Gertrudes
e Ofélia são duas mulheres a viver numa sociedade feita para e dominada por
homens, daí serem sujeitas à opressão e à injustiça. A peça situa-se nos anos
1600, uma época em que às mulheres não era permitido subir ao palco, e a obra
revela as limitações e os preconceitos de que eram vítimas, incluindo as de
origem nobre. Assim, o seu comportamento é condicionado pela sociedade misógina
em que vivem, que lhes dá poucas opções para sobreviver ou prosperar.
Tendo
estes dados em conta, ninguém estranhará que Gertrudes e Ofélia sejam
frequentemente ignoradas e a sua ação / vida condicionada pelos homens e seus
interesses. Os comentários que Hamlet lhes dirige, carregados de acusações,
refletem a misoginia da época e ignoram o facto de elas serem vítimas do meio em
que habitam e necessitarem de tomar decisões que lhes permitam adquirir
segurança num mundo masculino. Gertrudes exemplifica na perfeição este quadro.
Após a morte do marido, casa com o seu irmão (e assassino) e a peça nunca
esclarece o seu grau de envolvimento e o seu eventual conhecimento do crime,
embora se possa deduzir que não participou no crime, não obstante provavelmente
ter conhecimento do plano de Cláudio. É uma hipótese, mas, seja como for,
aquiesceu a casar com Cláudio, possivelmente por recear as consequências de uma
recusa. Afinal, o estatuto de rainha conferia-lhe uma segurança que não estava
ao alcance das demais mulheres. É uma decisão que simboliza a tentativa de
sobreviver numa situação muito precária.
Quanto
a Ofélia, a sua situação não difere muito da de Gertrudes, desde logo porque é
forçada a tomar decisões e a envolver-se em situações que não controla e / ou
não deseja. Cláudio e Polónio usam-na como peão para espiar Hamlet e tentar
descobrir a veracidade e o motivo da sua loucura. Obediente, a jovem segue as
instruções do pai e recusa-se a vê-lo e a falar com ele, o que motiva a ira do
príncipe- Quando o pai é assassinado por Hamlet, perde a sua sanidade. De um
lado, está o seu pai, do outro, o homem que ama. Para acentuar a sua situação
desesperada, tem de enfrentar estes acontecimentos sozinha, pois o irmão está
em França. No final, se entendermos a sua morte como produto de um suicídio.,
seremos levados a concluir que, nesse instante, Ofélia assume o controlo do seu
destino.
Em
suma, Gertrudes e Ofélia vivem uma vida de qualidade superior à das restantes
mulheres, apesar de todos os condicionalismos e opressão a que estão sujeitas,
mas têm plena consciência de que podem perder essa posição social privilegiada
se não cumprirem as expectativas a que o género a que pertencem está sujeito.
Assim sendo, a sua ação é motivada pelo desejo de sobrevivência.
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