida;
. Camões defende um novo conceito de nobreza, espelho do modelo de virtude renascentista, segundo o qual a fama e a imortalidade, o prestígio e o poder se alcançam pelo esforço individual, pelo sacrifício e pela coragem, revelados na guerra, enfrentando os elementos da natureza, sacrificando o corpo ou sofrendo a perda de companheiros;
. O heroísmo não se herda nem se obtém vivendo no luxo e na ociosidade, ou à custa de favores.

. Canto VII (2-15) – Elogio do espírito de cruzada:
. Acontecimento motivador: a chegada da armada portuguesa a Calecute;
. O poeta elogia o espírito de cruzada dos portugueses, a divulgação da fé cristã por todo o mundo;
. Exorta-os a prosseguirem esse caminho, criticando, em simultâneo, outros povos europeus (“Alemães, soberbo gado”, o “duro inglês”, o “Galo indigno” e os italianos), que não seguem o exemplo luso no combate aos infiéis, antes se interessam apenas pelo ócio e pela cobiça.

. Canto VII (78-87) – Crítica aos contemporâneos:
. Acontecimento motivador: pedido do Catual a Paulo da Gama para que lhe explique o significado das figuras desenhadas nas bandeiras da nau;
. Num discurso marcadamente autobiográfico, alude à sua vida cheia de adversidades (a pobreza, os perigos do mar e da terra, etc.);
. Lamenta-se da ingratidão dos que tem cantado em verso e dos grandes senhores de Portugal por não prezarem as artes, por não reconhecerem o seu talento e por não o saberem prezar e recompensar;
. Alerta para a inibição do surgimento de outros poetas para cantarem os feitos do futuro em consequência da ingratidão;
. Manifesta a sua recusa em cantar os ambiciosos, os que sobrepõem os seus interesses ao bem comum e do Rei, os dissimulados e os que exploram o povo;
. Alude ao herói como aquele que arrisca a vida por Deus e pelo Rei.

. Canto VIII /96-99) – Crítica ao poder do dinheiro:
. Acontecimento motivador: as traições sofridas por Vasco da Gama em Calecute (o seu sequestro, do qual é libertado graças à entrega de valores materiais);
. Camões reflete sobre o poder do dinheiro e enumera os seus efeitos perniciosos: leva à corrupção e à traição, deturpa o conhecimento e as consciências, condiciona as leis e a justiça, ocasiona difamações e a tirania.

. Canto IX (90-95) – Reflexão sobre o caminho para a fama:
. Acontecimento motivador: a explicação a Vasco da Gama, por parte de Tétis, do significado alegórico da Ilha dos Amores;
. O poeta adverte os portugueses relativamente à ambição desmedida e à tirania, vícios que quem quer alcançar o estatuto de herói tem de desprezar;
. Exorta os portugueses a despertar do adormecimento e do ócio, a abandonar a cobiça e a tirania, a serem justos e a lutarem pela Pátria e pelo Rei.

. Canto X (145-146) – Nova crítica do poeta aos seus contemporâneos:
. Acontecimento motivador: a chegada da armada de Vasco da Gama a Portugal;
. O poeta lamenta a decadência da Pátria, submersa no “gosto da cobiça” e que não reconhece o seu talento artístico nem o seu “honesto estudo” nem a sua experiência, daí o seu desalento, o seu desânimo e o seu cansaço e a recusa de prosseguir o seu canto;
. Porém, enaltece os que são leais ao Rei (“os vassalos excelentes”), símbolo coletivo dos portugueses valorosos;
. Exorta o rei D. Sebastião a dar continuidade à glorificação do “peito ilustre lusitano” e a dar matéria a novo canto.

O Herói em Os Lusíadas


1. O herói nas antigas epopeias

         Nos poemas hindus, a figura do herói é a incarnação de um deus, por isso tudo nele, desde o aspeto físico até à ação que realiza, pode ser pensado ou decorrer fora de todos os moldes humanos, com proporções monstruosas desmedidas.
         Nos poemas homéricos, os heróis assumem a feição humana, sucedendo quase o mesmo com os deuses, concebidos como realizações superiores de tipos humanos, sem as limitações que impedem em cada um destes o realizar-se como desejaria. Mesmo quando intervêm, os deuses fazem-no de forma discreta, o que faz com que a liberdade do herói seja salvaguardada: pode discutir a vantagem ou desvantagem do conselho do deus que o protege, pode até contrariar esse conselho.
         “Os Portugueses do Renascimento levantaram a vida humana a maior altura, deram-lhe novas perspetivas e interesses, fizeram, no campo da ação navegadora e guerreira, o que no campo da arte fizeram os Italianos. Esses homens multímodos, navegantes e guerreiros, políticos e poetas, geógrafos e cronistas, aventureiros e apóstolos, constituem um momento insigne na história da personalidade.” (in Luís de Camões, O Épico, Hernâni Cidade).


2. O herói em Os Lusíadas

2.1. A ação da obra e o herói épico

2.1.1. Na Introdução

         Na esteira da ideologia renascentista, o poema de Camões coloca o homem português no centro do mundo ao atribuir-lhe características humanas e sobre-humanas e ao utilizá-lo como símbolo da confiança nas capacidades humanas.
         O primeiro momento da progressiva construção do herói em Os Lusíadas ocorre na Proposição, na qual Camões sintetiza o conceito de herói e cujos principais dados são os seguintes:
. apresentação da intenção do poeta: glorificar os feitos do povo português, através do seu canto épico, apontando deste logo para a imortalidade como traço essencial do conceito de herói: “As armas e os barões assinalados”; “Daqueles reis que foram dilatando / A Fé, o Império…”; “E aqueles que por obras valerosas / Se vão da lei da Morte libertando”;
. a assunção da dimensão coletiva do herói da obra: “Que eu canto o peito ilustre lusitano”;
. a apresentação dos quatro planos do poema:
. o da Viagem: “As armas e os barões assinalados / Que, da ocidental praia lusitana, (…) / Passaram ainda além da Taprobana…”;
. o da História de Portugal: “… reis que foram dilatando / A Fé, o Império…”;
. o da mitologia: “Cessem do sábio Grego e do Troiano / As navegações grandes que fizeram; / (…) A quem Neptuno e Marte obedeceram. / Cesse tudo o que a Musa antiga canta…”;
. o das considerações do poeta: “Cantando espalharei por toda parte, / Se a tanto me ajudar o engenho e arte”.
         Observa-se, desde já, a intenção de Camões imortalizar os portugueses quer pela grandeza dos seus feitos quer pelo facto de suplantarem os deuses antigos (“A quem Neptuno e Marte obedeceram”). Deste modo, o poeta inicia o processo de mitificação do herói, elevando-o a um plano superior e a um estatuto de imortal, que suplanta o dos heróis da Antiguidade, considerados modelos (Ulisses, Alexandre Magno, Trajano, Eneias).
         Na Invocação que se segue à Proposição, Camões invoca as ninfas do Tejo solicitando-lhes que o auxiliem na tarefa que tem em mente. Ora, esta invocação é um outro dado que

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Análise de Os Lusíadas: Canto X, estâncias 144-156


Contextualização
 
            Na Ilha dos Amores, as Ninfas ofereceram um banquete aos Portugueses. Após uma invocação a Calíope, num tom de lamento autobiográfico, uma ninfa canta as vitórias futuras dos lusos no Oriente. Tétis conduz Vasco da Gama ao cume de um monte para lhe mostrar a Máquina do Mundo e situar nela os lugares já conhecidos e dominados pelos Portugueses, bem como os territórios a conquistar.

            O Poeta narra a despedida da Ilha dos Amores e, na estância 144, o regresso dos marinheiros à pátria, concretamente a Lisboa (“Até que houveram vista do terreno / Em que naceram…”), numa viagem que decorreu tranquilamente, pois o tempo estava ameno (“Com vento sempre manso e nunca irado…” – v. 2) e o mar calmo (“… cortando o mar sereno…” – v. 1). Entre os versos 5 e 8, o Poeta alude ao prémio e à glória que os marinheiros, com os seus feitos, alcançaram e que agora vêm entregar ao rei para seu engrandecimento e da Pátria (“E à sua pátria e Rei temido e amado / O prémio e glória dão (…) / E com títulos novos se ilustrou.” – vv. 6-8).

            É o fim de uma viagem que constitui um feito heroico que conferiu glória e imortalidade ao monarca e à Pátria.

 
 
Acontecimento motivador da reflexão
 
            O facto que motiva esta reflexão de Os Lusíadas é a chegada de Vasco da Gama e dos marinheiros a Portugal, concluindo, assim, um feito imortal.
 
 
Assunto
 
            Depois de se despedir das musas, o Poeta dirige-se a D. Sebastião, o rei de Portugal. Dado o estado de decadência do reino, exorta o monarca à realização de grandes feitos e à restauração da glória da pátria.
 
 
Estrutura interna da reflexão
 
1.ª parte (est. 145 – v. 4, est. 146) – O Poeta anuncia que vai terminar o canto e lamenta o estado de decadência do povo português e a ingratidão de que é vítima.
 
2.ª parte (verso 5, est. 146 – est. 153) – O Poeta apela a D. Sebastião, encorajando-o a dar um novo impulso a Portugal, sustentado nos portugueses valorosos (“vassalos excelentes”) e experientes.
 
3.ª parte (ests. 154-156) – O Poeta oferece-se para servir o rei e para cantar os futuros feitos do monarca numa nova epopeia.
 
 
Análise da reflexão
 

Análise de Os Lusíadas: Canto VIII, estâncias 96-99


Contextualização

            Vasco da Gama permanece nas naus e decide não desembarcar, visto que já não confia no ambicioso Catual, pois já o traíra anteriormente, era muito ambicioso (“cobiçoso”), corrupto (“corrompido” e “pouco nobre”). Por outro lado, Gama espera vir a descobrir a verdade com o tempo, daí também a sua decisão de permanecer a bordo da embarcação.
            Ora, esta referência a Vasco da Gama é o exemplo que serve de ponto de partida para a reflexão do Poeta, que adverte, a partir do verso 5 da estância 96,para o efeito corruptor do dinheiro, que tanto sujeita os ricos como os pobres.


Estrutura interna

1.ª parte (estância 96) – Reflexão sobre o poder do dinheiro, a que ninguém escapa, seja rico ou pobre.

2.ª parte (estâncias 97-99) – Exemplos que confirmam a reflexão feita na estância 96.
 
OUTRA HIPÓTESE
 
1.ª parte (4 primeiros versos da estância 96) – Caso particular dos Portugueses, vítimas da cobiça do Catual.
 
2.ª parte (v. 5, est. 96 – est. 99) – Generalização dos perigos da ambição desmedida e do poder corruptor do dinheiro, na Antiguidade e na atualidade.

 
Análise da reflexão

1.ª parte – Reflexão sobre o poder do dinheiro.

▪ Momento narrativo e descritivo: Vasco da Gama...

 

Análise de Os Lusíadas: Canto VII, estâncias 78-87


        Contextualização
 
            No início deste canto (estâncias 3 a 14), Camões elogia os Portugueses, porém, no final, o seu tom é de crítica. Esta aparente contradição explica-se se tivermos em conta que os Portugueses que o Poeta elogia e apresenta como exemplo, são os heróis do passado, com Vasco da Gama à cabeça. No entanto, os Portugueses criticados são os contemporâneos de Camões, que, aparentemente, esqueceram o heroísmo e a grandeza dos seus antepassados.
            Os lusitanos chegam a Calecute e, por esse motivo, o Poeta elogia a expansão portuguesa pelo espírito de cruzada, na dilatação da fé pelo mundo, ao mesmo tempo que critica as nações europeias do seu tempo, por não seguirem o exemplo português. Além de descrever a Índia, Camões também relata os primeiros contactos entre os Portugueses e os indianos.
            Vasco da Gama e os companheiros são recebidos pelo Catual e depois pelo Samorim. Quando o Catual visita as naus, fica surpreendido ao vê-las todas embandeiradas e pede a Paulo da Gama que lhe explique o significado das figuras portuguesas que aí estão representadas, enquanto seu irmão, Vasco da Gama, é recebido no palácio do Samorim. Paulo da Gama prepara-se para satisfazer o desejo do Catual e narrar episódios da História de Portugal, no entanto Camões interrompe a narração e invoca as ninfas do Tejo e do Mondego para o auxiliarem nessa árdua tarefa.

 
Reflexão do Poeta
 
            O Poeta invoca as ninfas do Tejo e do Mondego, lamentando-se pelos infortúnios da vida, ao mesmo tempo que critica duramente os opressores e exploradores do povo.
 
 
Acontecimento motivador da reflexão

            O dado que motiva esta reflexão é o pedido do Catual a Paulo da Gama para que lhe explique o significado das imagens de heróis pintados nas bandeiras das naus.


Estrutura interna da reflexão
 
            Este excerto de Os Lusíadas pode dividir-se em quatro momentos:

. 1.º momento (estância 78):

1. A invocação: “Vós, Ninfas do Tejo e do Mondego”;

2. Objetivo: 


Continuação da análise: aqui.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...