segunda-feira, 29 de abril de 2024
Resumo do capítulo I de "O Fantasma de Canterville"
domingo, 28 de abril de 2024
Análise do poema "Água suja", de Bruna Beber
Caracterização de Tom White
sábado, 27 de abril de 2024
Análise das 24.ª, 25.ª e 26.ª partes da crónica 3 de Assassinos da Lua das Flores
Caracterização de Mollie (Wah-kon-tah-he-um-pah) Burkhart
Resumo da 26.ª parte - 3.ª crónica: O sangue grita
Resumo da 25.ª parte - 3.ª crónica: O manuscrito perdido
Em 2015, os Osage processaram uma empresa energética italiana por violar os termos do Ato de Alocação de 1906 com as suas turbinas eólicas, pondo a nu o facto de as mudanças ocorridas, sobretudo no início do século XXI, no campo da indústria energética terem afetado profundamente a tribo. Graan vira o foco deste capítulo da sua obra para um manuscrito intitulado O Assassinato de Mary DeNora-Bellieu-Lewis, compilado pela sua neta, Mary Lewis,e que reúne diversas informações sobre a vida e o desaparecimento da mulher em 1918. O seu corpo foi descoberto em 1919, tendo um dos seus companheiros masculinos confessado tê-la assassinado com um martelo, de modo a apossar-se dos pagamentos referentes aos direitos de terra da mulher. Depois de conhecer este novo crime, Graan conclui que, se as datas tradicionalmente associadas ao Reino do terror fossem alteradas de forma a incluir as mortes de Mary Lewis, ocorrida em 1918, e a do avô de Red Corn, em 1931, o número de Osage mortos atingiria cifras bem mais assustadoras do que as oficiais.
Resumo da 24.ª parte - 3.ª crónica: Dois mundos
Análise das 22.ª e 23.ª partes da crónica 3 de Assassinos da Lua das Flores
quinta-feira, 25 de abril de 2024
Análise do poema "Vozes-mulheres", de Conceição Evaristo
Conceição Evaristo nasceu em Belo Horizonte, em 1946. Licenciada em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e doutorada pela Universidade Federal Fluminense, iniciou a publicação da sua obra poética em 1990, no número 13 do Cadernos Negros, uma antologia editada anualmente pelo Grupo Quilombhoje, de São Paulo.
Este poema narra a trajetória de mulheres negras no Brasil, nomeadamente a consciência de ser negra e mulher. Desde logo, o título da composição poética evoca a questão das vozes e da sua pertença: as mulheres. Sob o olhar da sociedade patriarcal, vozes caladas ecoam no poema. O uso do plural representa o coletivo, o sujeito poético a percorrer a memória. A voz que é destacada logo no início é a da bisavó, ou seja, trata-se de uma voz que não é exterior ao que é “narrado”; pelo contrário, é a de alguém que viveu por dentro as situações, um passado marcado pelo sofrimento que não se pode esquecer. Por outro lado, o início do poema sugere, desde logo, a diáspora e a desumanidade e crueldade do tráfico negreiro. A voz da bisavó do sujeito lírico ecoa através do tempo – “criança”, símbolo da inocência, da fragilidade e da vulnerabilidade – e remete-nos para os “porões do navio”, uma referência evidente aos navios que faziam o transporte de escravos entre o continente africano e o Brasil e que nos coloca perante o horror do sofrimento e da desumanização. A forma verbal “ecoou”, que marca o passado, que se presentifica na leitura do poema, repete-se no verso quatro, reforçando a ideia de que as experiências da bisavó ainda ressoam no presente, nomeadamente a dor e o sofrimento, que permanecem vivos através da memória, percorrendo a distância do tempo e tornando-se presente. O lamento remete para a imagem inicial do poema, para a questão da voz, que se faz presente no texto, mas sem possibilidade de alterar o destino, pois constitui um mero lamento de “uma infância perdida”.
A primeira estrofe, em suma, remete para o campo da memória coletiva, dado que o sujeito poético não viveu o que relembra, porém o ecoar do passado ainda está presente na sua ação atual, dá sentido à vida. Assim sendo, estes versos iniciais colocam o leitor face à figura da mulher que dá origem a uma linhagem e cuja voz ainda ecoa no presente familiar.
Na segunda estrofe, a voz da bisavó é substituída pela da avó, que “ecoou obediência / aos brancos-donos de tudo” e que representa a geração seguinte, aquela que viveu sob condições adversas experimentadas já em terras brasileiras. Atente-se, desde logo, na união por meio de hífen entre os nomes “brancos” e “donos”, como se representassem uma única coisa. A obediência forçada de que “falam” os versos levam-nos até aos escravos recém-libertados que debandaram das lavouras e das senzalas e que, seduzidos pelas oportunidades nas cidades que estavam em processo de transformação, anunciando novos tempos, e que os poderiam absorver como mão de obra, se viram confrontados com a discriminação que provinha da cor da sua pele.
A terceira estrofe centra-se na geração seguinte: a da mãe. Deste modo, a “narrativa” vai-se aproximando do presente e afastando do passado. A voz da mãe traduz uma resistência silenciosa, uma revolta que é mantida em segredo ou expressa subtilmente. Na época, procurava-se que o Rio de Janeiro se afastasse da condição arcaica de vila (uma designação toponímica que remetia para o período de colonização) e se alcandore ao estatuto de urbe. Para tal, procede-se a uma renovação e modernização da cidade, através de demolições (metáfora do apagamento: desmemoriando-se, o Brasil segue em direção ao “progresso”). Tenha-se presente que a poeta nasceu numa favela situada no alto da Avenida Afonso Pena, uma das áreas mais valorizadas da Zona Sul de Belo Horizonte. Com a passagem do tempo, barracas e respetivos moradores foram sendo progressivamente removidos, a avenida foi prolongada, ergueram-se novos prédios e os becos e as vielas desapareceram fisicamente, existindo apenas na memória de Conceição Evaristo. Este processo de urbanização de múltiplas localidades conduzirá, com alguma frequência, à formação das tristemente famosas favelas.
Voltando ao poema, a voz da mãe ecoa baixinho, o que significa que não foi silenciada, embora se exprima de forma quase impercetível. Seja como for, o relevante destes versos prende-se com a sugestão da existência já de ecos de revolta, o que quer dizer que os oprimidos começam a ganhar consciência da exploração a que foram sujeitos ao longo do tempo. As condições do e o local de trabalho (“no fundo das cozinhas alheias”) indiciam a posição social da mãe, relegada para o trabalho doméstico na casa dos “colonizadores” e que não tem como esconder os disfarçar a cor da pele no contexto da cidade que os rejeita por não se enquadrarem no projeto de modernização das cidades. Se as “trouxas” podem simbolizar a pobreza e a opressão, as “roupagens sujas dos brancos” constituem uma metáfora da injustiça e da opressão a que os homens brancos sujeitam as mulheres negras. Por outro lado, a referência à favela representa a marginalização e a segregação socioespacial a que são submetidas.
A quarta estrofe traduz a voz do próprio sujeito poético, chegando-se assim ao presente. Essa voz exprime a sua perplexidade, expressa através dos versos, da poesia, “com rimas de sangue”, uma metáfora que exprime a violência, a dor e o sofrimento experimentados, e “fome”, nome que pode ser interpretado de forma literal ou enquanto metáfora da injustiça. Por outro lado, a sua voz tem na origem o som que provém da bisavó, que passa pela avó e pela mãe e se torna presente na sua fala. O advérbio “ainda” reforça a ideia da repetição, de um fazer ancestral.
Já a voz da quinta estrofe tem o seu quê de profética: ao apresentar a filha, o “eu” poético “narra” não apenas o presente, mas também o porvir, o futuro. A filha é apresentada como uma colecionadora e guardiã das vozes das mulheres que viveram antes dela; a sua voz guarda em sim todas as vozes. A filha recolhe em si as “vozes mudas caladas”, isto é, as que foram oprimidas, silenciadas ou ignoradas, bem como as que se queriam fazer ouvir, mas ficavam “engasgadas nas gargantas”.
Se houver um tempo em que a voz foi lamento, silêncio, sussurro, imagem poética, agora ela não é apenas fala, mas faz-se ato, representando a consciência de si e um fazer que se quer cidadão, visto que fala e age, representa um coletivo de mulheres que a antecedeu. A voz do sujeito poético “recolhe em si” (reiteração) “a fala e o ato” (a união da palavra e do agir, simbolizando um movimento em direção à mudança e à liberdade), “O ontem – o hoje – o agora” – esta sucessão de advérbios representa a continuidade do tempo e da experiência. A reiteração da expressão “Na voz de minha filha” reforça a importância da voz da filha, que olha para o presente como sequência do passado e a preparação do futuro. A filha será portadora da ressonância das gerações passadas e a sua voz transporta em si a promessa de uma “vida-liberdade” (novamente o hífen a ligar intimamente dois conceitos). A condição para se ter, de facto, liberdade é a de agregar às vozes do passado, lembrar a sua ascendência.
O poema é construído em torno das vozes de várias gerações sucessivas de mulheres da mesma família, começando com a bisavó e terminando com a filha do sujeito lírico. Cada voz carrega em si as memórias e experiências de cada época, criando, assim, um mosaico da história e da resistência da mulher negra.
A voz da bisavó e a referência aos “porões do navio” remetem para a dolorosa história do tráfico negreiro entre África e o Brasil. Por outro lado, os ecos dos “lamentos / de uma infância perdida” que veicula sugerem a brutalidade da escravidão que lhe roubou (e a tantas outras crianças) uma existência normal de criança.
A voz da avó representa a geração de mulheres que esteve sujeita ao domínio e à opressão dos “brancos donos-de-tudo” e ecoa “obediência, indiciando a subjugação e a falta de controlo sobre a própria vida. Ela trabalha como empregada doméstica, leva uma existência dura e marginalizada, mas começa a ecoar alguma revolta.
A voz do “eu” lírico ecoa sangue,
violência, dor, provações, e reflete a luta contínua contra a injustiça e a
opressão. Por outro lado, a poesia constitui um meio para expressar a dor e a
luta da comunidade a que pertence.
quarta-feira, 24 de abril de 2024
Análise do poema "Os sonhos não podem ser", de Cláudia Dias Chéu
segunda-feira, 22 de abril de 2024
Análise do poema "As mães", de Cláudia Dias Chéu
domingo, 21 de abril de 2024
Resumo da 23.ª parte - 3.ª crónica: Um caso não encerrado
Resumo da 22.ª parte - 3.ª crónica: Terras fantasmas
Na terceira parte, David Graan desvela que a memória dos acontecimentos dos anos 20 do século XX se foram dissipando ao longo do tempo. Como parte da sua pesquisa sobre os assassinatos dos Osage, em 2012, visita o Osage Nation Museum para se encontrar com Kathryn Red Corn, a sua diretora. A mulher mostra-lhe as exposições disponíveis no museu, que retratam a tribo Osage na época da onda de crimes, nas quais se destaca uma fotografia que ostenta um buraco no centro onde outrora figurava William Hale, o «diabo». A diretora admite que a dor resultante dos acontecimentos de há quase um século ainda é muito real para vários nativos. Durante uma visita subsequente, Graan participa em danças cerimoniais da tribo, conhecidas por I’n-Lon-Schka. O escritor encontra-se com Margie Burkhart, neta de Mollie e Ernest e filha de James Cowboy Burkhart, que lhe revela as memórias afetuosas que o pai possuía sobre a sua mãe. Porém, as lembranças de James sobre o pai são marcadas pela melancolia. Margie revela que, após ter sido agraciado com a liberdade em 1937, Ernest regressara ao condado de Osage, porém o seu estado de homem livre é efémero, dado que foi novamente capturado em razão de um furto que praticara, motivo por que lhe foi negado o regresso a Oklahoma.
Por sua vez, em 1947, vinte anos após o encarceramento, William Hale é libertado por causa da sua idade avançada – 72 anos – e pelo comportamento exemplar enquanto detido no cárcere. Quando a Ernest, após conhecer de novo a liberdade, suplica o perdão de Oklahoma e, apesar das inúmeras vozes que se fazem ouvir contra essa possibilidade, o seu apelo é atendido e o homem regressa ao condado de Osage. Após o seu falecimento em 1986, James Burkhart não atende ao último desejo do pai, o de ter as suas cinzas espalhadas pelo condado, descartando-as a partir da ponte.
Na infância de Margie, a riqueza do petróleo esvai-se e tempos árduos aproximam-se. No entanto, surgem novas fontes de renda, nomeadamente casinos e reparações financeiras que o governo federal é compelido a restituir à tribo. Guiando o escritor pelas vastidões da pradaria, Margie leva-o até ao local onde Anna foi alvejada. Além disso, a mulher revela a Graan que Mollie e os seus filhos deveriam ter estado na residência de Rita e Bill na fatídica noite em que se deu a explosão, porém uma dor de ouvido de James Cowboy Burkhart, forçou-os a ficar em casa, salvando-os inadvertidamente da morte. Deste modo, o pai de Margie cresceu sabendo que o seu próprio pai havia conspirado conta a sua vida.
Análise das 20.ª e 21.ª partes da crónica 2 de Assassinos da Lua das Flores
William White, John Ramsey e Bryan Burkhart não são condenados à primeira, mas tal não se deve a falta de provas. De facto, a equipa liderada por White construiu um caso convincente porque sustentado em evidências, nomeadamente a confissão de Ernest, mas a questão a questão racial interfere em todo o processo. Desde o início do julgamento, os agentes receiam que jurados caucasianos não condenem um homem branco por matar uma pessoa nativa americana e, de facto, os seus temores concretizam-se. Com efeito, seja por puro e simples racismo, seja por causa da forte influência de Hale, o primeiro julgamento termina num impasse, com um júri indeciso. A realidade da época era chocante: assassinar uma pessoa não brancanão era considerado um crime muito grave, daí que Ramsey tivesse conseguido assassinar membros da tribo Osage enquanto sob a proteção das consequências e da punição resultantes desse ato. De facto, a surpresa que o homem evidencia a propósito da sua eventual condenação exemplifica a sensação de segurança que ele sentia possuir.
A presença de Mollie no tribunal pode ter desempenhado um papel importante na imposição de limites ao poder da discriminação e do racismo. Embora não existam testemunhos diretos que possam esclarecer como a mulher se sentiu na ocasião, isto é, enquanto ouvia as evidências apresentadas contra pessoas em quem confiava e amava, Graan observa que ela se envolveu numa teia de silêncio, especialmente quando Ernest, o seu marido, admitiu em tribunal que toda a sua família havia sido morta, deixando-a sozinha, sem ninguém para a confortar ou partilhar do seu sofrimento. Por outro lado, se é verdade que Mollie influenciou os jurados que estavam dispostos a condenar as pessoas que mataram os seus familiares, também não o deixa de ser que a sua postura oferece um poderoso testemunho de como as ações de um indivíduo podem moldar o mundo.
O desfecho da lamentável história leva White de regresso à prisão. De facto, o ex-agente tinha vivido na penitenciária do condado de Travis enquanto criança e, no final do caso Osage, aceita o cargo de diretor da penitenciária federal de Leavenworth, o que acarreta diversas questões à sua esposa, nomeadamente no que toca ao facto de criar os filhos naquele ambiente, porém o caráter e a determinação do marido parecem afastar esses receios. As suas inúmeras qualidades enquanto investigador adequam-se perfeitamente ao seu novo papel, pois trata todos com respeito e em igualdade, incluindo Hale e Ramsey, que chegam àquela prisão alguns meses após ter iniciado o seu novo cargo enquanto diretor prisional. Grann socorre-se das palavras de ex-presos, segundo os quais White, no papel de diretor, considerava a reabilitação dos prisioneiros o fulcro da sua ação. Embora fosse contrário à pena de morte, cumpria igualmente essa feição da sua atividade profissional, supervisionando execuções conforme exigido pela lei.
Não obstante ter abandonado o FBI, White continua preocupado com a sorte da equipa de agentes que o assistiu durante as investigações no condado de Osage, procurando que sejam tratados de forma justa e recebam o crédito que merecem. Todavia, esse desejo conflitua com o investimento de Hoover na questão da sua própria reputação, que é descrito pelo autor da obra como um homem que se foi tornando um ditador ao longo das cinco décadas em que foi diretor do FBI. Avarento, ambicioso e calculista, não agradece aos agentes e recusa a White o acesso a materiais que lhe permitiriam escrever uma história dos assassinatos de Osage. Até ao fim da sua vida, White permaneceu um defensor do coletivo, mostrando-se sempre disposto a defender aqueles que eram ignorados e esquecidos, em suma, para aqueles que não tinham voz.