terça-feira, 5 de setembro de 2023
Caracterização de Guanes
.
caracterização física:
® o
mais leve / magro;
®
pele negra;
®
pescoço de grou;
®
enrugado;
®
doente: escarra sangue;
.
caracterização social:
®
fidalgo arruinado;
®
faminto;
®
pobre;
®
miserável;
.
caracterização psicológica:
®
bravio;
®
desconfiado;
®
calculista;
®
leva uma vida de dissipação (ex.: joga aos dados, bebe);
®
sôfrego;
®
ambicioso;
®
forreta;
®
traiçoeiro.
Caracterização de Rui
.
caracterização física:
®
gordo;
®
ruivo;
®
pescoço peludo;
.
caracterização social:
®
fidalgo arruinado;
®
faminto;
®
pobre;
®
miserável;
.
caracterização psicológica:
®
bravio;
® o
mais avisado dos três;
®
fala avisada e mansa;
®
desconfiado dos irmãos;
®
funciona como árbitro relativamente à divisão do tesouro;
®
astuto e calculista, leva Rostabal a assassinar Guanes com uma série de
argumentos;
®
cruel;
®
traiçoeiro;
®
ambicioso;
®
ansioso por levar consigo e esconder o tesouro.
O espaço físico do conto "O Tesouro"
A ação do conto decorre nas
Astúrias. A parte inicial localiza-se nos Paços de Medranhos, enquanto a
central na mata de Roquelanes. Por seu turno, o episódio do envenenamento através
do vinho é situado num local mais longínquo: a vila de Retortilho.
Os Paços de Medranhos são
descritos de forma negativa e evidenciam a miséria que rodeia os três irmãos: “…
a que o vento da serra levara vidraça e telha…”; a cozinha não tem lume nem
comida, e eles dormem na estrebaria, “para aproveitar o calor das três éguas
lazarentas”.
Os três fidalgos circulam
exatamente apenas entre a cozinha e a estrebaria, os locais menos nobres de um
palácio, o que evidencia bem o grau de decadência económica em que vivem. Essa
miséria é acompanhada pela degradação moral: “E a miséria tornara estes
senhores mais bravios que lobos.”
De modo semelhante, o espaço
exterior, a mata de Roquelanes não é um simples cenário onde a ação decorre. De
facto, as descrições da natureza são bastante simbólicas. Assim, a “relva nova
de abril”, que constitui a manifestação visível do renascimento da natureza,
sugere o renascimento espiritual que os protagonistas não são capazes de
concretizar. A “moita de espinheiros” e a “cova de rocha” simbolizam as
dificuldades, os sacrifícios, que é necessário enfrentar para alcançar o que se
pretende.
A natureza, calma e pacífica,
renascente (“… um fio de água, brotando entre as rochas, caía sobre uma vasta
laje escavada, onde fazia como um tanque, claro e quieto, antes de se escoar
para as relvas altas.”), contrasta com o interior das personagens, que
facilmente imaginamos inquietas, agitadas e perturbadas pela visão do ouro e,
em simultâneo, ansiosas por dele se apoderarem de modo exclusivo. Ao mesmo
tempo, as “duas éguas retouçavam a boa era pintada de papoulas e botões-de-ouro”.
Ora, é evidente um contraste entre humanos e animais, que já havia sido
destacado depois de os três irmãos terem contemplado o ouro: “… estalaram a rir,
num riso de tão larga rajada que as folhas tenras dos olmos, em roda, tremiam…”.
Quando Rui e Rostabal aguardavam, emboscados, o irmão Guanes, “um vento leve
arrepiou na encosta as folhas dos álamos”, como se a natureza sentisse o horror
do crime que estava prestes a ser cometido. Depois de o assassinar, os dois
regressam à “clareira onde o sol já não dourava as folhas”.
segunda-feira, 4 de setembro de 2023
domingo, 3 de setembro de 2023
Delimitação da ação de "O Tesouro"
. Fechada, no que se refere à histórias
dos três irmãos, pois todos morrem.
. Aberta, no que diz respeito ao tesouro,
que lá continua intacto e por descobrir.
Sequências narrativas de "O Tesouro"
Segundo João A. F. Guerra e José
A. S. Vieira, é possível dividir este conto em três sequências:
®
sequência inicial:
a) os três irmãos encontram um cofre;
b) mergulham as mãos no ouro;
c) cada um cerra a sua fechadura;
®
sequência intermédia:
a)
Rui e Rostabal emboscam-se;
b)
Rostabal assassina Guanes;
c)
Rui assassina Rostabal;
®
sequência final:
a)
Rui abre as três fechaduras;
b)
Rui bebe o vinho envenenado;
c)
Rui oscila e morre.
5.1. Processo
de articulação das sequências narrativas
As ações articulam-se por encadeamento.
Estrutura da ação de "O Tesouro"
• Introdução (2 primeiros parágrafos):
▪ apresentação das personagens
▪
localização da ação no tempo e no espaço
• Desenvolvimento
(até ao penúltimo parágrafo):
→ funções cardinais:
1.ª)
a descoberta de um cofre;
2.ª)
a decisão da partilha;
3.ª)
a distribuição das chaves pelos três;
4.ª)
o fechamento do cofre;
5.ª)
a partida de Guanes para Retortilho;
6.ª)
os argumentos de Rui:
=> o irmão dissiparia a sua parte
rapidamente com más companhias, no jogo e no vinho;
=> a avareza de Guanes:
. se ele tivesse achado o
tesouro sozinho, não o dividiria com eles;
. a recordação de velhas
questiúnculas com Rotabal: a recusa do empréstimo de três ducados;
=> a iminência da morte de Guanes;
=> com a parte dele, poderão compor a casa
e Rostabal obter ginetes, armas, trajes nobres e o seu terço de solarengos;
=> Guanes tratava, publicamente, Rostabal
por «cerdo» e «torpe».
7.ª)
a condenação de Guanes;
8.ª)
a chegada de Guanes;
9.ª)
o assassínio de Guanes;
10.ª)
Rostabal lava-se;
11.ª)
o assassínio de Rostabal;
12.ª)
os preparativos para comer;
13.ª)
Rui bebe;
14.ª)
Rui oscila / sente um fogo interior que o devora.
→ catálises:
2.ª)
a espera de Guanes;
3.ª)
a descrição do assassínio;
4.ª)
as reflexões sobre a posse do ouro;
5.ª)
as reflexões do marrador.
• Conclusão
(dois últimos parágrafos):
→ função cardinal:
15.ª)
a morte de Rui.
→ catálise:
6.ª)
conclusões e descrição do cenário.
Resumo do conto "O Tesouro"
Três
irmãos esfomeados Rui, Guanes e Rostabal
– , que viviam em Paços de Medranhos, no
reino das Astúrias, encontram na mata um grande cofre de ferro, repleto de
dobrões de ouro.
Desconfiados
uns dos outros e para não despertar as atenções, decidem transportar o tesouro
para Medranhos de noite e que Guanes, por ser o mais magro, iria à povoação
mais próxima comprar comida para eles e para as éguas e uns sacos de couro.
Cada vez mais desconfiados, cada um fica com uma chave e fecha a sua fechadura
do cofre.
Acicatado
por Rui, Rostabal aceita a ideia de assassinar o irmão e, quando Guanes
regressa, assim procedem.
De
regresso ao local do tesouro, enquanto Rostabal lava os braços, a cara e as
barbas salpicadas de sangue do irmão, Rui, serenamente, enterra uma navalha nas
suas costas. De imediato, tira-lhe também a chave e deixa-o escorregar na borda
do riacho.
Cheio
de fome e sede, bebe uma garrafa de vinho. Descansa, de seguida, um pouco e
prepara-se para regressar a Medranhos, quando sente uma espécie de lume que o
devora por dentro e que nenhuma água consegue apagar. Compreende então que
Guanes tinha envenenado o vinho que os irmãos iriam beber. Horas depois jaz
também junto aos outros com a face negra.
Tema e assunto de "O Tesouro"
Tema: a ambição desmedida.
Assunto: três fidalgos arruinados que viviam
completamente na miséria e que a ambição de recuperar um passado glorioso (após
a descoberta de um tesouro) conduziu à sua aniquilação total.
Análise do conto "O Tesouro", de Eça de Queirós
I. Ação
1. Tema
2. Assunto
3. Resumo
4. Estrutura, funções cardinais e catálises
II. Personagens
1. Caracterização
a) Rui
b) Guanes
c) Rostabal
1.1. Notas sobre as personagens
5. Composição
III. Espaço
1. Espaço físico ou geográfico
IV. Tempo
V. Narrador
VI. Modos de apresentação e expressão
VII. Indícios trágicos
VIII. Linguagem
IX. Simbologia
sexta-feira, 1 de setembro de 2023
quinta-feira, 31 de agosto de 2023
Séries de animação do meu tempo: "Tom Sawyer"
Passava aos sábados de manhã, logo depois de o pão fresco chegar a casa. Trata-se de uma versão sensacional da obra imortal de Mark Twain. A acompanhar a série, além de produtos diversos, era imprescindível fazer a respetiva coleção de cromos
E, assim, chega ao fim a recordação de várias séries de desenhos animados que marcaram a nossa infância e princípio da adolescência. Não couberam aqui todas, pelo que houve que fazer uma seleção. Se abrimos com Jacky, finalizamos com o inigualável Tom. Como ele, vivemos aventuras, não no Mississipi, mas na ribeira do Coval; como ele, construímos uma casa de madeira no cimo da enorme carvalha que o progresso destruiu já neste século; como ele, sonhámos, brincámos e crescemos. Uns gostavam tão pouco da escola como ele, outros fizeram carreira a partir dela; todos chegaram a adultos e encontraram um rumo na vida.
Cronologia de Aquilino Ribeiro
1885 – Nasce em Carregal de Tabosa
(concelho de Sernancelhe), no dia 13 de setembro.
1895 – Muda-se para Soutosa,
concelho de Moimenta da Beira. Faz exame de instrução primária. Entra no
Colégio de Nossa Senhora da Lapa.
1900 – Entra no Colégio de Lamego.
Estuda Filosofia em Viseu. Entra depois no Seminário de Beja, obedecendo a um
desejo da sua mãe, que queria fazê-lo sacerdote.
1904 – Expulso do Seminário,
regressa a Soutosa.
1906 – Vai para Lisboa. Colabora
no jornal republicano A Vanguarda.
1907 – É preso por ser anarquista
na sequência de uma explosão no seu quarto na Rua do Carrião, a 28 de novembro,
em Lisboa, na qual morre um carbonário.
1908 – Evade-se da prisão em 12 de
janeiro e, durante a clandestinidade em Lisboa, mantém os contactos com os
regicidas, refugiado numa casa de Meira e Sousa, na Rua Nova do Almada, em
frente da Boa Hora.
1910 – Estuda na Faculdade de
Letras da Sorbonne. Vem a Portugal após o 5 de outubro e regressa a Paris, onde
conhecera Grete Tiedemann.
1912 – Reside alguns meses na
Alemanha.
1913 – Casa com Grete Tiedemann e
regressa a Paris.
1914 – Nasce o primeiro filho,
Aníbal Aquilino Fritz Tiedemann Ribeiro. Declarada a Primeira Guerra Mundial,
Aquilino regressa a Portugal, sem ter terminado a licenciatura.
1915 – É colocado como professor
no Liceu Camões, onde ficará durante três anos.
1919 – Entra para a Biblioteca
Nacional de Portugal, a convite de Raul Proença.
1921 – Integra a direção da
revista Seara Nova.
1927 – Entra na revolta de 7 de
fevereiro, em Lisboa. Exila-se em Paris. No fim do ano, regressa a Portugal,
clandestinamente. Morre a primeira mulher.
1928 – Entra na revolta de Pinhel.
Encarcerado no presídio de Fontelo (Viseu), evade-se e volta a Paris.
1929 – Casa em Paris com Jerónima
Dantas Machado, filha de Bernardino Machado. Em Lisboa, é julgado à revelia em
Tribunal Militar e é condenado.
1930 – Nasce-lhe o segundo filho,
Aquilino Ribeiro Machado, que viria a ser o 60.º Presidente da Câmara Municipal
de Lisboa – (1977-1979).
1931 – Vai viver para a Galiza.
1932 – Volta a Portugal
clandestinamente.
1933 – Recebe o Prémio Ricardo
Malheiros da Academia das Ciências de Lisboa, pelo seu livro As Três
Mulheres de Sansão.
1935 – É eleito sócio
correspondente da Academia das Ciências de Lisboa.
1952 – Faz uma viagem ao Brasil,
onde é homenageado por escritores e artistas, na Academia Brasileira de Letras.
1958 – Publica Quando os Lobos
Uivam. É nomeado sócio efetivo da Academia das Ciências de Lisboa. É
militante da candidatura de Humberto Delgado à presidência da República.
1960 – É proposto para o Prémio
Nobel da Literatura.
1962 – Nasce-lhe a primeira neta,
Mariana, a quem dedica O Livro da Marianinha.
1963 – É homenageado em várias
cidades do país por ocasião dos cinquenta anos de vida literária. Morre no dia
27 de maio. Nessa mesma hora, a Censura comunicava aos jornais não ser mais
permitido falar das homenagens que lhe estavam a ser prestadas. É sepultado no
Cemitério dos Prazeres.
1974 – É publicado o livro de
memórias Um Escritor Confessa-se. Como escreve José Gomes Ferreira no
prefácio, Aquilino sabe mentir a verdade.
1982 – A 14 de abril é agraciado a
título póstumo com o grau de Comendador da Ordem da Liberdade.
2007 – A Assembleia da República
decide homenagear a sua memória e conceder aos seus restos mortais as honras de
Panteão Nacional.
quarta-feira, 30 de agosto de 2023
Análise de O Malhadinhas
Intertextualidade em O Delfim
Em O Delfim, existem diversas
manifestações de intertextualidade:
1. Citações: “(…) As paredes estão na Andaluzia…
/ De repente todo o espaço para / Para, escorrega, desembrulha-se…, (…) Chuva
Oblíqua, edições Ática, Lisboa.”; «”Desta terra da Gafeira quis a
Providência fazer exemplo de castigo.”». O primeiro exemplo, o narrador
assinala com grafia diferente (o itálico) o texto, indica o seu título, nomeia
o autor (Fernando Pessoa) e refere o editor, bem como o local de edição, “é só
copiar”. O segundo é uma citação da Monografia do Termo da Gafeira, do
Abade Agostinho Saraiva, aceitando que esta obra, tal como o Tratado das
Aves / Composto por / Um Prático, os artigos de jornais e revistas, mesmo
sendo ficção, criam o efeito de real – é como se realmente existissem, passam a
fazer parte da realidade.
2. Transcrições: “Ofélia [Maria das Mercês] à flor das
águas como no sempre venerado Santo Shakespeare (…) Hamlet, Cena V…”; “Vem
tudo em Santa Teresa [d’Ávila], Las Moradas.”; “(…) a «irmã,
jardim fechado» das Escrituras (Salomão IV-3)”; “O regresso ao líquido
amniótico… Correto, doktor Freud?”. Nestes exemplos, estamos parenta
referências ao conteúdo de obras literárias (os três primeiros) e a teorias (o
quanto). Em todos os casos, a explicitação do autor e / ou da obra é um ponto
de contacto entre o texto e o intertexto. Trata-se, portanto, de alusões.
3.
Imitações declaradas: “Fiz-me entender, leitor benigno?”; “(…) esta Viagem
à Roda do Meu Quarto.” Estes exemplos constituem, de facto, imitações das Viagens
na Minha Terra, de Almeida Garrett, que, por sua vez, já se tinha inspirado
na Viagem à Roda do Meu Quarto, obra publicada em 1795 por Xavier de
Maistre. Note-se que as personagens-tipo da obra (o Cauteleiro, o Batedor, a
Estalajadeira) fazem lembrar as de Eça de Queirós ou de Gil Vicente.
4.
Paródias de passagens bíblicas: “No princípio era a água e a água estava nele.”;
“Porque, irmãos, é mais fácil passar um camelo pelo buraco de uma agulha do que
fazer entrar um bebedor no reino privado dos barmen.”; «”Alegrem-se os Céus e a
Terra…” Cantavam os querubins na Lagoa (…)».
5.
Intertextualidade homo-autoral (textos de um autor mantêm relações
intertextuais com outros do mesmo autor): em determinado passo, o narrador
alude a uma obra – O Anjo Ancorado – como sendo sua, quando, na realidade,
foi escrita por José Cardoso Pires.
Em
suma, o narrado, subtraindo passagens do seu contexto original, atualiza-as,
subverte-as, e o novo texto ganha quase sempre um tom humorístico ou satírico.
Outras vezes, a referência intertextual é sentida como uma ironia, mais ou
menos amarga, chegando mesmo a raiar o sarcasmo. Assim sendo, é necessário ser
furão, isto é, estar permanentemente, caso contrário, perder-se-á informação
nas entrelinhas.
Por
outro lado, a intertextualidade reflete o padrão cultural da época. As
referências a textos e autores assumidos como clássicos são os lugares-comuns
da literatura, característicos de uma política cultural e educacional instituída.
Pode interpretar-se a sua presença como uma desmistificação dessa ordem.
Atente-se nos seguintes exemplos, prenhes de ironia: “Pessoa, o obrigatório”, “o
sempre venerado Santo William Shakespeare”, “(…) e outros literatos menores,
sem esquecer os das estátuas.”
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