Acentua-se,
após a descoberta do caminho marítimo para a Índia, o processo de concentração
do poder político e económico sob a chefia do rei, iniciado com as campanhas do
Norte de África e a exploração do ouro da Mina. A exploração económica do
ultramar faz-se grandemente em regime de monopólio da Coroa. Apesar dos progressos
da burguesia rural e comercial desde o século XIV, ela não conseguiu evitar que
as novas expansões económicas fossem na maior parte absorvidas como renda
feudal, sob formas variadas (rendas da colonização insular e brasileira, monopólios
dos "resgates" e "tratos" ultramarinos, monopólios de
produção interna sujeita a direitos "banais", e, finalmente,
administração da Coroa a favor duma oligarquia), o que dificultou a acumulação
do capital propriamente dito e seu posterior investimento na agricultura e, em
geral, na produção interna.
Fonte: História da Literatura Portuguesa, A. J. Saraiva e O. Lopes
Esta
espécie de monopólio comercial ultramarino a favor da nobreza palaciana
encontra dificuldades: vícios internos do seu funcionamento, ataques vindos de
Holandeses, Franceses, Ingleses, aliados por vezes no Oriente a populações
locais, que dificultam cada vez mais o domínio militar das estradas e feitorias.
O sistema entra em crise por meados do século XVI. D. João III é obrigado a
evacuar algumas praças marroquinas. Realizam-se tentativas para descobrir novas
minas de ouro ou prata na América e na África, mas volta-se depois ao projecto
da guerra africana, tendo em mira a ocupação do reino de Fez. O desastre de
Alcácer Quibir vem agravar a bancarrota económica com o colapso militar e
político. A união com Castela apareceu finalmente à maior parte da camada
dirigente como uma saída. E, assim, a Coroa portuguesa integra-se, desde 1580,
no sistema de hegemonia espanhola, que se mantém até finais da Guerra dos
Trinta Anos, cerca de meados do século XVII, como uma extensa coligação de
coroas, distintas mas acumuladas sobre a mesma cabeça imperial ou ligadas entre
si pela consanguinidade dos monarcas Habsburgos.
No
entanto, mesmo dentro de Portugal e Espanha, a burguesia mercantil não deixava
de progredir, desafiando o monopólio do Estado e o poder da nobreza. Pouco a
pouco domina a praça de Lisboa e o comércio entre o ultramar e a Europa. Grande
parte destes homens de negócios descende dos judeus convertidos à força em 1496
e efetivamente assimilados. Daqui tiram pretexto os círculos dirigentes para
instituir a Inquisição (1536), em teoria dirigida sobretudo contra a prática
clandestina do judaísmo. Graças ao Santo Ofício, estabeleceu-se a discriminação
contra os «Cristãos-Novos», verdadeiros ou supostos descendentes dos Judeus,
que eram grande parte dos "homens de negócios", e tentou-se impedir o
acesso deles a postos de direção no Estado, na Igreja e até na Universidade; ao
mesmo tempo que, através do fisco inquisitorial, se expropriava uma parte dos
seus bens. Esta perseguição foi contraproducente, pois teve, entre outros
resultados, o de que muitos cristãos-novos emigraram e constituíram uma rede
internacional com núcleos na Holanda, na França, na Inglaterra, no Brasil, no
Peru, na África e na Índia, pelas malhas da qual passava uma grande parte do
comércio mundial. Através destas relações, a burguesia mercantil portuguesa
tende a ganhar um carácter cosmopolita.