Volta-se
a Leonardo Pataca e às suas aventuras amorosas. O homem tem conhecimento de que
a cigana é amante do mestre-de-cerimónias e engendra uma vingança e um plano
para o afastar. A vendeta tem lugar no dia do aniversário da cigana e, para o
efeito, Pataca recorre a uma figura chamada Chico-Juca, designado por «pardo»,
termo usado em vez de índio, tal como acontece na Carta de Caminha. A
sua função é arranjar sarilhos na festa da cigana para atrair o Vidigal, que
Leonardo procura antecipadamente para lhe dar conhecimento da festividade. O
plano resulta: o major aparece e descobre o mestre-de-cerimónias, que a cigana
procura ocultar, que é retirado do quarto para a casa da guarda em ceroulas,
meias pretas e sapatos afivelados.
domingo, 16 de julho de 2023
quinta-feira, 13 de julho de 2023
Resumo do capítulo XIV de Memórias de um Sargento de Milícias
Como a vizinha
se queixa ao mestre-de-cerimónias, os meninos preparam nova vingança. O mestre
era português e mantinha uma relação secreta com a cigana que Leonardo Pataca
adorava. A vingança dos miúdos recai sobre esta figura, um padre de meia idade
formado em Coimbra. Eles não lhe tinham perdoado o facto de os ter humilhado na
frente da vítima. Durante uma missa em que o eclesiástico é o pregador, os
meninos vão a casa da cigana e dizem-lhe que é para o padre ir uma hora mais
tarde (isto é, dez horas e não nove), porque a festa tinha sido adiada. No dia
seguinte, às nove em ponto, a festa começa, mas do pregador nem sinal. Na sua
ausência, o sermão fica a cargo de um frade capuchinho, porém ninguém o
entende, porque é italiano. Quando o mestre-de-cerimónias chega, percebe que
caiu numa armadilha e ambos começam a disputar o púlpito. Mal termina, o padre
confronta Leonardo, que se defende dizendo que a cigana é testemunha de que ele
havia dito que o sermão seria às nove horas. Concluída a festa, a criança é
despedida, o que lhe é indiferente. Em virtude destes acontecimentos, a vizinha
continua a agoirar maus desígnios para o menino, mas o padrinho persiste na
ideia de o fazer padre.
Resumo do capítulo XIII de Memórias de um Sargento de Milícias
Ao
quinto dia de escola, o miúdo consegue convencer o padrinho de que já sabe ir
sozinho para a escola, mas, em vez de ir aprender, falta à escola e vai
brincar, nomeadamente junto da Sé, onde se reunia sempre muita gente, o que
permitia que ninguém o encontrasse, caso o procurassem. Nas aulas, Leonardo é
muito irrequieto, rebelde e desobediente, o que lhe granjeia muitos «bolos»;
por outro lado, vende tudo o que tem aos colegas (o tinteiro, a pasta, a lousa)
e gasta o dinheiro do pior modo possível. Em suma, acriança é o gazeta-mor e o
apanha «bolos»-mor.
Entretanto,
o barbeiro descobre e passa a acompanhá-lo novamente, o que não lhe dá hipótese
de ir para a brincadeira. Como sente saudades do tempo passado na Sé, pede ao
padrinho que o faça sacristão, alegando que isso o prepararia para a sua futura
vida eclesiástica. Para o compadre, este pedido constitui a maior alegria que
lhe podem dar.
Numa
bela manhã, sai de casa vestido de batina e sobrepeliz e toma posse da função. Quando
o vê passar, a vizinha mostra-se surpreendida de início, mas, ao compreender o
que se está a passar, solta uma gargalhada e chama-lhe “senhor cura”.
O
capítulo termina com a vingança que os dois meninos sacristãos (o segundo é uma
criança que Leonardo conhecera na Sé na época em que para lá ia quando faltava
às aulas) fazem à vizinha, que sempre agourara o herói desta história. Assim,
durante uma missa, aquela coloca-se junto dos dois e, enquanto um, depois de
encher o turíbulo de incenso, o balança fazendo com que as nuvens de fumo que se
desprendem batam na cara da pobre mulher, o outro, com a tocha, derrama nas
costas da sua mantilha cera derretida. Como a igreja está apinhada de fiéis, a
desgraçada tem de suportar a vingança até ao fim. Terminada a missa, queixa-se
ao mestre-de-cerimónias e os dois ouvem uma grande reprimenda.
Resumo do capítulo XII de Memórias de um Sargento de Milícias
O
compadre resolve colocar o menino numa escola, porque acha que ele já está
avançado na educação que lhe ministra. De facto, a criança mostra progressos de
aprendizagem: já lê sofrivelmente e aprendera a ajudar na missa. Preocupado com
o futuro do afilhado, o padrinho procura um mestre e encontra um dos mais
acreditados na cidade: um homem bastante baixo, magro, de cara estreita
chupada, calco, com óculos e pretensões de latinista e que oferece bolos aos discípulos.
No dia em que padrinho e afilhado o procuram, um sábado, encontram os alunos a
cantar a tabuada de forma monótona que, no entanto, parece agradar às crianças.
Na
segunda-feira seguinte, Leonardo começa a frequentar as aulas, munido da sua
pasta a tiracolo, da sua lousa e do seu tinteiro de chifre. No final do dia,
leva quatro «bolos», pelo que, à saída, mal vê o barbeiro, diz-lhe que não
voltará à escola, pois não quer ter de sofrer violência física para aprender. O
barbeiro recebe com preocupação esta revelação, temendo que a vizinha fique a
saber que o menino tinha apanhado no primeiro dia de aulas, porém este só
concorda em regressar à escola se o padrinho dialogar com o professor no
sentido de não lhe voltar a bater. O barbeiro, para o persuadir, concorda. Deste
modo, Leonardo retoma as aulas, porém, como não consegue ficar quieto ou
calado, é colocado de joelhos e posteriormente surpreendido a atirar uma bola
de papel aos colegas. Como castigo, apanha doze «bolos», o que leva Leonardo a
dirigir ao mestre todos os impropérios que conhece. Para o compadre, tudo se
deve a uma praga da vizinha.
Ao
longo do capítulo, temos constantes intromissões do narrador e uma crítica à
instituição escolar da época, tecida de modo irónico.
Resumo do capítulo XI de Memórias de um Sargento de Milícias
O
compadre continua a educação do menino, tratada em termos cómicos. Ele fica
indiferente quando sabe da prisão de Leonardo Pataca. Também o tenente quer
tomar conta do miúdo, mas o compadre não aceita.
A
criança já conhece o alfabeto até à letra P, onde empanca de novo, mas é
incapaz de decorar o Pai Nosso (em vez de dizer “Venha a nós o vosso reino”, dizia
“Venha a nós o pão nosso”) e detesta ir à missa ou ao sermão. Apesar disso, o padrinho
continua a ver nele um futuro clérigo.
Em
sentido oposto, os vizinhos veem em Leonardo um grande peralta, nomeadamente
uma mulher viúva e presunçosa que se gaba de não ter papas na língua e que
aborrece as pessoas com as virtudes do seu defunto marido. Assim sendo, várias
vezes procura mostrar ao vizinho a verdadeira faceta do rapazinho. Certo dia,
quando o barbeiro chega à sua loja, esta vizinha, da sua janela, pergunta-lhe,
de forma trocista, onde está o seu reverendo. O homem explode, nomeadamente após
ela lhe perguntar se o petiz já sabe o Pai Nosso, e responde-lhe que o afilhado
já o sabe e que ele, barbeiro, o faz rezar todas as noites para o seu marido,
que dava coices no Inferno. A mulher retorque e chama-lhe “raspa-barbas”.
Quando o compadre a questiona sobre o motivo de implicar tanto com uma criança
que nunca lhe tinha feito mal, a vizinha responde que o afilhado atirava pedras
ao telhado, lhe fazia caretas e a tratava como se fosse uma saloia ou a mulher
de um barbeiro. A discussão desperta a atenção do pequeno Leonardo, que chega à
porta e arremeda a vizinha, o que motiva o riso do padrinho, que, assim, se
sente vingado.
Terminada
a discussão, o narrador informa o leitor que o barbeiro tem conhecimento da
prisão de Leonardo Pataca, mas não se importa com o sucedido.
Resumo do capítulo X de Memórias de um Sargento de Milícias
A ação
volta-se de novo para o velho tenente-coronel, que, embora seja uma pessoa de
bem e tenha uma idade inofensiva, tinha uma história de vida com alguns
episódios negativos. Por exemplo, aos 20 anos era um cadete desordeiro, viciado
no jogo e insubordinado e, aos 36, tinha deixado um filho em Lisboa.
Poucos
dias antes de embarcar para o Brasil, na companhia do rei, foi procurado por
uma mulher velha, baixa, gorda e vermelha, vestida pobremente, nervosa e
agitada. Esta figura era a mãe de uma jovem, de nome Mariazinha, com quem o
filho do tenente, nessa época capitão de navio, namorava e engravidara. A
mulher acrescentou que o filho do capitão prometera casar com ela. O homem
refletiu uns instantes e concluiu que não poderia deixar o descendente casar
com a filha de uma simples vendedora e, além disso, o que aquele ganhava como
cadete não era suficiente para sustentar uma família, por isso disse à mulher
que iria pensar no assunto. Mais tarde, procurou-a e ofereceu-lhe algo para a
calar, no entanto, como a hora de partir chegara, não houve tempo para discutir
o problema. Assim, deixou o filho ao cuidado de conhecidos e partiu.
Anos
depois, já estabelecido no Brasil, soube que Mariazinha se encontrava no Rio de
Janeiro, na companhia de Leonardo Pataca: era, portanto, Maria da Hortaliça.
Este episódio explica, pois, o motivo por que o velho tenente-coronel prometera
ajudar Leonardo: procurava, assim, aplacar o seu espírito de pai honrado,
ajudando a mulher que o seu filho havia desonrado anos antes. Para tal, fizera
um pacto secreto com a comadre: ele supriria qualquer necessidade de Maria da
Hortaliça, bastando para tal que aquela o informasse.
Como a
comadre o ajudava da forma descrita no parágrafo anterior, o tenente deveria
retribuir o favor se fosse necessário, por isso, quando ela o abordou,
dirigiu-se à cadeia, falou com Leonardo Pataca e, depois, dirigiu-se a casa de
um amigo fidalgo.
O velho
tenente sentia-se responsável e foi procurar ajudar Leonardo, libertando-o. O
recurso a pessoas influentes era já um traço da época.
Resumo do capítulo IX de Memórias de um Sargento de Milícias
A
narração centra-se na figura do compadre: como se criou, como arranjou emprego
num navio negreiro e como conseguiu a sua fortuna de forma pouco honesta.
O
compadre nunca conhecera os seus pais e parentes; quando era jovem, achou-se na
casa de um barbeiro, sem saber se estava lá na qualidade de filho ou outra qualquer,
de quem cuidara e herdara o ofício.
Quando
atingiu a adolescência, sabia barbear e sangrar sofrivelmente e, como
considerava que não conseguiria frutificar enquanto barbeiro, dado que a
freguesia que tinha se devia ao seu mestre, abandonou a sua casa sem rumo.
Durante as suas andanças, conheceu um marujo que o colocou a bordo de uma
embarcação como barbeiro e sangrador. A bordo, ganhou fama quando sangrou e
curou dois marinheiros doentes e não deixou morrer nenhum negro do
carregamento. Neste passo, o narrador aborda o problema da escravatura,
distanciando-se dela.
Pouco
antes de chegar ao Rio de Janeiro, o capitão do navio adoeceu e não houve sangramento
que o salvasse. Moribundo e em segredo, o capitão, que confia no barbeiro,
entregou-lhe uma caixa, deu-lhe o endereço e pediu-lhe que o entregasse à sua
filha. Pouco tempo depois, o capitão morreu; o barbeiro decidiu não embarcar
mais e, como a conversa que tinha mantido com o comandante fora secreta e sem
testemunhas, instituiu-se como seu herdeiro e nada entregou à filha. Fora assim
que ele se arranjara na vida.
Em
suma, este capítulo mostra o compadre como homem sem escrúpulos. Ele é bom e
mau. Com isto, o narrador pretende provar que todo o ser humano tem um lado bom
e um lado mau.
Resumo do capítulo VIII de Memórias de um Sargento de Milícias
O
narrador descreve o pátio dos bichos e das personagens que nele se movimentam,
sobretudo de um velho. O espaço era um saguão, uma saleta que existia no
palácio do rei, cujo nome derivava do facto de todos os dias passarem por ele
três ou quatro oficiais superiores
velhos, incapazes para a guerra e inúteis para a paz, ou seja, não eram usados
pelo rei, pelo que a maior parte do seu tempo era dedicado ao ócio. Dentre
eles, destacava-se um português, tenente-coronel, a quem a comadre recorreu
para obter a libertação de Leonardo Pataca. Depois de a ouvir, o velho militar
coloca o chapéu armado, põe a espada à cinta e sai.
quarta-feira, 12 de julho de 2023
Resumo do capítulo VII de Memórias de um Sargento de Milícias
A
descrição da comadre, madrinha do menino, é pretexto para a referência à
mantilha, característica espanhola e apresentada de forma diferente do
Romantismo.
A
comadre é uma mulher baixa, gorda e ingénua – ou tola – por um lado e fina por
outro. Além disso, é conhecida por ser beata e “papa-missas”. Usa por norma o
traje típico das mulheres da sua condição social: uma saia de lila preta (um
tecido que se fabricava na cidade francesa de Lila, capital do departamento do
Norte), que se vestia por cima de um vestido qualquer, um lenço branco ao
pescoço, outro na cabeça, um rosário pendurado no cós da saia, um ramo de
arruda atrás da orelha, tudo coberto por uma mantilha, com uma pequena fisga se
ouro ou osso presa na renda. O uso da mantilha era uma imitação da tradição
espanhola que o narrador considera algo poético, já que envolve as mulheres num
certo mistério e lhes realça a beleza. Na realidade, era algo prosaico, vulgar,
nomeadamente quando eram usadas por mulheres gordas e baixas ou nas festas
religiosas, dado que aqueles vultos negros cochichando entre si davam à igreja
um ar lúgubre. No entanto, o uso da mantilha facilitava um dos hábitos da época,
isto é, o da observação da vida alheia, já que permitia ver sem ser visto.
As suas
ocupações diárias – a de parteira, beata e curandeira – tomavam-lhe muito
tempo, de tal modo que fazia muito tempo que não via nem sabia nada dos
compadres e do seu afilhado. Certo dia, na Sé, ouve as beatas comentarem sobre Maria ter sido sovada por
Leonardo Pataca, ter fugido com o capitão de um navio e o filho, uma criança
traquina e mal educada, ter ficado aos cuidados do padrinho. Depois de ouvir a
história, visita o barbeiro e questiona-o, e este defende a criança, dizendo
que é sossegada e gentil e tenciona ser padre. A mulher discorda deste projeto para
a formação do menino e retira-se, mas desde esse dia visita o compadre
regularmente. O padrinho, por sua vez, não desiste dos sonhos que tem para o
afilhado e ensina-lhe o abecedário. A criança empanca no F.
Resumo do capítulo VI de Memórias de um Sargento de Milícias
A
narrativa volta ao herói da história, o “menino”, que foge e deixa o padrinho
muito aflito. Ele vai acompanhando a procissão e termina junto dos ciganos. O
narrador descreve, então, o oratório e a sociedade cigana.
Assim
que dá pela falta do afilhado, o padrinho, muito aflito, procura-o pela
vizinhança, mas ninguém sabe dele. Lembra-se da Via Sacra, começa a percorrer
as ruas e a inquirir todos com quem se cruza sobre o paradeiro da criança.
Quando chega ao Bom-Jesus, alguém lhe diz que viu três crianças que foram
expulsas da igreja pelo padre por mau comportamento. O barbeiro volta a casa e
passa a noite em claro. Antes de pedir ajuda ao Vidigal, reflete e decide
esperar mais um dia pelo seu regresso.
De
seguida, a atenção do narrador volta-se para a sociedade dos ciganos.
Juntamente com os emigrados de Portugal, tinham ido também para o Brasil os
ciganos, retratados como uma praga ociosa, sem escrúpulos e tão velhacos que
quem tivesse juízo não faria negócios com eles. Vivem quase na ociosidade, em
permanente festa, e moral normalmente nas ruas, em plena liberdade.
As duas
crianças com as quais Leonardo fizera amizade durante a Via Sacra pertencem a
uma família cigana. Elas levam-no para casa dos seus pais. No acampamento, como
acontecia quase todas as noites, ocorre uma festa. Quando o sono chega,
Leonardo junta-se aos novos amigos e adormece a um canto, embalado pela música
e pela dança.
Mais
tarde, acorda sobressaltado e pede aos companheiros que o levem para casa.
Quando o padrinho se apresta para recomeçar as buscas, esbarra com o afilhado e
questiona-o sobre o seu desaparecimento. Em resposta, Leonardo diz-lhe que,
como o barbeiro quer que seja padre, tinha ido ver um oratório. O padrinho
sorri e leva-o para casa.
Resumo do capítulo V de Memórias de um Sargento de Milícias
Neste
capítulo, o narrador ocupa-se da caracterização do Vidigal, que leva Leonardo
Pataca preso, expondo-o a uma enorme vergonha na casa da guarda. Vidigal é
polícia e juiz ao mesmo tempo.
Na
época em que a ação decorre – início do século XIX no Brasil –, a polícia da
cidade ainda não estava organizada, pelo que a figura do Vidigal detinha um
poder absoluto, sendo em simultâneo o guarda que perseguia e prendia os
criminosos e o juiz que julgava e determinava a pena. Frequentemente, nos casos
de que era responsável, não havia testemunhas, nem provas, nem razões, nem
processos; tudo se concentrava nele e a sua justiça era infalível. Das
sentenças que dava, não havia recurso – fazia o que bem entendia, sem ter de
prestar contas a ninguém.
O Major
Vidigal é um homem alto, não muito gordo, com ar de molengão, o olhar sempre
baixo, os movimentos lentos e a voz descansa e adocicada. Além disso, é uma
pessoa calma, inteligente e muito temida. Juntamente com uma companhia de
soldados escolhidos por si, patrulha a cidade de noite, enquanto de dia a
tarefa cabe à polícia. Todos o temem, por isso, quando bate à porta da tapera
do velho feiticeiro e pede que a abram, os seus ocupantes ficam em pânico e
procuram fugir pelos fundos da habitação, porém esta está cercada por todos os
lados, pelo que são presos em flagrante, acusados de nigromancia.
Já
dentro da casa, o Vidigal solicita-lhes que prossigam com a cerimónia, pois
deseja ver como se faz. Como é impossível resistir-lhe, após uma hesitação inicial,
recomeçam o ritual. Após cerca de meia hora, param, porém o major pede que
continuem, e a cena repete-se mais algumas vezes, até que, já exaustos, o
Vidigal lhes ordena que parem. Depois pede aos granadeiros que toquem, o que
faz os soldados pegar nas suas chibatas e o grupo feiticeiro dançar muito mais.
Segue-se
o interrogatório. Vidigal pergunta a todos a sua ocupação, mas nenhum lhe
responde. Quando chega a vez de Leonardo Pataca, reconhece-o e, depois de o
desgraçado lhe ter explicado a razão de todo aquele espetáculo, o major
prontifica-se a curá-lo. Assim, arrasta-o para a casa da guarda no largo da Sé,
uma espécie de depósito onde eram guardados aqueles que fossem presos durante a
noite até lhes dar um destino.
Ao
amanhecer, já toda a cidade tem conhecimento do acontecido e Leonardo é
encarcerado na prisão, o que, de início, deixa tristes os seus conhecidos, mas
depois contentes com a situação, visto que, enquanto Pataca estiver preso,
serão eles procurados para os negócios. Ou seja, a sua prisão equivale a um concorrente
a menos.
Resumo do capítulo IV de Memórias de um Sargento de Milícias
Este
capítulo centra-se de novo na figura de Leonardo Pataca, envolvido em atos de
feitiçaria por causa de um novo amor. Não sendo bem sucedido nos seus propósitos,
recorre à feitiçaria e é surpreendido pelo Vidigal, que o leva preso.
De
facto, o narrador leva-nos até à tapera de um feiticeiro: trata-se de uma casa
coberta de palha da mais feia aparência, com dois cómodos e uma mobília
bastante rudimentar – dois ou três assentos de paus, algumas esteiras e uma
grande caixa de madeira que servia, simultaneamente, de mesa de jantar, cama, guarda-roupa
e prateleira. Este episódio é usado por Jorge Amado para criticar as práticas
de feitiçaria, a que recorriam com grande frequência tanto as gentes do povo
como parte da alta sociedade.
Uma das
pessoas que procura o velho caboclo feiticeiro é, pois, Leonardo Pataca, por
causa das contrariedades de um novo amor. De facto, apaixona-se por uma cigana
que conhecera após a fuga de Maria, porém, tal como sucedera com esta, que
fugira com o capitão de um navio de Lisboa sob o pretexto de sentir saudades da
pátria, também a nova paixão lhe é infiel e o abandona. Assim, Pataca recorre
aos serviços do feiticeiro para conseguir a cigana de volta, a troco de
dinheiro e da realização de diversas ações: submissão a fumigações de ervas
sufocantes; tragar de bebidas enjoativas; decorar de milhares de orações, que repete
várias vezes ao dia; depósito quase todas as noites de determinadas quantias e objetos
em lugares determinados, tudo com o objetivo de colher a ajuda de certas
divindades. No entanto, a cigana parece imune a tudo e não há maneira de voltar
para os braços de Pataca. A derradeira prova acontece à meia noite de certo dia:
Leonardo desloca-se a casa do feiticeiro, é forçado a trajar como Adão e a
envergar um manto imundo; depois, ajoelha e reza em todos os cantos da casa do
velho. De seguida, aproxima-se da fogueira, enquanto quatro figuras saem do
quarto, juntam-se-lhe e, todos juntos, começam a dançar ao redor do lume.
Subitamente, batem levemente à porta: é o Major Vidigal.
Neste
capítulo, Jorge Amado critica também o vocabulário romântico, a propósito da
figura de Leonardo Pataco: “… mas o homem era romântico, como se diz hoje, e
babão, como se dizia naquele tempo.” A comicidade é uma das características
fundamentais do discurso, o que marca já uma oposição ao Romantismo, de que é
exemplo Iracema.
terça-feira, 11 de julho de 2023
Resumo do capítulo III de Memórias de um Sargento de Milícias
Este
capítulo narra a vida do pequeno Leonardo em casa do padrinho, que vive
preocupado com a educação do afilhado: quer que seja padre.
Inicialmente,
enquanto tudo é recente e novidade na nova casa, a criança porta-se bem, porém,
assim que se familiariza com o ambiente, o barbeiro, cego pela afeição ao
pequeno, tolera todas as diabruras, atribuindo-as e desculpando-as com a sua
ingenuidade. Esta postura do padrinho justifica-se, antes de mais, com a sua
idade – já tinha mais de 50 anos –, e depois com a ausência de afeto na sua
vida e com o seu isolamento, já que sempre fora celibatário. Perante tal imunidade,
a criança faz tudo o que lhe apetece, desde caretas aos fregueses da barbearia,
o que causa o riso de uns e a fúria de outros, acabando muitos por saírem com a
face cortada, até esconder a navalha mais afiada do padrinho, o que leva a que
o freguês esteja imenso tempo à espera, com o rosto cheio de sabão, enquanto
aquele a procura. Em casa, atira pedras aos telhados dos vizinhos, incomoda
quem passa na rua ou algum vizinho que esteja à janela. Deste modo, ninguém por
ali gosta dele, todavia o padrinho de nada se apercebe e acarinha-o sempre.
Além disso, preocupa-se com o seu futuro e tem grandes sonhos para o afilhado:
uma grande fortuna, uma alta posição social e o meio de os alcançar,
nomeadamente enviando-o para Coimbra, para se tornar padre.
Certa
manhã, o barbeiro chama Leonardo, então com nove anos, e diz-lhe que se deveria
fartar de travessuras até ao final dessa semana; daí em diante, só aos
domingos, após a missa. A criança leva a fala do padrinho à letra e
interpreta-a como uma licença para fazer o que lhe apetecesse. Na noite dessa
quarta-feira, realiza-se a Via Sacra do Bom Jesus. Quando o apercebe, Leonardo
recorda as palavras do barbeiro e mistura-se no meio da multidão, pulando,
gritando, cantando, etc.
Outro
aspeto importante da obra é a constante referência ao leitor e a intromissão do
narrador, através da ironia, comicidade e da crítica social à educação escolar
e à religião. Temos ainda a referência aos costumes da época com a descrição da
Via Sacra do Bom Jesus.
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