Zezé
mostra-se preocupado com a possibilidade de o morcego Luciano, seu amigo
imaginário, não o acompanhar na mudança de casa. Por isso, fala com Tio
Edmundo, que o tranquiliza, dizendo que o bicho tem sentido de orientação e
que, se não puder ir, enviará um parente no seu lugar, porém o menino continua
inseguro, visto que o morcego não sabe ler e talvez se perca pelo caminho.
Ao ser
lembrado pelo seu amigo Biriquinho que, no dia seguinte, um camião, enviado
pelo dono da fábrica, iria distribuir brinquedos a crianças mais pobres, numa
zona distante da cidade, Zezé fica animado e quer ir, considerando que essa
pode ser a possibilidade de haver presentes no Natal e tenta convencer Glória a
acompanhá-los. A irmã não vai, pois não tem tempo, dado que está ocupada com a
mudança, mas começa a ponderar uma solução: levá-los ao portão para ver se
alguém conhecido pode ir com eles. Acabam por ser acompanhados pelo carteiro,
seu Paixão, no entanto, a meio do caminho, alega estar com pressa e abandona as
crianças, afirmando que dali em diante não há perigo. Zezé fica revoltado, mas
continua o caminho, segurando a mão do irmão, já cansado. Quando este se queixa
dos pés e da fadiga, aquela leva-o um pouco ao colo. Ao chegarem ao destino – a
Rua do Progresso –, a distribuição de brinquedos já terminara, o que deixa Zezé
devastado por não conseguir dar um presente a Luís. Senta-se com o irmão e
tenta consola-lo, prometendo dar-lhe “Raio de Luar”, o seu cavalinho de brincar
e que, um dia, quando crescer, lhe comprará um carro cheio de presentes só para
ele. Luís tenta conter as lágrimas, mas a sua desilusão é grande. O irmão
diz-lhe que os reis não choram, no entanto, interiormente, sente-se esmagado e
culpa-se, considerando que o Menino Jesus não gosta dele e que o está a castigar
por ser “afilhado do diabo”, enquanto Luís, um verdadeiro anjo, não merecia
aquela tristeza. Por fim, cede ao choro e, consumido pela culpa e pela dor, diz
que não é um rei como Luís, que é apenas “um menino muito malvado”.
A cena
seguinte compreende um diálogo entre Zezé e Totoca, que está a construir o novo
corpo de um brinquedo, o “Raio de Luar”. A criança elogia a habilidade do irmão
em construir coisas e lamenta não possuir o mesmo talento. O Natal aproxima-se
e a ceia está a ser preparada com simplicidade: rabanadas molhadas em vinho.
Isto só foi possível graças à ajuda financeira de Tio Edmundo, o que evidencia
as condições precárias da família, que necessita da solidariedade alheia.
Neste
contexto, Zezé receia não receber nenhum presente de Natal e questiona-se se
será uma criança má, como algumas pessoas dizem. Totoca responde-lhe com
firmeza: o irmão não é malvado, mas tem “o diabo no sangue”, o que é uma forma
popular de dizer que é arteiro. Com a chegada da noite de Natal, Zezé mantém a
esperança do nascimento do Menino Jesus nele, e não o “Menino Diabo”, o que
evidencia um conflito interno entre a sua natureza e seu desejo de ser amado e
reconhecido como um menino bom. Totoca procura diminuir-lhe as expectativas,
para amenizar a mais que provável desilusão do irmão, e compartilha a sua
filosofia: não esperar nada, para não se dececionar. Em simultâneo, sugere que,
apesar do discurso religioso, o Natal só parece ser bom para os ricos,
exemplificando com casas vizinhas, cheias de fartura. De seguida, Totoca fica
em silêncio, sentindo-se culpado por ter dito algo que pode ser um pecado. A
dureza da vida que levam faz as crianças questionar até mesmo a bondade divina,
o que constitui uma crítica implícita às desigualdades sociais e ao abandono das
famílias pobres.
Durante
a ceia, o ambiente em casa de Zezé é tão triste que ninguém sorri ou fala,
perante a evidência da miséria da família, que nem permite sequer uma refeição
adequada. O pouco que é posto na mesa chega por meio de Tio Edmundo, que
procura mitigar, sem sucesso, aquele ambiente de profunda tristeza. O pai mal
prova a rabanada, está abatido e não se barbeia, acabando por sair de casa em
silêncio, calçando os seus tamancos, sem desejar as boas festas. Dindinha,
emocionada, pede a Tio Edmundo para se ir embora. A mãe retira-se
silenciosamente para o quarto, provavelmente para chorar sozinha. Glória e
Jandira lavam a louça. Aquela tem os olhos vermelhos, disfarça o choro e manda
os irmãos mais novos para a cama. O clima é tão fúnebre que Zezé compara o
momento a um velório, e não ao nascimento de Jesus.
Já na
escuridão do quarto, Zezé tenta iniciar uma conversa com Totoca sobre rabanadas
e este revela não ter comido nada, por causa da tristeza que o consome. Apesar
de todo o ambiente vivido, Zezé insiste em deixar os sapatos à porta, com a
esperança de receber alguma coisa, na manhã seguinte. Porém, ao despertar,
constata que não recebeu qualquer presente e desabafa que é muito triste ter um
pai pobre, sem reparar que este está perto e ouve aquele queixume. Este facto
deixa o progenitor profundamente triste e magoado, enquanto Zezé fica cheio de
remorsos ao observar a tristeza nos olhos do pai. Arrependido e desejando
redimir-se, sai de casa com a sua caixa de engraxar, disposto a trabalhar para
ganhar algum dinheiro, com o objetivo de conseguir comprar um presente para
compensar o pai pela dor que lhe causara.
Deste
modo, enfrenta várias horas de calor, fome, cansaço e frustração, pois não
consegue muitos clientes, em virtude de as ruas estarem quase desertas, só
povoadas pelas crianças que brincavam com os seus presentes novos,
circunstância que acentua mais a sua certeza de que está a ser castigado por
ser ruim. Depois de conseguir muito pouco dinheiro, fruto sobretudo da caridade
de quem percebeu as dificuldades por que Zezé passava (seu Coquinho
compadece-se dele e paga bem pelo serviço; uma senhora rica sensibiliza-se
também e manda o filho dar-lhe dinheiro), encontra Serginho, um colega de
escola de Totoca muito rico, que exibe os seus presentes de Natal (uma bicicleta
nova, uma vitrola, livros e jogos). Ao aperceber-se da tristeza de Zezé,
procura ajudá-lo, convidando-o para sua casa para comer, mas a criança recusa,
lembrando-se de experiências humilhantes passadas. Finalmente, ao saber que
Zezé necessita apenas de dois tostões para algo importante, Serginho
empresta-lhe o dinheiro que falta. O menino aceita, com a condição de pagar
depois, mesmo que com bolas de gude, e corre para comprar um pacote de cigarros
para o pai, que fica muito emocionado com o presente.