Os leitores e
críticos não se pronunciam ou divergem na formulação de juízos de valor ou
definição do significado ou intenção de A Sibila.
João Camilo
advoga tratar-se da história de uma família rural, pois esta "ocupa de
facto o primeiro plano da história contada". Daí que tudo aquilo que
atente contra os valores da família e do mundo rurais seja vergastado por um
sarcasmo impiedoso.
Ao longo da
obra vai-nos sendo transmitida, nomeadamente através de Quina, a ideia de que
todos aqueles (filhos de lavradores ricos) que abandonaram o campo e atingiram
lugares de prestígio ou poder são traidores da verdadeira aristocracia – a
aristocracia da terra. Sejam eles Bernardo, ou mesmo Germa, o médico que vem
ver Quina (pertencente a uma "raça de proletários intelectuais que
distinguem por si só uma época", oriundo de uma família em que "havia
vários médicos, engenheiros, doutores de leis e um ou outro licenciado em
Filosóficas, e que viviam mais ou menos dos expedientes das suas
carreiras") ou qualquer personagem intelectual ou intelectualizado que se
tenha guindado a uma posição de relevo através da cultura.
Todavia, A
Sibila não admite uma interpretação que se afigura demasiado esquemática e
simplista. A obra é a história de uma família rural em decadência desde o
último quartel do século XIX até meados de século XX, representada por um
espaço (a Vessada e a comunidade rural em que se insere) e uma figura mítica,
herdeira de uma tradição popular de mistério, figura de aldeia carismática, que
enfrentou e venceu dificuldades e frustrações para se impor e conseguir
riqueza, poder e veneração de todos. Há uma atitude crítica em relação aos que
traíam as origens, se aburguesaram e vivem na cidade, mas, além disso, a obra
retrata o combate humano de autoafirmação, ultrapassagem de barreiras,
substituição de objetivos, quando os iniciais e preferidos se nos escapam,
mesmo com alguma ou muita mesquinhez, primitivismo ou ingenuidade à mistura.