A
análise do caráter de Aurélia é feita desde o início e mantém um certo
equilíbrio sem grandes mudanças. Mas isto não quer dizer que seja uma
personagem linear; é uma personalidade forte e complexa, por si e pela pressão
dos acontecimentos.
No
capítulo I, vemos o modo como Aurélia é aclamada quando aparece nos salões,
onde a rodeia um conjunto de pretendentes. É interessante então ver o contraste
entre o exterior e o íntimo de Aurélia: o seu exterior é de beleza e consegue
captar muitos pretendentes; intimamente é dominada por um sentimento de
desprezo que ela sente por todos que a rodeiam.
Há
assim um grande contraste entre um interior de desprezo e um exterior de beleza
e alegria. Fisicamente bela e rica, ela é assaltada por muitos pretendentes.
Mas a sua inteligência e sagacidade permitem-lhe manter-se íntegra, o que é
principalmente fruto do conhecimento da vida, da sua própria experiência.
O
orgulho e a singularidade de caráter que a caracteriza inicialmente mantêm-se
ao longo de toda a obra. Isto tem a ver com o seu caráter impulsivo e
excêntrico: “D. Firmina, apesar de habituada desde muito ao caráter excêntrico de
Aurélia…” (pág. 21).
Mas é
através da longa analepse da segunda parte que nos são apresentados muitos dos
traços que caracterizam Aurélia: orgulhosa, perceção rápida do que a rodeia.
Mas é uma mulher magoada, que conhece o poder da riqueza que possui.
O que
será que a anima? A vingança?
Dois
passos da obra podem exemplificar esta situação:
- pág. 86: “Não!
– exclamou arrebatadamente. – Seria a profanação deste santo amor que foi e
será toda a minha vida.”
- pág. 195: “O
sentimento que animava Amélia podia chamar-se orgulho, mas não vingança. Era
antes pela exaltação de seu amor que ela ansiava, do que pela humilhação de Seixas…”.
Isto
mostra que não era a vingança nem o desejo de humilhação de Seixas que animava
Aurélia, mas sim a vontade de o fazer sentir quão grande era o amor dele. Ela
mantém-se inteira ao longo do romance, endurecida pela mágoa, mas acreditando
sempre no seu amor, puro e sacro, altar da sua vida, e no caráter de Seixas. O
equilíbrio só se recupera, quando Seixas consegue atingir esse altar: “Pois
bem, agora ajoelho-me eu a teus pés, Fernando, e suplico-te que aceites meu
amor, que nunca deixou de ser teu, ainda quando mais cruelmente ofendia-te.”
(pág. 276).
Isto
mostra como Aurélia reconhece o amor do marido e como tal já não há razão para
se pensar em orgulho e humilhação. São duas almas que finalmente se encontram.
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