A
Dinamarca é frequentemente descrita como um corpo físico adoecido pela
corrupção moral que a tinge e que deriva dos seus soberanos, Cláudio e
Gertrudes. Vários estudiosos da obra de Shakespeare apontam a personagem do
fantasma como símbolo da podridão que se vai entranhando o país. De facto,
quando Marcelo afirma que algo está podre no reino, após avistar o espectro,
está a aludir a uma superstição medieval, segundo a qual a prosperidade de uma
nação está ligada à legitimidade do seu rei. E sabemos que Cláudio não é um rei
legítimo, pois assassinou o seu irmão para usurpar o poder.
Desde
o início da obra, instala-se um sentimento de medo na corte. De facto, quando
Marcelo, Bernardo e Francisco, os três vigias de Elsinore, mostram-se
hesitantes, inquietos e nervosos no momento em que se encontram, por causa da
aparição do fantasma do rei Hamlet no castelo. Da investigação em torno do
porquê desse evento resulta a sensação de que Cláudio assassinou o irmão para
se apossar do trono, sinal de que a corrupção moral e política tomou conta da nação
e, curiosamente, o facto afeta profundamente Hamlet, de tal forma que acaba por
desenvolver uma obsessão pela corrupção física, pela decadência e pela morte.
Essa obsessão traduz os seus medos sobre a deterioração da própria saúde, bem
como o declínio do bem-estar da família e da própria nação.
O
falecido rei Hamlet é retratado como um governante corajoso e forte que governa
um estado saudável, ao contrário de Cláudio, um político manipulador e perverso
que corrompeu e comprometeu a saúde da Dinamarca para satisfazer as suas
ambições políticas. Neste sentido, o desenlace da peça, com a ascensão ao trono
de Fortinbras, simboliza a regeneração e o fortalecimento da nação.
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