A
morte está presente na peça de várias formas: o fantasma do velho rei Hamlet; a
contemplação de Hamlet sobre o suicídio; a performance dos atores de O
Assassinato de Gonzago; a tendência de Hamlet para se vestir de preto; a
morte de Ofélia; os coveiros e o túmulo de Ofélia; a contemplação do crânio de
Yorick; o funeral de Ofélia; as inúmeras mortes do final da obra.
A
morte do pai desencadeia em Hamlet a obsessão pelo tema, levando-o a ponderar
as suas consequências, tanto espirituais, incarnadas pelo fantasma, como
físicas, suscitadas pela contemplação do crânio do antigo bobo e dos cadáveres
em decomposição no cemitério, aquando dos preparativos para o funeral de
Ofélia. Por outro lado, a ideia da morte está conectada com as questões da
espiritualidade, da verdade e da incerteza. Além disso, a morte é tanto a causa
quanto a consequência da vingança, daí que esteja intimamente ligada aos temas
da vingança e da justiça. O assassinato do rei Hamlet às mãos de Cláudio
desencadeia a busca de vingança, constituindo a morte do soberano o fim dessa
procura.
A
sua própria morte atormenta-o igualmente, a partir do momento em que contempla
o suicídio e reflete se constitui ou não uma ação moralmente legítima num mundo
que lhe causa imensa dor. De facto, a dor e o sofrimento do príncipe são tão
intensos que chega a contemplar a morte como solução par pôr fim a esse estado
de alma, porém receia que, se se suicidar, será condenado o sofrimento eterno
no inferno. Convém ter presente que este pensar é determinado pelos princípios
religiosos cristãos.
Outro
momento marcante neste diálogo de Hamlet com a questão da morte é a
contemplação do crânio de Yorick, um antigo bobo da corte cuja inteligência, valor
e atributos físicos o príncipe recorda e constata que a morte levou para
sempre. A passagem do tempo, o envelhecimento, a decadência e a morte são
inevitáveis. Hamlet toma consciência disso, bem como de que se aplica a todos
os seres humanos, independentemente do seu estatuto. Metaforicamente, esta
obsessão pela morte mostra a impotência de Hamlet de impedir o que está a
acontecer e a corromper a Dinamarca. No final, é um líder estrangeiro,
Fortinbras, que assume o trono e o poder no país para o recuperar. A nação teve
que se decompor completamente antes de poder renascer, à semelhança do que
sucede com a carne humana, que se decompõe e nutre o solo.
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