Português: Valor documental da cantiga de amigo

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Valor documental da cantiga de amigo

. Artístico: decoração, iluminuras;
o paralelismo com origem no ritmo natural do trabalho e da dança ou nos cânticos litúrgicos dialogados.

            . Histórico:     - costumes;
- maneiras de ser;
- formas de pensar;
- formas de vestir;
- elementos do al-Andaluz:
- a dança:
- as motivações bucólicas;
- a importância do mar;
- a guerra:    - o fossado / ferido (guerras da reconquista) (1);
                     - Castela (1).
            (1) De facto, o período da Poesia Trovadoresca coincide com a época de reconquista de terras aos mouros, luta em que se envolveram todos os reis peninsulares, dada a necessidade de afastar os mouros para África e retomar os territórios por eles conquistados. E as cantigas de amigo recriam esta época conturbada:
. a donzela, cheia de saudades do amigo, não sabe dele, pode estar em “cas del-rei”;
. na véspera da partida do amigo, despede-se dele, muito triste e preocupada;
. desabafa com a mãe a sua preocupação pelo amigo, que vai ou já partiu para o ferido.
            Além disso, convém também não esquecer as frequentes escaramuças com os castelhanos.

            . Linguístico: fase do Português Arcaico.

. Social:      - actividades domésticas (fiação, busca de água na fonte, etc.);
- a importância social da mulher  -  autoridade materna (a mãe proíbe ou permite os encontros amorosos da filha);  o seu papel  de mulher--mãe, que fica sozinha a resolver os problemas familiares, pois o homem está ausente;
- ausência dos homens (no "fossado", no "ferido" ou no mar);
- vida colectiva: romarias, bailes, festas populares;
- a hierarquia familiar;
- os sentimentos da mulher (donzela): a timidez, o pudor, a inexperiência do amor, a travessura, a alegria, a traquinice, a refilice, a mentirinha para  esconder os primeiros amores à mãe, a ansiedade de amar, a tristeza,  a saudade, a impaciência, o ciúme, o arrependimento, a alegria da reconciliação, a morte de amor, a ingenuidade, etc.;
- as ofertas de namorados.

            . Religioso:     - romarias;
                                   - forte religiosidade epocal (2):
® a fé;
® o aspecto lúdico.
            (2) a) A religiosidade do homem medieval está bem representada na cantiga de amigo, até porque se vivia em constante ambiente de guerra e era necessário rezar muito a "Nostro Senhor", pedindo-lhe protecção.

            b) As romarias reflectem esta preocupação, e os cânticos singelos e espontâneos transbordam de queixumes, anseios e preces a Deus. Daí as romarias, por exemplo, a Santiago de Compostela. Mas o povo, sobrecarregado de impostos e taxas e cheio de afazeres, não tem tempo nem dinheiro para se deslocar tão longe, por isso "limita-se" às pequenas ermidas, disseminadas por todo o lado. Essas romarias descrevem-nos uma variedade de situações apreciável:
* a donzela, chorosa, vai à ermida de San Simon, junto ao mar, pedir ao santo pelo seu amigo e lá fica à sua espera;
                        * se ele não voltar, está disposta a morrer;
                        * a menina ia também à ermida do Soveral, onde viu o amigo traidor;
* a donzela adorava ir a "San Simon de Val de Prados": as mães iam rezar, elas, eufóricas e traquinas, aproveitavam para bailar;
* um cavaleiro ficou desatinado quando foi a Santiago de Compostela e viu uma pastora muito bela.

            c) As fórmulas de juramento revestem muitas cantigas, recriando-nos a mundividência do homem medieval. Tudo gira à volta de Deus, é um mundo teocêntrico:
* por Santa Maria, roga a mãe à filha, por que não vai ela bailar para o amigo, não vá ficar encalhada para toda a vida;
* a donzela acredita em Santa Cecília e solicita-lhe ajuda para o amigo que partiu para o "fossado";
* a pastor, tão afastada de casa, no souto de Crexente, a falar, só, com um cavaleiro, mostra-se preocupada com a sua honra, com o que dirão as pessoas, e, então, pede-lhe, por Santa Maria, que se vá embora;
* por vezes, é o cavaleiro que exclama  "par Deus de Cruz"  ao  ouvir  cantar a mulher, sentindo de imediato que ela sofre uma grande "coita de amor";
* noutras ocasiões é a amiga da donzela que lhe pede, por Deus, que tenha pena dele, porque o viu sofrendo tanto.








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