A
caracterização de Seixa constrói-se como processo evolutivo e reação às
situações com que se vai deparando.
O
capítulo VI, constituído por uma analepse sobre a vida de Seixas, é fundamental
para caracterizar a personalidade da personagem. Nela, temos uma parte base e
outra que aparece sempre. A sua personalidade-base foi-se modificando por
influência da sociedade. A natureza ornara-o de excelentes qualidades e força
de vontade. Mas é a sociedade que faz dele um homem acomodado a uma situação de
ambição e prazer, desenvolvendo a vaidade e o luxo sem estabelecer um
equilíbrio de alma que Aurélia sempre teve.
Na perspetiva
de Seixas, como se pode entender o casamento? Ambição? Imposição do dever
(culpa por ter negligenciado a família)? Armadilha das circunstâncias?
Quanto
o tutor de Aurélia procura Seixas para lhe propor o negócio do casamento, ele
recusa. Mas posteriormente haverá uma série de condicionantes que o farão mudar
deposição.
Ele
aceita um casamento por conveniência e isto não era condenável, porque era
aceite e respeitado naquela sociedade. Mas é em face do amor de Aurélia que o
facto assume proporções de negócio, ou seja, só parece vil, porque Aurélia o
ama.
Ele é
leviano, fácil, com um orgulho acomodado à sociedade e emudece com a primeira
humilhação que lhe é infringida por Aurélia: “Vendido, sim: não tem outro nome.
Sou rica, muito rica, sou milionária; precisava de um marido, traste
indispensável às mulheres honestas. O senhor estava no mercado; comprei-o.
Custou-me cem contos de réis, foi barato; não se fez valer.” (pág. 88).
Mas a
sua revolta contra a situação não tarda e reveste-se principalmente de ironia e
sarcasmo: “É verdade que a amei; mas a senhora acaba de esmagar a seus pés esse
amor… Eu só a amaria agora, se a quisesse insultar; pois que maior afronta pode
fazer a uma senhora, um miserável, do que marcando-a com o estigma da sua
paixão…” (pág. 140).
A recuperação
de Seixas parte de alguns pontos: sobriedade, mantendo a sua natural elegância (pp.
169-172); autossuficiência monetária, mantendo o emprego de funcionário
público, numa tentativa de comprar a sua liberdade (pp. 271-275).
É o
reconhecimento deste facto que leva Aurélia a retroceder no seu orgulho e a
admitir que ama e é amada.
A
análise de Seixas acaba por ser mais importante do que a de Aurélia, embora se
reconheça que é a pressão resultante do confronto destas duas personalidades que
sustém e dá vida a esta intriga.
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