O facto de este amor ser aceite
resulta do facto de o casamento medieval ser visto como um contrato, uma união
de heranças, patrimónios e famílias. Era um casamento por interesse: mal
acabavam de nascer, os pais destinavam logo os seus filhos, tal como ainda hoje
acontece em algumas tribos africanas. Não há, no casamento, qualquer referência
ao sentimento amoroso, ao afecto. Por isso, não é ilógico que se fale de amor
entre pessoas que não são casadas, trovador e sua "senhor".
A mulher casada, em geral, não
conhecia o amor e os trovadores pensaram que talvez a pudesse compensar dessa
falta. Eles iam cantar as "donas", que tinham, além disso, muito
poder económico.
O cavaleiro começou,
progressivamente, a ausentar-se menos, vivendo mais na companhia da mulher e da
família. O barão, no seu lar, mais palaciano, começou a constituir uma corte
onde tinham ocasião de florescer as graças femininas, aonde eram mandados os
filhos e as filhas dos vassalos a aprender as artes e as maneiras próprias dos
donzéis e das donzelas, e à qual menestréis, vendedores ambulantes e outros educadores
vagabundos levavam notícias do mundo e os produtos da sua indústria. Começava a
florir de novo a civilização. A música, a poesia, as artes manuais, a pintura,
a escultura, a arquitectura novamente surgiam para a vida.
Foi neste ambiente que surgiu
"a requintada galanteria do amor cortês" e, para expressá-lo, a
chamada cantiga ou cantar de amor, um amor puro, delicado
e inatingível, o amor-adoração, puramente platónico. De facto, o amor cortês é
altruísta, generoso, sem obrigações nem contratos e só podia existir entre
pessoas não casadas. Claro que isto é uma formulação teórica e poética do amor.
Mas não se pense que estamos perante um amor absolutamente platónico; podia ser
físico e isto não era desmesurado. Com efeito, o pedido do trovador ia até
"obter o galardão máximo", um encontro a sós com a sua
"senhor". Por isso, a ideia da morte de amor é fingida, porque esta
formulação de amor é muito fantasista e idealizada.
É conhecido o drama do poeta
Guilherme de Cabestanh que se deixou apaixonar por Seremonda. O marido não
gostou, matou-o com requintes de malvadez, arrancou-lhe o coração e mandou-o
servir assado à sua "senhor" Seremonda. E, não contente, no fim da
refeição, informou-a de onde lhe veio tal manjar. Horrorizada, a senhora
atirou-se pela janela e morreu.
As cantigas de amor seguem a mesma
fórmula:
* louvor da dama;
* referência ao
sofrimento que o trovador diz sentir;
* auto-elogio do
trovador, quando fala do seu sofrimento;
* mesura no
comportamento do trovador e da dama.
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