Português

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Contexto histórico da poesia trovadoresca

 
▪ No território encostado à fronteira líquida do Oeste Atlântico, existiu, em tempos e espaços diferentes, uma unidade administrativa e política. A mais duradoura e a que mais influenciou o etnos, a língua, lo desenho das estradas, a estrutura das cidades, a articulação da via marítima da costa foi a Lusitânia romana. Durante muitos séculos, marcou a realidade política e social; uniu o território desde a margem esquerda do Douro ao mar do Algarve e engordou um pouco na fronteira leste. Mérida era a cabeça regional e política.
 
▪ A ocidente, o reino suevo constituiu uma segunda construção política. A sua capital era a Braga romana, envolveu a Galiza e, durante um século, o território português até ao Mondego.
 
▪ A terceira construção política, efémera, ocorreu com o estabelecimento do Reino e Condado da Galiza. Surgiu pela primeira vez com Ordonho de Leão no início do século X e tinha Viseu como uma das capitais. Anos mais tarde, o conde Raimundo de Borgonha, casado com D. Urraca, filha de Afonso VI e futura rainha de Leão e Castela, manteria esta unidade, sob a forma de condado, entre 1093 e 1096. O reino da Galiza assentava numa realidade sociológica e cultural muito própria, ainda hoje visível no terreno situado a norte do rio Douro, e bem expressa na língua galaico-portuguesa.
 
▪ A última construção é a que se refere ao Condado Portucalense, que reunia os territórios entre os rios Minho e Mondego e que remonta a 1096 e ao conde Henrique de Borgonha. Iniciada em 718, a reconquista cristã só viria a terminar em 1492 com a conquista do reino de Granada. Para auxiliar os povos peninsulares nesta empresa, chegaram à Península Ibérica, a partir do século XI, muitos cruzados vindos da Europa. Numa dessas vagas veio D. Henrique, a quem o rei Afonso VI de Leão e Castela concedeu, como gratidão pelos favores prestados, a mão da sua filha ilegítima, D. Teresa, e o Condado Portucalense (1096). Com este casamento, Henrique reuniu dois condados: o Portucalense propriamente dito, que remontava a Vímara Peres, no século IX, e o condado de Coimbra, organizado por Sisnando Davides de Tentúgal, após a conquista da cidade de 1604. De fora ficava a Galiza. Com a morte do marido, D. Teresa assumiu o governo do condado, mas seu filho, Afonso Henriques, vendo o perigo de o território portucalense se aliar à Galiza, combateu-a e, em 1143, foi aceite como rei de Portugal na Conferência de Zamora pelo rei de Leão, Afonso VII, mas o reconhecimento do papa só chegou em 1179, com a bula “Manifestis Probatum”, de Alexandre III.
 

Idade Média: designação e definição

 
▪ A Idade Média foi um período que se estendeu por mil anos, do século V ao século XV.
 
▪ Foi assim batizada pelos humanistas do Renascimento por ocupar o grande “vazio” situado entre a Antiguidade greco-romana e os tempos modernos, daí a designação Idade Média, isto é, época / idade no meio.
 
 
2. Definição
 
▪ Designa-se por Idade Média um largo período de dez séculos / mil anos, subsequente à queda do Império Romano do Ocidente às mãos dos invasores “bárbaros”, com a conquista de Roma em 476, e que se prolongou, segundo alguns historiadores, até 1453 – data da queda do Império Romano do Oriente, após a conquista de Constantinopla pelos Turcos – e, segundo outros, até 1492, data da descoberta da América por Cristóvão Colombo e da conquista de Granada, que representou a expulsão definitiva dos mouros da Europa.
 
▪ Considerada posteriormente como uma “longa noite de dez séculos” pelos intelectuais do Renascimento, foi reabilitada pelos românticos, que viam na Idade Média, sobretudo, uma época de afirmação das pátrias, línguas, literaturas, culturas e “identidades” dos diversos povos europeus.
 
▪ As datas apontadas são meramente representativas, para fins de “arrumação” de factos de diversa ordem, pelos historiadores. É evidente que não podemos considerar que até ao dia 31 de dezembro de 476 se pensava e vivia de uma maneira e que, no dia 1 de janeiro de 477, subitamente se passou a viver e pensar de outra forma.
 

quarta-feira, 2 de setembro de 2020

O Fim da Aventura, de Graham Greene

     Henry Miles, um funcionário do Ministério do Interior, é casado com Sarah, que já foi amante do narrador. Após um encontro fortuito, Henry, desconfiado da mulher após uma denúncia anónima, combina com o narrador que este finja interesse em Sarah para descobrir quem é o seu eventual amante atual. O narrador, um escritor com algum sucesso, tendo como pano de fundo a Segunda Guerra Mundial, relembra, em vários flash-backs, o seu romance com Sarah durante quatro anos, que ela deu por findo para se dedicar a outra relação extra-conjugal. Enquanto isso, contrata um detetive privado, de nome Parkis, que, juntamente com o seu filho, passam a vigiar Sarah, e fornecem ao narrador relatórios periódicos sobre as suas andanças.
     Certo dia, o narrador, querendo magoar Henry, dominado por sentimentos de ciúme e de vingança mesquinhos, confessa-lhe que foi amante da mulher e que esta teve muitos outros. No entanto, Henry reage molemente, frustrando os intuitos do narrador.
     Seguidamente, temos acesso a páginas do diário de Sarah, que se revela uma mulher mal-amada pelo marido (que só se preocupa com a sua carreira política e a ascensão nos ministérios), desiludida e descrente. A sua grande esperança na possibilidade de alcançar a felicidade seria ao lado de Maurice, o amante e narrador da obra, que vive na expectativa de reencontrar. A aventura amorosa iniciou-se por volta de 1939 e terminou cerca de 1944 por iniciativa dela, após uma promessa feita de que não continuaria sua amante, na sequência da deflagração de uma bomba alemã perto da casa onde se encontravam, que ela pensava tê-lo morto.
     Em fevereiro de 1946, ela prepara-se para deixar o marido e juntar-se a Maurice, quando Henry chega a casa a chorar e diz-lhe que a ama, o que a leva a prometer-lhe que não o abandonará. Subitamente, Maurice é surpreendido pela notícia da morte de Sarah, vítima de uma constipação que se agravou. Ainda mais surpreendente é o facto de Maurice ter convidado Henry a morar consigo por algum tempo e este ter aceitado.

A Liga dos Homens Assustados, de Rex Stout

     Nero Wolfe recebe Andrew Hibbard, que lhe promete 500 dólares por semana para que o proteja de Paul Chapin, um ex-amigo que um grupo de compinchas aleijou grave mas acidentalmente, durante uma brincadeira, há 25 anos, e que agora se procura vingar, assassinando esse conjunto de homens. Wolfe não aceita a proposta e Hibbard é assassinado. Paul Chapin é presentemente um escritor de livros policiais onde, aparentemente, descreve os crimes que vai cometendo.
     Wolfe reúne, em sua casa, a Liga de Expiação, isto é, os homens responsáveis pela desgraça de Chapin, propondo-lhes a libertação da perseguição de que estão a ser alvo, mediante um determinado preço. A meio da reunião entra Chapin, o que constitui uma espécie de desafio a Wolfe, apresentando-se como inocentemente acusado. Após a sua partida, um dos homens recorda o acidente que marcou para sempre Chapin: Andrew Hibbard, um aluno de Harvard do segundo ano, deixa a chave do quarto do lado de dentro e, como era da tradição, escolhem um caloiro para, saindo por uma das janelas do corredor, caminhar por um rebordo estreito até à janela do quarto fechado e entrar por aí. Esse caloiro recusa a tarefa, pois o quarto situa-se no terceiro andar, mas é forçado pelos outros e acaba por cair, tendo estado posteriormente dois meses no hospital, onde é operado três vezes. No dia em que abandona o hospital, Chapin, o caloiro vítima dos trinta e cinco colegas, envia-lhes uma cópia de um poema por si escrito.
     Chapin era natural da mesma cidade de um dos homens, o Dr. Burton, e namorava aí com uma jovem. Esse namoro terminou após o acidente e essa jovem acaba por desposas esse Dr. Burton. Já em Nova Iorque, a Sr.ª Burton contrata uma criada, Dora Ritter, com quem Chapin casa. Dias depois, Dora Chapin, ex-Ritter, surge no escritório de Wolfe apresentando vários golpes no pescoço, afirmando ser o marido o autor da agressão, num momento de fúria. No entanto, o detetive, sem explicar como, descobre que a mulher auto-infligiu as feridas no pescoço.
     Um dos membros da Liga, o arquiteto Farrell, escreve um bilhete informando que parte para Filadélfia, no qual Wolfe descobre os «n» e «a» desalinhados que caracterizam os bilhetes que o assassino envia a todos os membros da Liga quando inflige uma morte. Archie Goodwin parte no seu encalço e, quando o encontra, é-lhe dito por Farrell que a máquina pertence ao Harvard Club e é utilizada por vários dos seus membros. Nero Wolfe solicita a Archie a compra de uma máquina de escrever nova para colocar no lugar da do Harvard Club, que trará para casa do detetive.
     Wolfe convoca, via Archie, um dos detetives que vigiam Chapin, desconfiando já que se trata do desaparecido Hibbard. Wolfe propõe-lhe que se mantenha isolado, em sua casa, para que possa dar todos os passos de forma a levar Chapin a confessar. No final desta conversa, um dos «assalariados» de Wolfe telefona, informando-o de que a polícia vai prender Chapin, acusado da morte, a tiro, do Dr. Burton.
     A Sr.ª Burton odeia Chapin pela sua monstruosidade, apesar de já ter sido sua noiva, e conta que ouviu tiros e, quando chegou ao local do crime, este estava às escuras e Chapin de joelhos no chão.
     Archie Goodwin vigia Dora Chapin e acaba por se fazer convidado da sua casa, acabando por ser drogado, juntamente com Pitney Scott, outro dos ex-alunos de Harvard, na atualidade um taxista alcoólico. Rouba o casaco e o táxi do taxista e a carteira de Archie, que envia a Wolfe, juntamente com um bilhete, ameaçando que matará Archie se o detetive não se encontrar com ela. Wolfe acede e entra no táxi roubado. O objetivo de Mrs. Chapin é obrigá-lo a confessar a manigância a que recorreu para estender a armadilha ao marido.
     Wolfe convoca os membros da Liga para sua casa, às 9 horas da noite. Nessa reunião, apresenta a confissão de Chapin de que não matou ninguém; a sua vingança pelo que lhe sucedera à 25 anos é executada nos livros que escreve. O único assassinado foi o Dr. Burton; os outros homens foram vítimas de casos acidentais. O seu único pecado foi o de se aproveitar dessas mortes para escrever os bilhetes com que pretendia aterrorizar os outros indivíduos.
     O criminoso é outro e assassinou o Dr. Burton pois, enquanto corretor, roubou a empresa deste e, quando foi descoberto, decidiu pôr-lhe termo à vida, armando ao mesmo tempo uma cilada a Chapin.

O Americano Tranquilo, de Graham Greene

     Pyle, um oficial norte-americano destacado no Vietname, colónia francesa, é assassinado em Saigão.
     Thomas Fawler é o repórter, "amigo" de Pyle, que recorda episódio da guerra que se desenrola naquele país, episódios relativos ao próprio Pyle e o triângulo amoroso que se estabelece entre os dois e uma jovem vietnamita, Phuong.
     Relativamente à guerra, uma das questões é a forma como o comando francês destaca as vitórias (pequenas ou grandes) no terreno e as baixas do inimigo, sonegando qualquer informação sobre as derrotas ou as suas próprias baixas; outra é a falta de material aéreo de combate, nomeadamente helicópteros; uma terceira passa pela falta de primeiros socorros, o que faz com que mesmo os feridos ligeiros corram perigo de vida.
     Entretanto, Fawler é nomeado editor para os assuntos internacionais, por isso terá de regressar a Londres, apesar de esse não ser o seu desejo. Escreve à mulher, pedindo-lhe o divórcio, por causa do seu «affair» com Phuong.
     Durante um ataque noturno de que são vítimas, Pyle acaba por salvar Fawler, ferido, transportando-o às costas. Entrementes, este recebe a resposta negativa da mulher ao pedido de divórcio, numa carta onde está bem vincada a amargura dela; seguidamente, Fawler escreve a Pyle comunicando-lhe o oposto, isto é, que a esposa aceitara a separação.
     A verdade acaba por vir à tona e Phuong vai morar com Pyle, que revela o seu envolvimento em atentados, cometidos ao serviço da designada Terceira Força do general Thé, distinta dos Franceses e dos Comunistas. Certo dia, Fawler vê-se envolvido num desses atentados, que originalmente tinha como finalidade uma parada militar, entretanto cancelada, e que acaba por apenas vitimar civis inocentes. Posteriormente, é-lhe comunicado que permanecerá mais um ano no Vietname.
     No final, recebe um telegrama da mulher concedendo-lhe o divórcio, ficando assim disponível para Phuong.

O Natal de Mr. Krank, de John Grisham

     Luther Krank e a esposa despedem-se da filha Blair, que parte para o Peru no contexto de uma ação humanitária. Cansado da rotina e dos gastos excessivos, por exemplo em objetos inúteis de Natal, Luther propõe à mulher um Natal diferente: uma viagem às Caraíbas.
     Antes de partir, procura fugir às tradições natalícias, como a de colocar um boneco de gelo no telhado de cada casa, ou o donativo habitual, através da compra de um calendário, para a Associação de Polícia, no valor de cem dólares, ou a venda de bolos de frutos pelos bombeiros. Luther Krank tudo recusa, não obstante a crescente irritação surda da mulher e as provocações dos vizinhos, que tudo fazem para o vergar e humilhar.
     Na véspera de Natal, Blair telefona aos pais, informando que está em Miami e vem passar o Natal a casa e traz consigo o noivo, um médico peruano. O cruzeiro fica, assim, anulado e os Krank dispõem de meia dúzia de horas para preparar a tradicional festa de Natal. Porém, quando Luther sobe ao telhado para nele instalar o boneco de neve de 20 kg, feito de plástico, escorrega no gelo. O boneco cai ao chão e desfaz-se, enquanto Krank é salvo da morte graças ao facto de as suas pernas se terem enrolado nas cordas e nos fios elétricos. Depois, os vizinhos e os bombeiros acorrem e retiram-no da posição de suspenso, de cabeça para baixo, a 2, 5 metros do solo.
     Ao conhecerem os motivos que levaram os Krank a anular o cruzeiro e a fazer a festa de Natal, os vizinhos solidarizam-se e cada um contribui com o necessário para que a celebração aconteça. Quanto aos bilhetes de cruzeiro de dez dias às Caraíbas, Luther oferece-os a um casal vizinho, cuja mulher está doente com cancro, restando-lhe apenas seis meses de vida.

terça-feira, 1 de setembro de 2020

O Roubo do Colar de Anúbis, de Paul Doherty

     Egito, cerca de 1479 a.C. No Templo de Anúbis, decorrem as negociações entre Hatusu, a rainha e viúva do faraó Tutmés II, e Tuchratta, rei dos Mitânios, por ela derrotado, para um tratado de paz, o qual permitiria a Hatusu ser definitivamente aceite no trono, que usurpara após a morte do marido meio-irmão. Uma dançarina é assassinada no Templo.
     Sinuhe, um viajante, prepara-se para negociar com os Mitânios o seu relato escrito das viagens feitas. No entanto, é assassinado com uma picada no pescoço pela mesma pessoa, de máscara de coiote, que liquidara a dançarina e que lança o seu corpo ao Nilo, onde é devorado pelos crocodilos, e leva os eu livro.
     A "Glória de Anúbis", uma ametista do tamanho de um punho masculino, é roubada e o guarda responsável por ela, fechado na capela, é encontrado morto com uma faca espetada no coração. A porta do compartimento é trancada por dentro e a chave fica na posse do guarda. Assim sendo, como correu o crime?
     Entretanto, Amerotke é convocado pela rainha-faraó para investigar o caso. Entrementes, Snefru, um dos enviados mitánios é assassinado de forma semelhante. Uanef, princesa mitânia, meia-irmã de Tuchratta, manobra na sombra. Enviados seus procuram um serralheiro, amnistiado pelo juiz Amerotke para lhes prestar auxílio na lida com algumas fechaduras, mas aquele recusa.
     Passados alguns dias, alguém atrai Ueni, um dos arautos de Hatusu, a uma armadilha no fosso dos cães selvagens e é morto por estes. Ao analisar os aposentos de Ueni, Amerotke encontra aí pistas que apontam o arauto como o assassino de Sinuhe e o autor do roubo do manuscrito.
     Um estranho visita Kheti e Ita, amantes e, respetivamente, sacerdote e sacerdotisa do Templo de Anúbis. A misteriosa personagem aponta Kheti como o autor do roubo da "Glória de Anúbis" e combina com ele a sua venda, a troco de diversas riquezas. A figura ataca também Mareb, outro dos arautos, e só foge quando é interrompida por Chufoi, o servo de Amerotke.
     Um grupo de mutilados da aldeia dos Rinocerontes ataca o serralheiro Belet e a mulher, raptando-os e assassinando o seu cão e a sua criada.
     Entretanto, Amerotke prova que foram os sacerdotes Kheti e Ita que, comprados por Ueni, ao serviço dos Mitânios, cometeram assassínios e roubaram a "Glória de Anúbis". Ita seduziu o guarda do colar, que a deixou entrar; depois ela assassinou-o com o punhal e a chave do sacerdote foi substituída por outra semelhante, para dar a sensação de que nunca tinha saído da sua posse e que ele se mantivera sempre fechado à chave por dentro.
     Hunro e Menso, mensageiros mitânios, aparecem mortos também, da mesma forma que os anteriores crimes foram cometidos.
     Afinal, o "grande" criminoso é Mareb. De facto, matou Ueni por vingança, pois este assassinara a mulher e o seu amante, amigo de Mareb. E cometeu a maioria dos outros crimes, porque estava a ser chantageado pelos Mitânios, que têm como prisioneiros o seu pai e o seu irmão. Mareb é condenado à morte, mas antes fornece a Amerotke uma lista de espiões mitânios que atuam em Tebas. Revela também que se prepara um assalto ao túmulo de Tutmés II, pai de Hatusu, onde existirá um diário que prova a impotência do faraó, logo que Hatusu não tem origem divina.

As Misteriosas Cidades de Ouro - Episódio 25: "O Lago de Ouro"

A Condição Humana, de André Malraux

     Xangai, anos 20 do século passado. Tchen assassina, durante uma noite, um traficante de armas, para conseguir as armas que ele transporta, pois aquele faz parte de um grupo de revolucionários chineses que está prestes a ir à luta. Metade, porém, não sabe servir-se das armas.
     Um dos temas abordados na obra é a dependência e a submissão da mulher ao homem e dos jovens aos pais, como o exemplifica o caso de uma jovem de 18 anos que se tenta suicidar no palanquim de noivado, por ser obrigada a casar com um "bruto respeitável", ou o comentário da mãe ao saber que a cria não morreria: "Pobre filha! Ia tendo quase a sorte de morrer".
     May é uma médica alemã, nascida em Xangai e doutora por Heidelberga e por Paris, que encanta Kyo. Ela é o oposto da mulher chinesa: escolhe o parceiro sexual, por exemplo; está do lado dos insurretos, etc. Por oposição, temos a visão machista do velho Gisons: "A mulher está submetida ao homem como o homem está submetido ao Estado...".
     A revolução começa com a tomada de postos da polícia, uma ação levada a cabo com relativa facilidade. Do outro lado, estão figuras como o francês Ferral, que vê naquele revolução o fim das suas ambições e da sua ação na China.
     Tchen e dois companheiros de armas executam um atentado contra Chiang Kai-Chek, mas não conseguem lançar as bombas sobre o automóvel deste último. Tchen toma então a decisão de se lançar com a bomba sob o veículo de Chiang, considerando ser essa a única solução a adotar.
     Tchen executa o seu plano, todavia Chiang Kai-Chek não viaja no automóvel e quem acaba por ir desaguar no país dos pés juntos é o próprio Tchen. Não obstante, o atentado desencadeia uma série de represálias: Kyo é preso e, juntamente com outros camaradas, suicida-se com um comprimido de cianeto.
     A revolução comunista chinesa dos anos 30 é, pois, detida, mas os sobreviventes / resistentes param apenas para se reorganizar, quer internamente quer no estrangeiro.
     No fundo, todo o ser humano aspira a superar a sua condição humana, a ser Deus, a dominar ou influenciar, a ter poder para modificar algo. Por vezes, a violência deixa de constituir apenas uma forma de vingança e torna-se um sentido definido da existência, uma forma de superar a condição humana. Por exemplo, quando a personagem Hemmelrich depara com a esposa e a filha mortas e esquartejadas, pensa em se vingar, no entanto o sentido que gera essa atitude é o amor: "podemos matar com amor". É a eterna confluência entre amor e ódio, amor e morte, o concreto e a intemporalidade; a fronteira ultrapassável entre o Homem e a divindade.

Retorno


O Vale do Medo, de Sir Arthur Conan Doyle

     Sherlock Holmes recebe uma mensagem encriptada de um elemento (Porlock) do grupo do professor Moriarty, anunciando-lhe a morte do Sr. Douglas. Quando o detetive e o Dr. Watson a conseguem decifrar, chega a notícia do assassinato de John Douglas, com um tiro, na sua residência senhorial de Birlstowe.
     Com os Srs. Douglas vive um amigo, Cecil Barker. John Douglas viveu muitos anos na Califórnia e, sentindo aí a sua vida em perigo, veio para Inglaterra onde casou pela segunda vez e se estabeleceu. No entanto, um dos velhos inimigos, Tel Baldwin, descobre-o em Birlstone e surpreende-o nos seus aposentos. Douglas luta com Baldwin e acaba por o matar com a caçadeira do inimigo. Seguidamente, com a ajuda de Barker e da Sr.ª Douglas, encena tudo de forma a parecer que a vítima foi ele próprio, John Douglas, para que assim possa escapar em definitivo à perseguição dos restantes inimigos que o considerarão morto.

     A segunda parte do livro situa-se em 1875, no Vale Vermissa. Aí chega McMurdo, um jovem irlandês fugitivo à Justiça (acusado de fazer moeda falsa e ter assassinado um homem em Chicago), desafiador da Lei, com o sangue na guelra e membro da Ordem dos Homens Livres, que se instala numa pensão onde conhece a doce filha do dono do estabelecimento, por quem se enamora. No entanto, a jovem é cobiçada por outro jovem rude, membro da loja local da Ordem, chefiada por McGinty, o chefe de um bando de criminosos, que exerce chantagem sobre as companhias do carvão e o assassínio sobre aqueles que os desafiam ou se lhe opõem.
     Um outro episódio agudiza a relação entre McMurdo e Tel Daldwin. Este é encarregado de dar uma lição a um editor de um jornal, mas não de o matar. Contudo, Baldwin excede-se e só a intervenção de McMurdo impede o assassínio do editor.
     Os crimes sucedem-se durante largos meses, até que chega a notícia de que um agente da Pinkerton se encontra prestes a chegar, agente esse que está a investigar a associação criminosa de McGinty. McMurdo monta então uma armadilha em sua casa ao detetive e aí reúne o núcleo mais perigoso dentre os assassinos. Estes são surpreendidos quando McMurdo revela ser ele o agente da Pinkerton, prendendo-os e testemunhando no seu julgamento, findo o qual uns são presos e outros enforcados. McMurdo, aliás Birdy Edwards, casa com Ettie Edwards e vai para Chicago e, posteriormente, para a Califórnia, onde a esposa falece. Entrementes, 10 anos volvidos, são postos em liberdade os fascínoras condenados a prisão e começam imediatamente a persegui-lo. Birdy Edwards transforma-se em John Douglas, foge para Inglaterra e casa com a Sr.ª Douglas.

     Epílogo: aconselhado por Holmes, Douglas foge em direção à África do Sul, mas desaparece borda fora durante uma tempestade ao largo de Santa Helena. Sherlock Holmes reconhece aí o dedo do sinistro Professor Moriarty.

O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde

     Basil Hallward é um pintor que está a pintar o retrato do jovem e belo Dorian Gray. Determinado, este conhece Lord Henry Wotton, que o desperta para a brevidade da beleza física. Concluído o retrato, magnífico, Gray contempla-o extasiado e triste, recordando-se simultaneamente das palavras de Lord Henry, e exprime o desejo de que quem envelhecesse fosse o retrato e ele permanecesse belo e jovem e que, por isso, estava disposto a vender a alma.
     Entretanto, Dorian apaixona-se por uma jovem atriz, muito bela e de origem humilde (filha de mãe solteira, ex-atriz; o pai faleceu; o irmão partiu para a Austrália em busca de fortuna), Sibyl Vane. Certo dia, convida os dois amigos para apreciarem o talento de Subyl, mas ela representa pavorosamente, dado que está apaixonada por Gray e nada mais de importante há para si. No entanto, ele afirma-lhe que com essa atitude matou o seu amor por ela, visto que era o seu talento e a sua inteligência que o tinham cativado. Quando chega a casa, Dorian repara que o seu retrato, pintado por Basil, sofreu alterações e recorda-se, então, de que desejara que fosse o seu quadro a envelhecer e não ele.
     Na sequência destes acontecimentos, Sibyl suicida-se. Dorian vai à ópera e «encerra» o caso da ex-apaixonada de uma forma prática. Basil vem visitá-lo e estranha a mudança operada no amigo, considerando-o insensível e sem compaixão.
     Gray manda encerrar o quadro no quarto que pertencera ao avô, para que o seu segredo não seja descoberto. Fica fascinado, por outro lado, com um livro que Lorde Henry lhe enviou, que consistia num estudo psicológico de um jovem parisiense que procurava compreender as paixões e os métodos de pensamento de todos os séculos, com exceção do seu. Com o passar dos anos, Dorian sente-se cada vez mais apaixonados pela própria beleza e interessado na corrupção da alma.
     Anos volvidos, Basil procura-o, incomodado com o que se diz em Inglaterra sobre Dorian, que aproveita para o responsabilizar pela sua desgraça, mostrando-lhe o retrato (disforme). Basil diz-lhe que ainda é tempo de se arrepender e voltar ao caminho do Bem. Acometido por um súbito ódio pelo pintor, Dorian assassina-o à facada. De seguida, contacta Alan Campbell, um ex-amigo especialista em biologia e química, para que faça desaparecer o corpo, o que sucede, mas apenas sob chantagem. Quando contempla novamente o quadro, Grau verifica que numa das mãos há gotas de sangue.
     De regresso de um antro de ópio e álcool, Dorian é intercetado pelo irmão de Sibyl Vane, armado com uma arma, mas escapa ardilosamente à morte: pergunta a James Vane há quanto tempo se dera o episódio da irmã (18 anos) e questiona-o se a sua aparência física é a de alguém com uma idade compatível com esse espaço de tempo. James olha-o e constata que Dorian tem a aparência de um jovem de 20 anos, por isso deixa-o partir. No entanto, uma prostituta que os seguiu informa James de que Dorian faz um pacto com o Diabo para permanecer eternamente jovem e que é ele, efetivamente, o responsável pela desgraça de Sibyl.
     Dias depois, durante uma caçada, um homem é, acidentalmente, atingido mortalmente por um dos caçadores, o que Dorian interpreta como um presságio de desgraça; porém, afinal, o desgraçado é James Vane. Alan Campbell suicida-se.
     Perante estes acontecimentos, Dorian Gray propõe-se mudar radicalmente o rumo da sua vida. Depois vai contemplar o retrato para se certificar se a expressão já teria mudado, mas a resposta é negativa. Considerando o retrato a causa da sua vida desregrada e decadente, Dorian pega na faca com que assassinara Basil e esfaqueia o quadro, para dar início à nova existência.
     Quando os criados penetram no quarto, encontram o quadro retratando Dorian como era na época em que Basil o pintou, e no chão um velho enrugado e repugnante com uma faca cravada no coração, que só conseguem reconhecer pelos anéis.
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