Há vários
momentos na peça que desenvolvem a questão da aparência e da realidade. Vários
aspetos, como, por exemplo, a insanidade de Hamlet, as maquinações de Cláudio,
o estado da Dinamarca, não são aquilo que parecem. Hamlet finge estar louco
como estratégia tendente a certificar-se da culpabilidade de Cláudio na morte
do seu pai. Além disso, ataca Ofélia e Gertrudes, orquestra a morte de
Guildenstern e Rosencrantz e acusa a mãe e Polónio de serem falsos.
Por outro
lado, diversas personagens desafiam as balizas entre o que é visto e o que é
real. Quando o fantasma aparece pela segunda vez nos aposentos de Gertrudes,
esta afirma não o conseguir ver, o que levanta a possibilidade de o espectro
ser produto da imaginação de Hamlet, não obstante ele ter aparecido previamente
a outras personagens, ou de Gertrudes estar a esconder algo. Outros casos são
os de Polónio, que dá conselhos que entram em conflito com as decisões que
toma, e de Ofélia, que nega os eu amor por Hamlet por obediências e para
agradar ao pai.
Curiosamente,
ao chegarmos ao final da peça, as personagens transformam-se naquilo que fingem
ser: Gertrudes apresentou-se como uma vítima involuntária e torna-se uma;
Polónio fingiu ser alguém leal, mas a sua morte é genuinamente lamentada pela
corte; Ofélia fingiu ser pura e inocente ao renunciar ao afeto por Hamlet e
acaba por ter um funeral puro, embora se possa questionar se o merece, por
exemplo, caso se tenha suicidado.
Em suma, são
vários os momentos que suscitam as questões da aparência versus realidade
e da verdade versus engano:
. o fantasma pode ser real ou fruto da imaginação de Hamlet;
. Cláudio obteve o poder por meio do engano;
. Polónio dispõe-se a espalhar boatos sobre o filho para
investigar o seu comportamento em França, o que permite questionar o
relacionamento entre pai e filhos;
. a morte de Polónio é fruto do engano, pois Hamlet pensava estar
a matar Cláudio;
. a companhia de atores e o enxerto na peça que representam em
Elsinore, introduzido por Hamlet;
. etc.
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