Português: 09/01/2023 - 10/01/2023

segunda-feira, 18 de setembro de 2023

domingo, 17 de setembro de 2023

Benfica vence a Taça Vítor Hugo em basquetebol feminino

Benfica vence a Supertaça masculina de basquetebol

Benfica venceu a Elite Cup de hóquei em patins masculino

Análise do poema "Rapariga descalça", de Eugénio de Andrade


    O poema abre com uma nota temporal geradora de desconforto: chove. Estamos num dia característico do início da primavera, mais concretamente de abril: “A chuva em abril…” (v. 5). É nesse dia que o sujeito poético observa uma rapariga a descer (verbo de movimento) a rua e que capta a sua atenção. Passa, de seguida, à sua caracterização: caminha descalça (o que indicia pobreza); os seus pés são formosos e leves (a dupla adjetivação enfatiza a sua beleza e a agilidade e leveza do andar); “o corpo alto / parte dali, e nunca se desprende” sugere um corpo que constitui um todo que se apresenta harmonioso e agradável ao olhar. A repetição da expressão “são formosos” (vv. 2 e 3) intensifica a beleza dos pés.
    A caracterização prossegue na terceira e última quadra: ela é alegre (“canta”); corre enquanto desce a rua em direção ao mar, ligeira e veloz (“corre, voa”), como a gaivota que «passa» diante dos «olhos» do «eu» poético; é terrena, mas, perante a visão do mar, transfigura-se em corpo alado e etéreo (“brisa”), transformando-se, assim, no símbolo da leveza e da libertação. Neste passo do poema, destaca-se o recurso à enumeração do verso 11 (“canta, corre, voa”), que sugere a transfiguração da jovem num ser alado e etéreo através da aceleração progressiva do seu movimento. Outro recurso essencial na caracterização é a adjetivação (“pés descalços”, “formosos”, “formosos e leves”, “alto”), que acentua a expressividade do quadro sugerido no poema.
    Na segunda quadra, o «eu» procura traduzir a beleza daquele dia primaveril, apesar de chuvoso. O que o torna belo e permite superar o incómodo da chuva é a observação da passagem da rapariga, que faz com que o dia surja aos seus olhos como “um jogo inocente de luzes, / de crianças ou beijos, de fragatas”. Esta metáfora / imagem forma um quadro que associa àquele dia visões encantatórias de amor e afeto (“beijos”), de viagem (“fragatas”) e de sonho. Na descrição do dia, destaca-se a sinestesia “o sabor do sol” (v. 5), através da qual se opera a fusão dos sentidos (o gosto, a visão e o tato) e sobressaem elementos sensoriais que a chuva sugere, como o ruído da chuva e o brilho das gotas (“cada gota recente canta na folhagem” – v.6 – animização).A metáfora “O dia é um jogo inocente de luzes” (v. 7) constrói uma imagem de luz pura que torna aquele dia um momento de beleza, de inocência, de amor, de viagem e de sonho. A nível estilístico, destacam-se também as sensações, nomeadamente a visão (“Uma rapariga desce a rua.” – v. 1), o paladar (“A chuva em abril tem o sabor a sol” – v. 5), a audição (“Chove” – v. 1) e o tato (“leves” – v. 3)
    Nesta segunda estrofe, as referências ao tempo são muito significativas. Por um lado, sugerem o vigor da primavera (“A chuva em abril tem o sabor do sol” – v. 5); por outro, remetem para um ambiente diurno e luminoso (“O dia é um jogo inocente de luzes” – v. 7); em terceiro lugar, associam, metaforicamente, o ambiente descrito pelo sujeito poético a características da figura feminina, como a inocência e a alegria (vv. 7-8).
    O sujeito, assim que vê a rapariga a descer a rua, não esconde o seu encanto e deslumbramento face à beleza e graciosidade dela. Esse encanto é tal que ele consegue ver beleza naquele dia de chuva. Noutras circunstâncias, sem a imagem da jovem, seria um dia incómodo.
    O poema é constituído por três quadras, num total de 12 versos brancos de métrica irregular, predominando o verso decassílabo. Na primeira, o «eu» traduz o seu encantamento por uma rapariga que desce a rua e, de seguida, descreve-a, salientando a beleza dos seus pés descalços, a elegância do seu corpo alto e a sua graciosidade. Na segunda, o sentimento de encanto intensifica-se. O sujeito lírico capta a beleza daquele dia primaveril, apesar da chuva, motivada pela passagem da rapariga. Na terceira, a imagem da jovem, que, com a sua leveza, graciosidade e agilidade, parece perder a sua condição terrena e se torna etérea, sobrepõe-se à imagem de uma gaivota que passa diante dos seus olhos.

Benfica vence a Supertaça feminina de futsal

Benfica vence a Supertaça feminina de andebol


sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Soneto do velho escandaloso

     Hoje, faz anos Bocage: 15.09.1765 - 21.12.1805


                    Tu, ó demente velho descarado,

                    Escândalo do sexo masculino,

                    Que por alta justiça do Destino

                    Tens o impotente membro decepado!


                    Tu, que, em torpe furor incendiado

                    Sofres de ímpia paixão ardor maligno,

                    E a consorte gentil, de que és indigno,

                    Entregas a infrutífero castrado!


                    Tu, que tendo bebido o menstruo imundo,

                    Esse amor indiscreto te não gasta

                    De ímpia mulher o orgulho furibundo!


                    Em castigo do vício, que te arrasta,

                    Saiba a ínclita Lísia, e todo o mundo

                    Que és vil por génio, que és cabrão, e basta.


    Parabéns, Manuel Maria!

segunda-feira, 11 de setembro de 2023

O Duplo, de Fiódor Dostoiévski


 
    "Esta obra narra a história de um funcionário público obcecado pela existência de um colega, réplica de si próprio, que lhe usurpa a identidade, acabando por levá-lo à insanidade mental e à rutura com a sociedade. A afirmação da liberdade individual contra instituições e normas existentes para conter os impulsos de uma interioridade caótica é o tema-chave da obra, ainda que sobressaia também a compaixão pela condição dos humilhados. Goliádkin encarna o homem em revolta contra a sociedade e contra si próprio, um tema que ele considera universal e intemporal. O próprio romance é um caso de rutura com convenções literárias, daí a fraca aceitação que teve na época da sua publicação."
    Iákov Petróvitch Goliádkin (Goliádkin provém da palavra "goliadka", que significa «nu», «pobretão», «miserável») é um funcionário público de grau inferior que vive em Peterburgo, num apartamento próprio, com o criado Petruchka, que vive revoltado por um sentimento de inferioridade relativamente aos seus chefes e às camadas mais altas da sociedade.
    O médico aconselha-o a conviver, a divertir-se com amigos, mas Goliádkin tem a sua atenção centrada no almoço comemorativo do adversário de Klara Olsúfievna, filha única do conselheiro de estado Berendéev, outrora benfeitor de Goliádkin. Por isso, aluga um coche, veste a melhor fatiota que consegue, perfuma-se, mas é impedido de entrar em casa da aniversariante por ordem do pai. Desorientado, vagueia pela cidade, despede o coche e o cocheiro e entra, às escondidas, em casa de Berendéev. Acaba, finalmente, por concretizar as suas intenções e penetrar no salão, cheio de convidados, onde se realiza o baile, tenta dançar com Klara, mas é expulso do local.
    Desesperado e desorientado, Godiádkin vagueia pela cidade até se deter junto ao rio, contemplando as águas escuras que correm por baixo da ponte, quando se cruza com um homem surpreendente: o seu duplo. No local de emprego, o "duplo" vai ocupar o lugar de um funcionário recém-falecido. À saída do emprego, encontram-se, entabulam conversa e acabam por ir para casa de Goliádkin.
    Para maior surpresa do protagonista, além das semelhanças físicas, o "duplo" tem o mesmo nome, e, tal como no emprego, o criado Petruchka não estranha aquela situação. Goliádkin comove-se com a história de vida miserável do "duplo", convida-o a passar a noite e propõe-lhe cumplicidade em futuras manhas no emprego, de forma a "fazerem a cama" aos seus chefes.
    No entanto, no emprego o duplo escarnece e ridiculariza publicamente Goliádkin, atraiçoando-o também ao apropriar-se de um trabalho realizado por este e apresentá-lo como seu. O duplo usa a lisonja e a manha para conseguir a simpatia de todos e faz-se passar pelo verdadeiro Goliádkin (por exemplo, come num determinado sítio e, quando o verdadeiro Goliádkin também aí se desloca, é confrontado com a conta do que ambos comeram). Lentamente, vai perdendo as poucas relações que possui e apresenta um comportamento muito alterado, confuso, contraditório. Goliádkin suborna mesmo um funcionário menor para obter informações, convencido de que todos conspiram para o tramar.
    No entanto, os acontecimentos negativos sucedem-se: o intriguista "duplo" conquista todos os conhecidos de Goliádkin, que tenta a todo o custo explicar a sua situação, mas não é ouvido por ninguém; recebe uma carta de um dos chefes ordenando-lhe que entregue todos os processos que tinha em mãos a outro funcionário; quando chega um dia a casa, o criado Petruchka prepara-se para o abandonar. Pelo meio, recebe uma outra missiva, assinada por Klara, em que lhe é proposto fugir com ela, em virtude de a quererem forçar a casar com o "duplo".
    Goliádkin aluga um coche e vai mesmo esperar Klara para fugir com ela, mas, passado algum tempo, acaba por dispensar o cocheiro e evadir-se dali. Porém, decide voltar, contudo subitamente, em todas as janelas da casa de Klara, surgem vultos à sua procura. O "duplo" desce até o esconderijo onde ele se encontra e convida-o a entrar. Recebem-no de forma muito cordial e acabam por fazer as pazes os dois. É então que entra em cena o médico e o leva consigo, debaixo do entusiasmo dos inimigos de Goliádkin, para o internamento.

O Crime do Século, de Kingsley Amis


    Cristopher Dane é um escritor de romances policiais cujo herói é o superintendente Fenton.
    Em Londres, é cometido um crime que desperta a atenção de várias pessoas: Dane, Henry Addmas, Lucian Toye (médico e leitor dos mistérios de Fenton), Evan Williams (um funcionário dos correios recentemente saído de um hospital psiquiátrico), Ronnie Grainger (empregado de garagem, recém saído da prisão, depois de quatro anos preso por assalto à mão armada), Arthur Johnson, ajudante de relojoeiro, e Sir Neil Costello, conselheiro da rainha. O oficial encarregado do caso é o inspetor-detetive John Kemp.
    A vítima chama-se Bridget Ainsworth, que foi apunhalada com uma lâmina muito fina. A única pista encontrada é um papel com algumas letras, recortadas do jornal, preso ao casaco. Na noite seguinte, é encontrada morta Elizabeth Buck, da mesma forma.
    O governo inglês constitui um vasto grupo de investigação, constituído por Dickie Lambert-Syme, Peter Follet, Bill Barry, Quintin Young, George Henderson, Kemp, Neill Costello, Fergus MacBean, Marcus Varga e Benedict Royal, um cantor pop. Janice Collins é a terceira vítima. Além dos recortes de jornais que compõem, progressivamente, palavras, os assassínios seguem o alfabeto no que diz respeito ao sobrenome das vítimas: A, B, C... Esta comissão decide chamar C. Dane.
    Entretanto, a quarta vítima (Sandra Phillips - este nome vem contrariar a tese do alfabeto) é encontrada ainda vida e revela que os atacantes eram dois homens, um deles com sotaque irlandês. Dane afirma que um dos assassinos é membro da comissão. Royal e Marty Mannheim são objeto de uma tentativa de assassinato.
    A quinta vítima dá pelo nome de Pauline Hodges. Enquanto isso, o Exército de Libertação Britânico faz chantagem com o poder político e a polícia. O homem do ELB que vai recolher o dinheiro da chantagem escapa ao cerco policial a cavalo.
    Uma outra jovem, Tessa Noble, é atacada, mas consegue defender-se e pôr KO o agressor, Arthur Johnson, o ajudante de relojoeiro com problemas mentais. Mais tarde, descobre-se que se tratava de um crime de imitação.
    Os homens envolvidos são, afinal, três. Um deles quer prosseguir com novas chantagens, almejando quantias superiores, mas é morto pelos outros dois por considerarem que ele seria apanhado e, posteriormente, a troco da redução da pena, revelaria o nome dos dois cúmplices. O nome do terceiro homem não é revelado pelo narrador.
    Henry Addms é vítima de amnésia total e vai apresentar-se à polícia como possível autor dos crimes. Contudo, o criminoso é, afinal, Royal, tal como é o cérebro do ELB. Dickie falece, vítima de doença súbita, ao ver o seu nome envolvido no escândalo, já que era vítima de chantagem por parte de Royal por ser homossexual.

sábado, 9 de setembro de 2023

A Criação do Mundo - O Terceiro Dia


    De regresso, cinco anos depois, a Portugal, o narrador assume a sua rebeldia, não mais se deixando espezinhar pelos tios, e a sua humilhação por constatar, agora, após o contacto com outras realidades, a miséria em que fora criado. Por outro lado, os pais não entendem nem conseguem preencher o vazio daqueles cinco anos de ausência e estranham a linguagem, o novo «eu» que regressou.
    Os tios são recebidos com indiferença e até com escárnio (as histórias de bruxaria que a tia conta, por exemplo), quando eles esperavam ser acolhidos principescamente, na qualidade de filhos da terra que tinham outra civilização e riqueza.
    Em Coimbra, o narrador frequenta a escola de um jovem casal que vive na penúria. Quando regressa de férias, é ultrapassado o distanciamentos que os cinco anos de Brasil tinham aberto com a família e vê partir, com alegria, o tio de regresso a terras brasileiras. Passa inúmeras horas em contacto com a natureza. Obstinado, faz de uma só vez, por exame, os três anos de liceu, por se sentir mal no meio dos colegas muito mais novos e por receio de que o tio se arrependa e lhe corte a mesada.
    Ingressa então no liceu de Coimbra, onde a ausência do calor, da ênfase e do exemplo do amor do jovem casal, aliados à monotonia, à exposição mecânica e sem chama dos mestres do liceu, tornam as aulas extremamente aborrecidas. Só as asas da imaginação e os jogos de futebol no recreio fazem aqueles tempos suportáveis.
    Escolhe frequentar Medicina na Universidade pela liberdade que lhe proporcionará e pelo caminho humano que irá trilhar com a futura profissão. Publica, entrementes, o primeiro livro de versos, negativamente criticado, de forma justa. No entanto, o Dr. Marinho convida-o para colaborar na Vanguarda, revista literária do Modernismo.
    A tropa constitui outro momento de demonstração de rebeldia: falta à primeira chamada, vai à segunda, forçado, como refratário, por isso duplicam-lhe o tempo de serviço a prestar; faz «mil» requerimentos, cansando quem os recebe, por isso acaba por ser perdoado; é insubordinado, desrespeitador dos oficiais, alérgico a cumprir os regulamentos e regras militares; só a presença de um oficial de uma terra vizinha da sua aldeia natal o protege de males maiores. Há (além do espírito de rebeldia e liberdade) outra razão para adiar o exército: a revolta militar ocorrida em 1926, que tinha imposto uma ditadura ao país e que leva os estudantes à revolta e à greve, por a reforma encetada na Universidade pelo novo poder se transformar em métodos de ensino e exames mais conservadores e ultrapassados.
    Só na Vanguarda encontra campo para os seus anseios, embora rapidamente dê conta de que se trata de uma literatura essencialmente polemizante, que por isso os afastava humanamente uns dos outros, e muito abstratizante, desligada da realidade. Por outro lado, o sexo continua a exercer sobre ele um apelo muito grande, daí a torrente de namoradas e a frequência de bordéis.
    Dois homens opostos vivem dentro dele: "O campónio de Agarez, a caminho da formatura, pragmático, acautelado, instintivamente necessitado de perpetuar a espécie, e o poeta, sedento de absoluto, inconformado com a precariedade das coisas terrenas, insocial e rebelde."
    Publica o segundo livro de versos; após o entusiasmo inicial, sai da Vanguarda de relações cortadas com a maioria do grupo; é derrotado nas eleições para o senado e arranja mais inimigos; refilão nas aulas, concita sobre si a antipatia dos mestres; sente-se cada vez mais isolado.
    A conclusão do curso e o futuro profissional próximo deixam-no aterrado. Findo aquele, o tio corta a mesada e o narrador regressa a Agarez, onde é recebido com despeito pelos ricos e um misto de inveja e admiração pelos pobres e revela novamente o total afastamento da religião.
    Aconselhado pela mãe e por causa do abismo que o continua a separar da família e da ausência de perspetivas de futuro, regressa a Coimbra, onde apenas o editor dos seus livros o recebe bem. Acaba por substituir, temporariamente, o médico de Sedim e uma epidemia de febre tifoide granjeia-lhe, graças ao seu denodo e à casualidade de ninguém ter morrido, a confiança das pessoas. Amorosamente, mantém a relação platónica com Alice, via carta, e satisfaz o desejo físico com a criada Isabel.
    O vizinho médico de Fornos tenta difamá-lo para correr com ele de Sendim, mas o narrador resolve o problema com uma par de ameaças físicas. Entretanto, a atividade literária prossegue, através da escrita poética e da criação de revistas, algumas de vida efémera. Mais uma vez a sua retidão e integridade vêm ao de cima: para manter a posição de médico em Sendim, recusa falar com o governador civil e comprometer-se politicamente.
    Uma doença súbita, seguida de operação de urgência, apressam a sua partida. Em Coimbra, trabalha no consultório de um otorrinolaringologista, mas a sensação de vazio e de inquietação não o abandonam. Por isso, reúne o pouco dinheiro que possui e, à boleia com dois homens de negócios, parte em direção à Europa.

    Este terceiro livro traduz o choque do regresso a Portugal e ao contacto com a miséria (física e intelectual) em que nascera e crescera, e documenta a maturação de um temperamento inquieto, livre e rebelde, do homem, do médico e do poeta. Tudo isso sucede em simultâneo com os estudos e com os primeiros anos de desempenho profissional.

A Criação do Mundo - O Segundo Dia


    Esta segunda parte da obra de Miguel Torga começa por relatar a chegada do narrador ao Brasil e o choro ao enfrentar um novo país, uma cultura (crenças, feitiçarias) e «língua» diferentes.
    O tio sobrecarrega-o de trabalho e trata-o como um estranho, enquanto a tia, com medo que a herança tenha mais um candidato naquele sobrinho português, tudo faz para o denegrir e menosprezar. Sacia o desejo, pela primeira vez, com a mulher do oleiro, que no fim lhe fica com todo o dinheiro que traz. Apesar da distância do tio, gosta dele, pelo seu humanismo, audácia, justiça e generosidade.
    Certo dia, o tio surpreende a tia em mais um momento de humilhação e de choro para o narrador. Nada diz, mas mais tarde propõe-lhe a ida para o Ginásio de Ribeirão, onde fica como aluno externo. Apesar do atraso, estuda com afinco, enquanto nutre uma paixão pela colega Lia, uma jovem absolutamente indiferente os estudos. Gosta de ler e demonstra algum talento para a escrita. A frequência das «meninas» presenteia-o com uma doença venérea. Quando regressa à fazendo do tio, de férias, é recebido com todas as honras, mesmo pela tia, que faz das tripas coração para mostra alguma simpatia.
    O abandono da escola por Lia, por causa da morte da mãe, fá-lo perder algum interesse e só o rápido final do ano letivo impede maiores males. O tio, cansado e velho, vende a fazenda e regressa a Portugal.

    Em suma, o Segundo Dia retrata a adolescência do narrador num Brasil profundo, repleto de calor, sensualidade, tristezas e alegrias, paixões adolescentes; os ódios de todos, menos do tio; o árduo trabalho que, na opinião do tio, faria dele «um homem» e o estudante aplicado e interessado pelas Letras.

O Testamento, de John Grisham


    Troy Phelan é um multimilionário que está às portas da morte e que reúne, em sua casa, os familiares, ávidos de serem contemplados no seu testamento: três ex-mulheres e seis filhos vivos (um sétimo já faleceu). acompanhados dos respetivos cônjuges ou companheiros de momento. O próprio criado espera ser contemplado no testamento. Três psiquiatras atestam a sua sanidade mental e, num golpe de teatro, assina um último testamento escrito por si, de três páginas, que revoga o anterior, assinado cinco minutos antes, na presença dos psiquiatras, família e respetivos advogados e suicida-se, lançando-se da varanda do prédio. No derradeiro testamento, Troy Phelan paga as dívidas dos filhos, nada deixa às ex-mulheres (que já receberam quantias avultadas aquando dos divórcios) e doa o remanescente dos bens a uma filha desconhecida: Rachel Lane, uma missionária da organização Tribos Universais presentemente a trabalhar na região do Pantanal.
    Stafford, o advogado de Phelan, tem dificuldades em encontrar a herdeira, enquanto Hark Gettys, o advogado de Rex Phelan, ambicioso, deseja uma luta renhida com Stafford. Este encarrega Nate O'Riley, um dos advogados da sua firma, a fazer uma cura de desintoxicação numa clínica, de procurar a herdeira.
    Dez dias após o suicídio Hark Gettys faz uma petição ao tribunal, em nome de todos os «herdeiros», pedindo a leitura do testamento.
    Na sua busca, Nate sofre um acidente de avião durante uma tempestade, mas sai praticamente ileso. Sobre Rachel, sabe que foi adotada assim que nasceu e que poucos contactos com os progenitores manteve. A mãe regressou ao seu local de nascimento perseguida pelos rumores da sua situação e acabou por se suicidar. Por outro lado, ele continua a não resistir à bebida.
    Os advogados de todos os herdeiros reúnem-se e decidem contestar o testamento, alegando insanidade mental por parte do seu autor, não salientando, aos seus clientes, a salvaguarda segundo a qual quem o contestasse e perdesse ficaria sem o direito ao pouco que lhe coubesse no testamento. Decidem também contratar uma firma para conselheira-chefe durante o julgamento do caso em tribunal.
    Enquanto isso, Nate prossegue a sua busca no pantanal da herdeira, viajando de barco pela imensidão de afluentes e contactando com várias tribos índias, sendo feito uma crítica ao tratamento a que foram submetidos pelos brancos ao longo da sua existência.
    Na tentativa de contestar a validade do testamento, os advogados despedem os três psiquiatras e contratam outros. O criado de Troy Phelan e a secretária propõem-se ajudá-los e troco de cinco milhões de dólares para os dois.
    Nate encontra, finalmente, Rachel, mas esta não tenciona assinar os papéis nem receber a herança. De regresso do Pantanal, Nate contrai a febre de dengue.
    Hark Gettys e Snead (o criado) começam a combinar o depoimento deste, repleto de mentiras. Por exemplo, Snead afirmará que Phelan estava louco e que só foi dado como lúcido pelos psiquiatras porque, previamente, tinham preparado o encontro, fazendo uma lista de possíveis perguntas que lhe seriam feitas e relembrando datas, nomes, cotações da bolsa, etc.
    Regressado aos EUA, Josh aconselha Nate a ser o representante de Rachel no processo. Por seu lado, Gettys torna-se advogado de três quartos dos Phelan. Nate aproxima-se do cristianismo, volta a frequentar a missa, a ler a Bíblia e torna-se amigo do padre Phil, jantando em sua casa e ajudando-o numas construções que está a realizar.
    Começa a sessão de depoimentos. Nate revela-se um exímio interrogador, mas aquele ambiente de tribunal só torna mais intensa a decisão de abandonar a prática da advocacia. Quando interroga Snead, consegue arrancar-lhe que os advogados dos Phelan já lhe pagaram 500 mil dólares pelo seu testemunho. O de Nicolette durou oito minutos e foi desacreditado facilmente: Nate perguntou-lhe se tinha mantido relações sexuais com Phelan, sem ambos se despediam e se ela lhe conhecia alguma marca de nascença. A esta última pergunta ela responde negativamente. Nate saca de uma fotografia da autópsia onde se veem duas marcas de nascença numa perna.
    Entretanto Hark Gettys tinha dado entrada em tribunal de uma ação para que fosse negado provimento às alegações que Rachel apresentara contra a contestação do testamento. O objetivo é evitar chegar a julgamento e chegar a um acordo extrajudicial. Assim acontece, dada a recusa de Rachel em aceitar a herança, facto desconhecido pelos seus meios-irmãos. Por isso, Nate e Josh concordam em dar cinquenta milhões de dólares a cada Phelan.
    Para convencer Rachel, Josh engendra um esquema: os bens seriam aplicados num fideicomisso - Fundação Rachel - e o dinheiro permaneceria intocado durante dez  anos, podendo-se dispor apenas dos juros para obras de beneficência. Passados esses dez anos, poderia ser despendido 5% do dinheiro, mais juros, em obras de caridade.
    Quando Nate e Jevy chegam à aldeia índia para convencer Rachel, recebem a nova de que esta morreu vítima de um surto de malária. Apercebendo-se de que estava a morrer, fez um testamento em que exprime o desejo de aplicar a herança do pai num fideicomisso para obras de caridade, difusão da fé cristã e proteção dos povos mais desprotegidos, bem como nomeia Nate administrador do fideicomisso e testamenteiro. Esse testamento foi testemunhado por um advogado da cidade de Corumbá e pela sua secretária.

sexta-feira, 8 de setembro de 2023

Moral do conto "O Tesouro"


    Através deste conto, Eça de Queirós poderá ter tido em mente várias hipóteses, no que diz respeito à função catártica:
* a ambição é má conselheira;
* amor de irmão, amor de cão;
* quem tudo quer, tudo perde;
* a vida é o grande tesouro;
* sem comunicação e comunicabilidade, o ser humano torna-se um perigoso animal;
* a família deve ser um santuário, uma igreja doméstica;
* o BEM deve triunfar sobre o MAL.
 

Elementos simbólicos em "O Tesouro"


Número três: a perfeição a atingir.
    No conto, é evidente a insistência no número três. Desde logo, são três os irmãos; e três é também um símbolo da família – pai, mãe, filho(s). Porém, aqui encontramos uma família truncada, imperfeita – nem pais, nem filhos, apenas três irmãos. Não há, aliás, a mais leve referência aos progenitores dos fidalgos Medranhos, como se eles nunca tivessem existido. Essa ausência da narração é, de certo modo, um símbolo da sua ausência na educação dos filhos. Sem a presença modeladora dos pais (ou alguém que os substituísse), Rui, Guanes e Rostabal muito dificilmente poderiam desenvolver sentimentos humanos: vivem como lobos, porque, provavelmente, cresceram como tal.
    Por outro lado, as três figuras não foram capazes de constituir uma família verdadeira, do mesmo modo que, apesar dos laços de sangue que os unem e de viverem juntos, não formam uma família e sempre pela mesma razão: são incapazes de afetos, de criar e mantar amor entre si. Note-se que, neste caso, se opõem aos animais a que são associados – os lobos –, dado que numa alcateia há ordem, estrutura e fortes ligações entre os seus membros.
 
Cofre: a ideia da essência humana, inalterável de geração em geração.
    O tesouro está guardado num cofre. Este objeto protege, preserva, permite que o seu conteúdo permaneça intocado ao longo do tempo. Igualmente significativo é o facto de o cofre ser de ferro, que é um material resistente, simultaneamente, à força e à corrupção.
 
Três chaves e três fechaduras: símbolo da felicidade, apontada quer pelo ouro quer pelo numeral três.
    As três fechaduras preservam o conteúdo do cofre(Da curiosidade? Da cobiça? Da apropriação indevida?), no entanto as três chaves produzem o efeito contrário, isto é, permitem abri-lo sem dificuldade, só que nenhuma delas, só por si, mas apenas as três em conjunto. Este dado significa que somente a cooperação dos três irmãos permitirá abrir o cofre e aceder ao tesouro. Assim sendo, será apenas por meio da solidariedade, da cooperação, da convergência de interesses e esforços que se tornará possível alcançar o tesouro que todos almejam. Como, em vez do espírito de cooperação, prevalece a ganância extrema, não lhes foi permitido possuir o tesouro. Quando Rui expõe a estratégia a seguir, o número três volta a aparecer: “três alforges de couro, três maquias de cevada, três empadões de carne e três botelhas de vinho”, numa espécie de sublinhado do irredutível individualismo que cultivam e que os conduzirá à tragédia.
 
Ouro: símbolo da perfeição, da salvação, da aquisição da espiritualidade, bem como da riqueza, que proporcionaria a fuga dos três irmãos à miséria.
    O ouro é um metal precioso e incorruptível, símbolo de perfeição. Para além do seu valor material, simboliza a salvação, a elevação a uma forma superior de vida, mais espiritual, menos animal. É esse o verdadeiro bem, o verdadeiro tesouro. Os fidalgos de Medranhos vivem mergulhados na decadência material, na mais extrema pobreza e na degradação moral. Não se lhes conhece uma atividade útil, um sentimento mais elevado, um afeto, um gesto de amor. Vivem com os animais e como os animais, contudo, como sucede para qualquer ser humano, existe a possibilidade de redenção. O tesouro está à sua disposição, mas, para que tal suceda, é necessário abandonar a cobiça, superar o egoísmo, estabelecer laços de solidariedade e verdadeira fraternidade.
 
Medranhos – medronhos (?): pobreza, miséria.
 
Moita de espinheiros: as dificuldades, as provações a que os três irmãos estão sujeitos.
 
Cova de rocha: a descida aos infernos, uma espécie de catarse, de purificação (remete para a busca do Graal).
 
Ferro: o material de que o cofre é feito representa a resistência à corrupção e o valor do tesouro nele guardado.
 
Dístico em letras árabes: mal legível, remete para um passado distante, mítico, um tempo de paz, equilíbrio e perfeição, uma idade de ouro que poderá ser recuperada por quem conseguir encontrar o tesouro.
 
Letras em árabe apontam para um tempo muito recuado:
® a idade de ouro há humanidade, una e perfeita;
® ou o mito de Adão e Eva, que, em virtude de um comportamento algo semelhante ao dos três irmãos, perderam a vida espiritual, o paraíso, sendo ainda castigados com a solidão;
® ou a época cultural em que os árabes estiveram na Península e que representa a origem da nossa língua e da nossa cultura.
 
Cerrar a fechadura: remete para a ideia de que os três irmãos jamais alcançarão a espiritualidade e a felicidade e prenuncia a desgraça, o silêncio e a morte.
 
Inverno: frio, aponta para a privação, a escuridão e a morte.
 
Primavera: o renascimento da natureza, a luz e o aparecimento do Sol criador; a vida. Em suma, a primavera significa a possibilidade de mudança, é o sinal da natureza que os homens devem saber interpretar e que os irmãos não sabem.
 
Domingo: dia do convívio, da festa, do culto, do divino, da família, tudo quanto os irmãos deviam ser e não eram.
 
Percurso temporal manhã ® noite: não sabendo ou não querendo aproveitar as oportunidades, só lhes resta uma triste noite, isto é, um triste fim.
 
Nome dos três irmãos:
Rostabal:   ® é o mais velho, logo tem o nome mais comprido;
® a repetição da vogal aberta pode sugerir animalidade, instintos, o que está de acordo com o seu retrato;
Guanes:  ® possivelmente o irmão do meio, o seu nome contém menos uma sílaba do que Rostabal e mais uma do que Rui, o que poderá querer sugerir que está a meio caminho entre a animalidade e a razão; assenta-lhe bem a traição;
Rui:     ® o mais novo, tem também o nome mais pequeno e é o mais avisado;
® estaria do lado da razão, mas também, por isso, da maldade pensada, pérfida;
® a proximidade sonora de Rui e ruim pode ser um indício dessa maldade.
 
Água: símbolo de vida (vemo-la na clareira, escoando-se por entre a relva que cresce e Rui procura combater o veneno com ela) e de purificação (com a água, Rostabal pretende livrar-se do sangue do irmão que assassinou).
 
Navalha / espada: instrumento de morte.
 
“Nuvenzinhas cor-de-rosa”: o sonho, a miragem da felicidade atingida através do tesouro.
 

quarta-feira, 6 de setembro de 2023

Linguagem de "O Tesouro"


 
1. Nível fónico
 
® Aliterações:
- em v: "... o vento da serra levara vidraça e telha..." ® sugere a força do vento;
- em l e r: "... estalaram a rir, num riso de tão larga rajada...";
- em t, b, d, p: "... com os olhos a flamejar, numa desconfiança tão desabrida que Guanes e Rostabal apalpavam nos cintos os cabos das grandes facas...";
- em r: "... o outro rosnou surdamente e com furor dando um puxão às barbas negras.".
 
 
2. Nível morfossintático
 
® Adjetivos: têm como função caracterizar as personagens ou o cenário e, por vezes, anunciam a ação trágica, antecipando os atos violentos dos três irmãos: "E de novo recuaram vivamente (...) numa desconfiança tão desabrida que Guanes e Rostabal..."; "Ali vieram sentar-se Rui e Rostabal, com os seus tremendos espadões entre os joelhos."
 
® Advérbios de modo:
- "Depois, mergulhando furiosamente as mãos no ouro..." ® caracteriza a brutalidade do movimento, logo da personagem;
- "E de novo recuaram, bruscamente se encararam..." ® aponta para a súbita desconfiança que se estabelece entre os três, motivada pela sua ambição;
- "Vivamente, Rui agarrara o braço ao irmão..." ® está relacionado com Rui e a sua astúcia;
- "Rui, atrás, puxava desesperadamente, os freios da égua, que, de patas fincadas no chão pedregoso..." ® remete para o contraste comportamental entre os três irmãos e a égua;
- "Então Rui tirou, lentamente,  do cinto, a sua larga navalha."; "E serenamente, como se pregasse uma estaca num canteiro, enterrou a folha toda no largo dorso dobrado, certeira sobre o coração." ® remete para a frieza e para a crueldade da personagem;
- "E Rui, alargando os braços, respirou deliciosamente." ® traduz a satisfação de Rui por o tesouro ser só seu;
- "Os seus braços torcidos batiam o ar desesperadamente." ® remete para o desespero que a personagem sente;
- "... esbugalhando pavorosamente os olhos..." ® traduz o terror de Rui, ao perceber que tinha sido envenenado e que ia morrer.
 
® Verbos: algumas formas verbais evidenciam o carácter das personagens através das referências às suas atitudes, funcionando, assim, como uma forma de caracterização das mesmas.
                Atentemos nos seguintes exemplos:
1.º) "Ao escurecer, devoravam uma côdea de pão negro." ® remete para a ideia de que o homem é um produto do meio, ou seja, a sociedade em que se insere determina a formação da sua personalidade e, consequentemente, o seu comportamento (característica realista);
2.º) relativamente a Rostabal, as formas verbais traduzem o seu instinto, o seu carácter animalesco:
- "Também eu quero a minha, mil raios! - rugiu logo Rostabal.";
- "Pois que morra, e morra hoje - bradou Rostabal.";
3.º) noutras ocasiões, traduzem a brutalidade do movimento:
- "Rostabal rompeu de entre a sarça...";
- "Então Rui (...) deslizou até Rostabal, que resfolgava.".
 
 
                3. Nível semântico
 
® Comparações:
- "... esfaimados como eles...": a miséria em que viviam os três irmãos;
- "... mais bravios que lobos.": o seu carácter animalesco;
- "... os três senhores ficaram mais lívidos que círios.": a emoção dos três irmãos ao depararem com o tesouro;
- "Então Rui, (...) ergueu os braços, como um árbitro...": a astúcia, a liderança que assume;
- "... Rostabal, homem mais alto que um pinheiro" (hipérbole): a grande envergadura / altura da personagem;
- "... onde fazia como um tanque...";
- "... dominava o atalho, estreito e pedregoso como um leito de torrente.": a estreiteza e rudeza do caminho;
- "... a espada, agarrada pela folha como um punhal...";
- "... como se perseguisse um mouro...";
- "E serenamente, como se pregasse uma estaca num canteiro, enterrou a folha toda no largo dorso dobrado, certeira sobre o coração.": o crime, a crueldade do assassínio de Rostabal pelo próprio irmão;
- "... um suor horrendo que o regelava como neve."     E
- "... sentia os ossos a estalarem como as traves de uma casa em fogo."     E
- "... como se fosse um metal derretido.": conferem os efeitos do veneno.
 
® Personificações:
- "... silenciosa manhã de domingo...";
- "Pela ramaria andava um melro a assobiar.";
- "... a cantiga dolente e rouca...";
- "A tarde descia, pensativa...": o fim do dia (= o fim da vida de Rui);
- "E a fonte cantava...": o ruído da água;
- "... as folhas tenras dos olmos, em roda, tremiam...";
- "A fonte, cantando...": como se, com a morte do último dos irmãos, a justiça tivesse sido reposta e tudo regressasse à normalidade.
 
® Hipérboles:
- "... estalaram a rir...";
- "... num riso de tão larga rajada que as folhas dos olmos, em roda, tremiam...": esta e a anterior revelam a reação, misto de nervosismo e alegre loucura, à descoberta do tesouro;
- "... Rostabal, homem mais alto que um pinheiro..." (ver comparações).
 
® Gradação: "Já rasgara o gibão, atirava os passos incertos e, a arquejar, com a língua pendente, limpava as grossas bagas de um suor horrendo..." ® os efeitos do veneno, gradualmente mais fortes e horríveis.
 
® Metáforas:
- "... rugiu logo Rostabal.";
- "O outro rosnou surdamente e com furor...": ambas revelam o instinto, o carácter animalesco das personagens;
- "... um fio de água...";
- "... tinha já a espada nua.";
- "Um vento leve arrepiou na encosta as folhas dos álamos...": uma ligeira brisa fez ondular as folhas das árvores;
- "Mal a noite descesse...";
- "Era um lume, um lume vivo, que se lhe acendera, lhe subia até às goelas.";
- "Outra vez o lume, mais forte, que alastrava, roía.";
- "E a chama dentro galgava...";
- "... para apagar aquela labareda...": estas últimas quatro metáforas traduzem os efeitos do veneno em Rui.
 
® Hipálage: "... e levou as duas mãos aflitas ao peito.": a aflição face ao envenenamento.
 
® Antítese: "No terror e esplendor da emoção...".
 
® Sinédoque: "... a pelejar contra o Turco!" (= turcos).
 
® Sinestesias:
- "Um cheiro errante de violetas adoçava o ar luminoso.";
- "A tarde descia, pensativa e doce..." (ver personificações);
- "Com aquela cor velha e quente...".
 
® Ironia:
- "Grande pena!": o menosprezo para com Guanes;
- "Oh! D. Rui, o avisado, era veneno!": afinal, o mais avisado dos três irmãos deixou-se enganar e vai morrer em consequência disso.
 
® Exclamações:
- no início, traduzem a emoção dos irmãos quando encontram o tesouro;
- na parte final, traduzem a angústia e o desespero de Rui face ao envenenamento.
 
® Perífrase e eufemismo: "Não dura até às outras neves." (= Inverno).
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