segunda-feira, 29 de maio de 2023
Amor de Perdição e Camilo como autor, narrador e sobrinho
Análise do capítulo II de Os Maias
domingo, 28 de maio de 2023
domingo, 21 de maio de 2023
quinta-feira, 18 de maio de 2023
Tribunal da Relação considera ilegais serviços mínimos aplicados às greves dos professores
terça-feira, 9 de maio de 2023
«”Albertina” ou “O inseto-insulto” ou “O quotidiano recebido como mosca”», de Alexandre O'Neill
Este poema é constituído por oito estrofes: uma oitava, três tercetos, duas quadras e dois monósticos, com rima emparelhada e cruzada e métrica irregular.
O seu tema é a arte poética,
dando-nos conta de um sujeito poético que é poeta e discorre sobre o processo
de criação poética, a inspiração para escrever. Se observarmos o título,
bastante extenso para o que é usual em textos poéticos, observamos que se
relaciona inequivocamente com o tema da composição: a criação poética e a inspiração.
O sujeito poético abre o poema
apresentando-nos o poeta – de forma humorística – sozinho (atente-se na
reiteração da ideia) e à espera. De quê? O «eu» espera por “um minuto que seja
de beleza” (v. 7), isto é, aguarda inspiração (para escrever). Essa espera está
associada a uma certa expectativa, como é visível pela sua postura: “em
abstração” (atente-se na alusão ao nariz e ao ato de dele tirar algo), com os
cotovelos apoiados no tampo da mesa, com a cabeça voltada para baixo. A
metáfora do verso 6 (“Onde o poeta é todo cotovelos”) intensifica a expectativa
em que o «eu» poético está imerso e a demora em encontrar inspiração, um motivo
para escrever, demora essa destacada pela referência ao nome “minutos”
(repetido duas vezes). O último verso da primeira estrofe, uma metáfora (“o
poeta é aos novelos”), iniciado pela conjunção coordenativa adversativa «mas»,
que exprime uma ideia de contraste com o que foi afirmado anteriormente,
anuncia a insegurança e a indefinição que o caracterizam. Essa noção é
desenvolvida na segunda estrofe, novamente anunciada pela mesma conjunção: o
sujeito lírico sente-se inseguro e incapaz de dominar a «musa» (v. 10) que
tantas vezes o inspirou de forma avassaladora: “aquela / Que tantas vezes
arrastou pelos cabelos…” (metáfora). Recordemos que a musa era a divindade que,
de acordo com a mitologia, presidia às artes e às letras, sendo a responsável
pela inspiração dos poetas.
A terceira estrofe coloca-nos perante
uma nova figura: a mosca Albertina. Quem ou o que é ela? A mosca Albertina é um
“inseto-insulto” (v. 13), isto é, algo que o atormenta, que compromete a já
fraca inspiração do poeta. Antes, este tinha-a domesticada, ou seja, a
inspiração surgia-lhe habitual e facilmente, porém, no presente, surge por sua
iniciativa, “como um inseto-insulto, / Mas fingindo que o poeta a esperava…”
(vv. 13-14). Recordemos que o nome Albertina, feminino de Alberto, deriva do
vocábulo germânico “Adalbert”, resultado da junção de “adal” (nobre” e “berth”
(ilustre, brilhante),que significava, portanto, “nobre ilustre, brilhante”.
Por outro lado, Albertina possui uma
dupla faceta: é inseto – mosca – e (quase) mulher. Na qualidade de mosca, ela
incomoda o poeta, como os insetos incomodam os humanos, perturba-o, compromete
a sua inspiração. “Albertina quer o poeta para si, / Quer sem versos o poeta.”
(vv. 16-17). Enquanto mulher, ela sedu-lo, o que quer dizer que, em simultâneo,
Albertina o afronta e seduz. E, apesar do apelo do sujeito poético para que ela
o deixe em paz e, assim, permita que ele se inspire e escreva, mesmo que de
forma imperfeita (“Que eu falhe neste papel” – v. 20), no “papel tão branco e
insolente” – personificação, onde o poeta sabe que existe um verso belo que
está, porém e de momento, ausente, pois falta-lhe a inspiração. O papel está “tão
branco” (atente-se na intensificação sugerida pelo advérbio «tão»), porque a
criatividade e a inspiração não surgem, logo o «eu» não cria, não escreve, e é “insolente”
(personificação), ou seja, o papel é atrevido e desafia-o a escrever.
O apelo intensifica-se no monóstico
correspondente ao verso 22: “ – Albertina! eu quero um verso que não há!...”.
No entanto, o inseto fica-lhe indiferente e, em vez de o inspirar, “Conjugal,
provocante, moreno e azulado”, levanta voo, esvoaça por ali e aterra
insultuosamente na folha de papel em branco. Atente-se na expressividade da
quádrupla adjetivação do verso 23, que acentua a atitude provocatória de
Albertina e sugere a existência de uma relação entre ambos marcada pela
conjugalidade.
Como consequência dessa atitude, que
o leva a abstrair-se ainda mais da criação poética, o poeta “sai de chofre” (v.
27), isto é, repentinamente, e sente-se “desalmado”, ou seja, desinspirado, “por
uns tempos” (v. 27).
À semelhança do que sucede com
vários outros poetas contemporâneos, Alexandre O’Neill reflete, neste poema,
sobre a arte poética, só que neste caso estamos na presença de uma arte poética
invulgar, dado que o ato de criação poética é aparentemente banalizado e
vulgarizado, através do recurso a um tom humorístico que percorre todo o poema,
da atitude do poeta e da forma como encara a inspiração.
Deste modo, Alexandre O’Neill
desconstrói humoristicamente, a imagem do poeta inspirado, desprovido das suas
faculdades de criação poética e nega, em simultâneo, a ideia do poeta como um
ser eleito, inspirado por natureza e produtor infindável e incansável de
poesia.
O processo é descrito num poema que
podemos dividir em três momentos. O primeiro situa-se entre os versos 1 e 11,
no qual o «eu» lírico retrata o poeta que reflete sobre o que escrever,
esperando a inspiração, que tarda. O segundo abrange os versos 12 a 26 e neles
é apresentada e caracterizada a mosca Albertina, que perturba o poeta, que a
tenta repelir, em vão. O terceiro momento diz respeito ao último verso e
retrata a “desistência” temporária do poeta, que abandona o espaço em que se
encontra, desmotivado.
domingo, 7 de maio de 2023
Contexto da escrita de O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá
Análise de O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá
II. Título
III. Estrutura da obra
IV. Ação
4.1. Resumo
4.2. Comentário
4.3. Estrutura
4.4. Relevo
4.5. Organização das sequências narrativas
V. Personagens
5.1. Papel / Relevo
5.2. Retrato/Caracterização e Representatividade
a) Gato Malhado
c) Rouxinol
d) Velha Coruja
f) Vaca Mocha
g) Sapo Cururu
h) Tempo
i) Vento
j) Manhã
m) Pata Petita e Pato Pernóstico
o) Galo D. Juan de Rhode Island
VI. Tempo
6.1. Tempo da história
6.2. Tempo psicológico
6.3. Tempo do discurso
VII. Espaço
7.1. Espaço físico ou geográfico
7.2. Espaço social
7.3. Espaço psicológico
VIII. Narrador
X. Ideologia
XI. Moral
Polo aquático feminino é tetracampeão!
quarta-feira, 3 de maio de 2023
Análise do poema "Epigrama N.º 2", de Cecília Meireles
Por
outro lado, a felicidade constitui a razão de ser do tempo, a qual, por ser tão
“precária e veloz”, “obrigou” o ser humano a medir o tempo e a inventar as
horas, para que esses momentos fossem medidos e valorizados: “Foste tu que
ensinaste aos homens que havia tempo, / e, para te medir, se inventaram as
horas.”
Na
segunda estrofe, o sujeito poético designa a felicidade como “coisa”, o que
significa que é muito difícil compreender a sua natureza, defini-la. Esta ideia
é frisada quando o «eu» qualifica a felicidade com o adjetivo «estranha»,
sugerindo, assim, que é algo que não se pode explicar (estranha), apenas
sentir. No entanto, apesar de ser um sentimento bom, pode tornar-se muitas
vezes “doloroso”, dado que são tristes as horas subsequentes quando comparadas
aos momentos em que ela se fez sentir.
A
felicidade, tal como o tempo, é transitória, passageira, o que torna a vida do
homem mais triste, uma vez que, após a passagem dos momentos felizes, resta ao
homem uma realidade monótona porque rotineira, pelo que aquele inventou as horas,
porque, desse modo, saberá dar valor ao tempo em que está feliz: “Porque um dia
se vê que as horas todas passam, / e um tempo, despovoado e profundo, persiste.”
O
sujeito poético, no último verso, enfatiza, de forma melancólica, a
transitoriedade da vida, “porque um dia se vê que as horas todas passam”. Como
tudo é passageiro, a felicidade também é transitória e passa, razão pela qual o
«eu» lírico se refere a “um tempo, despovoado e profundo, persiste”.
Esta
tristeza que brota após a passagem da felicidade não é individual; pelo
contrário, é expressa em nome dos homens que sofrem quando a perdem ou passam
por momentos de felicidade, facto que lhe ensina o valor do tempo e da sua
existência, bem como a importância do significado da felicidade, visto que o
sujeito poético é alguém que já experimentou o sabor da felicidade, pelo que
conhece o quão importante é e o que há a esperar dela.