Fernão
Lopes deverá ter nascido, em lugar desconhecido, entre 1380 e 1390, aproximadamente,
visto que em 1418 já ocupava funções públicas de responsabilidade. Pertence,
portanto, à geração seguinte àquela que se bateu no cerco de Lisboa e em
Aljubarrota. A guerra com Castela só acabou em 1411. Fernão Lopes pôde ainda
acompanhar a sua última fase e conhecer pessoalmente alguns dos seus
protagonistas, como D. João I, Nuno Álvares Pereira, os cidadãos de Lisboa que
se rebelaram contra D. Leonor Teles e elegeram o Mestre seu defensor em comício
popular, alguns dos procuradores às Cortes de Coimbra de 1385 que, apoiando o
Dr. João das Regras, declararam o trono vago e, chamando a si a soberania,
elegeram um novo rei e fundaram uma nova dinastia.
Profissionalmente,
Fernão Lopes era tabelião, com certeza de origem viloa, talvez mesteiral,
porque contava um sapateiro na família da mulher. Foi empregado da família real
e da corte, escrivão de D. Duarte, ainda infante, do rei D. João I, e do infante
D. Fernando, em cuja casa serviu de "escrivão da puridade" e cujo
testamento lavrou. A partir de 1418 aparece a desempenhar as funções de
guarda-mor da Torre do Tombo, ou seja, de chefe dos arquivos do Estado, lugar
de confiança da corte. Como prémio pelos seus serviços como cronista recebeu,
em 1434, além de uma tença anual
pecuniária, o título de Vassalo de El-rei, carta de nobreza
atribuída então com certa liberalidade a membros das classes não nobres. Em
1454 foi reformado do cargo de guarda-mor da Torre do Tombo devido à sua idade,
segundo reza o documento respectivo. Ainda vivia em 1459.
A
carreira de F. Lopes como cronista começa, segundo parece, em 1419 ou antes,
pois nesse ano colaborava com o então infante D. Duarte na compilação e redacção
de uma crónica geral do reino de Portugal. Só em 1434, porém, aparece
referência oficial ao cargo para que o nomeou o rei D. Duarte de "pôr em
crónica as histórias dos reis que antigamente foram em Portugal" e os
feitos do rei D. João I, pelo qual é remunerado com a tença já referida. Após a
morte deste rei, o regente D. Pedro, em nome de Afonso V, confirma F. Lopes na
mesmo incumbência, mantendo-lhe a tença. Com o fim do governo do Regente, viu
chegar Fernão Lopes o fim do seu cargo de cronista da corte. Em 1449, pouco
antes da batalha de Alfarrobeira, ainda recebe uma tença de D. Afonso V pelos
seus trabalhos literários, mas já nessa época entrava em actividade um outro
cronista, Gomes Eanes de Zurara. A última obra em que F. Lopes trabalhou, a
terceira parte da Crónica de D. João I,
ficou incompleta e foi continuada por Zurara.
Como
resultado desta longa actividade, chegaram até nós: Crónica de El-Rei D. Pedro, Crónica
de El-Rei D. Fernando, Crónica de
El-Rei D. João, 1ª parte (que trata do interregno entre a morte de D. Fernando
e a eleição de D. João), a Crónica de
El--Rei D. João, 2ª parte (que abrange o reinado de D. João I até à paz com
Castela em 1411), e ainda, provavelmente, inacabadas, as crónicas dos reis de
Portugal, desde o governo do conde D. Henrique, até D. Afonso IV, inclusive.
Estas
crónicas dos reis de Portugal têm como fundo principal a parte da Crónica Geral de 1344 referente aos
respectivos reis; mas o seu redactor completou-as com documentos autênticos,
tais como inscrições epigráficas e documentos de chancelaria, que decerto encontrou
na Torre do Tombo.
In
História da Literatura Portuguesa
(pp. 119-120)
este texto me ajudou imenso no trabalho.Obrigada
ResponderEliminar