Quina, quarentona,
nunca teve tantos pretendentes, mas a sua vaidade e o desinteresse pelo
casamento impedem os seus intentos.
A velha Narcisa
Soqueira continua a pretendê-la para o filho Augusto, de quem é traçado um
breve retrato ("bronco até ao anedótico"). É dotado de uma natureza
selvagem, o que o aproxima das ideias filosóficas de Rousseau.
Seguidamente,
faz-se referência a um brasileiro rico, sobrinho segundo do seu velho amigo
Adão, aproveitando a narradora para denunciar a emigração e as suas desastrosas
consequências.
A faceta
espiritual de Quina como conselheira é novamente realçada com a alusão a
Adriana, uma prima abandonada pelo marido que recorre aos seus conselhos, mas
que, deflagrada a guerra, regressa para junto do marido.
2. Prosperidade
da casa da Vessada – conquista do poder económico
Requestada por
um maior número de pretendentes do que em nova, Quina não pretende casar-se,
pois a sua preocupação vai no sentido de ser mais respeitada do que amada, o
que se deve também à sua ambição de posse e de aumento de património,
desiderato conseguido através da captação da herança aos irmãos: "João
(...) acabou por abdicar da sua parte da herança por uma quantia em dinheiro
que jubilosamente lhe foi entregue por Quina. (...) Adão louvou-a muito por
aquele discreto manejo que a fazia senhora de metade do património"; "Era,
no fim de contas, Quina que subia, que se emancipava, que, segundo o dizer
respeitoso dos do lugar, «fazia casa». Nas rendas dos irmãos, ela subtraía
habilmente a comissão devida às suas responsabilidades e fadigas na
administração delas." (p. 87).
Mas a ascensão
de Quina como proprietária hábil, abastada, é feita à custa da economia e do
governo da casa: "o seu equilíbrio uma forma de génio". E, por outro
lado, "a prosperidade trazia-lhe também (...) inimigos..." (p. 88).
Estes factos
levantam uma questão fundamental: porque não casou Quina?
As causas são
as seguintes:
-» Quina tinha uma imagem
negativa dos homens, tomando como exemplo o comportamento do pai;
-» gostava mais de ser admirada
do que de servir: "Ela adorava os respeitos, mais do que os amores. Sempre
assim fora, e, mesmo que agora alguns partidos consideráveis mandavam
espiar-lhe as disposições a respeito de consórcio, ela sentia mais prazer pelas
alusões feitas ao seu nome de proprietária, do que pela galanteria dedicada à
mulher" (p. 82);
-» sente um grande e intenso
amor pelo pai, mantém com ele uma aliança secreta (p. 23);
-» o casamento limitaria o seu
desígnio do aumento do património e da riqueza;
-» embora muito ligada ao clã
feminino da casa e da família, é como um homem que Quina sempre agiu,
recalcando a sua feminilidade.
3. A conquista
do poder espiritual
Quina não chega
a ser uma autêntica sibila. Tem de comum com as sibilas de Apolo o facto de ser
a guardiã da sua casa, ter por herói o pai, o seu Apolo, possuir um discurso
sentencioso e sibilino, um poder medianeiro, interferindo nas ações das pessoas
e captando os segredos da existência, entrando frequentes vezes em êxtase.
Porque é que
não foi uma autêntica sibila?
"Criou
asas, sem jamais poder voar. Havia nela uma admirável capacidade de entusiasmo
que podia arrastá-la ao sobre-humano. Mas o instinto prático pesava-lhe como
chumbo no coração, e ela subordinava aos interesses a chama que Prometeu furtou
e cujo valor ela nunca compreendeu. Todos os seus passos acabavam por deixar um
rasto de autossuficiência tão inocente quanto grotesca, e todas as suas ações
traziam consigo um selo de vaidade e ânsia de louvor que as tornavam desde logo
inúteis, ridículas e falsas." (p. 89)
O seu apelo ao
triunfo imediato, às coisas materiais, terrenas, a sua constante e insaciável
vaidade, as suas intrigas mesquinhas, tudo isto a condenou, pesou como chumbo,
não lhe permitindo voar.
Todavia, o seu
poder espiritual fica patente no auxílio espiritual de Quina aos sofredores e
desprotegidos, ilustrado na sua ação junto do marido de Lisa, no seu leito de
morte. Esta circunstância exemplifica a projeção social de Quina no espaço onde
vive, bem como o seu sentimento de vaidade, com exultação perante a idolatria:
"-
Deite-se para baixo, se Zé - murmurou ela. - Adormeça.";
"O velho
deixou-se recostar, ficou quieto, olhando à sua frente. Não parou de mover os
lábios, e, quando Quina tentava afastar-se, ele agitava-se, gemendo. Porém, não
a tinha ouvido.";
"Quina,
onde se interpunha à sua vaidade monstruosa e implacável" (p. 91).
A construção do
mito de Quina fica bem marcada neste episódio, finalizado com a oração.
4. A
fragmentação do tempo
. Analepse: o
episódio entre o pai de Augusto e Francisco Teixeira (p. 83).
. Sumário (p.
87, 1º parágrafo).
5. Crítica à
emigração, na pessoa do sobrinho de Adão, que, cruel e oportunista, se
aproveitava da ingenuidade dos emigrantes (p. 85).
6. Quina,
grande e pequena ou o Prometeu agrilhoado
A associação
que o narrador faz entre Quina e o deus Prometeu serve para demonstrar a
obsessiva e irrefletida sede de poder e de absoluto de Quina que, como o deus,
se torna vítima dela própria: "(...) e ela subordinava aos interesses a
chama que Prometeu furtou e cujo valor ela nunca compreendeu." (p. 89).
7.
Domingas: representa as mulheres que
amortalham os mortos, nas aldeias, e as carpideiras, e o seu retrato é-nos
apresentado depreciativamente: "(...) Havia alguns vizinhos em volta, e
uma mulher, amortalhadeira de profissão, veio desde a lareira, com a colher de
lata negra com que estivera a revolver um cozimento suspensa na mão."
; "(...) e tomando-os
alternadamente, com vagidos de comoção e consolo. (...) Ela era, de resto,
atreita a amores, e todos os homens lhe pareciam bem." (pp. 90-91).