Português: Resumo e análise das Cenas I e II do Ato V de Romeu e Julieta

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Resumo e análise das Cenas I e II do Ato V de Romeu e Julieta

. Cena I
Resumo
Na manhã de quarta-feira, numa rua de Mântua, um alegre Romeu descreve um sonho maravilhoso que teve na noite anterior: Julieta encontrou morto, mas beijou-o e insuflou nova no em seu corpo. Nesse momento, Baltasar entra e Romeu cumprimenta-o alegremente, dizendo que deve ter vindo de Verona com notícias da esposa e do seu pai. Romeu comenta que nada pode estar doente no mundo se Julieta estiver bem. Baltasar responde que nada pode estar doente, pois Julieta está bem: está no céu, depois de ter sido encontrada morta naquela manhã, em sua casa. Desesperado, Romeu grita: "Então eu vos desafio, estrelas".
Então diz a Baltasar para lhe dar uma caneta e um papel (com os quais escreve uma carta para Baltasar entregar a Montecchio) e contratar cavalos, e diz que retornará a Verona naquela noite. O criado diz-lhe que parece tão perturbado que tem medo de o deixar, mas Romeu insiste. De repente para e pergunta se Baltasar traz consigo uma carta de Frei Lourenço. Ele responde que não, e Romeu envia-o de volta. Ido o servo, Romeu declara que se deitará com Julieta nessa noite. De seguida, procura um farmacêutico, um vendedor de drogas. Depois de dizer ao homem, na loja, que parece pobre, oferece-se para lhe pagar bem por um frasco de veneno. O farmacêutico responde-lhe que tem exatamente isso, mas que vender veneno em Mântua acarreta a sentença de morte. Romeu responde que o farmacêutico é pobre demais para recusar a venda. O farmacêutico finalmente cede e vende-lhe o veneno. Uma vez sozinho, Romeu fala com o frasco, declarando que irá ao túmulo de Julieta e se matará.

. Cena II

Resumo
Na sua cela, Frei Lourenço fala com Frei João, a quem havia enviado anteriormente a Mântua com uma carta para Romeu. Ele pergunta-lhe como Romeu respondeu à sua carta (que descrevia o plano que envolvia a falsa morte de Julieta). Frei João responde que não conseguiu entregar a carta, porque foi trancado numa casa em quarentena devido a um surto de peste. Frei Lourenço fica preocupado ao perceber que, se Romeu não souber da falsa morte de Julieta, não haverá ninguém para a recuperar da tumba quando ela acordar. (Ele não sabe que Romeu soube da morte de Julieta e que acredita que a mesma é real.) Procurando um pé de cabra, Frei Lourenço declara que terá de resgatar Julieta do túmulo por conta própria. Então envia outra carta a Romeu para o avisar sobre o que aconteceu, e planeia manter Julieta na sua cela até o marido chegar.

Análise das cenas
A sequência de equívocos e mal entendidos nesta seção revela o trabalho inevitável do destino. Não há razão para o plano do frade não resultar. Mas um surto de peste força Frei João a uma quarentena que o impede de entregar a carta de Frei Lourenço a Romeu, enquanto Baltasar procura o jovem com notícias da morte de Julieta. Assim como o público sente um destino inviolável a cair sobre Romeu, este também se sente encurralado pelo destino. Mas o destino que o público reconhece e o destino que Romeu vê em seu redor são muito diferentes. O público sabe que Romeu e Julieta estão fadados a morrer; Romeu sabe apenas que o destino de alguma forma tentou separá-lo da amada. Quando ele grita "Então eu vos desafio, estrelas", está a gritar contra o destino que ele acredita estar a frustrar os seus desejos. Por isso, tenta desafiá-lo, matando-se e passando a eternidade com Julieta: "Bem, Julieta", diz ele, "eu dormirei contigo esta noite". Tragicamente, é a própria decisão de Romeu de evitar o seu destino que realmente o traz. Quando se mata por causa de Julieta adormecida, ele assegura o último suicídio duplo.
Através da ironia do desafio de Romeu recaindo sobre ele mesmo, Shakespeare demonstra o extremo poder do destino: nada pode ficar no seu caminho. Todos os fatores se conjugam a seu favor: o surto de peste, a transmissão da mensagem da morte de Julieta por Baltasar e a decisão de Capuleto de mudar a data do casamento de Julieta. Mas o destino também é algo ligado às instituições sociais do mundo em que Romeu e Julieta vivem. Esse destino, causado pela interação de normas sociais das quais Romeu e Julieta não podem escapar, parece igualmente poderoso, embora menos divino. É um destino criado pelo homem, e a incapacidade humana de ver através do absurdo do mundo que ele criou. Agora, nesta cena, vemos Romeu como agente do seu próprio destino. A sorte que acontece com Romeu e Julieta é mais interna do que externa. É determinada pelas naturezas e escolhas dos dois protagonistas. Se Romeu não fosse tão imprudente e emocional, tão rápido em cair na melancolia, o duplo suicídio não teria ocorrido. Se Julieta tivesse achado possível explicar a verdade aos pais, o duplo suicídio talvez não tivesse ocorrido. Mas desejar que alguém não seja como é é desejar o impossível. O amor entre Romeu e Julieta existe precisamente porque eles são quem são. A natureza destrutiva e suicida do seu amor é um aspeto da sua natureza tanto enquanto indivíduos como enquanto casal.
Na personagem do boticário, mais uma vez, Shakespeare fornece um exemplo secundário das forças sociais paradoxais e prementes que atuam na peça. O farmacêutico não deseja vender veneno porque é ilegal, proibido pela sociedade. Mas é a mesma sociedade que o torna pobre e que insiste na validade das diferenças entre ricos e pobres. O farmacêutico é pressionado a vender o veneno por forças externas que ele, como Romeu, se sente completamente incapaz de controlar.


Traduzido de SparkNotes

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