sexta-feira, 30 de junho de 2023
Organização das sequências narrativas de O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá
Relevo da ação de O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá
→ a narrativa que envolve
o Tempo, a Manhã e o Vento;
→ a conversa do Gato com a
Coruja;
→ o episódio da Vaca
Mocha;
→ a história do Reverendo
Papagaio;
→ a conversa entre a Pata
Pepita e o Pato Pernóstico;
Estrutura da ação de O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá
Comentário a O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá
Pelo
exposto, a obra constitui uma reflexão sobre os amores impossíveis, uma
temática intemporal. Assim, retrata de forma simples os preconceitos existentes
na sociedade que impedem determinadas relações amorosas. Continua a não ser
incomum, em pleno século XXI, a crítica e a obstaculização de romances entre
pessoas de etnias diferentes, de cor de pele distinta, de classe social
diversa, etc., e que envolvem a oposição de várias pessoas, nomeadamente das
próprias famílias. Por exemplo, os infaustos amores narrados em Romeu e
Julieta e Amor de Perdição prendem-se com preconceitos sociais e com
os ódios entre as famílias dos protagonistas.
Por
outro lado, o texto suscita o confronto entre o amor espontâneo e livre e os
casamentos arranjados. O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá conhecem-se, dialogam
e apaixonam-se, mas não se podem casar, pois as leis do reino animal não o
permitem. Mais do que isso, Sinhá acaba por se casar, contrariada, com o
Rouxinol, a quem estava prometida. Recordando novamente Amor de Perdição,
Tadeu Albuquerque queria casar, à força, a sua filha Teresa com o primo
Baltasar Coutinho, intuito que só não se concretizou graças à rebeldia e
determinação da jovem, embora tenha pago um preço elevado pela sua coragem: a
reclusão num convento e a morte. Na dita vida real, durante muitos séculos, os
casamentos eram arranjados pelas famílias dos noivos, que dessa forma
procuravam a perpetuação de alianças políticas ou militares ou a manutenção do
poder económico e do estatuto social familiar. O consentimento só passou a ser
possível a partir de 1140 com o Decreto de Graciano e apenas a seguir a 1670 a
indissolubilidade do casamento começou a ser contestada. Na atualidade, a
realidade do casamento arranjado e forçado está bem viva. É o que sucede entre
nós, por exemplo, com a etnia cigana, onde continua a ter grande prevalência,
porém não se esgota aí. De acordo com um relatório da OIT, o número de pessoas
obrigadas a casar passou de 15,4 milhões em 2016 para 22 em 2021. Deste total,
dois terços das pessoas são mulheres, isto é, cerca de 14,9 milhões. Além disso,
o relatório aponta para que a prevalência dos casamentos forçados se faça
sentir mais nos países árabes, seguidos da Ásia e dos países do Pacífico,
ocorrendo dois terços dos mesmos (envolvendo cerca de 14,2 milhões de pessoas)
na Ásia e no Pacífico, 14,5% na África (3,2 milhões) e 10,4% na Europa e Ásia
Central (2,3 milhões).
Filho de ator português não foi admitido em escola "por ser autista"
quinta-feira, 29 de junho de 2023
Resumo de O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá
Estrutura de O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá
• Jorge
Amado escreveu a história em Paris, em 1948;
• génese
da obra: presente do primeiro aniversário do filho;
• as belas
ilustrações de Crybé levam-no a publicar a obra vinte e oito anos depois de ter
sido escrita;
•
considerações do autor: “se o texto não paga a pena, as aquarelas não têm
preço”;
• o texto
original não foi alterado: “escrevê-lo sem nenhuma intenção de público e de
editor”.
• ao
filho;
• aos
familiares;
• a um
leitor desconhecido com diversos nomes e profissões – “amigo numeroso e
anónimo”;
• aos
leitores brasileiros e estrangeiros.
Explicação do título O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá
▪ a classificação:
trata-se de uma fábula, visto que as personagens são animais que agem como
seres humanos;
▪ a ação
tem como tema uma história de amor;
▪ as personagens
principais: um gato e uma andorinha.
segunda-feira, 26 de junho de 2023
domingo, 25 de junho de 2023
Obras de Alexandre O'Neill
1948 – A Ampola Miraculosa
1951 – Tempo de Fantasmas, Cadernos de Poesia, n.º 11
1958 – No Reino da Dinamarca
1960 – Abandono Vigiado
1962 – Poemas com Endereço
1965 – Feira Cabisbaixa
1969 – De Outubro na Ombreira
1972 – Entre a Cortina e a Vidraça
1979 – A Saca de Orelhas
1981 – As Horas
Já de Números Vestidas (em Poesias Completas – 1951-1981)
1983 – Dezanove
Poemas (em Poesias Completas – 1951-1983)
1967 – No Reino
da Dinamarca – Obra Poética (1951-1965), 2.ª edição
1974 – No Reino
da Dinamarca (1951-1969), 3.ª edição
1981 – Poesias
Completas (1951-1981)
1983 – Poesias
Completas (1951-1983)
1986 – O Princípio
de Utopia
2000 – Poesias
Completas
2005 – Poemas
Dispersos
1970 – As Andorinhas
não têm Restaurante
1980 – Uma
Coisa em Forma de Assim
1962 – Dom
Roberto
1963 – Pássaros
de Asas Cortadas
1967 – Sete
Balas para Selma
1969 – Águas
Vivas
1970 – A Grande
Roda
1975 – Schweik
na II Guerra Mundial (TV)
1976 – Cantigamente
(3 episódios da série)
1978 – Nós
por cá Todos Bem
1979 – Ninguém
(TV)
1979 – Lisboa
(TV)
VENDERIA-O
Quanto mais enfiam tecnologias nas escolas e aumentam as escolhas múltiplas, verdadeiros / falsos e afins, mais a ignorância relincha por aí. Os media são pasto ideal para esses relinchos:
sexta-feira, 23 de junho de 2023
Correção exame nacional de Português - 9.° ano - 2023
Texto A
1.1. C
1.2. A
1.3. C
1.4. B
Texto B
Ordem: 2 - 4 - 5 - 1 - 3.
3.1. A
3.2. C
3.3. B
Texto C
5.1. B - uma antítese
5.2. C - disjuntiva e copulativa
6. A - predicativo do sujeito
7. A - a maior riqueza para os habitantes da aldeia
8. B - "Todos os moradores se quotizam para a luz de carboneto ou de petróleo" (ll. 13-14)
9.1. C - adverbial consecutiva
9.2. D - era o rapazio, em particular
10. A - no pretérito mais-que-perfeito simples do indicativo
12. B - desejo
segunda-feira, 19 de junho de 2023
Na aula (XLVI): Marrocos
domingo, 18 de junho de 2023
sábado, 17 de junho de 2023
segunda-feira, 12 de junho de 2023
domingo, 11 de junho de 2023
quarta-feira, 7 de junho de 2023
Análise do poema "Pois que nada que dure ou que durando"
Esta ode de Ricardo Reis é composta por três quadras de versos decassilábicos (os três iniciais) e hexassilábicos (o quarto), com rima irregular: toante na primeira quadra (“durando” / “obramos”), consoante interpolada na segunda entre o primeiro e o quarto versos e cruzada entre o terceiro e o primeiro da seguinte (“presente” / “somente”); versos brancos ou soltos (vv. 1, 3, 4, 6, 10, 11 e 12).
O tema
da composição poética é a transitoriedade e a precariedade da vida, bem como o
valor dos atos que nela são praticados. Tudo passa, nada dura, ou, se dura, é
breve, e o valor do presente, que é hipotecado ao futuro, é igualmente
precário. Será que o próprio instante, dado que pode ser o derradeiro daquilo
que julgamos ser, é apenas nosso?
A composição
poética pode ser dividida em três momentos: a primeira quadra compreende a justificação
daquilo que se afirma no segundo momento; na segunda quadra e na primeira frase
da terceira, o sujeito poético defende a superioridade do momento presente em relação
ao futuro, visto que este (“amanhã”) não existe, pelo que a procura (“cura”) do
futuro é absurdo, já que priva o ser humano do bem presente; o terceiro momento
(de “Meu somente…” até ao final) é constituído por uma interrogação retórica,
por meio da qual se questiona se o instante presente será apenas seu, o que
indicia que o ser humano não controla o seu destino.
A
mensagem do poema é clara: nada que o ser humano faz no mundo é duradouro, ou,
sendo-o, não tem valor, e até as coisas que lhe são úteis rapidamente ele
perde, por isso deve preferir o prazer do momento presente à procura insensata
do futuro, pois este exige o mal do presente em troca do seu bem. Mas surge a
dúvida: será esse momento apenas do ser humano? Será o indivíduo apenas quem
existe nesse instante que pode ser o último daquele que finge ser? Atente-se na
referência ao fingimento, uma temática tão do agrado de Pessoa ortónimo, por
exemplo, em “Autopsicografia” e “Isto”.
A
musicalidade do poema assenta na aliteração (em /t/: “existe / Neste instante”
e /d/: “pode o derradeiro”) e no jogo das homónimas «ser» (“… que pode o
derradeiro / Ser de quem finjo ser?”). Além disso, o encavalgamento ou
transporte percorre, praticamente, todo o poema.
No que
diz respeito às formas verbais, predominam as que se encontram no presente do
indicativo, sugerindo a ideia de continuidade, e no presente do conjuntivo,
remetendo para o campo da possibilidade (“Pois que nada dure ou que
durando / Valha…”) ou exprimindo um desejo (“O prazer do momento anteponhamos”).
Por outro lado, nas duas primeiras quadras, é usada a primeira pessoa do
plural, enquanto na última ocorre a primeira do singular, o que confere à
interrogação final um acentuado grau de subjetividade, com a focalização no
«eu» daquilo que, anteriormente, tinha sido enunciado como próprio do coletivo,
do ser humano em geral. Por seu turno, a reiteração do vocábulo «cedo» (verso
4) realça a ideia de efemeridade da vida.
É
curioso notar que, na prática, o poema é constituído somente por três frases: uma
inicial de tipo declarativo, que abrange as duas primeiras quadras; uma
segunda, igualmente declarativa, mas bastante mais curta (“Amanhã não existe”),
e uma terceira, de tipo interrogativo, que finaliza o poema.
segunda-feira, 5 de junho de 2023
Análise do poema "Quando, Lídia, vier o nosso outono", de Ricardo Reis
Ao
gosto horaciano, Ricardo Reis usa o plural «nosso» e o vocativo para se dirigir
a uma interlocutora presente em vários dos seus poemas, a sua amada Lídia. O
outono que se aproxima, com tudo o que transporta já de inverno, e esquecido já
do verão, indicia o acentuar da decadência e a proximidade da morte, em
decorrência da passagem inexorável do tempo.
Deste
modo, o amarelecer das folhas tem ainda o tom dourado da vida; já é já o estio,
mas também não é ainda o inverno, a morte. Neste contexto, é preciso aproveitar
cada momento (carpe diem), mesmo que seja o último. O outono simboliza a
decadência, a velhice; o inverno, a morte, e a primavera, o recomeço ou a
renovação. Como esta última já passou, logo não lhe pertence (“… é de outrem” –
v. 4), e o inverno (a morte) se aproxima, o sujeito poético assume que é
necessário que tanto ele como a sua amada reservem “um pensamento (…) para o
que fica do que passa – o amarelo atual”. É visível aqui o autodomínio, a
contenção, o contentamento com o prazer relativo tão característicos da poesia
de Ricardo Reis.
domingo, 4 de junho de 2023
Análise do poema "Segredo", de Miguel Torga
Começando
a análise pelo título, o nome «segredo» remete para algo que não é
divulgado, que é do conhecimento de apenas um ou poucos indivíduos. No caso do
poema, o segredo em questão é aquilo que a personagem – presumivelmente uma
criança – guarda só para si, que apenas ela conhece: a descoberta de um ninho
com um ovo dentro, do qual nascerá um passarinho de quem pretende ser amigo.
É
exatamente isso que anuncia o primeiro verso: “Sei um ninho.” O menino
«descobriu» um ninho, conhece (“Sei”) – atenta-se na diferença entre «sei um
ninho» e «sei de um ninho» – a sua localização, e essa informação é exclusiva
dele. Os versos seguintes expandem a informação relativa a esse segredo: o
ninho contém um ovo, redondinho (o diminutivo sugere a sua beleza e a
perfeição), que, por sua vez, encerra dentro de si um passarinho (de novo o
recurso ao diminutivo afetivo).
O que
torna o ninho tão importante para o sujeito lírico é precisamente o facto de
conter um ovo com uma ave no seu interior. É essa expectativa de uma nova vida
que está prestes a nascer que o entusiasma e desperta em si sentimentos de
carinho, de ternura, de afetividade, indiciados – repita-se – pelo uso do
diminutivo («redondinho», «passarinho»).
A
segunda estrofe mostra-nos a determinação do «eu» em, «egoisticamente», guardar
o segredo só para si, mesmo que alguém, aparentemente, insista com ele para o
revelar: “Mas escusam de me atentar: / Nem o tiro, nem o ensino”. Assim sendo,
vai resistir à pressão para desvendar aos outros o seu segredo e tirar o
ninho, ou seja, resistindo à tentação de retirar o ninho do local onde se
encontra e de revelar a sua localização. De seguida, esclarece os motivos
que estão na base dessa sua decisão. De facto, afirma querer ser «um bom
menino», isto é, deseja agir corretamente, não revelando o ninho e a sua
localização, para o proteger, porque receia que os «outros» lhe façam mal, lhe
mexam, o perturbem, e quer ser amigo do passarinho que vai nascer. É fácil
imaginar que, se o «eu» revelasse o seu segredo, todos a quem o revelasse seriam
picados pela curiosidade de acorrer ao local e «perturbar« o ninho e a avezinha
quando esta nascesse. Por outro lado, o passarinho deixaria de ser o seu amigo
em exclusivo.
Os dois
últimos versos remetem para a liberdade: a avezinha voará pelos céus, espaço
amplo, infindável e sem portões, limites, barreiras, e aí poderá fazer o pino, exatamente
porque será livre para fazer o que quiser, incluindo virar-se de pernas para o
ar.
Este
poema relaciona-se com outro texto da autoria de Miguel Torga, concretamente o
conto “Jesus”: o assunto é o mesmo, isto é, a revelação de uma descoberta por
parte de um menino – um ninho – e a sua atitude de respeito para com o ovo que
contém e a avezinha que irá nascer.
O conto
narra a história de um menino que subiu a um enorme cedro e descobriu nela um
ninho que tinha um ovo. De seguida, deu um beijo no ovo, que, de imediato, estalou
e do seu interior saiu um passarinho. Este texto viu a luz do dia em 1940.
Quinze anos depois, em 1955, nasceu Clara Crabbé Rocha, filha de Miguel Torga,
que escreveu o poema “Segredo”, lembrando-se do conto: o primeiro verso (“Sei
um ninho.”) é uma repetição exata da frase que o menino do conto solta durante
a ceia com os pais.
Ora, o
ninho do poema, numa leitura biográfica, é o lar do escritor, e o ovo com o seu
passarinho é a nova vida que nele existe: a filha. O ovo é redondinho, como a
barriga de uma mulher em adiantado estado de gravidez. E, nos primeiros anos de
vida, os pais são os melhores amigos dos seus filhos, aqueles a quem estes
confidenciam os seus segredos e sonhos. Este pai, por sua vez, deseja a criar a
sua filha em liberdade, fornecendo-lhe asas que lhe permitam voar e fazer o
pino no ar.