terça-feira, 10 de julho de 2012
segunda-feira, 9 de julho de 2012
Naufrágio
Apurados os resultados da votação do júri nacional, conclui-se que:
- se trata dos piores resultados de sempre: média de 8, 38;
- cumpriram-se as previsões.
domingo, 8 de julho de 2012
Roger.... Federer......
sábado, 7 de julho de 2012
terça-feira, 3 de julho de 2012
Das aparências
Sei que pareço um ladrão...
Mas há muitos que eu conheço
Que, não parecendo o que são,
São aquilo que eu pareço.
António Aleixo
Mas há muitos que eu conheço
Que, não parecendo o que são,
São aquilo que eu pareço.
António Aleixo
segunda-feira, 2 de julho de 2012
"Aos Filhos"
Já nada nos pertence,
nem a nossa miséria.
O que vos deixaremos
a vós o roubaremos.
Toda a vida estivemos
sentados sobre a morte,
sobre a nossa própria morte!
Agora como morreremos?
Estes são tempos de
que não ficará memória,
alguma memória teríamos
fôssemos ao menos infames.
Comprámos e não pagámos,
faltámos a encontros:
nem sequer quando errámos
fizemos grande coisa!
Manuel António Pina, in Um Sítio onde pousar a Cabeça
nem a nossa miséria.
O que vos deixaremos
a vós o roubaremos.
Toda a vida estivemos
sentados sobre a morte,
sobre a nossa própria morte!
Agora como morreremos?
Estes são tempos de
que não ficará memória,
alguma memória teríamos
fôssemos ao menos infames.
Comprámos e não pagámos,
faltámos a encontros:
nem sequer quando errámos
fizemos grande coisa!
Manuel António Pina, in Um Sítio onde pousar a Cabeça
sexta-feira, 29 de junho de 2012
Metas curriculares de Português
IndiferentOs e ignorantOs
«Recém-regressada ao solo pátrio e sem ter visto as solenes comemorações do Dia de Portugal, constato na passada quinta-feira à noite, na SIC-Notícias, ter sido definitivamente abolida a invariância de género na Língua Portuguesa.
Com a perplexidade da incauta viajante acabada de aterrar nesta terra minha que tanto venho estranhando, interrogo-me: será este um 3.º protocolo modificativo ao dito "acordo" dito "ortográfico"? Tudo é possível, bastando uns dias de ausência e de distracção quanto às surpresas com que nos brindam os nossos altos dirigentOs...
No noticiário das dez, lá estava o presidentO do Futebol Clube do Porto dizendo-se honrado por ter sido recebido pela presidentA da Assembleia da República. Correndo o risco de ser insolentA, confesso que levei tais declarações à conta de o senhor Pinto da Costa não ter sido provavelmente um aplicado estudantO, pese embora a notável carreira ascendentA de dirigentO desportivo...
Porém, já de madrugada, no programa "Fora d'Horas" da mesma SIC-Notícias, tudo se confirmou. Depois de Martim Cabral se ter dito apátrida de coração, admitindo não encontrar localização para a sua alma internacional no mapa mundi, apregoa-se feiministO e apoia a correspondentA da SIC no Rio de Janeiro, Ivani Flora, na utilização da palavra "presidenta". Diz mesmo, com desdém sobranceiro, ser essa uma questão de mera extensão do "acordo ortográfico", e uma polémica estéril de idêntica irrelevância. Questões mais relevantAs parecem ser as da espuma dos dias com que os jornalistOs se entretêm e nos entretêm, de facto...
Henrique Cymerman, correspondentO da SIC em Tel Aviv, secunda ambos mas apela à compreensão perante a oposição resistentA a tais alterações. Observa que a língua é lenta a evoluir - coitada! -, não consegue acompanhar o ritmo dos tempos... José Milhazes, correspondentO da SIC em Moscovo que até dá aulas de Português a russos, ri-se e acena a sua concordância.
Apenas Fernando de Sousa, correspondentO em Bruxelas, parece abster-se. A convidada em estúdio (ex-assessora do ex-MNE Luís Amado) ainda esboça e reitera umas reticências, mas é incapaz de fundamentá-las, como se a existência de "presidentAs" não implicasse necessariamente a existência de "presidentOs"... (Estes, como a presidenta Dilma Rousseff ou o presidentO Cavaco Silva, portadores de reconhecida iliteracia funcional...) Mas a ignorância crassa dos jornalistOs, cujo ofício requer o uso da Língua Portuguesa como ferramenta de trabalho quotidiana, essa demonstra bem o País que temos, o do "acordês" televisivo e o da TLEBS na escolas, um País sem direito ao trabalho e à saúde, sem direito à informação e à escolarização de qualidade aceitável, sem direito à língua e à cultura, esta cada vez mais "apagada e vil tristeza", este imerecimento ignorantO do passado, e esta ausência de futuro tão placidamente aceitA.
No noticiário das dez, lá estava o presidentO do Futebol Clube do Porto dizendo-se honrado por ter sido recebido pela presidentA da Assembleia da República. Correndo o risco de ser insolentA, confesso que levei tais declarações à conta de o senhor Pinto da Costa não ter sido provavelmente um aplicado estudantO, pese embora a notável carreira ascendentA de dirigentO desportivo...
Porém, já de madrugada, no programa "Fora d'Horas" da mesma SIC-Notícias, tudo se confirmou. Depois de Martim Cabral se ter dito apátrida de coração, admitindo não encontrar localização para a sua alma internacional no mapa mundi, apregoa-se feiministO e apoia a correspondentA da SIC no Rio de Janeiro, Ivani Flora, na utilização da palavra "presidenta". Diz mesmo, com desdém sobranceiro, ser essa uma questão de mera extensão do "acordo ortográfico", e uma polémica estéril de idêntica irrelevância. Questões mais relevantAs parecem ser as da espuma dos dias com que os jornalistOs se entretêm e nos entretêm, de facto...
Henrique Cymerman, correspondentO da SIC em Tel Aviv, secunda ambos mas apela à compreensão perante a oposição resistentA a tais alterações. Observa que a língua é lenta a evoluir - coitada! -, não consegue acompanhar o ritmo dos tempos... José Milhazes, correspondentO da SIC em Moscovo que até dá aulas de Português a russos, ri-se e acena a sua concordância.
Apenas Fernando de Sousa, correspondentO em Bruxelas, parece abster-se. A convidada em estúdio (ex-assessora do ex-MNE Luís Amado) ainda esboça e reitera umas reticências, mas é incapaz de fundamentá-las, como se a existência de "presidentAs" não implicasse necessariamente a existência de "presidentOs"... (Estes, como a presidenta Dilma Rousseff ou o presidentO Cavaco Silva, portadores de reconhecida iliteracia funcional...) Mas a ignorância crassa dos jornalistOs, cujo ofício requer o uso da Língua Portuguesa como ferramenta de trabalho quotidiana, essa demonstra bem o País que temos, o do "acordês" televisivo e o da TLEBS na escolas, um País sem direito ao trabalho e à saúde, sem direito à informação e à escolarização de qualidade aceitável, sem direito à língua e à cultura, esta cada vez mais "apagada e vil tristeza", este imerecimento ignorantO do passado, e esta ausência de futuro tão placidamente aceitA.
Madalena Homem Cardoso, in Público
quarta-feira, 27 de junho de 2012
Redacção - Declaração de Amor à Língua Portuguesa
«Tempo de exames no secundário, os meus netos pedem-me ajuda para estudar português. Divertimo-nos imenso, confesso. E eu acabei por escrever a redacção que eles gostariam de escrever. As palavras são minhas, mas as ideias são todas deles.
Aqui ficam, e espero que vocês também se divirtam. E depois de rirmos espero que nós, adultos, façamos alguma coisa para libertar as crianças disto.
Vou chumbar a Língua Portuguesa, quase toda a turma vai chumbar, mas a gente está tão farta que já nem se importa. As aulas de português são um massacre. A professora? Coitada, até é simpática, o que a mandam ensinar é que não se aguenta. Por exemplo, isto: no ano passado, quando se dizia "ele está em casa", "em casa" era o complemento circunstancial de lugar. Agora é o predicativo do sujeito. "O Quim está na retrete": "na retrete" é o predicativo do sujeito, tal e qual como se disséssemos "ela é bonita". Bonita é uma característica dela, mas "na retrete" é característica dele? Meu Deus, a setôra também acha que não, mas passou a predicativo do sujeito, e agora o Quim que se dane, com a retrete colada ao rabo.
No ano passado havia complementos circunstanciais de tempo, modo, lugar, etc., conforme se precisava. Mas agora desapareceram e só há o desgraçado de um "complemento oblíquo". Julgávamos que era o simplex a funcionar: Pronto, é tudo "complemento oblíquo", já está. Simples, não é? Mas qual, não há simplex nenhum, o que há é um complicómetro a complicar tudo de uma ponta a outra: há por exemplo verbos transitivos directos e indirectos, ou directos e indirectos ao mesmo tempo, há verbos de estado e verbos de evento, e os verbos de evento podem ser instantâneos ou prolongados. Almoçar, por exemplo, é um verbo de evento prolongado (um bom almoço deve ter aperitivos, vários pratos e muitas sobremesas). E há verbos epistémicos, perceptivos, psicológicos e outros, há o tema e o rema, e deve haver coerência e relevância do tema com o rema; há o determinante e o modificador, o determinante possessivo pode ocorrer no modificador apositivo e as locuções coordenativas podem ocorrer em locuções contínuas correlativas. Estão a ver? E isto é só o princípio. Se eu disser "Algumas árvores secaram", "algumas" é um quantificativo existencial, e a progressão temática de um texto pode ocorrer pela conversão do rema em tema do enunciado seguinte e assim sucessivamente.
No ano passado, se disséssemos "O Zé não foi ao Porto", era uma frase declarativa negativa. Agora a predicação apresenta um elemento de polaridade, e o enunciado é de polaridade negativa.
NO ano passado, se disséssemos "A rapariga entrou em casa. Abriu a janela.", o sujeito de "abriu a janela" era ela, subentendido. Agora o sujeito é nulo. Porquê, se sabemos que continua a ser ela? Que aconteceu à pobre da rapariga? Evaporou-se no espaço?
A professora também anda aflita. Pelos vistos no ano passado ensinou coisas erradas, mas não foi culpa dela se agora mudaram tudo, embora a autora da gramática deste ano seja a mesma que fez a gramática do ano passado. Mas quem faz as gramáticas pode dizer ou desdizer o que quiser, quem chumba nos exames somos nós. É uma chatice. Ainda só estou no sétimo ano, sou bom aluno em tudo excepto em português, que odeio, vou ser cientista e astronauta, e tenho de gramar até ao 12.º estas coisas que me recuso a aprender, porque as acho demasiada parvas. Por exemplo, o que acham de adjectivação deverbal e deadjectival, pronomes com valor anafórico, catafórico ou deíctico, classes e subclasses do modificador, signo linguístico, hiperonímia, hiponímia, holonímia, meronímia, modalidade epistémica, apreciativa e deôntica, discurso e interdiscurso, texto, cotexto, intertexto, hipotexto, metatexto, prototexto, macroestruturas e microestruturas textuais, implicação e implicaturas conversacionais? Pois vou ter de decorar um dicionário inteirinho de palavrões assim. Palavrões por palavrões, eu sei dos bons, dos que ajudam a cuspir a raiva. Mas estes palavrões só são para esquecer. Dão um trabalhão e depois não servem para nada, é sempre a mesma tralha, para não dizer outra palavra (a começar por t, com seis letras e a acabar em "ampa", isso mesmo, claro).
Mas eu estou farto. Farto até de dar erros, porque me põem na frente frases cheias deles, excepto uma, para eu escolher a que está certa. Mesmo sem querer, às vezes memorizo com os olhos o que está errado, por exemplo: haviam duas flores no jardim. Ou: a gente vamos à rua. Puseram-me erros desses na frente tantas vezes que já quase me parecem certos. Deve ser por isso que os ministros também os dizem na televisão. E também já não suporto respostas de cruzinhas, parece o totoloto. Embora às vezes até se acerte ao calhas. Livros não se lê nenhum, só nos dão notícias de jornais e reportagens, ou pedaços de novelas. Estou careca de saber o que é o lead, parem de nos chatear. Nascemos curiosos e inteligentes, mas conseguem pôr-nos a detestar ler, detestar livros, detestar tudo. As redacções também são sempre sobre temas chatos, com um certo formato e um número certo de palavras. Só agora é que estou a escrever o que me apetece, porque já sei que de qualquer maneira vou ter zero.
E pronto, que se lixe, acabei a redacção - agora parece que se escreve redação. O meu pai diz que é um disparate, e que o Brasil não tem culpa nenhuma, não nos quer impor a sua norma nem tem sentimentos de superioridade em relação a nós, só porque é grande e nós somos pequenos. A culpa é toda nossa, diz o meu pai, somos muito burros e julgamos que, se escrevermos ação e redação, nos tornamos logo do tamanho do Brasil, como se nos puséssemos em cima de sapatos altos. Mas, como os sapatos não são nossos nem nos servem, andamos por aí aos trambolhões, a entortar os pés e a manquejar. E é bem feita, para não sermos burros.
E agora é mesmo o fim. Vou deitar a gramática na retrete, e quando a setôra me perguntar: Ó João, onde está a tua gramática? Respondo: Está nula e subentendida na retrete, setôra, enfiei-a no predicativo do sujeito.
João Abelhudo, 8.º ano, turma C (c de c...r...o, setôra, sem ofensa para si, que até +e simpática).
No ano passado, se disséssemos "O Zé não foi ao Porto", era uma frase declarativa negativa. Agora a predicação apresenta um elemento de polaridade, e o enunciado é de polaridade negativa.
NO ano passado, se disséssemos "A rapariga entrou em casa. Abriu a janela.", o sujeito de "abriu a janela" era ela, subentendido. Agora o sujeito é nulo. Porquê, se sabemos que continua a ser ela? Que aconteceu à pobre da rapariga? Evaporou-se no espaço?
A professora também anda aflita. Pelos vistos no ano passado ensinou coisas erradas, mas não foi culpa dela se agora mudaram tudo, embora a autora da gramática deste ano seja a mesma que fez a gramática do ano passado. Mas quem faz as gramáticas pode dizer ou desdizer o que quiser, quem chumba nos exames somos nós. É uma chatice. Ainda só estou no sétimo ano, sou bom aluno em tudo excepto em português, que odeio, vou ser cientista e astronauta, e tenho de gramar até ao 12.º estas coisas que me recuso a aprender, porque as acho demasiada parvas. Por exemplo, o que acham de adjectivação deverbal e deadjectival, pronomes com valor anafórico, catafórico ou deíctico, classes e subclasses do modificador, signo linguístico, hiperonímia, hiponímia, holonímia, meronímia, modalidade epistémica, apreciativa e deôntica, discurso e interdiscurso, texto, cotexto, intertexto, hipotexto, metatexto, prototexto, macroestruturas e microestruturas textuais, implicação e implicaturas conversacionais? Pois vou ter de decorar um dicionário inteirinho de palavrões assim. Palavrões por palavrões, eu sei dos bons, dos que ajudam a cuspir a raiva. Mas estes palavrões só são para esquecer. Dão um trabalhão e depois não servem para nada, é sempre a mesma tralha, para não dizer outra palavra (a começar por t, com seis letras e a acabar em "ampa", isso mesmo, claro).
Mas eu estou farto. Farto até de dar erros, porque me põem na frente frases cheias deles, excepto uma, para eu escolher a que está certa. Mesmo sem querer, às vezes memorizo com os olhos o que está errado, por exemplo: haviam duas flores no jardim. Ou: a gente vamos à rua. Puseram-me erros desses na frente tantas vezes que já quase me parecem certos. Deve ser por isso que os ministros também os dizem na televisão. E também já não suporto respostas de cruzinhas, parece o totoloto. Embora às vezes até se acerte ao calhas. Livros não se lê nenhum, só nos dão notícias de jornais e reportagens, ou pedaços de novelas. Estou careca de saber o que é o lead, parem de nos chatear. Nascemos curiosos e inteligentes, mas conseguem pôr-nos a detestar ler, detestar livros, detestar tudo. As redacções também são sempre sobre temas chatos, com um certo formato e um número certo de palavras. Só agora é que estou a escrever o que me apetece, porque já sei que de qualquer maneira vou ter zero.
E pronto, que se lixe, acabei a redacção - agora parece que se escreve redação. O meu pai diz que é um disparate, e que o Brasil não tem culpa nenhuma, não nos quer impor a sua norma nem tem sentimentos de superioridade em relação a nós, só porque é grande e nós somos pequenos. A culpa é toda nossa, diz o meu pai, somos muito burros e julgamos que, se escrevermos ação e redação, nos tornamos logo do tamanho do Brasil, como se nos puséssemos em cima de sapatos altos. Mas, como os sapatos não são nossos nem nos servem, andamos por aí aos trambolhões, a entortar os pés e a manquejar. E é bem feita, para não sermos burros.
E agora é mesmo o fim. Vou deitar a gramática na retrete, e quando a setôra me perguntar: Ó João, onde está a tua gramática? Respondo: Está nula e subentendida na retrete, setôra, enfiei-a no predicativo do sujeito.
João Abelhudo, 8.º ano, turma C (c de c...r...o, setôra, sem ofensa para si, que até +e simpática).
Teolinda Gersão
terça-feira, 26 de junho de 2012
Afixação de pautas dos exames nacionais
. Exames nacionais:
- 1.ª fase: 9 de julho de 2012.
- 2.ª fase: 1 de agosto de 2012.
. Reapreciações:
- 1.ª fase: 10 de agosto de 2012.
- 2.ª fase: 27 de agosto de 2012.
segunda-feira, 25 de junho de 2012
Como se no primeiro ano de Matemática aprendessem a tabuada
Texto de Paula Barata Dias, professora da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, na sequência de outro da autoria do professor João Veloso, roubado ao blogue dererummundi.blogspot.pt.
«O texto de João Veloso é exato e terrível. Exato, porque faz o diagnóstico de um sistema educativo que, desde há muito, maltrata as humanidades, entre elas as línguas clássicas, as "absolutamente marcadas pelo labéu da inutilidade" (para que servem? para que serve a música? para que serve a poesia?...). Terrível, porque sicut uoces praecantes in deserto, são cada vez menos os que alertam para os efetivos prejuízos da construção de um currículo de ensino não superior no qual as humanidades figuram com um enquadramento disforme, seccionado, com o maior desrespeito pelas línguas enquanto saber exato, varrendo-se, das ofertas escolares, o latim, o grego, mas também o alemão, o francês...
Sou professora de línguas clássicas no ensino superior, mas, por contingências da vida universitária, tenho lecionado outras disciplinas, tendo-me passado pelas mãos algumas centenas de alunos. E, assim, posso testemunhar algo que certamente outros professores já viram: o aluno universitário médio com défices severos não só de formação, mas também de estruturas mentais que lhe permitam aprender: exprime-se em períodos de 3 ou 4 palavras (mais do que isso é uma tese, ou então, interrompido por cadeias de monossílabos); o vocabulário é restrito, a ponto de inibir a compreensão oral de uma exposição do docente; raramente é capaz de ler bibliografia em língua estrangeira (qualquer que ela seja!); parece que a memória se encontra em completo repouso. Já encontrei alunos não treinados para a leitura silenciosa, ou que a acompanham com um mover abichanado dos lábios...
Após anos, planos e euros gastos com Planos Nacionais de Leitura; reformas curriculares; reformas de programas escolares; aplicação da TLEBS; e.escolas, chegámos a um estado bizarro: somos o único país de língua românica que coloca o latim como opção, a competir com a disciplina de Literatura Portuguesa (que escolha é esta?: então o aluno de humanidades é obrigado a escolher entre o latim e a literatura do país de que é cidadão?).
O quadro é penoso: somos o único país de língua ocidental (não estamos a cingir-nos apenas aos países românicos) em que o ensino de latim e grego em meio universitário, nas duas únicas licenciaturas de Estudos Clássicos a funcionar no país, admite níveis de iniciação para saberes nos quais, ao fim de três anos, saem licenciados. Seria como se, numa licenciatura de Matemática, os jovens entrassem no primeiro ano para aprender a tabuada.»
Após anos, planos e euros gastos com Planos Nacionais de Leitura; reformas curriculares; reformas de programas escolares; aplicação da TLEBS; e.escolas, chegámos a um estado bizarro: somos o único país de língua românica que coloca o latim como opção, a competir com a disciplina de Literatura Portuguesa (que escolha é esta?: então o aluno de humanidades é obrigado a escolher entre o latim e a literatura do país de que é cidadão?).
O quadro é penoso: somos o único país de língua ocidental (não estamos a cingir-nos apenas aos países românicos) em que o ensino de latim e grego em meio universitário, nas duas únicas licenciaturas de Estudos Clássicos a funcionar no país, admite níveis de iniciação para saberes nos quais, ao fim de três anos, saem licenciados. Seria como se, numa licenciatura de Matemática, os jovens entrassem no primeiro ano para aprender a tabuada.»
Prof. Paula Barata Dias
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