- vidente, tem momentos de desorbitação
- conselheira
- idolatrada
- carente de ternura
- vaidosa
O "génio
conselheiro" de Quina permite-lhe introduzir-se em ambientes fidalguios,
onde testemunha a natureza das mulheres de sociedade e penetra nas suas intimidades
(3.º parágrafo, p. 62; 1.º e 2.º parágrafos, p. 63).
Por vaidade,
experimenta um regozijo insaciável pelos elogios e pela necessidade da sua
presença reclamada pelas senhoras fidalgas: "Até à morte não deixou de ser
sensível aos elogios, e corava de prazer sempre que ela fosse a beleza dos seus
cabelos brancos. Aquele convívio com fidalgas enervava-a. (...) quando elas a
chamavam e lhe faziam lugar para poisar os pés no estrado da braseira (...)
quando lhe pediam conselhos (...) Quina exultava.". (p. 64)
De facto, não
foi difícil a Quina, numa aldeia simples, destacar-se e rapidamente alcançar o
estatuto espiritual de vidente, conselheira e sibila. A sua vaidade insaciável
sentia-se satisfeita ao ser convidada para a casa dos ricos ou recebendo em sua
casa pessoas que lhe pediam conselhos.
A oração de
Quina transporta-a para um domínio insólito de pensamentos não codificáveis,
que lhe toma o comando completo dos sentidos, como um esquecimento da
existência destes. É a desorbitação de Quina, uma das suas "imagens de
marca" como sibila. Desta ascensão espiritual para uma dimensão
desconhecida, resultaria um mal-estar físico e de medo, seguido de um
sentimento de terror pelos horizontes vastos que teria vislumbrado. Retoma o
controlo das suas capacidades físicas e procura consolo na mãe, como um refúgio
ao movimento ascético do seu espírito, dotado de virtualidades ocultas para
aspirar a aproximar-se do transcendental. Pela sensação de medo e pela fraqueza
demonstrada, em consequência do movimento ascético e com rumo ao
transcendental, Quina envergonhar-se-ia e sentir-se-ia vulnerável e com
sentimentos de inferioridade. Não desculpa a ela própria tal sinal de fraqueza.
Observe-se o
episódio da página 69, que confirma o seu poder como sibila, de que se apresenta
a frase chave: "- É por via da condessa? Não te amofines - disse - que ela
não volta a casar."
2. Elisa Aida,
a inadaptada
Afilhada de
Maria da Encarnação e "parenta não muito próxima", Elisa Aida casou
aos catorze anos com um tio rico regressado do Tucumán, onde enriquecera como
plantador de açúcar. O marido fez-se conde de Monteros, de apelido Fattoni, daí
vindo o nome Elisa Aida Fattoni, Condessa de Monteros. O dinheiro do esposo vai
fazer dela uma fidalga: viaja (Itália e Constantinopla), aprende piano, veste
bem, torna-se bonita, de tal forma que Estina, que foi sua companheira de
escola, a não reconhece. E tudo por exigência da sua condição de aristocrata.
(pp. 25-26)
Apesar do luto
e artificialismo de que o marido a rodeia e que o título requer, Elisa manterá
sempre grande simpatia pelas coisas e pessoas do campo (pp. 26, 65). É
novamente a dicotomia campo/cidade (pp. 66-67).
Depois da morte
do cônjuge, leva uma vida muito recatada, passando muito tempo em casa,
abandonados o brilho e o luxo de outrora, e tornando-se muito mais humana e
natural. Gosta de falar com Quina e recebe-a frequentemente. É ela que lhe dá o
nome de "sibila".
Haverá sempre em
si um desequilíbrio resultante provavelmente do facto de ser uma pessoa do
campo que, repentina e precocemente, é projetada para uma vida de aristocracia
rica. (p. 26)
Um dos sinais
desse desequilíbrio é o facto de insistir muito com Quina para que a visite,
para ouvir o seu conselho de sibila, apesar de nunca a considerar sua igual,
sabendo sempre marcar as distâncias. Curioso também o facto de Quina aceitar
esses convites e esse diálogo equívoco com uma representante do artificialismo
burguês, ou melhor, uma espécie de ser híbrido porque oriunda do campo, com
ligações na cidade, convivendo com pessoas da aristocracia e da
intelectualidade que Quina odiava. Era o preço que tinha de pagar pelo acesso à
sociedade e pelo prestígio que tanto a envaideciam. (pp. 77-78 e 79)
É provavelmente
porque quer preservar a sua individualidade e a sua independência que não volta
a casar. Desagrada-lhe a vida da cidade e vai acabar os seus dias rodeada de
servidores e de gatos. (pp. 66, 71-72, 73 e 127).
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