Público
leitor
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O Liberalismo deu lugar à ascensão
da burguesia e alargou o público leitor.
O Romantismo é a expressão
literária e plástica da ascensão da burguesia.
O Romantismo democratiza a literatura, pois esta deixa de
ser um privilégio de reis ou fidalgos e de se circunscrever a círculos
fechados de eruditos, chegando ao POVO, embora este continue esmagadoramente
analfabeto, e sobretudo à burguesia, a classe que lê e à qual o Romantismo se
dirige. Por outro lado, é curioso notar que a literatura romântica, especialmente
a ultrarromântica, invadiu as famílias burguesas, ficando profundamente ligada ao
mundanismo, à vida cívica: escreviam-se versos em álbuns, acompanhavam-se
poemas a canto e piano nos salões, havia recitais poéticos em festas de
beneficência e patrióticas, promoviam-se saraus literários.
Acresce
ainda o facto de a obra literária não ser já um mundo fechado de valores para
eleitos; é uma comunicação franca de ideias práticas e vitais a todo o
leitor. Envereda até, uma vez ou outra, pelos caminhos da denúncia social
e do empenhamento político
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Romantismo
na Europa
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Teve origem na Escócia e na
Inglaterra, países pouco permeáveis ao Classicismo, devido às suas arraigadas
tradições.
Na Alemanha, o individualismo,
exacerbado na luta contra a hegemonia napoleónica, favoreceu o clima
romântico.
Em França, foi tardio porque o
Classicismo estava muito implantado; os filósofos da Enciclopédia e
sobretudo Rousseau, criador de uma literatura confessional, prepararam o
terreno. Foram as influências vindas da Alemanha que aceleraram a sua
implementação.
Em Portugal, o Romantismo está
ligado às guerras liberais; os primeiros grandes mestres – Garrett e
Herculano – foram soldados liberais.
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Génio
criador
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O Romantismo
privilegia a emoção, o sentimento em detrimento da razão e do espírito
ordenador dos clássicos; isto é, vai sobrepor-se o culto do «eu» e dos
direitos do coração às imposições orientadoras da inteligência (reacção
contra o racionalismo clássico).
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ESTÉTICA ROMÂNTICA
CONTEÚDO / TEMAS
O
individualismo / o egotismo
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O homem romântico, contra a
estética neoclássica, contra a imitação dos modelos, defende a independência,
a afirmação do indivíduo em si mesmo, o culto da personalidade, do “eu”. O
“eu” é o pólo centralizador e o valor máximo. O mundo exterior serve para que
o “eu” projete nele os seus sentimentos ou de pretexto para a evasão para
mundos imaginários. É a apologia da imaginação e do devaneio poético sem
limites.
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A aspiração ao infinito
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O escritor romântico afirma a sua
rebeldia e insatisfação. Ele tende para o infinito, aspira a romper os
limites que o constringem, numa busca incessante do absoluto, mas este
permanece sempre como um alvo inatingível. Procura quebrar os seus limites;
limitado como é, nunca conseguirá os seus intentos, considerando-se vítima e
perseguido do e pelo destino.
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A
sacralização do amor
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O amor, sentimento absolutizado,
exagerado, coloca o amante em permanente insatisfação e contradição, porque
nada no mundo pode preencher os seus desejos incontroláveis. A mulher ou é um
ser angelical bom (anjo) ou um ser angelical mau (diabo), exercendo uma atração
irresistível sobre o homem. Idealizada, é fonte de contradições e conflitos,
nunca permitindo harmonia entre os amantes.
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A
ânsia de liberdade
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Do acentuado individualismo brota
naturalmente o desejo de quebrar todas as cadeias que coarctam a liberdade do
“eu”, quer sejam políticas, morais ou sentimentais. Por isso, o escritor
gritará contra os tiranos, sejam reis ou imperadores, aproximará a literatura
do povo, a quem considera a essência da Nação, interessa-se pelos temas
populares como manifestação espontânea da alma popular. O romântico
deixar-se-á conduzir pelo instinto, pela paixão, pelo sentimento, pelo
idealismo religioso, procurando pela natureza a visão da perfeição absoluta,
da verdade absoluta e de Deus. A liberdade é um valor absoluto: “Abaixo
a razão! Viva a Liberdade!” é o grito
que se repete.
O
herói romântico comporta-se como um rebelde, altivo e desdenhoso, desafia a
sociedade e o próprio Deus. Prometeu, o deus rebelde, é, assim, a figura
mítica exaltada como símbolo e paradigma da condição do homem.
A
aventura do “eu” romântico apresenta uma feição de declarado titanismo, configurando-se o herói romântico
como um herói rebelde que se ergue, altivo e desdenhoso, contra as leis e os
limites que o oprimem, que desafia a sociedade e o próprio Deus. Prometeu é a
figura mítica que os românticos frequentemente exaltam como símbolo e
paradigma da condição titânica do homem, pois que, tal como Prometeu, é o
homem um ser em parte divino, «um turvo rio nascido de uma fonte
pura», cujo destino é urdido de miséria, solidão e rebeldia, mas que
triunfa deste destino pela revolta e transformando em vitória a própria
morte.
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O “mal du siècle”
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Da impossibilidade de alcançar o absoluto a que o
romântico aspira, nascem o pessimismo, a melancolia, o cansaço, o desespero,
a volúpia do sentimento, a busca da solidão. O mal du siècle, a
indefinível doença que alanceia os românticos, que lhes enlanguesce a
vontade, entedia a vida e faz desejar a morte, exprime o cansaço e a
frustração resultantes da impossibilidade de realizar o absoluto, das paixões
sem objeto, consumidas num coração solitário, roído pela angústia de viver.
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A
fantasia
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A fantasia desempenha um papel
desmesurado para o romântico: o sonho e a evasão são constantes, resultando
da insatisfação do presente.
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A
angústia metafísica
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A vida é, para o romântico, um
problema constante; o seu egotismo fê-lo perder a confiança nas suas
potencialidades. A sociedade não o compreende e daí ele voltar-se para o
infinito e, como não o alcança, vive num permanente estado de angústia.
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O
sentimento religioso – panteísta
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A aspiração dos românticos por um
ideal encontra, por vezes, eco na tendência religiosa: Deus responde ao
enigma da vida, à paz e esperança. A sua religiosidade é sobretudo de
natureza sentimental e intuitiva; o seu diálogo com a divindade tende a
dispensar a mediação do sacerdote e o formalismo dos ritos, desenrolando-se
na intimidade da consciência.
Os românticos afirmam também
sentir Deus na natureza; a sua sensibilidade leva-os a amar o Cristianismo
dulcificante, salvador, em detrimento de uma mitologia cruel e distante. De
facto, na senda da Profession de foi du vicaire savoyard, de
Jean-Jacques Rousseau, os românticos descobriram e cultuaram Deus nos astros
e nas águas do mar, nas montanhas e nos prados, no vento, nas árvores e nos
animais. Por isso, o panteísmo representa
a forma de religiosidade mais frequente entre os românticos.
Renasce, por outro lado, o mito de
Satanás (satanismo), co-símbolo do mal
e da desgraça.
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A
Natureza
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Os clássicos tinham idealizado a
natureza como o locus amoenus, cenário cristalino e primaveril,
bucólico, harmonioso, equilibrado e proporcionador de sensações agradáveis,
bucolicamente matizado de flores e de águas puras, paisagem doce e agradável,
despertadora de sensações aprazíveis; era uma natureza simétrica,
equilibrada, como simétricas e equilibradas eram as suas formas poéticas.
Os românticos criam um outro modelo
de natureza – o locus horrendus –, natureza em tumulto, de imagens
sombrias, noturnas, capaz de provocar sensações violentas: é constituída por
realidades como a sombra, a noite, as trevas, a lua, o cemitério, as ruínas,
a tempestade, o vento agreste, o pôr do Sol, o abismo, o mocho, o sapo,
realidades essas capazes de provocar violentas sensações em escritores
dominados pelo sentimento. Entre a natureza e o “eu” estabelecem-se relações
afectivas; as coisas, os objectos associam-se aos seus estados de alma. O
escritor projecta sobre todas as coisas os seus estados emotivos, os seus
sonhos e devaneios. A natureza é amiga e confidente e funciona como ser afetivo
e animado.
O locus horrendus provoca
sentimentos exagerados, às vezes mórbidos, de acordo com o estado de espírito
do “eu”, o desejo de evasão para outros mundos e até o desejo da morte.
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O
exotismo
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Desgostado com a realidade que o
rodeia – encarnação do finito, do efémero e do imperfeito –, em conflito com
a sociedade ou dilacerado pelos seus conflitos interiores, o romântico
procura ansiosamente a evasão: no sonho e no fantástico, na dissipação, no
espaço e no tempo.
A evasão no espaço conduz ao
exotismo e o romântico parte à procura de lugares exóticos, palco para a sua
imaginação ilimitada; busca a evasão em países estrangeiros com as suas
personagens, habitantes e costumes novos; por vezes, conduz ao gosto pelo
bárbaro e primitivo.
Entre os países europeus, a Itália
e a Espanha, países de paisagens e costumes característicos, de contrastes
violentos e de paixões arrebatadas, representam as grandes fontes europeias
do exotismo romântico; fora da Europa, é o Oriente, com o seu mistério, o
fascínio dos seus costumes, das suas tradições, o objecto do exotismo
romântico.
A evasão no tempo conduziu à
reabilitação e à glorificação da Idade Média, época histórica particularmente
denegrida pelo racionalismo iluminista.
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Interesse
pela Idade Média
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Abandonando os modelos
greco-latinos e consequentemente a mitologia, os românticos apaixonaram-se
pela Idade Média porque fora essa época o momento da afirmação das
nacionalidades em que o povo ajudava os reis a criar as nações, porque fora o
tempo cheio de peripécias e de prodigiosas aventuras. A evasão no tempo
conduziu à reabilitação da Idade Média, denegrida pelo racionalismo
iluminista. Os castelos antigos, os monges, os cavaleiros, os momos
despertavam a imaginação exacerbada dos românticos. A Idade Média era um
manancial inesgotável de lendas, poesia, canções de gesta, feitiçaria,
tradições, folclore, etc.
A evasão no tempo conduziu à
reabilitação e glorificação da Idade Média, épica histórica particularmente
denegrida pelo racionalismo iluminista. A Idade Média atraía a sensibilidade
e a imaginação românticas pelo pitoresco dos seus usos e costumes, pelo
mistério das suas lendas e tradições, pela beleza nostálgica dos seus
castelos, pelo idealismo dos seus tipos humanos mais relevantes – o
cavaleiro, o monge, o cruzado... –, mas solicitava também o espírito dos românticos
por outras razões mais ponderosas.
Ora, a Idade Média, época de
gestação das nacionalidades europeias, aparecia como a primavera do «espírito
do povo» característico de cada nação, como o período histórico em que tal
espírito se revelara na sua pureza originária, sem ter sido ainda maculado
por qualquer influência alheia (a Renascença, portadora de vastas influências
greco-latinas, alheias ao espírito das nações medievais, será duramente
criticada pelos românticos).
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O nacionalismo e o popular
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A cultura francesa do século XVIII
tinha unificado espiritualmente a Europa e Napoleão tentara a sua unificação
política. Como reação a este desejo imperial, os escritores românticos
procuram exaltar tudo o que é nacional e popular: o folclore, os costumes, as
tradições, as figuras nacionais, a história pátria; a literatura popular e as
grandes obras da literatura nacional. E creem que a alma dos nacionalismos
europeus incarna no povo da Idade Média, daí o prestígio do popular e do
folclórico. Foi por isso que a literatura romântica cedo adquiriu um caráter
cívico e patriótico e enveredou gradualmente pelo historicismo,
tratando com muito carinho figuras nacionais.
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A
emoção
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O romântico expressa
espontaneamente as suas emoções: liberto de convenções, ele dá vazão ao que
lhe vai na alma, transporta o seu estado de espírito para a Natureza e para a
escrita.
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A
mulher
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A mulher, para o romântico,
apresenta uma dupla faceta: pode surgir como mulher-anjo que veio do
céu para purificar o coração do amante, enobrecer e animá-lo na sua missão
poética, ou como mulher-demónio, que seduz e encandeia o homem, o
perde e desgraça.
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Herói
romântico
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. Aparece carregado de aleijões, indisciplinado, doente, irrequieto e
egocentrista, sem grandes preocupações morais e pessimista.
. É um ser revoltado contra a sociedade, individualista e solitário.
. Surge rodeado de incertezas e carregado de insatisfação e angústia.
. É um D. Juan (D. Juanismo), um diletante que se apaixona por todas
as mulheres, infligindo nas que por ele se apaixonam um destino terrível, espalhando
à sua volta o sofrimento e a destruição.
. É um ser fragmentado interiormente.
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A
realidade humana total
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Se para o escritor clássico a
beleza residia na imitação da natureza (no universal e não no particular),
idealizando seres com todas as perfeições e sem quaisquer defeitos, o autor
romântico, pelo contrário, semeia nas suas obras todos os tipos humanos.
Deste modo, ao lado dos heróis, coloca os marginais, os fora da lei, os
aleijões (físicos e morais): o ladrão, o assassino, o traidor, o perjuro, a
prostituta, o corcunda, o cego, o adúltero, etc. Ocasionalmente, alia a
elevação de sentimentos à hediondez física (como acontece, por exemplo, nas
personagens o sineiro Quasimodo de Nossa Senhora de Paris, de Vítor
Hugo, e o jardineiro Belchior de A Escrava Isaura, de Bernardo
Guimarães).
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FORMA
Independência
criativa
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O génio romântico não pode estar
sujeito a regras, como o génio clássico, pois ele voa no imaginário, nos seus
sentimentos, nos seus instintos. Daí a abolição do rigor rítmico, rimático e
estrófico, o verso livre e branco, a variedade estrófica.
O Romantismo libertou a criação
literária das coações advindas das regras, condenou a teoria neoclássica dos
géneros literários, reagiu violentamente contra a conceção dos escritores
gregos e latinos como autores paradigmáticos, fonte e medida de todos os
valores artísticos.
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Linguagem
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É acessível, mesmo coloquial e
oralizante, nada convencional. O vocabulário é corrente e familiar. O poeta
usa as reticências, a pontuação em abundância, o verso cortado, pois ele não
atende a convenções, mas põe no papel os sentimentos que lhe brotam da alma
sem correntes nem previsões. A frase é sensorial, musical, imitando a voz; os
adjetivos são novos; o tom retórico e declamatório, com repetições,
apóstrofes e exclamações.
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Hibridismo
de géneros
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Com os românticos aboliu-se a separação
dos géneros; valorizam-se novas formas literárias e aliam-se o
sublime e o grotesco.
Muitas formas literárias
características do Neoclassicismo, como a tragédia, as odes pindáricas e
sáficas, a écloga, etc., entraram em decadência no período romântico, ao
passo que se desenvolveram novas formas literárias como o drama romântico, o
romance histórico, o romance psicológico e de costumes, a poesia intimista e
a poesia filosófica, o poema em prosa, etc.
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