Português: Capítulo VI de A Sibila

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Capítulo VI de A Sibila

            1. Quina – caracterização
- vidente, tem momentos de desorbitação
- conselheira
- idolatrada
- carente de ternura
- vaidosa

            O "génio conselheiro" de Quina permite-lhe introduzir-se em ambientes fidalguios, onde testemunha a natureza das mulheres de sociedade e penetra nas suas intimidades (3.º parágrafo, p. 62; 1.º e 2.º parágrafos, p. 63).
            Por vaidade, experimenta um regozijo insaciável pelos elogios e pela necessidade da sua presença reclamada pelas senhoras fidalgas: "Até à morte não deixou de ser sensível aos elogios, e corava de prazer sempre que ela fosse a beleza dos seus cabelos brancos. Aquele convívio com fidalgas enervava-a. (...) quando elas a chamavam e lhe faziam lugar para poisar os pés no estrado da braseira (...) quando lhe pediam conselhos (...) Quina exultava.". (p. 64)
            De facto, não foi difícil a Quina, numa aldeia simples, destacar-se e rapidamente alcançar o estatuto espiritual de vidente, conselheira e sibila. A sua vaidade insaciável sentia-se satisfeita ao ser convidada para a casa dos ricos ou recebendo em sua casa pessoas que lhe pediam conselhos.
            A oração de Quina transporta-a para um domínio insólito de pensamentos não codificáveis, que lhe toma o comando completo dos sentidos, como um esquecimento da existência destes. É a desorbitação de Quina, uma das suas "imagens de marca" como sibila. Desta ascensão espiritual para uma dimensão desconhecida, resultaria um mal-estar físico e de medo, seguido de um sentimento de terror pelos horizontes vastos que teria vislumbrado. Retoma o controlo das suas capacidades físicas e procura consolo na mãe, como um refúgio ao movimento ascético do seu espírito, dotado de virtualidades ocultas para aspirar a aproximar-se do transcendental. Pela sensação de medo e pela fraqueza demonstrada, em consequência do movimento ascético e com rumo ao transcendental, Quina envergonhar-se-ia e sentir-se-ia vulnerável e com sentimentos de inferioridade. Não desculpa a ela própria tal sinal de fraqueza.
            Observe-se o episódio da página 69, que confirma o seu poder como sibila, de que se apresenta a frase chave: "- É por via da condessa? Não te amofines - disse - que ela não volta a casar."


            2. Elisa Aida, a inadaptada

            Afilhada de Maria da Encarnação e "parenta não muito próxima", Elisa Aida casou aos catorze anos com um tio rico regressado do Tucumán, onde enriquecera como plantador de açúcar. O marido fez-se conde de Monteros, de apelido Fattoni, daí vindo o nome Elisa Aida Fattoni, Condessa de Monteros. O dinheiro do esposo vai fazer dela uma fidalga: viaja (Itália e Constantinopla), aprende piano, veste bem, torna-se bonita, de tal forma que Estina, que foi sua companheira de escola, a não reconhece. E tudo por exigência da sua condição de aristocrata. (pp. 25-26)
            Apesar do luto e artificialismo de que o marido a rodeia e que o título requer, Elisa manterá sempre grande simpatia pelas coisas e pessoas do campo (pp. 26, 65). É novamente a dicotomia campo/cidade (pp. 66-67).
            Depois da morte do cônjuge, leva uma vida muito recatada, passando muito tempo em casa, abandonados o brilho e o luxo de outrora, e tornando-se muito mais humana e natural. Gosta de falar com Quina e recebe-a frequentemente. É ela que lhe dá o nome de "sibila".
            Haverá sempre em si um desequilíbrio resultante provavelmente do facto de ser uma pessoa do campo que, repentina e precocemente, é projetada para uma vida de aristocracia rica. (p. 26)
            Um dos sinais desse desequilíbrio é o facto de insistir muito com Quina para que a visite, para ouvir o seu conselho de sibila, apesar de nunca a considerar sua igual, sabendo sempre marcar as distâncias. Curioso também o facto de Quina aceitar esses convites e esse diálogo equívoco com uma representante do artificialismo burguês, ou melhor, uma espécie de ser híbrido porque oriunda do campo, com ligações na cidade, convivendo com pessoas da aristocracia e da intelectualidade que Quina odiava. Era o preço que tinha de pagar pelo acesso à sociedade e pelo prestígio que tanto a envaideciam. (pp. 77-78 e 79)
            É provavelmente porque quer preservar a sua individualidade e a sua independência que não volta a casar. Desagrada-lhe a vida da cidade e vai acabar os seus dias rodeada de servidores e de gatos. (pp. 66, 71-72, 73 e 127).

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