sexta-feira, 9 de agosto de 2019
Na aula (XXXVI): Vasxinou
Almeida Garrett foi o introdutor do incesto na literatura portuguesa
"Maria afasta-se do que a familia espera dela no momento em que, mesmo na incerteza da sobrevivência de D. João, esta se junta com Manuel de Sousa Coutinho...".Maria casou com D. João (um clássico entre os alunos mais desatentos) e «juntou-se» a Manuel de Sousa, seu pai. Note-se para a modernidade da temática do incesto introduzida em pleno Romantismo, bem como da antecipação das relações amorosas não formalizadas: «juntar».
O aprofundamento da análise psicológica
O romance contemporâneo e a desvalorização da diegese
quinta-feira, 8 de agosto de 2019
Conjugação do verbo "abster"
Agradar a gregos e a troianos
quarta-feira, 7 de agosto de 2019
O casamento de Maria de Noronha e D. João de Portugal
"Maria afasta-se completamente do que a família quer para si porque ela acha que cometeu um pecado a gostar doutro homem enquanto ainda era casada com D. João. E por isso vai para um convento o que a leva a afastar-se mais ainda da opinião da sua família."Estas versões alternativas das obras literárias são sempre um poço de criatividade.
terça-feira, 6 de agosto de 2019
Análise de "No meio do caminho", de Carlos Drummond de Andrade
segunda-feira, 5 de agosto de 2019
Ser ou não ser
sábado, 3 de agosto de 2019
quinta-feira, 1 de agosto de 2019
Descoberta nova característica de D. Madalena de Vilhena
Não há AO que resista perante tamanha capacidade criativa dos nossos alunos.
quarta-feira, 31 de julho de 2019
"Fim", de Mário de Sá Carneiro
O texto
gira em torno de um tema que se pode sintetizar do seguinte modo: encontrar
sentido apenas na morte e através dela. O sujeito poético confere à sua morte e
ao seu funeral o tom grotesco que lhe rira a dignidade, como para mais
achincalhar-se.
Começando a
análise pelo título, nota-se nele uma espécie de humor satânico que se estende
a toda a composição. O sujeito poético expressa o desejo de o seu post-mortem,
o seu funeral, a sua morte, ser celebrado com grande euforia e espetáculo: marcado
pelo bater de latas, berros, pinotes e palhaços, desejo esse que sugere uma
autorridicularização. É uma sugestão irreverente que deixa escapar um profundo
autodesprezo. Por outro lado, a performance circense de palhaços e acrobatas
conota uma alegria no encontro com a morte.
As ideias
de teatralidade e representação são conferidas pela presença precisamente dos
palhaços e acrobatas, típicas figuras do espetáculo circense, que resume a
faceta de clandestinidade, de transgressão incutida na excentricidade do último
desejo, o de um funeral à moda andaluza. Esta arte de rua, marginal, constitui
também o tema de “Partida de Emigrantes”, um triplico de Almada Negreiros. Num
dos quadros, os saltimbancos de rua dominam a cena do cais representado. A sua
presença representa a transgressão, a marginalidade que pode ser ignorada,
desprezada e ostracizada, mas não suprimida, porque existe. No poema em
análise, o sujeito lírico, na última jornada da sua existência, transforma o
que deveria ser um cerimonial triste e pesaroso, de acordo com as convenções
ocidentais, numa festa de rua, dominada pelo clima de festa, provocatória. O
fim é celebrado e transformado numa comemoração de vida, a pretexto da morte, e
acompanhado por artistas marginais com quem comunga o mesmo sentido
transgressor. Isto significa que o conceito tradicional de funeral não é o
enunciado no texto: um funeral é uma cerimónia caracterizada por uma atmosfera
grave e de pesar, mas neste caso é manifesto o desejo do «eu» de que o seu seja
um momento de festa e de folia.
O ato caricato
de transportar o caixão sobre um burro sugere a irreverência diante da morte e
traduz também uma ideia de escárnio pelo próprio fim. Além disso, tem os
enfeites à moda da Andaluzia, que devem ser vibrantes, vistosos.
Quanto ao
burro, no texto simboliza a obscuridade. Note-se que, na Índia, o animal serve
de montaria para divindades funestas, como Nairrita, guardião da região dos
mortos, o que só confirma a ideia de que o poema aponta para a figura do fim.
A figura do
palhaço, para Chevalier e Gheerbrant, é a representação do rei assassinado.
Simboliza a inversão da compostura régia nas suas palavras e atitudes. A
majestade é substituída pela irreverência; a soberania pela ausência de toda a
autoridade; o temor pelo riso; a vitória pela derrota; as cerimónias sagradas
pelo ridículo; a morte pela zombaria. O palhaço é como o reverso da medalha, o
contrário da realeza, a paródia encarnada.
A nota final é clara: esta é a sua vontade expressa, pois a um morto nada se recusa.