Neste
capítulo, o narrador ocupa-se da caracterização do Vidigal, que leva Leonardo
Pataca preso, expondo-o a uma enorme vergonha na casa da guarda. Vidigal é
polícia e juiz ao mesmo tempo.
Na
época em que a ação decorre – início do século XIX no Brasil –, a polícia da
cidade ainda não estava organizada, pelo que a figura do Vidigal detinha um
poder absoluto, sendo em simultâneo o guarda que perseguia e prendia os
criminosos e o juiz que julgava e determinava a pena. Frequentemente, nos casos
de que era responsável, não havia testemunhas, nem provas, nem razões, nem
processos; tudo se concentrava nele e a sua justiça era infalível. Das
sentenças que dava, não havia recurso – fazia o que bem entendia, sem ter de
prestar contas a ninguém.
O Major
Vidigal é um homem alto, não muito gordo, com ar de molengão, o olhar sempre
baixo, os movimentos lentos e a voz descansa e adocicada. Além disso, é uma
pessoa calma, inteligente e muito temida. Juntamente com uma companhia de
soldados escolhidos por si, patrulha a cidade de noite, enquanto de dia a
tarefa cabe à polícia. Todos o temem, por isso, quando bate à porta da tapera
do velho feiticeiro e pede que a abram, os seus ocupantes ficam em pânico e
procuram fugir pelos fundos da habitação, porém esta está cercada por todos os
lados, pelo que são presos em flagrante, acusados de nigromancia.
Já
dentro da casa, o Vidigal solicita-lhes que prossigam com a cerimónia, pois
deseja ver como se faz. Como é impossível resistir-lhe, após uma hesitação inicial,
recomeçam o ritual. Após cerca de meia hora, param, porém o major pede que
continuem, e a cena repete-se mais algumas vezes, até que, já exaustos, o
Vidigal lhes ordena que parem. Depois pede aos granadeiros que toquem, o que
faz os soldados pegar nas suas chibatas e o grupo feiticeiro dançar muito mais.
Segue-se
o interrogatório. Vidigal pergunta a todos a sua ocupação, mas nenhum lhe
responde. Quando chega a vez de Leonardo Pataca, reconhece-o e, depois de o
desgraçado lhe ter explicado a razão de todo aquele espetáculo, o major
prontifica-se a curá-lo. Assim, arrasta-o para a casa da guarda no largo da Sé,
uma espécie de depósito onde eram guardados aqueles que fossem presos durante a
noite até lhes dar um destino.
Ao
amanhecer, já toda a cidade tem conhecimento do acontecido e Leonardo é
encarcerado na prisão, o que, de início, deixa tristes os seus conhecidos, mas
depois contentes com a situação, visto que, enquanto Pataca estiver preso,
serão eles procurados para os negócios. Ou seja, a sua prisão equivale a um concorrente
a menos.