segunda-feira, 19 de abril de 2021
Análise do poema "Erros meus, má fortuna, amor ardente"
sexta-feira, 16 de abril de 2021
Análise do poema "O dia em que eu nasci, moura e pereça"
- a ligação do nascimento e da morte
(verso 1);
- as relações ambíguas com a mãe
(verso 8);
- a visão de si próprio com um ser
desmesurado, mesmo monstruoso (versos 6 e 7);
1.ª) Deseja que haja um eclipse, que
o sol desapareça e seja um dia de escuridão total.
2.ª) Deseja que o mundo mostre sinais
de que vai acabar.
3.ª) Deseja que nasçam monstros.
4.ª) Deseja que chova sangue.
5.ª) Deseja que a mãe não conheça o
próprio filho.
. Pleonasmo: «moura e pereça» – exprime o desejo
do desaparecimento do dia em que nasceu.
. Inversão: «Eclipse nesse passo o Sol padeça»;
«A mãe ao próprio filho não conheça»; «Sangue chova o ar».
. Apóstrofe: «Ó gente temerosa…» – evidencia a
distância entre o «eu» e os outros, pois, enquanto estes se mostram temerosos e
ignorantes, o sujeito não receia e conhece a causa para o caos.
. Modo conjuntivo para traduzir o desejo de amaldiçoar
tudo e o conselho dirigido à «gente temerosa» para que não se espante com o
cenário apoclítico.
. Discurso valorativo: «As pessoas pasmadas»;
«gente temerosa», «a vida mais desgraçada que jamais se viu».
. Alternância das rimas em a aberto e e
fechado nas quadras, sugerindo espanto e dor, e em i nos tercetos como
um grito de desespero.
. “não o queira jamais o tempo dar”;
. “cuidem que o mundo já se destruiu”;
domingo, 11 de abril de 2021
Caracterização dos Vendedores de telefonias
▪ Um deles apresenta-se “bem
vestido”, é elegante, de modos agradáveis, sorridente e afável no trato. Ao
reparar que a casa do Batola tem energia elétrica (é a única na aldeia), vê, de
imediato, uma possibilidade de fazer negócio.
▪ Mostra também ser observador e
atento, seguro de si, convincente, hábil e calculista, características que se
adequam a um bom negociante, como o mostram as estratégias que usa para vender
a telefonia ao Batola: apresenta o aparelho, experimenta-o na presença do
potencial cliente e enumera as suas qualidades.
▪ Por isso, convence facilmente o
Batola a adquirir o objeto, usando diversas estratégias de persuasão, como as
seguintes expressões permitem deduzir: “poisa a mão sobre o ombro de Batola”,
“Sem dar qualquer tempo de resposta, ordena…”, “Mostra os papéis, gesticula e
sorri, sorri sempre”. Perante a reação negativa da mulher do vendeiro, adota
habilmente uma atitude conciliatória, dirigindo-se-lhe de modo mais formal, até
porque percebe que é ela quem decide, propondo que a telefonia fique à
experiência durante um mês. Se depois não o quisessem, poderiam devolvê-lo e
ele restituiria as letras que o Batola havia assinado como forma de pagamento.
Além disso, durante esse mês iriam usufruir do aparelho sem pagar nada.
▪ Note-se que toda a atividade de
vendedor por parte do sujeito «bem vestido» assenta no engano. De facto, por um
lado, alude a um pretenso problema mecânico para justificar a paragem na aldeia
e, por outro, aceita deixar o aparelho à experiência durante um mês (ao
constatar a oposição férrea da mulher do Batola), mas leva consigo as letras
assinadas pelo vendeiro.
Caracterização do Rata
▪ Era amigo de Batola, mas contrastava
com ele: aquele vive conformado e apático; este saía frequentemente da aldeia e
percorria o Alentejo, embora o máximo onde tenha chegado tenha sido Beja. De
facto, a personagem vivia de esmolas que ia recebendo em várias terras.
▪ Rata é um mendigo e viajante, uma
espécie de mensageiro que traz novidades do que se passa para além dos limites
da aldeia. “Ao escutá-la durante «tardes inteiras» de forma entusiasmada,
também Batola parecia viajar por «todo aquele mundo». Esta hipérbole (o mais
longe que Rata viajara fora até Beja) elucida o impressionante isolamento dos
habitantes de Alcaria. Quando ficou impossibilitado de viajar «pelos longes»,
Rata suicidou-se.” (Violante Magalhães, in Conto Português [séculos XIX-XX]:
Antologia Crítica). Este suicídio agudiza a solidão do Batola.
▪ Constituía um agente de mudança,
pois trazia o mundo exterior até à aldeia, graças às suas saídas, combatendo o
isolamento de Alcaria e dos seus habitantes.
▪ Quando a miséria e a doença o
forçam a uma existência estagnada e repleta de privações, suicida-se. De facto,
o reumatismo tinha-o tornado incapaz de sair da aldeia. Quando se viu preso e
impedido de viajar, o Rata mata-se por não se conformar com o isolamento e a
solidão a que se viu remetido pela doença incapacitante.
Caracterização dos habitantes de Alcaria
▪ Os homens de Alcaria são
apresentados como «figurinhas» (de presépio?) que vivem em casas
«tresmalhadas». Atendendo a esta caracterização das casas (continente), os
homens que as habitantes (conteúdo) são aparentados com gado. […] eles são «o
rebanho que se levanta com o dia, lavra, cava a terra, ceifa e recolhe vergado
pelo cansaço e pela noite. Mais nada que o abandono e a solidão». A tudo isto
acresce a falta de esperança numa vida melhor. Batola não enfrenta aquele tipo
de problemas. Pelo contrário, ele dá-se ao luxo de preguiçar, bebe «o melhor
vinho que há na venda», carrega um fio de ouro no colete. Todavia, consciente
da vida difícil dos demais aldeãos, ele é solidário. E partilha a condição
animalesca dos conterrâneos: […] «rumina» a revolta; os suspiros saem-lhe «como
um uivo de animal solitário».” (Violante Magalhães, in Conto Português…].
Relação entre Batola e a mulher
▪ A relação que mantêm gera raiva e
revolta nas duas personagens. Vivem juntos, mas mal se falam, e o silêncio
domina a sua convivência diária, o que gera um estado permanente de tensão,
raiva e revolta, o que desemboca na violência ocasional.
▪ A mulher é dominadora, enérgica,
autoritária quando tem de tomar decisões; ele é passivo, indolente e torna-se
violento quando alcoolizado.
▪ Após a compra da telefonia, a
situação muda: o Batola corda cedo e assume a gestão da venda, que antes cabia
à mulher, que fica em casa e raramente marca presença no espaço comercial. A
própria atitude da esposa relativamente ao marido é bastante diferente: o seu
autoritarismo desaparece e, agora, surge «com um ar submisso» e humilde, como o
evidencia o modo como lhe pede, humilde, quase sob a forma de murmúrio, que
conservem o aparelho radiofónico.
Caracterização da mulher do Batola
▪ Psicologicamente, é uma mulher ativa,
dinâmica, diligente e determinada, mas também autoritária e prepotente. De
facto, é ela quem gere a casa e o negócio do casal: “abre a venda”, avia os
fregueses, “põe e dispõe”.
▪ É ela quem detém, pois, o poder e
revela-se “silenciosa e distante” relativamente ao marido, ao contrário de quem
toma decisões com lucidez. A vida dura e rotineira que tem não a inibe nem
impede de seguir um rumo.
▪ A aquisição da telefonia vai
provocar uma alteração na personagem: perde o seu ar autoritário e prepotente e
mostra-se submissa, “com uma quase expressão de ternura”, pedindo ao marido
para ficar com a telefonia. De facto, se, no início, se distancia para não
compartilhar da alegria e do entusiasmo do marido e do povo da aldeia, acaba,
no final, por se render ao aparelho e às mudanças que este trouxe,
provavelmente porque ganhou gosto pela nova vida que ele lhe aportou. Também
ela sentia, como os demais, a necessidade de uma companhia (“Sempre é uma
companhia”), de romper a solidão e o isolamento em que vivia.
▪ A sua recusa inicial justifica-se
pelo facto de, para si, a rádio não possuir qualquer utilidade, constituindo
apenas um luxo e, consequentemente, um desperdício de dinheiro; por outro lado,
a compra da telefonia não é uma decisão sua, o que constitui outro motivo para
se lhe opor.
▪ Não possui nome próprio no conto, o
que pode significar que mais importante do que a sua identidade é o papel que
desempenha na ação.
Caracterização do Batola
▪ Psicologicamente, no início do
conto, apresenta-se como um indivíduo desmotivado, passivo, entediado,
preguiçoso, desinteressado e deprimido, traços sintetizados na expressão “[…] a
vida do Batola é uma sonolência pegada”.
▪ Por outro lado, é agressivo,
violento, pouco polido e fraco, como o demonstra o facto de se entregar ao
vício da bebida, de agredir a mulher e não conseguir superar a situação em que
se encontra, o que gera frustração.
▪ Face à vida que tem, sentindo-se só
(solidão essa que radica na ausência de convívio com os habitantes da aldeia) e
desesperado, evade-se através do álcool (passa os dias “a beber de manhã à
noite”) e da ausência (“para ali fica com um olhar mortiço”).
▪ O comportamento e a relação com a
mulher suscitam-lhe revolta, a entrega à bebida e, frequentemente, a agressão /
violência física: “Era o Batola, bêbedo, a espancar a mulher”. De facto, a
relação do casal é marcada pela agressividade e pela violência.
▪ A venda proporciona ao casal uma
vida económica desafogada, comparativamente ao resto da comunidade, o que,
todavia, não impede que se sinta só, frustrado e vazio interiormente.
▪ Depois da aquisição da telefonia, o
Batola sofre uma mudança de comportamento. Assim, torna-se um indivíduo
trabalhador, conversador e interessado no que se passa no mundo, adquirindo
gosto pela vida. O convívio com as outras pessoas, que passam a vir à venda
para ouvir rádio, quebra a sua monotonia, tristeza e solidão, e a sua
existência passa a ser preenchida com a música e a informação que lhe chegam
via aparelho.
Ação do conto "Sempre é uma companhia"
quinta-feira, 8 de abril de 2021
domingo, 4 de abril de 2021
Resumo do conto "Sempre é uma companhia"
O conto situa-se na época da II Guerra Mundial e narra-nos a história de um casal que possui uma venda numa aldeia alentejana e cujo quotidiano é caracterizado pela solidão, pelo isolamento do mundo, pela monotonia e tédio e pela agressividade entre os membros desse casal.
Este panorama é alterado com a
chegada de dois vendedores de telefonias, que convencem o Batola, a personagem
principal, a comprar um aparelho. Perante a oposição da mulher, um dos vendedores
propõe uma compra à condição: a telefonia ficará à experiência durante um mês.
Passado esse tempo, se não a quiserem, poderão devolvê-la e receber de volta as
“letras”.
A aquisição do aparelho provoca uma
mudança enorme na povoação e na vida dos seus habitantes: os ceifeiros
dirigem-se todos à venda do casal para ouvir as notícias da guerra, saem de lá “alta
noite” e a discutir o que ouviram “numa grande animação”. As mulheres
deslocam-se igualmente para a venda após a ceia, para ouvir as melodias e até
(as velhas” dançar ao som da telefonia. Os aldeãos sentem-se, assim, agora,
mais próximos do mundo, por consequência menos isolados e solitários.
Esta mudança acaba por se estender à
própria mulher do Batola, que abandona a sua prepotência e o seu autoritarismo
e se mostra submissa, pedindo ao marido para ficarem com a telefonia, visto que
“é uma companhia” naquele deserto.