A
sociedade dinamarquesa norteia-se por um código de valores assente na religião
e na honra aristocrática.
O
fantasma do rei Hamlet exige que o filho do antigo monarca vingue a sua morte e
tal passa pelo assassinato de Cláudio. No entanto, o príncipe hesita ao
refletir sobre as consequências de praticar um crime daquele calibre e acaba
por não agir. Esta postura não sinaliza necessariamente cobardia de Hamlet ou
medo, mas uma reflexão acerca do modo como a vingança e a violência praticada
para restaurar a honra podem não ser a resposta adequada. Estas considerações
são bem exemplificadas pela cena em que Hamlet encontra Cláudio sozinho a orar,
o que configura uma ocasião perfeita para consumar a vingança. Contudo, hesita
e reflete que, se assassinar o tio enquanto ele ora, enviará o assassino do pai
para o céu. Esta reflexão leva Hamlet a reconsiderar o que uma sociedade que glorifica
hipocritamente a vingança e a piedade religiosa espera dele. Em simultâneo, apercebe-se
da artificialidade que caracteriza a sociedade e de que a vingança não casa com
os valores cristãos.
A
parte final da peça mostra um Hamlet a caminhar em direção a um certo niilismo,
reconhecendo que o mundo se caracteriza pela aleatoriedade e pelo caráter
arbitrário de vários padrões da sociedade. As suas reflexões levam-no a
constatar que todos os seres humanos, independentemente do seu estatuto, do seu
poder, da sua classe social, têm o mesmo fim, daí que ignore o conselho de
Horácio para ter cautela quando duelar com Laertes. Essa sua imprudência provém
da perceção de que os códigos morais que ele considerava decisivos não são
aplicáveis e caminham para a irrelevância.
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