Português

quinta-feira, 19 de maio de 2011

D. Maria Ana Josefa

          D. Maria Ana, de origem austríaca (o narrador refere, no início do romance, que tinha vindo da Áustria há dois anos), tornou-se rainha de Portugal ao casar com D. João V.
          A rainha é apresentada como uma personagem muito religiosa, beata, submissa e medrosa. O enfoque inicial é dado à sua relação matrimonial, que a deixa extremamente insatisfeita, quer amorosa quer sexualmente, desempenhando sempre um papel passivo. O casal real não dorme junto, mantém relações sexuais duas vezes por semana apenas para tentar conceber um herdeiro e não comunica. Essa insatisfação leva-a a ter sonhos eróticos com o cunhado, o infante D. Francisco, facto que lhe acarreta novos problemas, pois vive atormentada pela consciência de estar / viver em pecado, já que considera os sonhos um «acto» vergonhoso e criminoso, um pecado que atenta contra a castidade. Consequentemente, procura superar os remorsos e o sentimento de culpa cumprindo penitência, rezando e peregrinando pelas igrejas, em missas e novenas intermináveis. Como afirma o narrador, D. Maria Ana é somente a «devota parideira que veio ao mundo só para isso».
          Vive num ambiente de repressão, constantemente vigiada pela família à distância, com poucas ocupações e temas de conversas com as aias - ambiente esse de que procura fugir através do sonho - e cheia de saudades de casa.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Prémios (alguns) de José Saramago

  • 1979 - Prémio da Associação de Críticos Portugueses
  • 1980 - Prémio Cidade de Lisboa
  • 1982 - Prémio do Pen Clube Português e Prémio Literário do Município de Lisboa
  • 1984 - Prémio do Pen Clube Português; Prémio D. Dinis; Prémio da Associação Portuguesa de Críticos
  • 1985 - Comendador da Ordem Militar de Santiago de Espada; Prémio da Crítica pelo conjunto da obra
  • 1987 - Prémio Grinzane-Cavour (Itália), pela obra O Ano da Morte de Ricardo Reis
  • 1991 - Grande Prêmio de Novela da Associação Portuguesa de Escritores; Prémio Brancatti (Itália); Cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras Francesas
  • 1992 - Prémio Internacional Ennio Faiano (Itália), por Levantado do Chão, e Prémio Internacional Literário Mondello (Itália); Prémio Literário Brancatti (Itália)
  • 1993 - Grande Prémio de Teatro da Associação Portuguesa de Escritores; Membro do Parlamento Internacional de Escritores, em Estrasburgo; Prémio The Independent (Reino Unido) e Prémio Vida Literária da APE
  • 1994 - Membro da Academia Universal das Culturas (Paris); Sócio da Academia Argentina de Letras
  • 1995 - Prémio Consagração da Sociedade Portuguesa de Autores
  • 1996 - Prémio Camões
  • 1998 - Prémio Nobel da Literatura

Obras de José Saramago

. Romance
  • Terra do Pecado (1947)
  • Manual de Pintura e Caligrafia (1977)
  • Levantado do Chão (1980)
  • Memorial do Convento (1982)
  • O Ano da Morte de Ricardo Reis (1986)
  • A Jangada de Pedra (1986)
  • História do Cerco de Lisboa (1989)
  • O Evangelho segundo Jesus Cristo (1991)
  • Ensaio sobre a Cegueira (1995)
  • Todos os Nomes (1997)
  • A Caverna (2000)
  • O Homem Duplicado (2002)
  • Ensaio sobre a Lucidez (2004)
  • As Intermitências da Morte (2005)
  • A Viagem do Elefante (2008)
  • Caim (2009)

. Teatro
  • A Noite (1979)
  • Que Farei com Este Livro? (1980)
  • A Segunda Vida de Francisco de Assis (1987)
  • In Nomine Dei (1993)
  • Don Giovanni ou o Dissoluto Absolvido (2005)

. Poesia
  • Os Poemas Possíveis (1966)
  • Provavelmente Alegria (1970)
  • O Ano de 1993 (1975)
  • Poesia Completa (2005)

. Crónicas
  • Deste Mundo e do Outro (1985)
  • A Bagagem do Viajante (1973)
  • As Opiniões que o DL teve (1974)
  • Os Apontamentos (1976)
  • Folhas Políticas (1976-1998) (1999)

. Contos
  • Objecto Quase (1978)
  • O Conto da Ilha Desconhecida (1998)
  • A Maior Flor do Mundo (2001)

. Ensaio
  • Poética dos Cinco Sentidos (O Ouvido) (1979)

. Viagens
  • Viagem a Portugal (1980)

. Diário
  • Cadernos de Lanzarote I (1994)
  • Cadernos de Lanzarote II (1995)
  • Cadernos de Lanzarote III (1996)
  • Cadernos de Lanzarote (1993-1995) (1997)
  • Cadernos de Lanzarote IV (1998)
  • Cadernos de Lanzarote V (1998)

. Discursos
  • Discursos de Estocolmo (1999)

Retrato de D. João V

          O retrato do Rei é feito de forma indirecta, através da descrição das suas acções e dos seus pensamentos, dos encontros com a madre Paula, das idas à câmara da Rainha, das conversas com o Tesoureiro...
          Filho de D. Pedro e da rainha D. Maria Sofia de Neuburg, foi proclamado rei em 1 de Janeiro de 1707, tendo, no ano seguinte, casado com a princesa Maria Ana Josefa de Áustria, de quem teve seis filhos, a somar aos inúmeros bastardos que semeou pelo reino.
          Preocupado com a ausência de descendentes legítimos e influenciado pelo poder da Igreja católica, faz a promessa de construir um convento em Mafra se, no prazo de um ano, a rainha gerar um descendente. A promessa é cumprida após o nascimento da princesa Maria Bárbara.

          D. João V é infiel à rainha, adúltero, pois mantém inúmeras relações extra-conjugais, das quais resultam os (acima) referidos filhos bastardos. A sua relação com a esposa é desprovida de qualquer afectividade, consistindo no simples cumprimento de um dever. Mais: as páginas iniciais descrevem-no-las de forma caricata e sarcástica: repletas de formalismos, sem espontaneidade, cumplicidade, intimidade, amor ou prazer. Chegados aqui, convém recordar que o casamento entre ambos foi «arranjado», que os noivos mal se conheciam e que se uniram sem qualquer traço de amor que os aproximasse. A relação matrimonial esgota-se na necessidade de gerar um herdeiro para o trono.
          Por outro lado, é extremamente vaidoso e egocêntrico, por isso compraz-se na contemplação do número ordinal romano V por ser comum ao Papa e a si próprio (cap. I); é servido por inúmeros criados (p. 13); exige que a data de sagração do convento seja um domingo que coincida


(em actualização...)

sábado, 14 de maio de 2011

Os nossos dias

Parabéns: 14/05/2004!

Biografia de José Saramago

  • 1922 - Nasce a 16 de Novembro na Rua da Alagoa de Azinhaga (Golegã, Ribatejo), no seio de uma família de camponeses. Os seus pais são José de Sousa, jornaleiro, e Maria de Jesus, doméstica.
  • 1924 - Muda-se para Lisboa com a família, passando o pai a trabalhar na Polícia de Segurança Pública. Em Dezembro morre o seu irmão Francisco, com quatro anos.
  • 1929 - Aquando da sua inscrição na escola primária da Rua Martens Ferrão, descobre-se que um funcionário do Registo Civil da Golegã incluiu como apelido, na sua certidão de nascimento, a alcunha familiar, Saramago, tornando-se, assim, a primeira pessoa da sua família a usá-la como sobrenome.
  • 1930 - Muda-se para a escola primária do Largo do Leão. Nesta época, a sua família passa por grandes dificuldades económicas, morando em quartos alugados e em várias ruas de Lisboa. Na capital, frequenta, desde tenra idade, o Animatógrafo, o cinema "Piolho", na Mouraria, cujos filmes alimentam o seu imaginário.
  • 1932 - Matricula-se no Liceu Gil Vicente, onde inicia os estudos secundários, frequentando dois cursos (o liceal e o técnico).
  • 1935 - A falta de recursos económicos da família obriga-o a transferir-se para a Escola Industrial de Afonso Domingues, onde estudará até 1940. Durante toda a infância e adolescência, passa longas temporadas na Azinhaga com os avós maternos (Jerónimo Melrinho e Josefa Caixinha), onde e de quem recebe "ensinamentos" que o marcam para sempre.
  • 1936 - A mãe oferece-lhe o primeiro livro que possui: A Toutinegra do Moinho, de Émile de Richebourg.
  • 1938 - A família Sousa passa a viver num andar, no número 15 da Rua Carlos Ribeiro, no Bairro da Penha de França.
  • 1940 - Conclui os estudos de Serralharia Mecânica na Escola Industrial de Afonso Domingues. Consegue o seu primeiro emprego como serralheiro mecânico nas oficinas dos Hospitais Civis de Lisboa. À noite, frequenta a biblioteca municipal do Palácio das Galveias, "lendo ao acaso de encontros e de catálogos, sem orientação, sem ninguém que me aconselhasse, com o mesmo assombro criador do navegante que vai inventando cada lugar que descobre", nas palavras do próprio Saramago.
  • 1942 - Passa a trabalhar nos serviços administrativos dos Hospitais Civis de Lisboa.
  • 1943 - Trabalha na Caixa de Abono de Família do Pessoal da Indústria de Cerâmica, de onde é afastado em 1949 em consequência do seu apoio à candidatura de Norton de Matos à Presidência da República.
  • 1944 - Casa com a pintora Ilda Reis.
  • 1947 - Publica Terra do Pecado, o seu primeiro romance, intitulado inicialmente A Viúva. Nasce a sua filha Violante. Até 1953 escreve numerosos poemas, contos (alguns dos quais são publicados em revistas e jornais) e faz o esboço de pelo menos quatro romances, dos quais conclui apenas um.
  • 1948 - Morre o seu avô, Jerónimo Melrinho.
  • 1950 - Começa a trabalhar na Caixa de Previdência do Pessoal da Companhia Previdente, fazendo cálculos de subsídios e de pensões, graças à mediação do seu antigo professor Jorge O'Neill.
  • 1953 - Termina Clarabóia, romance inédito, com que encerra uma série de infrutíferas tentativas narrativas: O Mel e o Fel, Os Emparedados e Rua.
  • 1955 - A convite de Nataniel Costa, inicia uma colaboração com a editora Estúdios Cor, no sector de produção. O seu nome começa, então, a ser conhecido no campo da literatura e da cultura. Inicia a sua actividade como tradutor, cifrada em mais de sessenta títulos, até meados da década de 80. Na segunda metade da década de 50, traduz cerca de dezasseis livros, entre eles de autores como Colette e Tolstoi.
  • 1959 - Abandona a Companhia Previdente e passa a trabalhar, em exclusivo, na editora Estúdios Cor.
  • 1964 - Em 13 de Maio, morre o seu pai, no Hospital dos Capuchos, aos sessenta e oito anos de idade.
  • 1966 - É editado o seu primeiro livro de poesia, Os Poemas Possíveis. Ao longo desta década, prossegue a sua actividade de tradutor, embora de forma moderada. Traduz, entre outros, autores

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Paratextos de Memorial do Convento

1. CAPA

          1.1. Autor: José Saramago, escritor português e Prémio Nobel da Literatura em 1998.

          1.2. Título: Memorial do Convento

                    . Memorial: relato de memórias; obra em que se relatam factos memoráveis, que
                                         se pretendem guardar na memória. Remete para um recuo no tempo
                                         e para um resgate de lembranças, documentos, etc., relacionados
                                          com um acontecimento histórico.

                    . do Convento: Convento de Mafra, edifício português construído no reinado e por
                                              ordem de D. João V entre 1717 e 1744, cujos custos avultados fo-
                                              ram suportados pelas remessas de ouro provenientes do Brasil e
                                              no qual trabalharam milhares de homens. É uma obra da autoria
                                              do arquitecto João Ludovice.

          1.3. Género literário: romance.

          1.4. Editora: Editorial Caminho.

          1.5. Colecção: O Campo da Palavra.

          1.6. Horizonte de expectativas: após a observação da capa, pode "concluir-se" que esta-
                                                               mos na presença de um hipotético romance histórico,
                                                               que decorrerá num espaço e num tempo precisos.



2. CONTRACAPA - Texto

          2.1. Fórmula inicial "Era uma vez":
                    . remete para o mundo da infância, dos contos populares, do maravilhoso;
                    . destaca a importância da imaginação e do ficcional em cada uma das "histórias"
                       narradas - isto significa que o romance anunciado na capa não cabe nos limites
                       do romance histórico tradicional, ou seja, o narrador não se limitará a reconsti-
                       tuir factos históricos passados;
                    . assim, no texto vamos encontrar factos verdadeiros e personagens históricas lado
                       a lado com acontecimentos "trabalhados" pelo narrador e personagens ficcionais;
                    . remete para um tempo indefinido, conferindo ao texto um carácter atemporal.


          2.2. "Era uma vez um rei que fez promessa de levantar um convento, em Mafra.":

                    . Rei: D. João V (1689 - 1750), filho de D. Pedro II e de D. Maria Sofia de Neu-
                              burg, proclamado rei em 1 de Janeiro de 1707, pai de seis filhos, resultantes
                              do seu casamento com D. Maria de Áustria.

                    . Promessa: preocupado com a inexistência de descendentes legítimos (filhos
                                        bastardos eram vários) que assegurassem a sucessão ao trono, D. João
                                        V promete edificar um convento em Mafra se, no prazo de um ano, a
                                        rainha lhe der um herdeiro. A promessa será cumprida após o nasci-
                                        mento da princesa Maria Bárbara.


          2.3. "Era uma vez a gente que construiu esse convento.":

                    . povo anónimo  personagem colectiva, cuja perspectiva de relato dos aconteci-
                                                  mentos é privilegiada, ou seja, a perspectiva dos que construí-
                                                  ram o convento;
                                              é tratado pelo narrador, que o tira do anonimato e o individua-
                                                   liza, como o verdadeiro herói da obra.


          2.4. "Era uma vez um soldado maneta e uma mulher que tinha poderes.":

                   . Soldado maneta:
                              » Baltasar Mateus;
                              » mutilado de guerra (Guerra da Sucessão Espanhola);
                              » expulso do exército por ter perdido a mão esquerda.

                    . Mulher:
                              » Blimunda;
                              » possui poderes mágicos: é vidente, tem a capacidade de, em jejum, olhar
                                 para dentro das pessoas e das coisas;
                              » ajuda na construção da passarola, recolhendo as "vontades" necessárias.


          2.5. "Era uma vez um padre que queria voar e morreu doido.":

                    . Bartolomeu de Gusmão:
                              » tinha o sonho de voar;
                              » por isso, construiu a passarola;
                              » é amigo e protegido de D. João V;
                              » morre, louco, em Toledo.


          2.6. "Era uma vez.": significa que há, no romance, outras histórias para além das sugeri-
                                            das no texto.


          2.7. Relação entre a capa e a contracapa: o texto desta precisa o espaço (Mafra) e o
                                tempo histórico do romance. Em contrapartida, sugere uma nova perspec-
                                tiva de relato dos acontecimentos: a do povo que construiu o convento.



3. EPÍGRAFES

          . Epígrafe do Padre Manuel Velho: remete para uma concepção determinista da His-
                                tória, isto é, há forças e leis (sociais, políticas...) que ultrapassam e ver-
                                gam a vontade individual de cada homem.

          . Epígrafe de Marguerite Yourcenar: traduz uma concepção da existência de uma rea-
                                lidade social que não pode ser conhecida com rigor e exactidão.

Génese de Memorial do Convento

          «Lá pelos finais de 80 ou princípios de 81, estando de passagem por Mafra e contemplando uma vez mais estas arquitecturas, achei-me, sem saber porquê, a dizer: "Um dia, gostava de poder meter isto num romance." Foi assim que o Memorial nasceu.»

Contexto de Memorial do Convento

Contextualização histórico-cultural - Século XVIII


          O reinado de D. João V, um dos mais longos da História da monarquia portuguesa, é visto como uma continuação da política absolutista, tendo o monarca concentrado em si todo o poder de decisão e execução. Exemplos disto são a suspensão da convocação de cortes e a dispensa de funções dos Ministérios e dos Conselheiros. Tal política é inteiramente sustentada pelas remessas de ouro do Brasil, que proporcionavam uma situação de desafogo económico e político.
          desde muito cedo viu-se envolvido nos problemas internos e políticos da Europa, nomeadamente na Guerra se Sucessão espanhola, o que lhe permitiu aperceber-se das manobras políticas, algumas de bastidores, que decidiam o poder no continente europeu. este rei procurou sempre manter uma posição neutral nesses jogos de poder, tendo, numa primeira fase, no que concerne à política externa, mantido ligações estreitas com a Áustria - como o prova o seu casamento com D. Maria de Áustria - e depois com a Inglaterra.
          Em termos íntimos, ficaram registadas as várias ligações extra-matrimoniais do rei, algumas verdadeiramente famosas, como é o caso com a madre Paula, freira do Convento de Odivelas.

          Esta é também a época do Iluminismo, que se faz sentir em vários domínios da vida e da cultura nacionais, sobretudo no ensino. Este movimento pretendia uma iluminação ou uma modernização de conceitos, de técnicas e normas com o objectivo de melhorar a sociedade e a vida das pessoas. Daqui advém a crítica a certos princípios e instituições até então tidos como intocáveis, desde a intolerância religiosa ao regime absolutista e à supremacia da fé e da tradição sobre a razão.
          O século XVIII é visto pelos «iluminados» como o momento oportuno para a difusão das "luzes" da razão, através do exercício constante do espírito crítico que vem pôr em causa todo um conjunto de ideias e de teorias do passado, principalmente a escolástica e os seus métodos tradicionais de ensino. Os grandes responsáveis por este movimento são os chamados "estrangeirados", um conjunto de portugueses que viveu e viajou pela Europa, como diplomatas ou exilados da Inquisição, tendo aí tomado contacto com as novas ideias iluministas (Alexandre de Gusmão, irmão de Bartolomeu de Gusmão - personagem do Memorial -, Luís António Verney, Ribeiro Sanches, etc). A fundação de academias, como a de História, ajudou à difusão destas ideias.
 
          Em terceiro lugar, a força e o poder da Inquisição em Portugal marcaram decisivamente esta época. O Inquisidor-Geral, em termos de poder, vinha imediatamente a seguir ao Rei, tinha poderes vitalícios e total liberdade de nomear todos os inquisidores seus subordinados. O processo inquisitorial era instaurado com base em testemunhas denunciantes que o acusado desconhecia e, para obter incriminações, recorria-se até a testemunhos anónimos e a qualquer tipo de tortura física e psicológica. As sentenças iam até à morte, pelo garrote ou pelo fogo. O Tribunal do Santo Ofício julgava vários tipos de crime, desde a heresia à feitiçaria, passando ainda pelo crime de mau uso do confessionário e por casos de aberrações sexuais. O maior número de processos,

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Generalidades (Correcção)

Atemporalidade da obra

          Justificar-se-á a leitura da peça ainda hoje por parte dos alunos do ensino secundário? Isto é, manterá ela uma actualidade que justifique a sua análise junto do público estudantil?
          Algumas vozes consideram que a peça de Sttau Monteiro é muito datada, visto que se cinge a um período da nossa vida marcado pela opressão e pela ausência de liberdade, quando na actualidade se vive um regime de liberdade.

          Seja qual a for a resposta que cada um possa encontrar para a(s) pergunta(s), é inegável que a peça veicula um conjunto de ideias e de temas universais e atemporais:
  1. A luta por ideais como a Liberdade, a Justiça e a Democracia;
  2. A denúncia da opressão e das injustiças sociais;
  3. A questão do ser e do parecer no campo da religião;
  4. Valores como a coragem, a lealdade;
  5. O verdadeiro patriotismo;
  6. A condenação da opressão e da delação;
  7. A amizade;
  8. O amor: à pátria, à mulher / homem amada/o, à liberdade;
  9. A condição feminina: a mulher que possui um papel activo na sociedade e no casamento;
  10. A luta entre a coerência individual (do general) e o calculismo do poder despótico (dos governadores, dos delatores).

quarta-feira, 11 de maio de 2011

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Carácter apoteótico-trágico

          Foi o próprio Sttau Monteiro quem qualificou esta peça como uma apoteose trágica. Partindo desta afirmação, podemos considerar os seguintes aspectos que conferem tragicidade à obra e a aproximam das tragédias clássicas:

  • O tom geral da obra.
  • O carácter excepcional  e nobre das personagens:
- Gomes Freire é um homem corajoso, determinado e defensor intransigente dos ideais de liberdade;
- Matilde é uma mulher de grande nobreza moral que vive um conflito entre os seus sentimentos «humanos» e a progressiva consciencialização do seu dever de verdadeira patriota.
  • A unidade  e simplicidade de acção: tal como sucedia nas tragédias clássicas, Felizmente há Luar! desenvolve-se em torno de uma acção única: prisão, julgamento e morte do general Gomes Freire de Andrade.
  • O carácter apoteótico, quase de homenagem, à figura heróica do general, cuja morte irá manter acesa a chama da esperança do povo português, num final verdadeiramente apologético.
  • O despojamento cénico.
  • A hybris (o desafio):
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