Por outro lado,
deparamos, inicialmente, com uma Elisa Aida ociosa e, posteriormente,
romântica, com a caricata relação estabelecida com um misterioso homem. Desta
relação resulta a firmeza da sua decisão de não voltar a casar, por isso
rejeita a proposta de casamento de Abel, cedendo a um isolamento progressivo,
culminado na morte, em que só tem a companhia dos gatos.
2. Estina e
Inácio Lucas, o casal infeliz
A vida de
Estina é pautada pela infelicidade e pelo sofrimento a que só a sua forte
vontade e grande estoicismo permitirão resistir. É, afinal, o resultado de um
casamento sem amor, de acordo com a noção de casamento expressa na obra. As causas deste sofrimento são:
-» as difíceis relações com o
marido, que não ama, mas a quem sempre será fiel;
-» a morte de dois filhos,
vitimados pela brutalidade do pai;
-» a filha que sobreviveu mas
que sofre de alucinações;
-» a morte da mãe e da filha
(p. 121).
Vítima de um
casamento sem amor, do mau carácter do marido ("Inácio Lucas torturara-a
sempre, tentara aniquilá-la, sem, no fundo, o desejar; e a fama das suas
sevícias, da sua crueldade mórbida, de carrasco, correra a freguesia inteira,
onde era conceituado como espécime diabólico."), bem como da sua cólera,
nem por isso Estina deixa de ser uma pessoa boa e generosa: "Contudo, o
seu coração era generoso e grande..." (p. 81). Todavia, "continuava a
mesma mulher bela, austera, fria...", não obstante a brutalidade do marido,
culpado da morte de dois filhos, nem a opinião da mãe a fazem abandonar a casa:
"Os dois filhos de Estina..." até "- Não deixo a minha casa.
Isso não faço nunca." (p. 81)
São grandes as
semelhanças de Estina com Maria e Quina, já anteriormente apontadas na página
54: "(...) E o «beiral», construção quase lacustre, (...). E o pomar onde
cresciam as melancias em que cada criança todos os anos ia escrever o seu nome
na casca tenra (...) E as bermas (...) Aquela terra negra, (...) onde a mesma
árvore foi fiel e deu durante tanto tempo o seu fruto, onde tantas mulheres
gritaram a sua hora de parto - deixar que se despedace, que se reduza a
informes restos, que fique sujeita apenas a um significado de imóvel que se
negoceia, que muda de mãos, que se avilta! Estina resolveu casar.
Foi viver em
Morouços (...) evitando falar do marido, que ela não amava." (p. 54)
Estina tem um
profundo sentimento de conservação dos bens da família, como se, do
desaparecimento de algum deles, resultasse um desmanchar da tradição e da
família. A terra e o património são valores inalienáveis que justificam todos
os sacrifícios, inclusivamente o casamento sem amor que, consuetudinariamente,
se reveste de uma necessidade de aumentar o património e a segurança da família
e da conservação do espírito de clã.
3. Sublimação
dos laços de sangue
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