Português: Análise da cena 4 do ato I de Hamlet

sábado, 10 de fevereiro de 2024

Análise da cena 4 do ato I de Hamlet


    Esta cena curta e de transição permite o primeiro encontro de Hamlet com o fantasma que se supõe ser do seu pai. Além disso, possibilita a mistura de elementos de diferentes cenários, contrariando a tendência verificada até então de se apresentarem cenários diversos separados e individualizados. Hamlet, por exemplo, tinha estado associado aos espaços interiores de Elsinore, porém agora surge enquadrado na escuridão do seu exterior. De modo semelhante, o ambiente de terror ficara circunscrito ao seu exterior e separado do que se passa no interior do castelo, porém, nesta cena, o som da festa de Cláudio rompe as paredes e chega ao exterior, aos ouvidos de Hamlet e dos seus companheiros durante a noite. Note-se que essa folia serve essencialmente para manchar o caráter de Cláudio, dado que está mais interessado em celebrar a sua ascensão ao trono do que em honrar a memória do irmão recém-falecido. Hamlet considera que este tipo de coisas prejudica a imagem da Dinamarca perante as outras nações e considera estas celebrações como um sinal da corrupção do Estado, acrescentando que o álcool leva a que os defeitos de caráter de algumas pessoas se sobreponham às suas qualidades. Apesar de Cláudio não ser o primeiro governante dinamarquês a entregar-se a tal folia, parece ser opinião do jovem príncipe que esta é excessiva.

    A cena muda drasticamente com o aparecimento do fantasma, que também é associado a uma imagem de decadência da nação, nomeadamente quando Marcelo faz a sua famosa afirmação, segundo a qual algo está podre no reino da Dinamarca. Por outro lado, a aparição do espectro permite estabelecer um contraste entre o relacionamento de Hamlet com o seu pai e com o seu tio, de quem está distante e tem uma visão muito negativa.

    Além disso, o episódio permite destacar a tristeza do jovem príncipe e o pouco valor que atribui à sua vida. Convém também ter presente que, como Hamlet não sabe o que existe para além da morte, não consegue ter a certeza se o fantasma é realmente o espírito do seu pai ou se é um demónio vindo do Inferno para o destruir. Essa incerteza condu-lo a tecer considerações dolorosas sobre a moral, já abordadas igualmente na cena inicial, quando se alude ao seu desejo de se matar.

    Por sua vez, o tema da loucura também está presente e é suscitado por Horácio quando procura demover Hamlet de seguir o fantasma e sugere que isso poderá privá-lo da razão e mergulhá-lo na loucura. Assim sendo, esta temática assume um papel relevante na peça, nomeadamente no que toca ao príncipe.

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