sexta-feira, 18 de novembro de 2022
quinta-feira, 17 de novembro de 2022
Função sintática do pronome que
Estrutura interna de Hamlet
• Hamlet é visitado pelo fantasma de seu pai.
• Laertes e Polónio alertam Ofélia para ficar
longe de Hamlet.
• A peça A Ratoeira é encenada.
Significado de Hamlet
Hamlet
possui uma natureza dupla: é sensível, poético, artístico e amoroso, mas também
é um criminoso que esfaqueia os seus amigos pelas costas, trata a sua jovem
namorada de forma insensível e não mostra qualquer remorso por assassinar um “bom
velhinho invisível”. Nenhuma outra personagem é tão citada, imitada e emulada
como Hamlet.
Desde o
início, o protagonista possui um imperativo claro para agir no seu feudo
medieval sangrento: vingar a morte do pai, assassinando o rei Cláudio. As suas
emoções rasgam-no em dois: por um lado, tem a necessidade masculina básica de
afirmar a sua masculinidade e corrigir erros graves; por outro, a sua moral
cristã diz-lhe que matar constitui um pecado, não importa qual seja a causa.
Hamlet
representa o oposto do seu tio. De facto, Cláudio personifica o vilão
maquiavélico: justifica o seu erro, engrandecendo os fins causados pelo seu
mal. Ele reconhece o seu próprio mal e reconhece o seu destino de perdição. Saber
que será condenado ao Inferno, torna-o não menos ansioso para comer um crime
após o outro, o fim de manter os seus despojos conquistados de forma errada. O
desejo de resistir a odiá-lo move o público, e o facto de estar familiarizado
com a sua incapacidade de procurar a absolvição impede que seja unidimensional.
Em vez de o odiar, o espectador torce pela sua conversão, esperando que
confesse e mostre arrependimento. Quando não o faz, o público torna-se menos
indulgente. Por seu turno, Hamlet é a antítese de Cláudio. Ele sabe que tem uma
dívida com o pai e com a velha ordem que dita que deve cometer um ato
pecaminoso. No entanto, o seu medo de que a ação seja errada paralisa-o. Embora
o fim justifique a própria existência do protagonista, não justificaria o seu
desafio ao mandamento contra o assassinato.
Os críticos
argumentam que a incapacidade de Hamlet se decidir torna-o uma figura trágica.
Como outros grandes heróis trágicos de Shakespeare, Hamlet deve encontrar uma maneira
de transformar as suas ideias – as palavras perseverantes que nunca lhe
permitem silêncio – em ação. Em Macbeth, o herói inverte os papéis com a
sua esposa; ela, pronta para agir, torna-se vocal, pensadora, enquanto o marido
se torna o imprudente, o homem de ação. No Rei Lear, a loucura rouba as
palavras ao monarca, forçando-o a ouvir, a reconhecer a realidade para
experimentar o seu reconhecimento e o reverso. Porém, em Hamlet, as
palavras controlam o herói até ao fim – até que ele saiba que está morto e
possa encerrar a discussão e finalmente agir.
Por outro lado,
grande parte do conflito que Hamlet deve superar resulta da sua luta interna,
não de obstáculos externos, embora eles também existam. O facto de Cláudio
possuir todas as cartas e expor Hamlet, nu, a toda a Dinamarca constitui um conflito
completamente externo. O fantasma ordena-lhe que vingue a morte do velho rei,
mas nenhuma testemunha atesta o facto de o rei Hamlet não ter morrido de causas
naturais. O rei Cláudio é o monarca por direito divino e, ao matá-lo, Hamlet
comete uma alta traição e, em simultâneo, despacha um emissário de Deus. Para o
mundo que o rodeia, o jovem príncipe parece desafinado: é popular e admirado
pelos súbditos dinamarqueses de Cláudio, mas aqueles não têm qualquer razão
para acreditar que este seja outra coisa que não o que diz ser: um rei nobre.
Se Hamlet sabe que o seu mundo está “fora do lugar”, que as coisas não são o
que parecem ser, que há algo “podre no reino da Dinamarca”, a verdade é que não
tem provas nem aliados. Cláudio até manipula a própria mãe do príncipe e o
namoro com Ofélia. Assim, à exceção de Horácio, Hamlet está sozinho.
quarta-feira, 16 de novembro de 2022
Fontes de Hamlet
Como os
gregos, o público isabelino e jacobino frequentava o teatro para ver peças que
já tinham visto várias vezes ou que se baseavam em histórias tão familiares para
ele quanto as histórias das suas próprias famílias. Assim, Shakespeare baseou o
seu Hamlet numa popular saga escandinava que existia há mais de cem anos
e que atores de toda a Europa haviam representado em anteriores manifestações à
década de 1550.
Em Newington
Butts, um antigo vilarejo, The Lord Chamberlain’s Men (uma companhia
teatral para a qual Shakespeare escreveu durante a maior parte da sua carreira)
representou uma peça anterior cuja temática era a vingança, dirigida por
Henslowe, em 9 de junho de 1594. Os estudiosos designam habitualmente este Hamlet
e Ur-Hamlet e acreditam que o seu autor seja Thomas Kyd, um brilhante
dramaturgo contemporâneo de Shakespeare. Não é conhecida qualquer cópia do Ur-Hamlet
nem evidências concretas de que Kyd realmente escreveu a peça, contudo a
história de Hamlet apresenta grandes semelhanças com a obra-prima de
Kyd, The Spanish Tragedy, que múltiplos críticos acreditam ser uma
versão aperfeiçoada do Ur-Hamlet.
Crê-se, por
outro lado, que tanto Kyd como Shakespeare terão lido Historia Danica,
da autoria de Saxo Grammaticus por volta de 1200, uma antologia de lendas e
mitos de origem nórdica, traduzida e popularizada em língua francesa por
Belleforest em 1570. Thomas Pavier publicou uma tradução em inglês da versão de
Belleforest da história de Hamlet em 1608, sob o título The Hystorie
of Hamlet.
No reconto
de Belleforest da velha história, que tem lugar nos dias anteriores à chegada do
Cristianismo à Dinamarca ou à Inglaterra, o público conhece o assassinato do
rei Hamlet e o novo monarca afirma que o matou enquanto agia em defesa da
rainha. Hamlet é um jovem que só pode fingir cuidar de si mesmo. Embora admire
a verdade, não consegue ver além do seu espírito vingativo e exibe uma
crueldade extrema. Nessa versão, Hamlet vai para a Grã-Bretanha, onde se casa e
vive com a sua esposa, a filha do rei inglês, durante um ano. A notícia da
morte de Hamlet chega ao rei da Dinamarca, que dá uma festa para comemorar,
porém ele aparece quando a festividade começa, embebeda a corte e incendeia o
palácio, matando imediatamente o rei.
A peça em
que Shakespeare baseou Hamlet era um conto sangrento pleno de som e de
fúria com conotações cruas e selvagens. Embora o derramamento de sangue
permaneça na peça do autor de Romeu e Julieta, a realidade é que ele
refinou o texto, tornando-o poético e cheio de reflexões sobre o significado da
vida, da morte, da eternidade, dos relacionamentos, da hipocrisia, da verdade,
da existência de Deus e quase tudo o que diz respeito à humanidade. No entanto,
o facto de a personagem do Hamlet de Shakespeare ser mais refinada cria
um problema para quem fosse representar a peça.
Shakespeare
escreveu a peça de vingança “standard”, mas de uma forma totalmente nova. A
tragédia de vingança era muito popular na época do dramaturgo e girava em torno
de um herói que estava destinado a vingar um erro. Tal como os seus modelos da
tragédia romana de Séneca, os heróis e vilões eram dramaticamente loucos, melancólicos
e violentos. As peças eram gráficas e sangrentas. Shakespeare, sendo um pensador
original, refinou a sua obra, criando novas tensões e redimensionando algumas
das velhas questões.
Se a obra
fosse uma verdadeira peça de vingança, Hamlet teria agido mais cedo, ou seja,
teria liquidado o rei no início, com o resto da peça elaborando sobre o que
aconteceu após a morte de Cláudio. Ao não agir com mais celeridade, Hamlet
leva-nos a refletir sobre a sua verdadeira motivação. Ele tem todas as
oportunidades de matar o rei desprotegido, mas Cláudio vive. Os obstáculos que
impedem o homicídio não são físicos, o que constitui um problema para os
críticos e intérpretes. Eles dependem largamente da cultura de onde o intérprete
provém; obstáculos que parecem óbvios para os leitores/públicos modernos nunca
ocorreram aos do século XVI.
O dramaturgo
escreveu para um público que tanto assistia às suas peças como a lutas de ursos
ou a execuções públicas. Não se tratava de um público intelectual; apenas
desejava observar um protagonista a agonizar com palavras bonitas e insinuações
sexuais sobre o dilema humano.
Fixação do texto de Hamlet
O First
Quarto (assim chamado porque a peça foi impressa em papel que foi dobrado
em quatro partes) é de difícil leitura. Ele contém mais 240 linhas do que a
versão seguinte (o Primeiro Fólio), mas é importante, pois constitui a primeira
publicação da atual versão da peça.
Nalguns
passos, a escrita de First Quarto é tão pouco polida e amadora que faz
os especialistas acreditarem que esta edição é muito pobre e repleta de erros,
concebida como um roteiro de representação corrigido e editado por um ator.
A edição do Second
Quarto de Hamlet, publicada em 1604, usou uma edição mais afinada
como base: John Heminge e Henry Condell, membros da companhia de Shakespeare,
compilaram o Primeiro Fólio combinando o texto do Second Quarto
com notas atualizadas do gerente de palco.
Assim, os
estudiosos baseiam os textos modernos em grande parte – ainda que indiretamente
– no texto de Second Quarto.
Primeira edição e representação de Hamlet
Na sua lista
de peças representadas em Londres, publicada em 1598, Francis Meres não faz
qualquer referência a uma peça intitulada Hamlet, mas uma nota presente
na edição de Gabriel Harvey da obra Chaucer – Chaucer foi considerado o “pai”
da literatura inglesa – menciona o Hamlet. Vários estudiosos questionam
a data em que essa noite foi escrita, porém a maioria concorda que Shakespeare
publicou a peça depois de 1601 e antes de 1603. The First Folio, a
primeira edição impressa das obras do escritor, publicada em 1623, classificou
as peças como Comédias, Histórias e Tragédias.
William
Shakespeare escreveu as suas grandes tragédias – excluindo Romeu e Julieta,
que não é, estritamente, uma verdadeira tragédia – entre 1601 e 1606 e,
aparentemente, Hamlet foi escrita primeiro. Seguiu-se-lhe Otelo
(1604), Rei Lear (1605/6) e Macbeth (1606).
segunda-feira, 14 de novembro de 2022
Análise da Cena 3 do Ato II de Frei Luís de Sousa
Análise da Cena 2 do Ato II de Frei Luís de Sousa
O fidalgo refere-se a D. João de forma semelhante à
que fizera na cena 8 do Ato I: elogia e admira as suas qualidades e não tem
quaisquer ciúmes (afinal, morto ou não, tinha sido o primeiro marido de D.
Madalena).
Este comportamento contrasta com o de D. Madalena,
que receia o passado e sente uma culpa de que não consegue libertar-se. Pelo
contrário, Manuel de Sousa não tem nada que o faço sentir-se culpado e para si
o passado é apenas isso – o passado. Admira-o, respeita-o, mas não o receia.
Resumo da ação de Hamlet
sábado, 12 de novembro de 2022
sexta-feira, 11 de novembro de 2022
Jogo sobre sinónimos e antónimos
Se queres realizar um exercício diferente sobre relações de sentido entre as palavras, clica aqui: sinónimos-e-antónimos.
quinta-feira, 10 de novembro de 2022
Análise da Cena 1 do Ato II de Frei Luís de Sousa
▪ tempo
decorrido desde a mudança para o palácio de D. João: aproximadamente uma
semana;
▪ assuntos:
- a reação de D. Madalena ao incêndio, à destruição
do retrato do marido e à mudança de palácio: estado doentio de angústia e
sociedade (“Há oito dias que aqui estamos nesta casa, e é a primeira noite que
dorme com sossego.”);
- a alteração da perspetiva de Telmo sobre Manuel de
Sousa, considerando-o agora “um português às direitas”;
- a delicadeza da situação política provocada pelo
incêndio (“Meu nobre pai! (…) Passar os dias retirado nessa quinta tão triste d’além
do Alfeite, e não poder vir aqui senão de noite, por instantes, e Deus sabe com
que perigo!”);
- a contemplação e o significado dos retratos;
- os pressentimentos (relativamente à identidade da
figura representada no terceiro retrato) e o sebastianismo de Maria (e de
Telmo);
- a forma enigmática como a cena termina revela que
Maria pressente a verdade, ou parte dela, relativamente à história de D. João
de Portugal (“Mas o outro, o outro… quem é este outro, Telmo? […] e aquela mão
que descansa na espada, como quem não tem outro arrimo, nem outro amor nesta
vida…”.
- determinada / autoritária: “E não teimes, Telmo,
que fiz tenção, e acabou-se!”;
- possuidora de grande sensibilidade e imaginação,
citando a propósito a Menina e Moça;
- filha desvelada, pois revela grande preocupação em
não acordar a mãe e procura animá-la, não a afligir, fingindo que não acredita
em agouros (no entanto, nunca teve tanta fé em «agouros» e «sinas»);
- admiradora entusiasta de feitos grandiosos e
espetaculares (ex.: a forma fascinada como recorda o incêndio);
- muito convicta numa desgraça iminente;
- ama e admira imenso o pai (por exemplo, considera
que o incêndio foi um gesto patriótico, por isso o admira tanto);
- curiosa, intuitiva e crente em profecias e
agouros: Maria sabia já que o retrato era de D. João, o primeiro marido de sua
mãe, dada a reação desta aquando da primeira entrada na sala onde se encontrava
pendurado;
- sebastianista e obcecada com o passado, características
evidenciadas na contemplação dos retratos, sobretudo o de D. João:
. culto de D. Sebastião e crença
nas lendas messiânicas sobre o seu retorno, apoiada pela presença do retrato
real, de que Maria realça pormenores significativos;
. culto de Camões, poeta-profeta “que
lia nos mistérios de Deus” e que “está no céu. Que o céu fez-se para os bons e
para os infelizes”;
- pressente a existência de uma relação entre a
figura de D. João e a sua mãe e o seu pai;
-reação aos retratos:
. fascínio pelo retrato de D. Sebastião,
por causa da sua crença no regresso do rei e dos valores que ele representa;
. fascínio pelo retrato de Camões,
cuja figura simboliza para ela o aventureiro, amigo de Telmo, autor de Os
Lusíadas, dedicados a D. Sebastião, a quem profetizou o cometimento de
grandes feitos;
. curiosidade pelo retrato de D.
João de Portugal, suscitada pelo comportamento da mãe na noite em que entraram
no palácio e nos dias seguintes.
- aterrorizada, inquieta, doente, cheia de pesadelos
com o incêndio, sobretudo porque não foi possível salvar o retrato do marido,
em cuja destruição vê “um prognóstico fatal de outra perda maior (…) de alguma
desgraça inesperada, mas certa, que a tem de separar” de Manuel, isto é, de que
uma tragédia se abaterá sobre a família;
- por este motivo, aumentou a sua inquietação, de
tal forma que não conseguiu dormir nos primeiros oito dias de residência no
antigo palácio de D. João;
- liga o incêndio à perda do seu marido, de que a
destruição do retrato é prognóstico fatal;
- “perdida de susto”, grita quando, na primeira noite
de permanência no palácio de D. João, avista o retrato deste, fugindo depois e
arrastando Maria;
Nesta cena,
há uma inversão de papéis entre mãe e filha relativamente aos presságios de
desgraça. De facto, no Ato I, D. Madalena, apesar de viver aterrorizada pelos
seus medos e pelos agouros de Telmo, procurava passar a ideia de que não
acreditava em presságios, para tranquilizar a filha. No entanto, no início deste
ato, os papéis invertem-se: o terror e o pânico de D. Madalena quando entra no
palácio de D. João impedem-na de manter a aparência de tranquilidade que
assumira perante a filha. Agora, é esta quem assume o papel de adulta,
fingindo não acreditar em crenças e agouros para tranquilizar a mãe. |
- aterrorizado com as palavras e agouros de Maria;
- lastima não o ter estimado “sempre no que ele
valia”;
- evita revelar a Maria a quem pertence o retrato de
D. João, daí as suas hesitações e omissões (esta postura justifica-se, porque,
na cena 2 do Ato I, prometeu a D. Madalena não alimentar as crenças de Maria e
evitar que descobrisse informações sobre o passado);
- fica também fascinado diante do retrato de D. João
I.
A partir de
uma fala de Telmo (“Já o estava, se ele quisesse dizer que o fogo tinha pegado
por acaso.”), ficamos a saber que Manuel, se tivesse mentido, dizendo que o
incêndio se ateara acidentalmente, poderia ser ilibado mais rapidamente, porém
essa atitude levaria a que o seu ato patriótico perdesse grandeza (“… era
desculpar com a vilania de uma mentira o generoso crime por que o perseguem”).
- crença em
agouros/presságios:
. de D. Madalena: “… não lhe sai da
cabeça que a perda do retrato é prognóstico fatal de outra perda maior, que
está perto, de alguma desgraça inesperada, mas certa, que a tem de separar de
meu pai”;
. de Maria:
- a referência à Menina e Moça, uma novela
sentimental trágica;
- “Creio, oh, se creio! Que são avisos que Deus nos
manda para nos preparar. E há… oh! há grande desgraça a cair sobre meu pai…
decerto! E sobre minha mãe também, que é o mesmo.”;
- “Mas tenho cá uma coisa que me diz que aquela
tristeza de minha mãe, aquele susto, aquele terror em que está, e que ela
disfarça com tanto trabalho na presença de meu pai (também a mim mo queria
incobrir, mas agora já não pode, coitada!), aquilo é pressentimento de desgraça
grande…”;
- reafirma, clara e enfaticamente, a sua crença de
que D. Sebastião (e, por extensão, D. João) não morreu.
- recusa o
perdão dos governadores;
- sofre presumível perseguição, mas prefere estar
escondido, naquele “homizio”, como diz Maria, naquela “quinta tão triste d’além
do Alfeite, e não poder vir aqui senão de noite, por instantes, e Deus sabe com
que perigo”.
Observemos agora a hybris de Manuel de
Sousa em confronto com as outras personagens:
1.º) dá resolução favorável ao
conflito com Telmo: “Oh, minha querida filha, aquilo é que é um homem! A minha
vida, que ele queira, é sua. E a minha pena, toda a minha pena é que o não
conheci, que o não estimei sempre no que ele valia”. A «generosidade» de Manuel
de Sousa venceu os ressentimentos, a má vontade, os «ciúmes» de Telmo: antes
dos acontecimentos que encerram o Ato I, Telmo apreciava Manuel de Sousa,
tinha-o “em boa conta”. Porém, após ter assistido a esse gesto patriótico, a
sua consideração por ele disparou, de tal modo que se declara disposto a dar a
vida por ele;
2.º) o espetáculo do incêndio encheu
Maria de «maravilha»: “… um espetáculo como nunca vi outro de igual majestade…”,
embora dê razão à interpretação da mãe, de que a “perda do retrato é
prognóstico fatal de outra perda maior, que está perto, de alguma desgraça
inesperada, mas certa, que a tem de separar de meu pai”. E acentua, dolorosamente,
que “… há grande desgraça a cair sobre meu pai… decerto! E sobre minha mãe, que
é o mesmo”.
- de D. Madalena com D. João de Portugal na estranha
reação que teve ao chegar à nova (e antiga) morada, quando encarou o retrato de
D. João;
- de Telmo:
. com Maria nas evasivas, nas
meias-verdades, nas reticências, na relutância em revelar a identidade da
personagem no retrato;
. com Manuel de Sousa: o conflito
entre ambas as personagens já fora resolvido (I, 7, 8 e 12), facto que esta
cena confirma através da admiração que Telmo passou a nutrir por ele após o
incêndio do próprio palácio;
- de Maria:
. com Telmo, a propósito da identidade
da personagem do retrato:
1. por um lado, há as meias
verdades, as evasivas de Telmo, que a todo o transe pretende ocultar-lhe o nome
do cavaleiro retrato;
2. por outro lado, os indícios
observados por Maria, nos momentos que passou ali mesmo com a mãe, no dia da
mudança para este palácio; e a intuição do segredo e a persistência em a
manterem na ignorância daquele “mistério”: “Não sei para que são estes
mistérios; cuidam que eu hei de ser sempre criança”;
. com D. João:
- fica a saber, pela atitude da mãe, que a figura
representada no retrato e de quem ignora a identidade, é esse alguém
causador de todos os sofrimentos;
- daí a curiosidade e a persistência das perguntas a
Telmo;
- até à revelação da identidade do retratado;
- contudo, ela já o sabia “de um saber cá de dentro”
(II, 2).
De facto, no ato inicial, D.
Madalena cita versos de Os Lusíadas, concretamente do episódio de Inês
de castro, em consonância com o seu estado de espírito: sofrimento amoroso.
- presságios de D. Madalena e Maria devido à perda
do retrato de D. Manuel e ao destaque assumido pelo retrato de D. João;
- citação da obra Menina e Moça (novela trágica)
por Maria;
- referência à morte pressentida por Camões;
- doença de Maria;
- referências de D. Manuel de Sousa Coutinho à morte
e ao convento;
▪ O caráter histórico.
▪ A exaltação
dos valores patrióticos e da identidade nacional (a crença no Sebastianismo, a
alusão a Camões, a luta pela liberdade).
▪ A presença
dos agouros/superstições (de Telmo, Maria, D. Madalena).