O ponto de vista da peça é
compartilhado entre os dois amantes. Na primeira metade da obra, Romeu é o
ponto de vista dominante. Passamos a maior parte do tempo com ele, e ele é a
personagem que mais faz para avançar na ação. Quando o conhecemos, está
desesperado com o amor não correspondido de Rosalina. Como vemos, a sua decisão
de participar na festa dos Capuletos do ponto de vista dele, sabemos que espera
encontrar Rosalina. Da mesma forma, vemos Julieta em casa com sua mãe e sua
enfermeira, discutindo um possível casamento com Páris. Como Romeu, ela planeia
participar na festa para conferir um possível companheiro. Ao apresentar o
público a cada personagem antes de se conhecerem, a peça permite-nos ver quem
eles são como indivíduos e como são mudados pelo amor. Romeu, inicialmente,
parece mais apaixonado pela ideia de amor do que a própria Rosalina, enquanto
Julieta parece hesitar em se apaixonar, dizendo que o casamento "é uma
hora com a qual eu não sonho".
Na segunda metade da peça, o ponto
de vista de Julieta torna-se o dominante. Agora, é ela quem avança na ação,
traçando um plano para evitar o seu casamento com Páris. Nas cenas posteriores,
passamos mais tempo com Julieta do que com Romeu: ele não aparece no Ato IV.
Julieta também tem mais solilóquios do que ele, por isso temos maior acesso a
seus pensamentos e sentimentos internos à medida que a história do casal passa
de romântica para trágica. Como vemos muita ação através do ponto de vista de
Julieta e ouvimos muitos dos seus pensamentos internos, acreditamos que seu
amor por Romeu é autêntico e ela está disposta a fazer qualquer coisa para
sustentar esse amor. Ao dar-lhe tanta vontade na parte posterior da peça,
Shakespeare retrata Julieta como uma personagem igualmente poderosa e
importante como Romeu. O ponto de vista compartilhado da peça ajuda o público a
entender que o enredo é dirigido por ambas as personagens agindo juntas em
busca de um objetivo comum, em vez de uma personagem masculina perseguindo uma
personagem feminina que eventualmente concorda.
Várias personagens de Romeu e
Julieta oferecem contrapontos ao ponto de vista dos amantes. A inteligência
e o carisma de Mercúcio convidam o público a compartilhar a sua visão cínica de
amor e romance. Enquanto os amantes acreditam que o seu amor é puro e
importante, Mercúcio acredita que, na realidade, o amor se resume ao desejo
sexual. Como nos sentimos próximos do ponto de vista de Mercúcio, ficamos aborrecidos
quando ele é morto e simpatizamos com o desejo de Romeu de vingar a sua morte.
O ponto de vista de Frei Lourenço também oferece uma perspetiva sobre as
paixões extremas das outras personagens da peça. Os seus discursos calmos, bem
fundamentados e equilibrados, mostram-nos até que ponto as outras personagens
da peça foram varridos pela paixão. Os seus discursos também são longos,
medidos e um pouco aborrecidos. Enquanto ele fala, desejamos voltar à emoção da
paixão dos amantes. Como Frei Lourenço é um homem religioso, o contraste entre
o seu ponto de vista e o dos amantes sugere que a paixão é uma tentação, e à
qual nós mesmos somos vulneráveis.
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