Português: Capítulo V de A Sibila

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Capítulo V de A Sibila

            1. Relações homem-mulher (pp. 52-53)

            A mulher de A Sibila é um ser realista, intuitivo, responsável e profundamente enraizado na terra, enquanto o homem é um ser volúvel e irresponsável, que procura o prazer incessantemente (ex.: Francisco Teixeira). Vive fora de casa e deixa à mulher o encargo das responsabilidades económicas e administrativas e das tarefas domésticas; por isso, os homens dissipam os bens enquanto que as mulheres os conservam, ampliam e transmitem. As mulheres, escravas do lar, parasitas dos homens, aceitando, resignada e estoicamente, a sua condição de procriar e conservar, são hostis às inovações (p. 63), escapam às mudanças do tempo, mantêm as suas tradições ancestrais e são felizes à sua maneira. Os homens, vivendo fora de casa, em contacto com as alterações sociais, são marcados pela noção do tempo.
            Veja-se, a título exemplificativo, a relação marital entre Maria da Encarnação e Francisco Teixeira.
            Daqui resulta que as mulheres apresentam traços de virilidade e aversão pelo homem, "ser inútil e despótico, egoísta, cedendo aos vícios e à corrupção com uma facilidade fatalista, desenvolveu-se nelas cada vez com mais intensidade, não sem que o seu orgulho, porém, se abstivesse de julgar com muito rigor os exemplos masculinos da casa, nos quais encontravam sempre uma atenuante, um encanto, mesmo feito de fraquezas, e que os fazia tão queridos."
            Estamos, pois, perante uma sociedade matriarcal no que diz respeito à conservação dos bens, ao destino da casa. Os homens mantêm-se afastados das tarefas domésticas e administrativas e têm uma imagem negativa: marialvas, aventureiros, desbaratadores de fortunas: "Os rapazes cresciam e mostravam um gosto de mandria, de frívolos costumes, de prazeres. (...) deitando sortes aos amores.", "Os homens tinham sido sempre fatais para a casa da Vessada."; / "Deixavam às mulheres os cuidados das lavouras...", "As mulheres viam-se a braços com toda a responsabilidade..." (p. 52), "... ser inútil e despótico, egoísta, cedendo aos vícios e à corrupção..." (p. 53).


            2. Casamento de Estina

                        2.1. Noção de casamento: "Foi um enlace de conveniência...", associada à noção de propriedade  herança sagrada a conservar, aumentar e transmitir ao herdeiro seguinte: "E a propriedade dividida, desmantelada era como um corpo que se destroça. Casando, ela aumentava as possibilidades de um dia licitar sobre os bens, manter ainda aquele aconchego de campos ligados por carreiros brancos, a vessada (...)". (p. 54)
            Por outro lado, o casamento de Estina proporciona uma maior aproximação entre a mãe e Quina: "Eis Quina e Maria, lado a lado, e não frente a frente como outrora. Um grande sentimento de colaboração, que era mais do que amor, as unia agora. O afastamento de Estina servira para as revelar como complemento valioso, urgente, uma da outra." (p. 55).
            Dotada de temperamento grave, ria, por vezes, por uma necessidade de equilíbrio, ou, outras vezes, para exprimir o seu distanciamento em relação a certas atitudes, gostos ou artificialismos burgueses (de suas primas, por exemplo).


3. Quina conquista o poder económico, recuperando a casa da Vessada:
"Aos poucos, a casa da Vessada ficou entregue nas mãos de Quina, e ela foi considerada senhora absoluta dentro daquele pequeno reino de campos...". (p. 55)
            Contrariamente à irmã, Quina não casou, embora mantivesse uma relação de relativa proximidade com Adão, ocupada agora em "engrandecer os bens e o seu prestígio", agora "lado a lado, e não frente a frente como outrora" com a mãe.
            Dado que nunca sentiu "os prazeres femininos, o amor", "obcecou-se no fito de engrandecer os seus bens e o seu prestígio, primeiro com o objetivo de permanecer independente, saldar dívidas e corrigir as irresponsabilidades do pai", não tendo qualquer rebuço em recorrer à intriga.


            4. Crescimento do prestígio de Quina: "... a sua atividade de lavradeira a obrigava a correr pelos caminhos, conhecer gente grada, assistir a romarias, casamentos, receber presentes de afilhados, ser considerada e começar a ser saudada no adro pelas fidalgas. Contribuía para isso o prestígio de seu tio José, do Folgozinho.". (p. 56)


            5. Retrato de Inácio Lucas
- "era de má cepa" (metáfora)
- cruel
- "tinha dinheiro oculto (...) porque gostava de provar a fidelidade dos que o rodeavam, inspirando-lhes tentações, curiosidades, malícias"
- diabólico, demoníaco, sádico: "Acusava a mulher de o roubar, zurzia os filhos, para poder observar nela o rosto descomposto, ver como Estina empalidecia e apertava as mãos até as juntas ficarem mívidas e estalarem"
- todavia, amava Estina
- o desprezo dela enlouquecia-o (p. 57)

            Ele pretende minimizar a sua dor, através do transporte que dela faz para as almas alheias.


            6. Fragmentação do tempo

* Prolepse: "Quando ela morreu, ele disse..."; "Casou ainda depois, com uma mulherzinha laboriosa...". (p. 57)

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