- apagamento do sujeito lírico;
- atitude antilírica;
- atenção à diversidade e à "eterna novidade do mundo";
- integração e comunhão com a Natureza - Caeiro é o poeta da Natureza;
- poeta deambulatório;
- concretização do abstracto: "Com um ruído de chocalhos / Para além da curva da estrada / Os meus pensamentos são contentes"; "Escrevo versos num papel que está no meu pensamento";
- predomínio do real objectivo e das sensações: a subjectividade e a intelectualização do sentir não fazem parte da ideologia de Caeiro;
- áurea mediania: elogio da vida campestre;
- aceitação do mundo tal qual ele é.
- Caeiro é o poeta das sensações tais como são;
- Caeiro é o poeta do olhar: a visão é um modo de conhecimento privilegiado, pois permite percepcionar a imensidão do mundo, superando a dimensão física limitada do poeta;
- predomínio das sensações visuais ("Vi como um danado") e auditivas;
- primado dos sentidos / das sensações sobre o pensamento - submissão do pensar ao sentir (o pensamento implica que se deturpe o significado das coisas que existem);
- a sensação é o único meio possível de conhecimento do mundo: "Sou o Descobridor da Natureza. / Sou o Argonauta das sensações verdadeiras. / Trago ao Universo um novo Universo / Porque trago ao Universo ele-próprio".
- negação / recusa da metafísica;
- recusa do pensamento ("Pensar é estar doente dos olhos"), do mistério e da reflexão como meio para atingir a calma, a paz e a felicidade.
- tudo é Deus, as coisas são divinas;
- identificação do poeta com a Natureza: "Mas sei que a verdade está nelas e em mim / E na nossa comum divindade";
- relação íntima e directa com a Natureza.
. Aceitação do real e da vida, sem problematizar a existência, contentando-se em «sentir» e em «ver».
. Defesa do natural, do espontâneo, do instintivo.
. Recusa do conceito de arte como algo difícil e artificial; defesa de um conceito de arte como um acto natural e quase involuntário: "Vou escrevendo os meus versos sem querer...".
. Procura de uma verdadeira identidade: "Desembrulhar-me e ser eu, não Alberto Caeiro, / Mas um animal humano que a Natureza produziu".
. Defesa da necessidade de uma nova aprendizagem que faça o sujeito poético «desaprender» tudo quanto lhe foi convencionalmente imposto: "Procuro despir-me do que aprendi, / Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram".
. Aceitação da ordem natural das coisas: "... a única casa artística é a Terra toda / Que varia e está sempre bem e é sempre a mesma...".
. Desvalorização do tempo enquanto categoria conceptual: "Não quero incluir o tempo no meu esquema".
. Estoicismo: aceitação passiva de tudo - a vida humana deve ser encarada num plano de igualdade relativamente à vida de outros seres que existem no universo.
. Contradição entre a "teoria" e a "prática": estamos perante uma «máscara» que funciona como uma tentativa de superação de uma subjectividade angustiada que, à primeira vista, parece ter sido anulada (através do objectivismo, das sensações, da negação do pensamento e do misticismo), mas que prevalece e se vislumbra a cada passo. É a contradição entre a teoria e a prática que marca toda a poesia de Alberto Caeiro.