Português: 04/01/2012 - 05/01/2012

domingo, 29 de abril de 2012

Episódio das Corridas de Cavalos

     Este é outro episódio que se insere na crónica de costumes.

1. Objetivos
  • Novo contacto de Carlos com a sociedade de Lisboa, incluindo o próprio rei.
  • Visão panorâmica da sociedade lisboeta (masculina e feminina) sob o olhar crítico de Carlos.
  • Tentativa frustrada de igualar Lisboa às capitais europeias, sobretudo Paris.
  • Criticar o cosmopolitismo postiço da sociedade;
  • Possibilidade de Carlos encontrar novamente a mulher que viu à entrada do Hotel Central.


2. Caracterização do ambiente geral

     2.1. Largo de Belém:
  • tosca guarita de madeira, armada de véspera -> improvisação;
  • monotonia;
  • tristeza e silêncio;
  • pasmaceira (o trabalhador com o filho ao colo e a mulher);
  • desinteresse (o garoto apregoando o programa das corridas que ninguém compra, a mulher da água fresca sentando-se na sombra a catar o filho);
  • o trintanário que fora comprar o bilhete de Craft demora-se em discussão com o bilheteiro, que não tem troco de uma libra; Craft apeia-se para ir resolver o problema e é insultado;
  • as pessoas em trajes domingueiros;
  • traços realistas: a descrição do calor, do colorido, dos sons e dos costumes de uma cidade estagnada. 
  • falta de motivação e entusiasmo pelo fenómeno desportivo em causa;
  • provincianismo.

     2.2. Entrada do hipódromo:
  • «... abertura escalavrada num muro de quintarola...»;
  • primeira desordem / discussão:
  • motivo: um sujeito queria entrar sem pagar a carruagem, porque o sr. Savedra lho tinha prometido;
  • o engarrafamento de dog-carts e caleches de praça;
  • os insultos dos ocupantes;
  • a intervenção deselegante da polícia;
  • o grande rebuliço e a poeirada;
. falta de organização
. pelintrice
. falta de educação
. provincianismo


     2.3. Descrição do hipódromo:
  • situado numa colina, sob a aragem vinda do rio, provoca uma sensação de frescura e paz;
  • a gente apinhada;
  • as precárias condições das tribunas e do espaço envolvente:
  • a tribuna real forrada de uma baetão vermelho de mesa de repartição;
  • as tribunas públicas com o feitio de traves mal pregadas - o hipódromo parecia um palanque de arraial - mal pintadas e com fendas;
  • o recinto da tribuna fechado por um tapume de madeira; 
  • as pessoas não sabem ocupar os seus lugares: «... havia uma fila de senhoras quase todas de escuro encostadas ao rebordo, outras espalhadas pelos primeiros degraus; e o resto das bancadas permanecia deserto e desconsolado...»;
. a improvisação
. o remendo apressado
. a iniciativa sem base sólida
. os retoques sem gosto


     2.4. Durante as corridas:
  • fuma-se e fala-se baixo -> falta de à-vontade;
  • as pessoas pasmam -> pasmaceira;
  • dois brasileiros queixam-se do preço dos bilhetes e consideram as corridas uma «sensaboria de rachar»;
  • a chegada do rei é saudada com o «Hino da Carta».

     2.5. Descrição do bufete:
  • instalado debaixo da tribuna;
  • pobreza: «... o tabuado nu, sem sobrado, sem um ornato, sem uma flor.» - assemelha-se a uma taberna;
  • falta de higiene e aspeto nojento: «... dois criados, estonteados e sujos, achatavam à pressa as fatias de sanduíches com as mãos húmidas da espuma da cerveja.»;
  • a animação fictícia, com hurras a Clifford e a Carlos.

     2.6. As corridas

     . 1.ª corrida: a do 1.º Prémio dos «Produtos»:
  • os dois cavalos «passavam num galope sereno»;
  • os assistentes não sabem quem ganhou e, mal a corrida termina, regressam ao silêncio, à lassidão e ao desapontamento;
  • o desinteresse pela corrida confirma-se na atitude dos que se encontram de costas voltadas para a pista, fumando e contemplando as mulheres;
  • o provincianismo bacoco dos homens que ficam parados e embasbacados a admirar Clifford;
  • a ausência de apostas;
  • a falta de autoridade e de respeito para com o rei, cuja proximidade não impede a desordem;
  • a corrida termina com uma cena de insultos e pancadaria por causa de uma burla (segunda desordem):
. quebra do verniz de civilização e requinte social que a sociedade pretendia ostentar, 
deixando emergir o provincianismo
. grande incultura e grosseria
. inadequação do ambiente cosmopolita das corridas à vivência social portuguesa
  • «Isto é um país que só suporta hortas e arraiais...»;
  • «Corridas, como muitas outras coisas civilizadas lá de fora, necessitam primeiro gente educada.»;
  • «Do que gostamos é de vinhaça, e viola, e bordoada...».
          SER          =/=          PARECER
     (provinciano)                   (civilizado)
 
«Aquela corrida insípida, sem cavalos, sem jóqueis, com meia dúzia
de pessoas a bocejar em roda...»
«... tudo aquilo era uma intrujice...»
porque era «... um divertimento que não estava nos hábitos do país.»

     . 2.ª corrida: a do Grande Prémio Nacional:
  • alguns sujeitos examinam o «Rabino», «com o olho sério, afetando entender», entre os quais se einclui Carlos, que também admira o cavalo, mas nota-lhe o peito estreito;
  • finalmente, aposta-se:
  • estão quatro cavalos inscritos na corrida;
  • o favorito é o «Rabino» e todos querem tirar o bilhete deste;
  • Carlos, por «divertimento» («... gostara da cabeça ligeira do potro, do seu peito largo e fundo...») e «... para animar mais aquele recanto da tribuna, ver brilhar gulosamente os olhos interesseiros das mulheres.», decide apostar tudo em «Vladimiro», apesar do potro ir em último lugar na corrida;
  • todos os outros decidem apostar contra Carlos, procurando «aproveitar-se daquela fantasia de homem rico...»;
  • contra todas as expectativas, «Vladimiro» vence «Minhoto» por duas cabeças, o que permite a Carlos ganhar a poule e provoca a irritação dos restantes, que perderam;
  • finalizada a corrida, o torpor volta a instalar-se enquanto as pessoas se dispersam:
  • «Mas uma indiferença, um tédio lento, ia pesando outra vez, desconsoladoramente...»;
  • os rapazes bocejavam, com um ar exausto;
  • a música desanimada;
  • «As senhoras tinham retomado a imobilidade melancólica...»;
  • «E sujeitos, de mãos atrás das costas, pasmavam...».
Conclusões - Intenção crítica de Eça:
  1. o oportunismo e a cupidez dos que se pretendem aproveitar de Carlos apostar no cavalo menos favorito;
  2. o desejo português de ser o primeiro em tudo;
  3. a tendência de as pessoas se aperceberem do que é óbvio e de se colarem ao vencedor, evidenciada pelo facto de mesmo os que não haviam apostado no «Minhoto» o aplaudirem, pois esperavam que fosse ele o vencedor;
  4. o patriotismo provinciano que vê em jogo, numa corrida de cavalos, o prestígio do nosso país: como «Minhoto» era um cavalo português, a sua vitória seria um ato patriótico;
  5. o cansaço rápido que se apodera de nós e que permite que outros venham, de seguida, colher o fruto do nosso esforço desordenado: o jóquei inglês deixou primeiro que «Minhoto» se cansasse, para depois o vencer facilmente;
  6. o não saber perder, patente na reação das personagens quando o cavalo em que apostaram perdeu:
  • «... o adido italiano (...) empalideceu...»;
  • «... atiravam-lhe com um ar amuado as apostas perdidas...»;
  • «... a vasta ministra da Baviera, furiosa...»;
  • «... o secretário lento e silencioso...».

     . 3.ª corrida: a do Prémio de El-Rei  um cavalo solitário atravessa a meta, sem se apressar, num galope pacato, e só muito tempo depois chega um outro cavalo, uma pileca branca arquejando, num esforço doloroso, numa altura em que o jóquei do cavalo vencedor se encontrava já a conversar com os amigos, encostado à corda da pista.

     . 4.ª corrida: a do Prémio da Consolação:
  • todo o interesse fictício desaparecera e regressa a indiferença geral;
  • junto à meta, um dos cavaleiros caíra;
  • já à saída, o Vargas, bêbedo, esmurrara um criado de bufete  «... tudo é bom quando acaba bem.».

     2.7. As personagens

          2.7.1. Os jóqueis:
                    . 1.ª corrida:
                              -» o Pinheiro - montava o «Escocês»
                              -» um sujeito - montava o «Júpiter»
                    . 2.ª corrida:
                              -» um jóquei - montava o «Rabino»
                              -» um jóquei espanhol - montava o «Minhoto»
                              -» um jóquei inglês - montava o «Vladimiro»
                    . 3.ª corrida:
                              -» um gentleman - montava um cavalo
                              -» um jóquei roxo e preto - montava uma pileca
                    . 4.ª corrida:
                              -» jóqueis sem identificação

          2.7.2. Os homens
  • O Visconde de Darque:
  • dono do «Rabino», o favorito, considera a sua participação um sacrifício;
  • «... não podia apresentar um cavalo decente, com as suas cores, senão daí a quatro anos»;
  • não apurava cavalos para «aquela melancolia de Belém», para aquele «horror»;
  • quando há qualquer problema ou dúvida, requisitam-no de imediato: «Eu sou o dicionário...».
  • El-Rei: sorridente.
  • Alencar:
  • elegantemente vestido;
  • sempre cortês e bem penteado nesse dia, beija fidalgamente a mão de D. Maria da Cunha;
  • encontra nas corridas «... um certo ar de elegância, um perfume de corte...».
  • O barão de Craben, pequenino, aos pulinhos.
  • Craft, que apresenta Clifford a Carlos.
  • Sequeira:
  • «... entalado numa sobrecasaca curta que o fazia mais atarracado, de chapéu branco...»;
  • considera uma «sensaboria» «... aquela corrida insípida, sem cavalos, sem jóqueis, com meia dúzia de pessoas a bocejar em toda...», «... um divertimento que não estava nos hábitos do país...».
  • Clifford: «... parecia achar tudo aquilo ignóbil...», acabando por retirar a «Mist».
  • Steinbroken: aposta sem conhecer os cavalos.
  • Conde de Gouvarinho e os seus dislates e ignorância: «... todos os requintes da civilização se aclimatavam bem em Portugal.»; «O nosso solo (...) é um solo abençoado!».
  • Teles da Gama, encarregado de organizar as apostas.
  • Eusebiozinho, acompanhado pela Concha e pela Carmen.
  • Dâmaso:
  • o seu «chique a valer»;
  • a gabarolice, a falta de educação e de respeito para com as mulheres, traduzida numa linguagem rude: «... tinha estado (...) com uma gaja divina...»;
  • a queixa da troça que o seu véu provocara.

          2.7.3. As mulheres
  • Em geral:
  • as que vêm no High Life dos jornais
  • as dos camarotes de S. Carlos
  • as das terças-feiras dos Gouvarinhos
                     
  • não sabem ocupar os seus lugares
  • vestem-se ridiculamente de escuro («vestidos sérios de missa»)
  • peles murchas, gastas e moles
                     
                               «... canteirinho de camélias meladas...»

  • Em particular:
  • As duas irmãs do Taveira (diminutivos irónicos);
  • magrinhas;
  • loirinhas;
  • corretamente vestidas.
  • A viscondessa de Alvim: nédia e branca.
  • Joaninha Vilar:
  • cada vez mais cheia e com um quebranto cada vez mais doce no olhar;
  • lânguida, parece oferecer o seu «apetitoso peito de rola!».
  • As Pedrosos, banqueiras, interessando-se pelas corridas.
  • Condessa de Soutal: desarranjada, com lama nas saias.
  • D. Maria da Cunha:
  • desenvolta, ousada, foi a única com atrevimento suficiente para se vir sentar junto dos homens, porque «... não aturava a seca de estar lá em cima perfilada, à espera da passagem do Senhor dos Passos.»;
  • bela, apesar da idade;
  • muito à vontade, era a única a divertir-se;
  • considera ridículo o «Hino da Carta», porque dá às corridas um ar de arraial;
  • casamenteira, apresenta Alencar à sua amiga Concha e, depois, procura aproximar ainda mais Carlos e a condessa.
  • A menina Sá Videira:
  • petulante e pretensiosa;
  • filha de um rico negociante de sapatos de ourelo;
  • abonecada;
  • «... com o arzinho petulante e enojado...»;
  • «... falando alto inglês...».
  • A ministra da Baviera, a baronesa Craben:
  • «... enorme, empavoada...»;
  • muito gorda: «... com um gluglu grosso de peru...»; «... feitio de barrica, deixando sair o sebo por todas as costuras do vestido (...)»; «... a insolente baleia!»;
  • altiva, insolente e sobranceira.
  • A Condessa de Gouvarinho:
  • elegantemente vestida;
  • sensual e audaz;
  • é admirada por vários homens;
  • no dia seguinte, partirá para o Porto para comemorar o aniversário do pai e quer que Carlos a acompanhe, congeminando um plano para levar a cabo os seus intentos.

     Em suma, neste episódio, o narrador critica e caricatura uma sociedade que aplaude a organização das corridas na sua ânsia de imitar o que de melhor há «lá fora», sobretudo em Paris, modelo de civilização. Porém, como em Portugal não havia a tradição nem o hábito de realização de tais eventos, em vez de um grande acontecimento mundano, assistimos a um grande fiasco, a mais uma manifestação do gosto pela aparência e pelo postiço, em detrimento daquilo que seja autêntica e genuinamente português.
     Os alvos visados por Eça de Queirós são, basicamente, dois:
  • a Monarquia, pela falta de autoridade que o Rei demonstra, pois a sua presença não consegue impedir as várias desordens;
  • a alta sociedade lisboeta:
  • a incivilização;
  • o fracasso total dos objetivos da corrida;
  • a falta de decoro e de educação;
  • a incultura;
  • a grosseria;
  • o desinteresse;
  • o caráter mimético;
  • a improvisação;
  • o atraso generalizado;
  • o provincianismo: a organização das corridas, que pretendia emprestar-lhes um toque de civilização, acaba por pôr a nu o quanto há de postiço e de reles no decoro solene da assistência:
  • «... desmanchando a linha postiça de civilização e a atitude forçada de decoro...»;
  • a «... massa tumultuosa (...) empurrando-se contra as escadas da tribuna real, onde um ajudante de el-rei, reluzente de agulhetas e em cabelo, olhava tranquilamente...»;
  • os gritos de «Fora! Fora!», «ordem» e «morra»;
  • a reação agressiva do Vargas;
  • a fuga espavorida das «... senhoras com as saias apanhadas...».

sábado, 28 de abril de 2012

Partir a loiça toda II

     Noutra parte da entrevista ao i, Maria Filomena Mónica prossegue, verrinosa e intratável:

E o sistema de ensino?
.
É péssimo. O sistema de ensino deixou-se contagiar por uma ideologia pseudo-esquerdista que tentou fazer iguais todos os alunos, mas por baixo. A exigência não foi valorizada. Em 1974, a revolução apanhou-me a meio do doutoramento e pedi para ficar cá mais um ano, para poder participar. E estive a dar aulas, mas dois meses depois já não aguentava os alunos. Os estudantes diziam que não queriam notas, que eles é que faziam os curricula e que eu não mandava em ninguém. Respondi: “Óptimo, vou-me embora.” E não é só culpa da esquerda, pois a direita está penetrada das mesmas utopias pseudo-igualitárias. Ministros como o Marçal Grilo ou o Roberto Carneiro, em vez de terem uma ideologia própria, reflectem este banho cultural que considera que aos alunos, coitadinhos, não se lhes pode dar más notas, pois ficam com auto-estima negativa. Devemos dar aos filhos dos pobres as mesmas oportunidades que aos filhos dos ricos e não baixar os níveis de exigência para que toda a gente passe, como durante anos aconteceu.

Partir a loiça toda

     Maria Filomena Mónica, em entrevista ao jornal i:

Somos todos primos uns dos outros?
E sabemos quem foi para a cama com quem, achamos que, se se está com ciúmes do outro, é uma questão de saias. Na universidade, então, é uma baralhada completa, porque, como é pequenina, todos nos conhecemos. E do assédio sexual nem vale a pena falar. Em Oxford, num ambiente muito masculino, onde havia 80 homens e cinco mulheres, nunca senti nenhum assédio sexual, apesar de, como aluna, usar mini-saia.
E em Portugal?
Com os meus colegas masculinos, percebi que eles iam para a cama com as alunas, e digo: “Vocês não estão bons da cabeça!” Diziam uns aos outros: “Aquela vai à cama?! Se soubesse, tinha-lhe dado melhor nota.” Isto assim, à minha frente! Eu dizia: “Esperem ao menos que elas acabem a licenciatura.” Mas os meus colegas achavam normalíssimo ir para a cama com as alunas. Em Portugal há a promiscuidade do sexo e a promiscuidade do parentesco.
A endogamia ainda é um problema, nas nossas universidades?
Basta olhar para os apelidos. Quando a minha universidade fez 100 anos, fui convidada como antiga aluna. Estavam lá professores da Faculdade de Direito e perguntei se ainda existe endogamia na faculdade. “Ah, de todo!”, responderam-me. E dava vontade de rir – bastava olhar para os apelidos iguais, claramente filhos ou sobrinhos. Há endogamia. E há nepotismo.

     Isto só pode ser surpreendente para quem não conhece os meandros do ensino superior. Já no tempo em que por lá passámos determinados professores tentavam seduzir alunas e «ir para a cama com elas», pelo que atualmente, tendo até em consideração a crise económica, a situação tenderá a amplificar-se. Umas, poucas, aceitavam; a maioria não.

Quelque chose comme moi!

     «Eu acho que, com a idade que temos, nós é que deveríamos impor as regras. Pensar "então se tenho ido a todas as festas, não preciso de ir a esta. É dinheiro que poupo e uma noite em casa". Os nosso pais matam-se a trabalhar para nós irmos todas as sextas sair até às tantas. Não concordo.
     Mas uma coisa que me irrita é quando desconfiam de mim! Epa não é bem desconfiar, mas é a sensação que dá. Eu esforço-me pelas notas, para me portar bem, para tudo (e não digam que não) e só sabem dizer "andas de cabeça no ar"; "logo te conto uma história quando saírem as notas"... Olha, sinceramente não percebo! Não percebo onde estou a errar! Não sei. É óbvio que também tenho os meus momentos mais "malucos" e de cabeça no ar, mas bolas! Eu trabalho, eu porto-me bem... Eu não vos dou motivos de problemas, não armo confusão. E depois mandas uma boca destas? Olha não percebo. Sou responsável e sei por-me no meu lugar. Sei quando chega e quando é demais. E o que sabes é criticar... Sinceramente não percebo! E tu não entendes o quanto isso me irrita! A sério, é das coisas que mais me irrita. Quando eu faço TUDO POR TUDO para te dar alegrias e tu chateias-te por algo que ACHAS que estou a fazer! IRRITA como não calculas!!!! E entristece!!»

     «Roubado« de um blogue de uma jovem estudante de 17 anos, natural de Beja: http://sofiaa-isaabel.blogspot.pt/2011/10/blog-da-bea-continuacao-do-seu-post.html. Começa a ser raro encontrar testemunhos destes, que vão desde o reconhecimento do esforço familiar para proporcionar um futuro melhor; a necessidade de reconhecer o estatuto de (quase) adulto; o desejo de confiança em si enquanto pessoa; a pressão para obter boas notas; a injustiça na apreciação do esforço e do estudo...

     Parabéns à Sofia Isabel, autora do «Quelque chose comme moi!».

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Questionário SERMÃO - Texto Introdutório

1.1.  O Sermão foi proferido na Cidade de S. Luís do Maranhão no ano de 1654.

1.2.   Padre António Vieira encontrava –se nesse local nessa data devido à Companhia de Jesus lhe ter ordenado que regressa-se como missionário no Maranhão para evangelizar os índios e pregar.

1.3.  A reação á doutrina que o Padre António Vieira pregava, era de luta por parte dos colonos e de misticidade.

1.3.1. Os ensinamentos da referida doutrina eram relevantes a nível espiritual e temporal daquela terra.

1.4.  O adjetivo usado para qualificar o Sermão é “alegórico” e pertence à subclasse dos adjetivos relacionais.

1.4.1. Alegoria é uma figura de estilo complexa baseada na analogia, que são geralmente metáforas. A alegoria encerra uma comparação alargada entre uma realidade concreta e animada, que é mostrada ao leitor/ouvinte com o objetivo de explicar/clarificar uma entidade abstrata (intelectual, moral, psicológica, sentimental, teórica). Por exemplo, assim, com fama e glória, teve os troféus pendentes da vitória.

Filipa P.

Questionário SERMÃO - Texto Introdutório

1.1. O Sermão foi proferido na cidade de S.Luís Maranhão no ano de 1654.

1.2. O Padre António Vieira encontrava – se em S. Luís de Maranhão no Brasil em 1654 para pronunciar o sermão aos peixes destinado a encontrar uma salvação para os índios.

1.3. De acordo com a nota, a «doutrina» que o padre pregava teve uma má reação pela parte da população pois fora perseguida.

1.3.1. Os dois aspetos da vida do homem eram os mais necessários ao bem espiritual e temporal daquela terra.

1.4. alegórico ”

1.4.1. 

Ana F.

Questionário SERMÃO - Texto Introdutório

1.1- O sermão foi proferido na cidade de S. Luís do Maranhão , no ano de 1654.

1.2-  O motivo por que se encontrava nesse local, nessa data foi por ter embarcado para o reino, à procura do remédio da salvação dos índios para obter uma legislação justa para os índios.

1.3- A reação à «doutrina» que o Padre António Vieira pregava foi uma doutrina bem recebida, pois podemos ver com o que aparece entre parenteses  que é (posto que perseguida).

1.3.1- Os ensinamentos  da referida doutrina eram relevantes em duas vertentes da vida do Homem que eram  necessários ao bem espiritual e temporal daquela terra.

1.4-  O adjetivo usado para qualificar o sermão foi alegórico e a sua subclasse é qualificativo.

1.4.1- O adjetivo referido remete para a figura de retórica «alegoria» porque os peixes são a personificação dos homens. Alegoria designa-se por uma representação concreta do abstrato. O sermão está associado a este conceito pois, o Padre Vieira quando fala aos peixes na verdade é aos homens que se dirigi. Como exemplo o polvo, que tem defeitos como a traição e ataca sempre de emboscada,  porque se disfarça, partilha estas características com os judas.

A. A. 

Liga dos Campeões: na tua casa ou na minha?


Discurso político: 25 de abril de 2012

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Caracterização de Alencar

     Alencar, o grande amigo de Pedro da Maia (fora o primeiro que vira Carlos depois deste nascer), é o representante do Ultrarromantismo.
     O retrato físico que dele é feito é tipicamente romântico:
          . alto;
          . magro;
          . face escaveirada;
          . olhos encovados;
          . nariz aquilino;
          . calvo na frente;
          . «testa lívida»;
          . «longos, espessos, românticos bigodes»;
          . dentes estragados;
          . vestido de negro.

     Psicologicamente, Alencar
  • aparentava um ar antiquado, artificial e lúgubre (pág. 159);
  • adota poses solenes, pomposas, arrebatas e retrógradas;
  • é considerado um gentleman (pág. 176), generoso (175) e um «patriota à antiga» (167).
     Quanto à sua linguagem, é formal («Vossa Excelência» e a voz «arrastada, cavernosa, ateatrada».

     O episódio do Jantar do Hotel Central revela-nos o defensor do Ultrarromantismo em todo o seu esplendor:
  • opõe-se ao Realismo e ao Naturalismo, que qualifica como «pústula», «pus», «literatura latrinária», «excremento»;
  • incoerente, condena no presente o que cantara no passado: o estudo dos vícios da sociedade;
  • falso moralista, refugia-se na moral por não ter outra arma de defesa e considera o Realismo imoral, ele que tivera um passado em nada exemplar;
  • mostra-se desfasado do seu tempo, numa espécie de fuga ao real: «... escreveu dois folhetins cruéis; ninguém os leu...»;
  • critica o poeta Craveiro (Antero de Quental?), o «paladino do Realismo» e da «Ideia Nova»;
  • defende a crítica literária de natureza académica:
  • feita de ataques pessoais e de calúnias;
  • preocupada com aspetos formais em detrimento dos aspetos temáticos («... dois erros de gramática, um verso errado...»);
  • obcecada com o plágio («... uma imagem roubada a Baudelaire...»).

Dâmaso Salcede

     Dâmaso é retratado em termos disfóricos desde o primeiro momento em que surge nas páginas do romance: gordo e baixo («um rapaz baixote» - notar o diminutivo depreciativo), de mau gosto, o tipo do novo rico, de aspeto ridículo e maneira de vestir pretensiosa: frisado como um noivo de província, de camélia ao peito e plastrão azul-celeste.
      Movido provavelmente por um complexo de inferioridade, faz tudo para se elevar ao nível de Carlos da Maia, procurando atrair, a propósito e a despropósito, a sua benevolência de admiração: «O senhor Dâmaso Salcede, que não despegava os olhos de Carlos...».
     Gabarola e estúpido, declara-se sabedor da vida dos Castro Gomes e de ter um tio em Paris, mas não capta a ironia de Ega: «E que tio! (...) O tio do Dâmaso governa a França, menino!»; pelo contrário, «Dâmaso, escarlate, estoirava de gozo...». Tem a mania do chique («Uma gente muito chique (...) chique a valer!»), mas o ridículo que o envolve desmente essa pretensão de requinte:
  • os seus critérios para avaliar o chiquismo são ridículos: «... criado de quarto, governanta inglesa para a filhita, femme de chambre, mais de vinte malas...»;
  • à pergunta se queria vermute, responde: «Sim, uma gotinha para o apetite...»;
  • caricata é ainda a forma como enaltece Paris: «Aquilo é que é terra! Isto aqui é um chiqueiro. (...) Aquele boulevarzinho, hem! Ai, eu gozo aquilo... E sei gozar, sei gozar, que eu conheço aquilo a palmo...»;
  • tem um discurso profuso e deselegante, pontuado de calão de baixo nível.
     Surgindo os dois retratos de forma consecutiva, é evidente o intuito do narrador fazer contrastá-los. Este facto explica-se pela imagem de dignidade que se pretende dar dela e por ser uma personagem de tragédia e, como tal, teria de ser nobre de caráter. Dâmaso, por seu turno, está marcado para figurante da crónica de costumes. É, portanto, uma personagem plana, uma caricatura, um tipo social, o representante do novo rico.

Episódio do Jantar no Hotel Central

     Este episódio surge no capítulo VI do romance e integra a chamada crónica de costumes. Estamos perante um acontecimento eminentemente mundano, integrado na crónica de costumes (recordar o subtítulo «Episódios da Vida Romântica»), cujo objetivo central é homenagear o banqueiro Cohen, de cuja mulher Ega (o promotor da homenagem) é amante.

1. Objetivos
  • Homenagear o banqueiro Jacob Cohen, uma iniciativa de João da Ega («... o Ega, alargando pouco a pouco a ideia, convertera-o agora numa festa de cerimónia em honra do Cohen...»).
  • Retratar a sociedade lisboeta.
  • Proporcionar a Carlos da Maia o primeiro contacto com o meio social lisboeta.
  • Apresentar a visão crítica de alguns problemas.
  • A nível da ação central: proporcionar a Carlos o primeiro encontro com Maria Eduarda.

2. Intervenientes

          . João da Ega

     Promotor do jantar, uma homenagem ao banqueiro Jacob Cohen, marido da «divina Raquel», com quem mantém uma relação adúltera, João da Ega defende o Realismo / Naturalismo. Ao assumir esta posição, acaba  por convocar o poeta Tomás de Alencar, representante do Ultrarromantismo, e criar uma enorme discussão. A sua postura ao longo do jantar assemelha-se à adotada pelos jovens escritores da Geração de 70, profundamente revolucionários, o que o leva, por vezes, a recorrer a argumentos exagerados para sustentar as suas ideias.

          . Jacob Cohen

     É o homenageado durante o jantar, o marido da «divina Raquel», diretor do Banco Nacional, por isso o representante das Finanças na obra.

          . Tomás de Alencar

     Representante do Ultrarromantismo, é confrontado com os princípios naturalistas / realistas defendidos por Ega.

          . Dâmaso Salcede

     É o tipo do novo rico burguês e a súmula dos defeitos da sociedade: provincianismo, vaidade, futilidade e oportunismo (repare-se como louva Carlos da Maia com o intuito de assumir uma posição mais preponderante na sociedade.

          . Carlos da Maia

     O episódio proporciona-lhe o primeiro contacto com a sociedade, mantendo, durante o evento, uma posição relativamente discreta.

          . Craft

     Representante da cultura artística e britânica, Craft tem uma participação pouco relevante neste episódio.


3. Temas discutidos durante o jantar


          1. Literatura
  • Tomás de Alencar:
  • defensor do Ultrarromantismo;
  • opositor do Realismo / Naturalismo, que qualifica depreciativamente como «pústula», «pus», «literatura latrinária», «o excremento»;
  • incoerente: condena no presente o que cantara no passado: o estudo dos vícios da sociedade;
  • falso moralista: refugia-se na moral por não ter outra arma de defesa, outros argumentos - considera o Realismo / Naturalismo imoral;
  • vive desfasado do seu tempo: «... escreveu dois folhetins cruéis; ninguém os leu...»;
  • crítico do poeta Craveiro (Antero de Quental?), o «paladino do Realismo» e da «Ideia Nova»;
  • defensor da crítica literária de natureza académica:
  • feita de ataques pessoais e de calúnias;
  • preocupada com aspetos formais em detrimento dos aspetos temáticos («... dois erros de gramática, um verso errado...»);
  • obcecada com o plágio («... uma imagem roubada a Baudelaire...»).
  • João da Ega:
  • defensor do Realismo / Naturalismo;
  • distorce e exagera as teses realistas / naturalistas (agnosticismo, positivismo, dependência das anomalias sociais de fatores como a educação, o meio, a hereditariedade, a raça...);
  • defensor do cientificismo na literatura;
  • não distingue Ciência e  Literatura.
  • Carlos:
  • recusa o ultrarromantismo de Alencar;
  • defende o romance como análise social: «Esse mundo de fadistas, de faias, parecia a Carlos merecer um estudo, um romance...»;
  • considera intoleráveis os ares científicos do Realismo: «... o mais intolerável no realismo eram os seus grandes ares científicos (...) e a invocação de Claude Bernard, do experimentalismo, do positivismo, de Stuart Mill e de Darwin, a propósito de uma lavadeira que dorme com um carpinteiro!»;
  • defende que os carateres só se manifestam pela ação;
  • recusa os exageros do Ega. 
  • Craft:
  • recusa o Ultrarromantismo de Alencar;
  • defende a arte como idealização do que de melhor há na natureza;
  • defende o conceito parnasiano da arte pela arte: «E a obra de arte (...) vive apenas pela forma...».
  • Narrador:
  • recusa o Ultrarromantismo de Alencar;
  • recusa a distorção do Naturalismo contida nas afirmações de Ega;
  • defende uma estética próxima da de Craft: «... estilos novos, tão preciosos e tão dúcteis...» - tendência parnasiana.
     Atente-se na proximidade das teses defendidas por Carlos, Craft e pelo narrador das sustentadas por Eça de Queirós, que advoga uma nova forma para a literatura.


          2. Finanças
  • o país tem absoluta necessidade dos empréstimos ao estrangeiro;
  • a ocupação dos ministérios é «cobrar o imposto» e «fazer o empréstimo» (tal como hoje, Portugal vivia de empréstimos ao estrangeiro e da cobrança de impostos);
  • Cohen representa a posição oficial: é calculista e cínico, pois, tendo responsabilidades em razão do cargo que desempenha (Diretor do Banco Nacional), lava as mãos do assunto e aceita "alegremente" que o país vai direito para a bancarrota (120 anos depois, o país enfrenta uma situação semelhante);
  • Ega representa a posição prenunciadora da ideologia anarco-republicana, vendo na bancarrota a oportunidade ideal para levar a cabo uma revolução: «À bancarrota seguia-se uma revolução, evidentemente. Um país que vive da inscrição, em não lha pagando, agarra no cacete. [...] E, passada a crise, Portugal, livre da velha dívida, da velha gente, dessa coleção grotesca de bestas...».

          3. A história política
  • Ega:
  • aplaude as afirmações do Cohen e delira com a bancarrota como determinante da agitação revolucionária;
  • defende o afastamento violento da Monarquia;
  • defende a invasão espanhola como forma de arrasar, enterrar o velho Portugal e construir um Portugal novo, «sério e inteligente, forte e decente, estudando, pensando, fazendo civilização como outrora... Meninos, nada regenera uma nação como uma medonha tareia...»;
  • aplaude a instauração da República;
  • enumera as consequências do Constitucionalismo:
  • falta de educação e de higiene («... piolhice dos liceus...»);
  • doença e devassidão («... roída de sífilis...»);
  • passividade e inércia («... apodrecida no bolor das secretarias...»);
  • comportamentos rotineiros («... arejada apenas ao domingo...»);
  • perda da coragem e da dignidade («... perderam o músculo...»; «... perderam o caráter...»);
  • centralismo («Lisboa é Portugal! Fora de Lisboa não há nada.»);
  • fraqueza física e moral («... a raça mais fraca e mais cobarde...»).
  • Alencar:
  • opõe-se à invasão espanhola, pois considera-a um perigo para a independência nacional, e dispõe-se a despertar o patriotismo do país com os seus poemas;
  • defende o romantismo político: 
  • uma democracia humanitária (de 1848);
  • uma república governada por génios;
  • a fraternidade entre os povos, «os Estados Unidos da Europa»; 
  • repudia o talento dos seus conterrâneos, despeitado com o desprezo «desses politicotes», seus companheiros de farra antes de cumprirem as suas ambições;
  • protesta contra a alegre fantasia dos companheiros afirmando exaltadamente o amor pela pátria.
  • Cohen:
  • defende a existência de gente séria e honesta nas camadas políticas dirigentes;
  • condescende na necessidade de reformas no país;
  • considera Ega e Alencar uns exagerados;
  • em caso de invasão, participaria com o financiamento (as armas e a artilharia comprar-se-iam na América);
  • juntamente com Ega, organizaria a guerrilha.
  • Dâmaso:
  • exemplo de covardia:
  • se se desse a invasão espanhola, «raspava-se» imediatamente para Paris;
  • considera ainda que toda a gente fugiria como uma lebre. 
  • revela grande reverência relativamente a Carlos.


4. Fim do jantar - resolução da disputa
  • Ega e Alencar insultam-se mutuamente;
  • fazem uso de uma linguagem escabrosa e ofensiva;
  • envolvem-se numa zaragata que quase termina numa sessão de pugilato;
  • acabam por fazer as «pazes à portuguesa»: reconciliação e mostras de arrependimento, com abraços e protestos de amizade;
  • ou seja, esgotados os argumentos, passa-se à pessoalização das questões (= Questão Coimbrã, após as primeiras intervenções críticas; o desafio para um duelo entre Antero de Quental e Ramalho Ortigão).


5. Conclusões - o modo de ser português


     1. A falta de personalidade:
  • Alencar muda de opinião quando Cohen assim o pretende;
  • Ega muda também de opinião quando Cohen o pretende;
  • Dâmaso, cuja divisa é «Sou forte», aponta o caminho covarde da fuga.
     2. A disputa Ultrarromantismo / Naturalismo, reflexo da Questão Coimbrã.

     3. A falta de coragem / a covardia domina a sociedade, «... desde el-rei nosso senhor até aos cretinos de secretaria!...».

     4. A falta de cultura e civismo domina as classes mais destacadas, com exceção de Carlos e de Craft.

     5. O exército:

  • em caso de invasão, teriam de se alugar os generais para defesa da pátria;
  • a falta de disciplina dos soldados, não obstante serem «teso(s)»;
  • a fraqueza física e moral («Um regimento, depois de dois dias de marcha, dava entrada em massa no hospital!»; o episódio do marujo sueco).

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Semana Académica - Porto 2012 - Cartaz


"Escolas escondem crimes das autoridades"

     «Quatro anos depois de o procurador-geral da República, Pinto Monteiro, ter eleito o combate à violência em meio escolar como prioridade e apelado às escolas para participarem os casos, os estabelecimentos de ensino continuam a esconder das autoridades os crimes cometidos no seu interior.

     O alerta foi feito esta quarta-feira por Celso Manata, coordenador dos procuradores do Ministério Público junto do Tribunal de Família e Menores de Lisboa. "A atitude paternalista das escolas, típica dos países do sul da Europa, desculpando muitas situações, acaba por prejudicar os miúdos, porque passa uma ideia de impunidade e depois quando os casos nos chegam a nós já as coisas são mais graves", disse Celso Manata, no seminário Segurança em Ambiente Escolar, organizado pela PSP, que se realizou ontem no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, em Lisboa.

     O procurador admite as dificuldades sentidas por professores, funcionários e órgãos de gestão das escolas e apela à sua coragem. "Eu sei que muitas vezes é difícil participar as ocorrências porque os miúdos e as famílias não são fáceis, mas há que ter coragem para informar as autoridades", afirmou.
     Os últimos números conhecidos apontam contudo para um aumento de 22 por cento nas ocorrências em contexto escolar participadas às forças de segurança. De acordo, com o Relatório Anual de Segurança Interna, a PSP e a GNR receberam no ano lectivo 2010/2011, no âmbito do Programa Escola Segura, 5762 ocorrências, das quais 4284 foram de natureza criminal.»
(c) Correio da Manhã

A «soirée» dos Gouvarinhos

     O encontro de algumas das personagens do «nosso» romance em casa dos Condes de Gouvarinho é um dos momentos da crónica de costumes.
     Nela há a destacar a fraca afluência, reveladora do desinteresse pelo evento, e o ambiente de dormêwncia, de tédio: «Enfim, secara-se.».
     Por outro lado, o narrador destaca as conversas balofas e entediantes do conde e as conversas ocas da condessa, representativas da sua falta de cultura e ignorância: «Imaginava que a Inglaterra é um país sem poetas, sem artistas, sem ideias, ocupando-se só de amontoar libras...». Como consequência, o interesse de Carlos da Maia por ela transforma-se num grande tédio, à semelhança, no fundo, do que acontecera com todas as suas paixões.

Vila Balzac

1. Origem do nome

     O nome da habitação está relacionado com o escritor francês Balzac. A escolha de Ega reflete a sua dualidade literária e a sua personalidade contraditória, pois Balzac foi um escritor francês realista que, tal como Ega, se dividiu entre o Romantismo e o Realismo.


2. Localização:
  • na Penha de França, algures na Graça;
  • local isolado e solitário, propício ao estudo, «às horas de arte e ideal», escolhido «Porque ia fechar-se lá, como num claustro de letras, a findar as «Memórias de um Átomo».


3. Descrição

     Após a leitura do início do capítulo VI, facilmente se conclui que a Vila Balzac é o reflexo de João da Ega. Carlos rapidamente o verifica, pois, quando certo dia vai visitar o amigo, depara com uma «casota de paredes enxovalhadas», imagem bem diferente das descrições idealizadas que Ega lhe fizera.


     3.1. A sala:
  • predomínio da cor verde;
  • ausência de decoração: tratando-se do espaço de um «intelectual» que se alimenta de uma «côdea de Ideal» e de «duas garfadas de filosofia», marca a oposição entre os ideais que apregoa e aquilo que é, de facto, pois a sua sensualidade sobrepõe-se à sua faceta intelectual.

     3.2. O quarto:
  • predomínio do vermelho: simbolicamente ligado à vida e à morte, esta ambivalência representa o ardor amoroso e carnal de um Eros triunfante que convida à transgressão (a relação adúltera de Ega com Raquel Cohen), mas, de tal modo exagerado, que se reveste de um caráter infernal e descontrolado que leva Ega a mascarar-se de Mefistófeles, assumindo, assim, a sua condição de amante cego e infernal;
  • o leito enorme «enchia, esmagava tudo. (...) o centro da Vila Balzac...";
  • o luxo e os ornatos espaventosos;
  • o aparato de tabernáculo: traduz a sordidez da relação;
  • o espelho, como num lupanar:
  • o caráter narcisista e ocioso de Ega;
  • a sordidez, a sensualidade e a vida dissoluta de Ega e dos amores adúlteros com Raquel Cohen;
  • o «olhar silencioso e doce» que Ega lança ao leito e o gesto de «passar uma pontinha da língua sobre o beiço»;
  • a mesinha de cabeceira repleta de livros de Spencer, Baudelaire e Stuart Mill;
  • a garrafa de champanhe e os copos sobre a cómoda;
  • o toucador em desordem;
  • os ganchos do cabelo e os ferros de frisar.

     3.3. A sala de jantar:
  • a eloquência chocarreira do Ega: «- A sr.ª Josefa, solteira, de temperamento sanguíneo (...)»; «E, como quando eu recolher, talvez a sr.ª Josefa esteja entregue ao sono da inocência, ou à vigília da devassidão...»;
  • os olhares trocados e os subentendidos: «A moça sorria, sem embaraço, habituada decerto a estas familiaridades boémias.»; «E subitamente, numa outra vez, com um olhar que ela devia perceber...».


4. Conclusão

     Em jeito de conclusão, podemos afirmar que, afinal, o recanto de estudo de João da Ega não passa de uma sórdida alcova de furtivos amores ilícitos.
     Por outro lado, a Vila Balzac configura um espaço de contraste entre o ser (a realidade:a imundície, a sensualidade, a sordidez, a familiaridade pouco digna com os empregados, o refúgio de amores ilícitos) e o parecer (o idealizado, a partir das descrições de Ega: o falso requinte).

terça-feira, 17 de abril de 2012

Padre António Vieira


O espaço social de OS MAIAS - Introdução

     «Os Maias são, superficialmente, um fresco caricatural da sociedade portuguesa do século XIX em forma de crónica de costumes, com fortes caraterísticas de romance folhetinesco.» (Machado da Rosa, Eça, discípulo de Machado?).

     O romance realista visava a crítica social que espelha determinados vícios / defeitos de caráter e de personalidade do Homem, explicados / analisados segundo uma perspetiva determinista.
     É para aí que aponta o subtítulo do romance - Episódios da Vida Romântica -, isto é, para «a pintura detalhada de uma sociedade" de uma determinada época - a da Regeneração - e de um meio - o da alta sociedade lisboeta. Esta radiografia é feita à custa de dois recursos específicos: as personagens-tipo, isto é, personagens figurantes que tipificam um determinado grupo social, caraterizando-o, e a representação de ambientes, a partir de episódios.

     De acordo com Carlos Reis (Introdução à leitura de Os Maias), estes dados permitem-nos integrar o romance «no estatuto do roman-fleuve, também chamado romance-fresco; estreitamente ligado à problemática (...) do romance de família, o romance-fresco é aquele que "através da aventura de um indivíduo, de uma família, de um clã, aspira a captar um momento histórico numa sociedade. Deseja também, como o romance histórico ou o romance rural, representar a cor exata de uma época e de um meio"».

Questionário - Texto introdutório

1. A nota apresentada no início do sermão fornece alguns dados pertinentes sobre o contexto extralinguístico em que foi proferido e sobre o próprio texto.

1.1. Indique o lugar e a data em que foi proferido o Sermão.

1.2. Recorde as informações que recolheu sobre a vida e a obra do Padre António Vieira e indique o motivo por que se encontrava nesse local nessa data.

1.3. De acordo com a nota, qual era a reação à «doutrina» que o Padre António Vieira pregava?

1.3.1. Os ensinamentos da referida doutrina eram relevantes em duas vertentes da vida do homem. Identifique-as.

1.4. Transcreva o adjetivo usado para qualificar o Sermão e mencione a sua subclasse.

1.4.1. O adjetivo referido remete para a figura de retórica «alegoria». Apresente uma definição deste recurso estilístico e um exemplo.

Sermão de Santo António aos Peixes: texto introdutório

Pregado na Cidade de S. Luís do Maranhão, ano de 1654

     Este Sermão (que todo é alegórico) pregou o Autor três dias antes de se embarcar ocultamente para o Reino, a procurar o remédio da salvação dos índios, pelas causas que se apontam no I. Sermão do I. Tomo. E nele tocou todos os pontos de doutrina (posto que perseguida) que mais necessários eram ao bem espiritual, e temporal daquela terra, como facilmente se pode entender das mesmas alegorias.


                                                                  Vos estis sal terrae.
                                                                          Matth. 5

Sermão de Santo António aos Peixes

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Rever nota de exame subiu de 15 para 25 euros

     «Mais dez euros é quanto vai custar aos alunos que realizem exames o pedido de revisão da nota, caso não estejam satisfeitos com a avaliação atribuída.»

domingo, 15 de abril de 2012

"Tira o dedo do nariz"

Por vezes a distração
não permite que repares
no que fazes de errado
se estás em certos lugares.

Anda a mão a passear
sem ouvir o que se diz
e de repente está o dedo
enfiado no nariz.

Esse gesto, além de feio,
nada tem de asseado;
seja qual for o dedo,
é melhor estar sossegado.

O nariz não é abrigo
em que o dedo deva estar
e se fores meu amigo
bem o deves controlar.

E para veres a figura
que às vezes estás a fazer
repara nos condutores
que modos não sabem ter.

Lá estão eles nos sinais
à espera que o verde caia,
à procura de um "presente"
que do seu nariz lhes saia.

                          José Jorge Letria, Porta-te bem!

Aumento da idade de reforma


(c) Henricartoon

sábado, 14 de abril de 2012

Vida e Obra Vieira

Padre António Vieira - sua vida e suas lutas



(c) SCML


quinta-feira, 12 de abril de 2012

Processos irregulares de formação de palavras

     Além da derivação e da composição, existem outros processos de introduzir palavras numa dada língua.
     Com efeito, as línguas são organismos vivos que permanentemente se enriquecem com a criação de novas palavras ou expressões (neologismos), ao nível da forma e / ou do significado), denotando novas realidades.

1. Sigla: palavra que resulta da redução de um grupo de palavras às suas iniciais, pronunciando-se letra a letra.
          . AVC (Acidente Vascular Cerebral)
          . GNR (Guarda Nacional Republicana)
          . SLB (Sport Lisboa e Benfica)
          . TSF (Telefonia Sem Fios)

2. Acrónimo: palavra que resulta da junção de letras ou sílabas iniciais de um grupo de palavras, sendo pronunciada como uma palavra corrente, ao contrário da sigla, que é soletrada.
          . INEM (Instituto Nacional de Emergência Médica)
          . IVA (Imposto sobre o Valor Acrescentado)

3. Truncação: criação de uma palavra a partir do apagamento de parte da palavra de que deriva.
          . Otorrino (otorrinolaringologista)
          . Metro (metropolitano)
          . Mini (minissaia)
          . Pneu (pneumático)

4. Amálgama: palavra que resulta da junção de partes de duas ou mais palavras.
          . Portunhol (português + espanhol)

5. Empréstimo: palavra estrangeira adotada por uma língua.
          . Hambúrguer
          . Outdoor
          . Ranking
          . Robô

6. Extensão semântica: uma palavra (já existente) adquire um novo significado.
          . Leitor (informática)

7. Onomatopeia: palavra que imita o som produzido por objetos, animais, fenómenos naturais...
          . Ão-ão (latido de um cão)
          . Bang (tiro)
          . Atchim (espirro)

quarta-feira, 11 de abril de 2012

A revisão do Acordo Ortográfico

     «Com data de 29.3.2012, podemos ler no Blog da Casa Civil do Presidente da República de Angola (http://www.casacivilpr.com/ pt/noticias/2012/03/29/angola-protela-adopcao-do-acordo-ortografico/) que Angola protela a adopção do novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, porque pretende estudar e avaliar uma série de aspectos de conteúdo, no sentido de acautelar as implicações no sistema educativo nacional. O AO continua a ser avaliado, para que "no caso de ser ratificado" (note-se bem: no caso de...), "o mesmo não cause dificuldades ao sistema educativo em vigor no país". E aponta-se a falta de preparação dos alunos, professores e as implicações que têm a ver com a produção de materiais didácticos, como alguns factores que condicionam a adesão de Angola ao novo acordo.
     Acresce um ponto verdadeiramente enigmático na declaração final do encontro: o reconhecimento da "necessidade de se estabelecer formas de cooperação entre a Língua Portuguesa e as demais línguas em convívio nos Estados Membros". O que é que isto quer dizer? O que é cooperação entre línguas? Quais são as línguas em questão? O francês na África Ocidental? O inglês na África Austral? As várias línguas nativas a leste e a oeste?
     O significado profundo desta coisa traduz provavelmente a confissão envergonhada, por parte do neocolonialismo luso-brasileiro, de que o AO não dispõe absolutamente nada para a grafia de vocábulos das línguas nativas que tenham sido incorporados no português. Se é este o sentido útil desse ponto, isto significa o reconhecimento, por todos os governos, de que, também por esta razão, o AO não pode ser aplicado enquanto não for alterado!
     Por outro lado, a declaração reconhece a inexistência de vários vocabulários ortográficos nacionais e, ipso facto, a inexistência do vocabulário ortográfico comum da língua portuguesa exigido pelo AO, o qual deveria arrancar daqueles e ser elaborado com a participação de todos os estados membros.
     Fala-se depois na necessidade de desencadear acções que diagnostiquem os tais constrangimentos e estrangulamentos na aplicação do AO (volto a perguntar o que será um estrangulamento na aplicação do dito?) e redundem numa "proposta de ajustamento" do mesmo AO.
     Se se pretende uma proposta de ajustamento, aceita-se o princípio de uma revisão, que terá de ser objecto de tratado internacional e posterior ratificação para ser válida. Ou seja, a declaração final reconhece implicitamente que não tem pés nem cabeça o que se afirma, quanto ao vocabulário ortográfico do ILTEC e quanto ao segundo protocolo modificativo, nas letras gordas da leviana resolução do Conselho de Ministros n.º 8/2011, do Governo Sócrates: nenhum vocabulário ortográfico nacional pode substituir o vocabulário ortográfico comum que o AO exige e o tal protocolo nunca entrou em vigor.
     De resto, o melhor reconhecimento de que essa resolução 8/2011 vale zero vírgula zero, resulta, desde logo, de não haver sombras do AO na ortografia da declaração final. Ninguém, nem mesmo o Governo português, a quis aplicar...
     Tudo isto significa que Portugal assentou oficialmente na necessidade de revisão do AO. E isso deveria levar à suspensão dele, por não fazer sentido que, enquanto tais acções de revisão e correcção estiverem em curso, se aplique entre nós o que, além de não estar em vigor, ainda não se sabe se vai ser aplicado, nem quando, nem onde, nem em que termos; nem se, afinal, é para todos, ou para ninguém.»
Vasco Graça Moura, Diário de Notícias
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