O poema
abre com uma epígrafe em latim: “Ad juvenem rosam offerentem”, que significa “Ao
jovem que oferece uma rosa”. O sujeito poético dirige-se a um tu,
presumivelmente feminino, que trata metaforicamente por flor, metáfora essa que
indicia a sua beleza e delicadeza, para exprimir um desejo: quer a sua
essência, não o que ela tem a oferecer de superficial – “A flor que és, não a
que dás, eu quero”. Segue-se uma interrogação, através da qual reclama da
mulher amada o facto de esta lhe negar o que ele não pede, ou seja, o seu
verdadeiro «eu». A vida humana é breve; mesmo a mais longa revela-se efémera (“Tão
curto tempo é a mais longa vida”), bem como a fase da juventude, um momento da
existência mais fugaz ainda dentro dela.
O «tu»
vive de forma vã, porque não se cumpre flor, ou seja, não cumpre a sua essência
enquanto flor (beleza, delicadeza, harmonia…). Se, entretanto, ela morrer
(atente-se nos eufemismos e perífrases de sabor clássico), não passará de
sombra absurda que busca a sua essência, que o «eu» não lhe dá, velando
eternamente: “Perene velarás”. O advérbio «perene» significa durante muito
tempo, eternamente, enquanto «velar» quer dizer vigiar, ficar acordado durante
a noite. Isto significa que essa busca será eterna.
O
início da terceira estrofe coloca-nos perante uma paisagem sombria e fria, onde
há lírios a crescer em terras infernais, longe da luz do dia: “Na oculta margem
onde os líricos frios / Da infera leiva crescem”. Ressalte-se o facto de os
lírios serem flores exuberantes que exalam um perfume exuberante que seduz
qualquer pessoa. Por outro lado, a sua flor possui um pistilo saliente, com
aspeto fálico, o que remete para o campo da sexualidade. Além disso, está
ligada à religiosidade e ao misticismo, daí ser usada em buquês de noivas,
decorando festas de casamento e comemorações religiosas. O seu simbolismo varia
também de acordo com a sua cor. Por exemplo, o lírio branco representa a pureza
de corpo e alma, a inocência, a lealdade e o amor incondicional; o azul
simboliza segurança, estabilidade e confiança; o amarelo remete para a amizade;
o lilás representa o matrimónio e a maternidade; o laranja, a atração e a
renovação amorosa; e o rosa ou vermelho, amor, desejo e sensualidade.
Outra
imagem de sabor clássico que encontramos no poema é a do rio, que, regra geral,
representa a vida e a passagem do tempo. Neste caso, o «eu», o antepenúltimo e
no último verso, apresenta-nos a imagem de um rio que, monotonamente, corre sem
rumo, sem saber onde é o dia.
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