domingo, 5 de maio de 2024
sábado, 4 de maio de 2024
quinta-feira, 2 de maio de 2024
Enredo / Resumo da ação de O Fantasma dos Canterville
quarta-feira, 1 de maio de 2024
segunda-feira, 29 de abril de 2024
Resumo do capítulo I de "O Fantasma de Canterville"
domingo, 28 de abril de 2024
Análise do poema "Água suja", de Bruna Beber
Caracterização de Tom White
sábado, 27 de abril de 2024
Análise das 24.ª, 25.ª e 26.ª partes da crónica 3 de Assassinos da Lua das Flores
Caracterização de Mollie (Wah-kon-tah-he-um-pah) Burkhart
Resumo da 26.ª parte - 3.ª crónica: O sangue grita
Resumo da 25.ª parte - 3.ª crónica: O manuscrito perdido
Em 2015, os Osage processaram uma empresa energética italiana por violar os termos do Ato de Alocação de 1906 com as suas turbinas eólicas, pondo a nu o facto de as mudanças ocorridas, sobretudo no início do século XXI, no campo da indústria energética terem afetado profundamente a tribo. Graan vira o foco deste capítulo da sua obra para um manuscrito intitulado O Assassinato de Mary DeNora-Bellieu-Lewis, compilado pela sua neta, Mary Lewis,e que reúne diversas informações sobre a vida e o desaparecimento da mulher em 1918. O seu corpo foi descoberto em 1919, tendo um dos seus companheiros masculinos confessado tê-la assassinado com um martelo, de modo a apossar-se dos pagamentos referentes aos direitos de terra da mulher. Depois de conhecer este novo crime, Graan conclui que, se as datas tradicionalmente associadas ao Reino do terror fossem alteradas de forma a incluir as mortes de Mary Lewis, ocorrida em 1918, e a do avô de Red Corn, em 1931, o número de Osage mortos atingiria cifras bem mais assustadoras do que as oficiais.
Resumo da 24.ª parte - 3.ª crónica: Dois mundos
Análise das 22.ª e 23.ª partes da crónica 3 de Assassinos da Lua das Flores
quinta-feira, 25 de abril de 2024
Análise do poema "Vozes-mulheres", de Conceição Evaristo
Conceição Evaristo nasceu em Belo Horizonte, em 1946. Licenciada em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e doutorada pela Universidade Federal Fluminense, iniciou a publicação da sua obra poética em 1990, no número 13 do Cadernos Negros, uma antologia editada anualmente pelo Grupo Quilombhoje, de São Paulo.
Este poema narra a trajetória de mulheres negras no Brasil, nomeadamente a consciência de ser negra e mulher. Desde logo, o título da composição poética evoca a questão das vozes e da sua pertença: as mulheres. Sob o olhar da sociedade patriarcal, vozes caladas ecoam no poema. O uso do plural representa o coletivo, o sujeito poético a percorrer a memória. A voz que é destacada logo no início é a da bisavó, ou seja, trata-se de uma voz que não é exterior ao que é “narrado”; pelo contrário, é a de alguém que viveu por dentro as situações, um passado marcado pelo sofrimento que não se pode esquecer. Por outro lado, o início do poema sugere, desde logo, a diáspora e a desumanidade e crueldade do tráfico negreiro. A voz da bisavó do sujeito lírico ecoa através do tempo – “criança”, símbolo da inocência, da fragilidade e da vulnerabilidade – e remete-nos para os “porões do navio”, uma referência evidente aos navios que faziam o transporte de escravos entre o continente africano e o Brasil e que nos coloca perante o horror do sofrimento e da desumanização. A forma verbal “ecoou”, que marca o passado, que se presentifica na leitura do poema, repete-se no verso quatro, reforçando a ideia de que as experiências da bisavó ainda ressoam no presente, nomeadamente a dor e o sofrimento, que permanecem vivos através da memória, percorrendo a distância do tempo e tornando-se presente. O lamento remete para a imagem inicial do poema, para a questão da voz, que se faz presente no texto, mas sem possibilidade de alterar o destino, pois constitui um mero lamento de “uma infância perdida”.
A primeira estrofe, em suma, remete para o campo da memória coletiva, dado que o sujeito poético não viveu o que relembra, porém o ecoar do passado ainda está presente na sua ação atual, dá sentido à vida. Assim sendo, estes versos iniciais colocam o leitor face à figura da mulher que dá origem a uma linhagem e cuja voz ainda ecoa no presente familiar.
Na segunda estrofe, a voz da bisavó é substituída pela da avó, que “ecoou obediência / aos brancos-donos de tudo” e que representa a geração seguinte, aquela que viveu sob condições adversas experimentadas já em terras brasileiras. Atente-se, desde logo, na união por meio de hífen entre os nomes “brancos” e “donos”, como se representassem uma única coisa. A obediência forçada de que “falam” os versos levam-nos até aos escravos recém-libertados que debandaram das lavouras e das senzalas e que, seduzidos pelas oportunidades nas cidades que estavam em processo de transformação, anunciando novos tempos, e que os poderiam absorver como mão de obra, se viram confrontados com a discriminação que provinha da cor da sua pele.
A terceira estrofe centra-se na geração seguinte: a da mãe. Deste modo, a “narrativa” vai-se aproximando do presente e afastando do passado. A voz da mãe traduz uma resistência silenciosa, uma revolta que é mantida em segredo ou expressa subtilmente. Na época, procurava-se que o Rio de Janeiro se afastasse da condição arcaica de vila (uma designação toponímica que remetia para o período de colonização) e se alcandore ao estatuto de urbe. Para tal, procede-se a uma renovação e modernização da cidade, através de demolições (metáfora do apagamento: desmemoriando-se, o Brasil segue em direção ao “progresso”). Tenha-se presente que a poeta nasceu numa favela situada no alto da Avenida Afonso Pena, uma das áreas mais valorizadas da Zona Sul de Belo Horizonte. Com a passagem do tempo, barracas e respetivos moradores foram sendo progressivamente removidos, a avenida foi prolongada, ergueram-se novos prédios e os becos e as vielas desapareceram fisicamente, existindo apenas na memória de Conceição Evaristo. Este processo de urbanização de múltiplas localidades conduzirá, com alguma frequência, à formação das tristemente famosas favelas.
Voltando ao poema, a voz da mãe ecoa baixinho, o que significa que não foi silenciada, embora se exprima de forma quase impercetível. Seja como for, o relevante destes versos prende-se com a sugestão da existência já de ecos de revolta, o que quer dizer que os oprimidos começam a ganhar consciência da exploração a que foram sujeitos ao longo do tempo. As condições do e o local de trabalho (“no fundo das cozinhas alheias”) indiciam a posição social da mãe, relegada para o trabalho doméstico na casa dos “colonizadores” e que não tem como esconder os disfarçar a cor da pele no contexto da cidade que os rejeita por não se enquadrarem no projeto de modernização das cidades. Se as “trouxas” podem simbolizar a pobreza e a opressão, as “roupagens sujas dos brancos” constituem uma metáfora da injustiça e da opressão a que os homens brancos sujeitam as mulheres negras. Por outro lado, a referência à favela representa a marginalização e a segregação socioespacial a que são submetidas.
A quarta estrofe traduz a voz do próprio sujeito poético, chegando-se assim ao presente. Essa voz exprime a sua perplexidade, expressa através dos versos, da poesia, “com rimas de sangue”, uma metáfora que exprime a violência, a dor e o sofrimento experimentados, e “fome”, nome que pode ser interpretado de forma literal ou enquanto metáfora da injustiça. Por outro lado, a sua voz tem na origem o som que provém da bisavó, que passa pela avó e pela mãe e se torna presente na sua fala. O advérbio “ainda” reforça a ideia da repetição, de um fazer ancestral.
Já a voz da quinta estrofe tem o seu quê de profética: ao apresentar a filha, o “eu” poético “narra” não apenas o presente, mas também o porvir, o futuro. A filha é apresentada como uma colecionadora e guardiã das vozes das mulheres que viveram antes dela; a sua voz guarda em sim todas as vozes. A filha recolhe em si as “vozes mudas caladas”, isto é, as que foram oprimidas, silenciadas ou ignoradas, bem como as que se queriam fazer ouvir, mas ficavam “engasgadas nas gargantas”.
Se houver um tempo em que a voz foi lamento, silêncio, sussurro, imagem poética, agora ela não é apenas fala, mas faz-se ato, representando a consciência de si e um fazer que se quer cidadão, visto que fala e age, representa um coletivo de mulheres que a antecedeu. A voz do sujeito poético “recolhe em si” (reiteração) “a fala e o ato” (a união da palavra e do agir, simbolizando um movimento em direção à mudança e à liberdade), “O ontem – o hoje – o agora” – esta sucessão de advérbios representa a continuidade do tempo e da experiência. A reiteração da expressão “Na voz de minha filha” reforça a importância da voz da filha, que olha para o presente como sequência do passado e a preparação do futuro. A filha será portadora da ressonância das gerações passadas e a sua voz transporta em si a promessa de uma “vida-liberdade” (novamente o hífen a ligar intimamente dois conceitos). A condição para se ter, de facto, liberdade é a de agregar às vozes do passado, lembrar a sua ascendência.
O poema é construído em torno das vozes de várias gerações sucessivas de mulheres da mesma família, começando com a bisavó e terminando com a filha do sujeito lírico. Cada voz carrega em si as memórias e experiências de cada época, criando, assim, um mosaico da história e da resistência da mulher negra.
A voz da bisavó e a referência aos “porões do navio” remetem para a dolorosa história do tráfico negreiro entre África e o Brasil. Por outro lado, os ecos dos “lamentos / de uma infância perdida” que veicula sugerem a brutalidade da escravidão que lhe roubou (e a tantas outras crianças) uma existência normal de criança.
A voz da avó representa a geração de mulheres que esteve sujeita ao domínio e à opressão dos “brancos donos-de-tudo” e ecoa “obediência, indiciando a subjugação e a falta de controlo sobre a própria vida. Ela trabalha como empregada doméstica, leva uma existência dura e marginalizada, mas começa a ecoar alguma revolta.
A voz do “eu” lírico ecoa sangue,
violência, dor, provações, e reflete a luta contínua contra a injustiça e a
opressão. Por outro lado, a poesia constitui um meio para expressar a dor e a
luta da comunidade a que pertence.