Estes
três capítulos, chamemos-lhes assim, estabelecem que a arte da dança – primeiro
uma peça tradicional e depois ballet – é um elemento fundamental da
cultura osage, algo que já partilharam com o mundo, visto que duas irmãs
nativas, Maria e Marjorie Tallchief, foram bailarinas excecionais. De facto,
Maria, nascida em 1925, tornou-se a primeira bailarina da Ópera de Paris, bem
como a primeira bailarina norte-americana a alcançar o estatuto de estrela
internacional, destacando-se pelo seu desempenho excecional em papéis
principais de balés clássicos como O Lago dos Cisnes e o Quebra-Nozes.
Além disso, foi uma das fundadoras e principal bailarina do New York City
Ballet, onde trabalhou de perto com o coreógrafo George Balanchine, que foi
seu esposo durante alguns anos.
Uma das
temáticas centrais do final da obra de Graan é a questão de como viver entre
culturas, que molda a experiência vivida pelo povo Osage no século XXI, que
continua a lutar contra os efeitos do trauma histórico e contra sentimentos de
alienação. Ao longo das décadas, a tribo sofreram diversas perdas sobretudo por
causa da migração forçada e da destruição de práticas tradicionais, através da
eliminação das manadas de búfalos que viviam nas planícies centrais, os
desafios contemporâneos pelos Osage são, simultaneamente, semelhantes e
diferentes dos que os seus antepassados enfrentaram. Com efeito, atualmente
continuam a ter de lutar para proteger e assegurar os seus direitos, como é
exemplificado pela ação judicial que colocam à Enel, uma empresa italiana do
ramo energético que é acusada de violar a sua soberania tribal, bem como pela ação
contra o governo norte-americano, tendente ao ressarcimento dos danos sofridos
pelo povo. Profundas mudanças culturais, englobando regulamentação atinente à
extração de petróleo, bem como a migração, têm vindo a esvaziar cidades
anteriormente prósperas. No entanto, como uma mulher idosa Osage proclama nas
derradeiras páginas do livro de Graan, alguns osage continuam ligados à sua
terra porque, saturada com o sangue dos seus antepassados, ela ainda grita por
justiça.
Obter
justiça para todas as vítimas é impossível, pois o tempo, no seu imparável
curso, eliminou evidências e ocultou conexões, desde logo em razão do
falecimento de descendentes de testemunhas e criminosos. O autor, afirma nas
páginas finais, que a história é implacável, mas também falível, pois depende
do ser humano para a construção do seu conteúdo e para a sua continuação. Se
anteriormente os assassinatos tinham sido amplamente conhecidos, em pleno
século XXI estavam praticamente esquecidos ou perdidos graças à indiferença ou
ao preconceito racial, ou simplesmente abafados pela erupção de outros
acontecimentos, tidos como mais importantes. Assim sendo, é necessária
vigilância para manter a história viva e permitir que ela faça o seu trabalho.
Outro
dos motivos que impede a obtenção de justiça plena pelos crimes cometidos há um
século é o desconhecimento do número real de assassinatos. Embora o período do
Reinado do Terror tenha sido circunscrito à década de 1920, Graan descobre que
há outros crimes, ocorridos na anterior e na subsequente, que se enquadram no
padrão dos anos 20. A contagem oficial de vítimas – vinte e quatro – está inequivocamente
errada e, muito provavelmente, representa apenas uma pequena percentagem do
número real de pessoas mortas, ou deixadas morrer, durante esse período de
crime organizado e sistemático. Assim sendo, a figura de William Hale pode ser
vista como a vilã central do livro, porém o leitor tem de tomar consciência de
que ele é apenas um dos muitos assassinos. Dos outros, alguns eram maridos e
esposas que envenenaram lentamente os seus cônjuges ou companheiros; outros
eram tutores que negavam cuidados médicos aos doentes. A ambição desmedida que
norteou as ações de Hale enquanto orquestrava uma vastíssima conspiração
motivou igualmente outras pessoas, cujos crimes talvez não tenham sido tão bem
delineados, mas não foram menos letais. A terra do Condado de Osage pode
continuar a clamar por justiça e reparação, no entanto o livro conclui
tristemente que é improvável que receba uma resposta adequada.
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