sábado, 27 de fevereiro de 2021
É possível atacar um avião através do wifi
Análise de "Ulisses"
Classificação de Mensagem
Desde logo, é possível referenciá-la como uma obra lírica (sobretudo na terceira parte):
» é um livro de poemas;
» a forma é fragmentária (ao contrário, por exemplo, de Os Lusíadas);
» o sujeito lírico evidencia uma atitude introspectiva;
» o sujeito lírico exprime os seus sentimentos, sonhos, desejos, crenças
(relativamente ao presente, ou ao futuro da Pátria);
» há uma postura de interiorização e de contemplação da alma humana;
» o simbolismo;
» a inquietação, a ânsia, o constante interrogar-se («'Screvo meu livro à beira-
mágoa»);
» o presente de sofrimento e mágoa;
» o tom menor;
» a visão subjectiva do enunciador.
Contudo, especialmente na segunda parte, a obra é também de carácter épico:
» os poemas, juntos, formam um todo integrado;
» os heróis portugueses do passado possuem um valor simbólico e mitológico;
» há um apelo à glorificação lusíada no século XX e demais;
» o heroísmo:
. os heróis (os marinheiros que percorreram os mares e se imortalizaram)
agem pelo instinto, sem terem a visão do sentido e alcance dos seus actos
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021
Título: Mensagem
- foi alterado, a conselho do seu amigo Cunha Dias;
- razão: o nome da pátria estava muito associado a textos publicitários, que promoviam, por exemplo, marcas de sapatos e marcas de hotéis;
- exemplo de um slogan da época: «Portugalize os seus pés».
- o título é constituído por 8 letras:
- 8 é o número do equilíbrio cósmico que simboliza a palavra criadora;
- 8 é o símbolo da ressurreição, da mudança e do anúncio de um novo tempo.
. 2.ª explicação:
- mensagem = comunicação, missiva;
- o vocábulo pressupõe a existência de um emissor e de um recetor, desde logo sugeridos na epígrafe da obra - «Benedictus Dominus Deus Noster qui dedit nobis Signum» («Bendito Deus Nosso Senhor que nos deu o Sinal»);
- emissor da mensagem: Deus;
- recetor: o Poeta, que, pelo seu génio, foi eleito por Deus, para dar conhecimento da mensagem à tribo de que será guia e profeta, transformando-se também, em emissor.
- o título Mensagem teria tido origem na afirmação feita por Anquises, personagem da Eneida, quando explica a Eneias, descido aos Infernos, o sistema do Universo - Mens agitat molem = a mente move a matéria;
- Mensagem será, assim, um anagrama da afirmação mens + ag(itat mol) + em;
- o objetivo da obra seria mover as «moles» (a matéria) humanas através da poesia;
- simbologia da descida aos Infernos:
- poder associado às ideias de decadência e subsequente renascimento, sendo esse o processo cíclico apontado como condição necessária ao ressurgimento da pátria num estado ideal;
- aceitando a morte do passado, o poder fecundador do mito trará um futuro perfeito.
. 4.ª explicação:
- o título poderá ainda estar ligado à expressão «ens gemma», isto é, ente em gema, ovo;
- tal significaria Portugal em essência, gema;
- associação à ideia de encantamento, de magia: para os alquimistas, o ovo filosófico é o embrião da vida espiritual, do qual eclodirá a sabedoria;
- no ovo, concentram-se todas as possibilidades de criar, recriar, renovar e ressurgir. Ele é a prova e o recetáculo de todas as transmutações e metamorfoses.
- a palavra mensagem pode ser «recortada» e construir as expressões mea gens ou gens mea, isto é, «minha gente» ou «gente minha», remetendo para a raça de heróis nomeados ao longo da obra;
- outra hipótese remete para mensa gemmarum, isto é, o altar ou mesa onde repousam as gemas portuguesas - Portugal é onde se procede ao sacrifício necessário à realização do sagrado;
- Portugal seria, assim, o altar onde os sacrifícios em nome do divino foram realizados.
Enquadramento cultural de Mensagem
dos valores;
► Futurismo: movimento, velocidade, energia explosiva e máquinas como demonstração
da força do indivíduo;
► Cubismo: fraccionamento da realidade;
► Abstraccionismo: recusa de representação do real;
► Surrealismo: apelo à imaginação, ao sonho e à loucura; escrita automática.
Circunstâncias de produção de Mensagem
● A obra integra-se na corrente modernista, transmitindo uma visão épico-lírica do destino português, nela se salientando um conjunto vasto de símbolos e de mitos, como, por exemplo, o Sebastianismo, o Quinto Império, as Idades, etc.
● De acordo com o próprio Pessoa (Páginas Íntimas), a obra é um livro «abundantemente embebido em simbolismo templário e rosacruciano», ao mesmo tempo marcado por tonalidades épicas e messiânicas.
● Na Mensagem, Pessoa assume-se como o cantor do fim do império português (Camões foi o cantor do seu início e auge). De facto, a Pátria, no tempo do poeta, encontrava-se num estado de decadência e desagregação, circunstância que faz despertar nela a ânsia de renovação e regeneração que procura plasmar na sua obra. Ele acreditava que, através dos seus textos, poderia despertar as consciências e fazê-las acreditar e desejar a grandeza de outrora. Por isso, as duas partes iniciais de Mensagem assinalam o passado histórico e grandioso de Portugal, enquanto a terceira descreve o presente decadente e anuncia a vinda do Encoberto, representado na figura mítica de D. Sebastião, o pilar do Quinto Império.
● O projecto de Fernando Pessoa relaciona-se, em parte, com o ideal da Renascença Portuguesa, antevendo o «ressurgimento assombroso de Portugal, um período de criação literária e social como poucos o mundo tem tido, em que a alma portuguesa encerraria a alma recém-nascida da futura civilização europeia, que será uma civilização lusitana.»
● Pessoa preconizava para Portugal a construção de um novo império, já não de carácter material, como o fora o dos descobrimentos, mas de natureza espiritual, capaz de elevar os Portugueses ao lugar de destaque que outrora tinham ocupado a nível mundial. Seria, assim, um império da língua e da cultura portuguesas, um império do modo de ser português, do culto da liberdade e da solidariedade, da capacidade de adaptação às situações mais imprevistas.
● Em várias ocasiões, o poeta designou esse seu desígnio de «nova Índia», uma «Índia que não há» ("E a nossa grande raça partirá em busca de uma Índia nova, que não existe no espaço, em naus que são construídas daquilo que os sonhos são feitos. E o seu verdadeiro e supremo destino, de que a obra dos navegadores foi o obscuro e carnal anterremedo, realizar-se-á..." - in A Nova Poesia Portuguesa) e que seria projectada / cantada por um Super-Poeta, um Super-Camões (provavelmente, o próprio Pessoa), que cantará a genialidade do seu povo e a espalhará por todo o mundo. No fundo, considera-se investido no cargo de anunciador do tal novo império (na sequência dos textos do Padre António Vieira), o Português.
● O conteúdo enaltecedor da maioria dos poemas contrasta com o contexto em que foram produzidos:
» acompanham alguns dos factos principais da História de Portugal;
» retratam as suas figuras centrais;
» recuperam os seus símbolos, as suas lendas e o essencial da sua mitologia;
» criam o destino de uma super-nação mítica que faltaria cumprir.
● Intencionalidade comunicativa da obra:
» regenerar o orgulho português;
» cantar o passado histórico glorioso de Portugal de uma forma emblemática e simbólica,
transformando-a num mito, a partir do qual seja possível reinventar o futuro;
» anunciar o renascer de uma pátria grandiosa, um novo império civilizacional, uma
Super-Nação mítica.
Enquadramento histórico de Mensagem
valores para viver a vida na sua plenitude;
► Freud demonstra a complexidade do Homem e o seu lado inconsciente;
► Einstein põe em causa grande parte do conhecimento científico.
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021
Análise de "Aquela cativa"
NOTAS
|
® a suavidade da sua beleza (vv. 5-8);
® a singularidade do rosto e o sossego do olhar
(vv. 13-16);
® a sua doce figura que suscita na neve o desejo
de mudar de cor (vv. 25-28);
® a mansidão, a alegria e a sensatez (vv. 29-30);
® a serenidade da sua presença bonançosa que
refreia a dor e tranquiliza o sujeito.
Esta
figura de mulher
oriental, exótica, indefinida, quase inefável, surge-nos
assim num retrato em que todo o sortilégio vem de qualidades espirituais:
"doce figura", "presença serena", "leda
mansidão". Note-se que estas qualidades sugerem um porte senhorial,
em oposição à sua condição de escrava ("parece estranha, mas
bárbara não").
Não
obstante o retrato de Bárbara, marcadamente espiritual, se revista de
qualidades que se enquadram dentro do tipo da mulher
petrarquista, no entanto, a cor dos olhos e dos cabelos (preta) está
longe de pertencer ao tipo da mulher petrarquista – Laura. Na verdade, contra
as convenções do petrarquismo, que via na mulher loira a formosura ideal,
Camões canta uma beleza oriental, indígena, atribuindo-lhe, todavia, um porte
senhorial, o que a distancia menos da mulher cantada por Petrarca (Laura).
Bárbara
aparece como mulher clássica, perfeita, inacessível,
mulher deusa: "Ua graça viva / que
neles lhes mora, / mera ser senhora / de que é cativa".
A
adjetivação caracterizante do rosto
("rosto singular") e dos
olhos ("olhos sossegados, pretos
e cansados") apresenta Bárbara
como uma mulher exótica, de olhos moderadamente românticos, mas sem serem
fatais ("... mas não de matar"). A adjetivação em geral realça as
características físicas e psicológicas de Bárbara: os seus traços psicológicos
são típicos da mulher petrarquista, mas fisicamente afasta-se desse modelo.
O
retrato psicológico é também conseguido pela enumeração de nomes abstratos.
O
determinante indefinido
"ua" realça a graça indefinível e misteriosa desta mulher, graça essa
vincada pela forma verbal mora, de aspeto durativo. A mudança do determinante demonstrativos aquela (v. 1) para esta (v.
37) traduz uma ideia de aproximação sentimental entre o sujeito poético e a
mulher amada.
O
aumentativo Pretidão exprime a intensidade da cor e, simultaneamente,
intensifica o afeto que liga o sujeito à escrava.
A
antítese (versos 19 e 20) entre a
posição de dependência (cativa) e a superioridade na relação amorosa –
senhora ¹ cativa –
aponta para a relação feudal da cantiga de amor. Por outro lado, destaca o
facto de, sendo escrava, se comportar como uma senhora. Outras antíteses se encontram no poema para
realçar a beleza de Bárbara: a beleza dos cabelos pretos suplanta a dos louros;
a sua pretidão é mais bela que a brancura da neve; parece estranha
(= exótica) mas não bárbara (= não civilizada, selvagem – trocadilho entre este adjetivo bárbara e o nome próprio Bárbara); a sua presença serena
acalma a tormenta e o sofrimento (pena) do sujeito.
Outras
figuras de estilo que realçam a beleza singular da mulher são a personificação ("que a neve lhe jura / Que trocara a cor"); as metáforas ("Eu nunca vi rosa";
"Nem no campo flores / Nem no
céu estrelas"; "Presença
serena / Que a tormenta amansa";
"tão doce a figura") e a hipérbole ("que a neve lhe jura / Que trocara a cor";
"Presença serena / Que a tormenta
amansa").
Referência
por último para as construções negativas:
"Eu nunca vi rosa / Nem no campo flores, / Nem no céu
estrelas".
-» idealização da mulher amada, valorizando
a sua beleza espiritual, psicológico- moral, e exprimindo o seu fascínio;
-» as características psicológicas e
morais da mulher.
- atitude de vassalagem amorosa do
sujeito face à mulher;
- o amor platónico;
- a imagem da mulher ideal, perfeita
e divinizada.
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021
Análise do poema "Aniversário"
A terceira estrofe levanta a questão: o que foi o sujeito poético? E a resposta não se faz esperar: foi aquilo que ele mesmo supunha ser e foi amado (vv. 11 a 14). O verso 5 desta estrofe revela-nos um «eu» aflito e espantado: "O que fui - ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui..." (v. 15). Ou seja, na infância era feliz, mas não sabia que o era; só agora, no presente, em que já não possui a inocência e a inconsciência desse tempo, sabe que foi (feliz). Neste passo, já não é o pretério imperfeito que domina, mas o pretérito perfeito, que revela uma época passada concluída.
Na quarta estrofe, «saltamos» para o presente, tempo em que a felicidade foi substituída pela dor ("e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas" - v. 21). Mais: presentemente, o «eu» sente-se abandonado, tal como sucedeu à casa da sua infância, que foi vendida e surge abandonada, cheia de humidade nas paredes, ideias transmitidas pela comparação do verso 19 e pelas metáforas que se lhe seguem. A metáfora do verso 24 traduz a frieza que caracteriza o sujeito poético na actualidade, o tempo que já passou e não regressa. Em síntese, o presente é um tempo de dor, de abandono, de ausência, de solidão, de perda, de não retorno.
Perante a constatação do seu presente amargo e doloroso, na 5.ª estrofe o sujeito exprime um desejo: o de regressar à infância ("Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez" - v. 27), de a recuperar, ou seja, de recuperar a alegria e a felicidade então experimentadas, de forma ansiosa e voraz ("Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!" - v. 30 - realce para a comparação e a metáfora). Porém, esse desejo é impossível de concretizar.
Esse desejo de regressar é tão forte que, na estrofe seguinte, a memória que o sujeito poético tem do passado acaba por se sobrepor ao presente (a expressão "Vejo tudo outra vez com uma nitidez..." - v. 31 - traduz, exactamente, essa presentificação do passado da infância). E ele (re)vê os objectos, as pessoas e as circunstâncias que o representam e à felicidade: a mesa posta, os objectos do aparador, a família, a sua centralidade nesse tempo ("e tudo era por minha causa" - v. 34).
No entanto, a partir do verso 36 o «eu» retoma o seu presente rogando ao coração (apóstrofe e metonímia de si próprio) que pare, que deixe de pensar. É o retorno da dor de pensar que tanto atormentara o ortónimo, a dor de ser inconsciente e incapaz de sentir ("Pára, meu coração! / Não penses! Deixa o pensar na cabeça." - vv. 36-37). Ou seja, ele toma consciência de que é impossível recuperar a infância, que se encontra irremediavelmente perdida, e de apenas lhe resta o presente de abandono, solidão e vazio. O pensamento põe, assim, fim ao desejo de regressar à infância, sonho que viveu por instantes mas logo foi interrompido pela sua racionalidade. Daí a tripla invocação à figura de Deus, plena de dramatismo e desespero, ao constatar essa impossibilidade de retorno: "Hoje já não faço anos." (v. 39).
Qual será, então, o seu futuro? O seu futuro será a velhice ("Serei velho quando o for." - v. 42). Até lá, restam-lhe o tédio e a abulia traduzidos pelas formas verbais "duro" e "somam-se-me", que destacam a forma como o «eu» desistiu de viver, limitando-se a a existir, vendo os dias passar. Por tudo isto, de facto, já não faz qualquer sentido festejar o seu aniversário. E a penúltima estrofe encerra com nova metáfora ("Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!..." - v. 44) que confirma que o desejo de recuperar o tempo da infância ou de a presentificar / trazer para o presente é impossível de concretizar. Por outro lado, como tantas vezes nos acontece na vida, o sujeito poético só toma consciência do valor do que perdeu quando já é tarde demais: "Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças. / Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida." - vv. 9-10; "... o que só hoje seu que fui..." - v. 15. É, afinal, um sentimento de impotência, de raiva incontida que brota nesse instante em que toma consciência da perda definitiva.
A última estrofe do poema - um monóstico exclamativo - coloca-nos perante um sujeito poético marcado pela nostalgia, pela saudade e pela tristeza, em forma de lamento pela perda. Por outro lado, é possível identificar uma circularidade no poema, que abre e finaliza com versos muito semelhantes, que marca o desejo de reviver o passado.
Alguma curiosidades sobre aviação e aviões
O episódio do avião da Germanwings
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021
Análise de "Descalça vai pera a fonte"
- duas voltas de sete versos (sétimas)
- métrica: redondilha maior (7
sílabas métricas)
v Mote (tese) – Apresentação de Leanor:
• localização espacial: a caminho da
fonte (ambiente bucólico e rural);
• tempo; primavera (a “verdura”) –
presente;
• caracterização da figura retratada:
▪ nomeação/identificação: Leanor;
▪ social:
- pobre / do povo
(“Descalça”);
- atividade doméstica:
ida à fonte;
▪ física: formosa / bela;
▪ psicológica:
- insegura (“não segura”)
- ansiosa
• posição do sujeito poético:
observador da figura feminina.
• da caracterização
física:
▪ pele branca – “mãos de
prata” – metáfora
▪ formosa – “fermosa” – adjetivação
expressiva
▪ cabelo louro – “cabelos
de ouro” – metáfora
▪
muito bela – “tão linda que o mundo espanta” – hipérbole + oração
subordinada adverbial consecutiva
▪
graciosa – “chove nela graça tanta” – metáfora + trocadilho
▪ vestuário:
-
“cinta de fina escarlata” – vermelho → alegria, paixão, sensualidade
-
“sainho de chamalote” – diminutivo → carinho
-
“vasquinha de cote, / mais branca que a neve pura“ – comparação + hipérbole
– branco → pureza
- “a
touca”
- “o
trançado”
-
“fita”
▪ cores
- vermelho → alegria, sensualidade, paixão
- branco → pureza
- louro dos cabelos
▪
elementos do quotidiano de trabalho de Leanor
- o pote
- o testo
▪ espanta o mundo
▪ dá graça à formosura
▪
insegura e ansiosa
▪
apaixonada
▪
causas da insegurança:
-
caminhar com o pote na cabeça > insegurança (desequilíbrio) > encontro
com o amigo?
- a
beleza (ser ou não ser apreciada)?
- o
encontro com o namorado (faltará ou marcará presença?)
- os
seus sentimentos?
- fonte: ambiente rural e
campestre; local de cumprimento de uma tarefa doméstica; possível local de encontro
amoroso;
- verdura: ambiente rural e
bucólico;
- neve: a pureza e tom de pele
claro de Leanor;
- ouro, prata: metais
preciosos que sugerem o tom de pele claro e os cabelos louros de Leanor, bem
como a sua preciosidade.
domingo, 21 de fevereiro de 2021
Análise da "Ode Triunfal" (3.ª parte)
- irregularidade estrófica,
métrica e rítmica;
- uso excessivo de coordenação,
em detrimento da subordinação;
- catadupa de recursos
expressivos (onomatopeias ousadas, apóstrofes e enumerações exageradas…);
- predomínio de vocabulário
técnico, destituído de valor poético.
- uso de palavras completamente
prosaicas (comuns ou vulgares);
- o canto excessivo da
civilização industrial, encarada como matéria épica;
- a ousadia de mencionar os
aspetos negativos da sociedade.
• A “Ode” evidencia a presença do futurismo
de Marinetti: Campos canta as máquinas, os motores, a velocidade, a
civilização mecânica e industrial…
- Movimento italiano de início do
século XX (Marinetti);
- Rutura com a vida e a arte do “passado”
(a perspetiva aristotélica);
- Criação de uma nova estética
para um novo mundo;
- Celebração da modernidade
industrial e urbana;
- Culto da máquina e da
velocidade;
- Fruição do mundo moderno
(ligação ao Sensacionismo de Pessoa), feita através das sensações.4
. Tem um cariz agressivo e
escandaloso e propõe-se cortar com o passado, exprimindo em arte o dinamismo da
vida moderna.
. Desponta, em Portugal como um
escândalo, tal como desejado pelos seus iniciadores (Almada Negreiros e
Santa-Rita Pintor), apelidados de «malucos» e «loucos» pelos jornais.
. Os textos distinguem-se por uma
enorme quantidade de frases exclamativas, de invetivas e de insultos, com o
intuito de desmistificar, demolir, acabar com os hábitos culturais esclerosados
e retrógrados: criar a pátria portuguesa do século XX (segundo Almada).
- "escrocs exageradamente
bem vestidos": além da ironia, note-se a presença da antítese entre a
compostura exterior (o vestuário) dos escrocs e as suas intenções;
- "Chefes de família
vagamente felizes": neste caso, o advérbio «vagamente» projeta o cansaço (de
viver?) sobre a felicidade dos chefes de família;
- "Banalidade interessante
(...) / Das burguesinhas (...) / Que andam na rua com um fim qualquer":
notar novamente a presença da antítese, agora entre o aspeto exterior das
«burguesinhas» (diminutivo irónico) e as suas obscuras intenções;
- "A maravilhosa beleza das
corrupções políticas, / Deliciosos escândalos financeiros e diplomáticos":
a adjetivação antitética assume o valor de oximoro.
- "tudo o que passa e nunca
passa": traduz a concentração do passado no presente, ou a continuidade
dos acontecimentos diários;
- "O ruído cruel e delicioso
da civilização de hoje": traduz os sentimentos contraditórios do sujeito
poético em relação à civilização industrial.
- "Arde-me a cabeça de vos
querer cantar";
- "Grandes trópicos humanos
de ferro, fogo e força" (aliteração em «f»);
- "Desta flora estupenda,
negra, artificial e insaciável";
- "Nos cafés, oásis de
inutilidade ruidosas";
- "Quilhas de chapa de ferro
sorrindo".
Estes
recursos estilísticos, nos exemplos apresentados, evidenciam a forma como o
sujeito poético vibra com a modernidade, com a civilização industrial (com a
fúria do movimento das máquinas, com a excessiva quantidade de carvão...).