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terça-feira, 18 de dezembro de 2012

América desarmada pelo gatilho fácil

Por Ferreira Fernandes

A MATANÇA na escola de Newtown já teve três respostas fulminantes. A primeira, mais um belo discurso de Barack Obama, como só ele, e até com sinceras lágrimas. A segunda, de Mike Huckabee, ex-candidato a candidato republicano à presidência e atual comentador da Fox, que explicou as causas do tiroteio assim: "Expulsámos Deus das nossas escolas, agora..." E a terceira, com a campanha de assinaturas para que - sentem-se, por favor - para que se acabe não com as armas, mas com a proibição das armas nas escolas. Lógica da Gun Owners of America, a associação de defensores de armas que começou já a recolher assinaturas: se os professores estivessem armados teriam impedido Adam Lanza de atirar. 
Resumindo as três respostas: a América está tramada e só lhe resta esperar pelo ataque seguinte. Se as próximas vítimas forem às centenas e num berçário - isto é, com um salto quantitativo significativo de horror - talvez, mas só talvez, haja uma mudança no maioritário pensar retorcido dos americanos sobre as armas. 
Newtown, 27 mil habitantes, tem uma loja de armas, fica num país com 9369 mortos por tiro, em 2010 (Canadá: 144) e é terra de Adam, 20 anos, que se passeava com duas pistolas, Sig Sauer e Glock, e um rifle de calibre 223 (para caça pesada), legalizadas pela sua mãe, que trabalhava na escola. 
Segundo o desejo da Gun Owners of America, os futuros Adam podem ir buscar as armas ao cacifo da mamã, na própria escola a chacinar. 
Diário de Notícias, 16 de dezembro de 2012

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Victoria Soto


     Victoria Soto, ou simplesmente Vicky, foi uma das vítimas da barbárie ocorrida em NewTon.
     Mas foi muito mais do que isso. Quando se apercebeu da tragédia que se avizinhava, fechou os seus 17 filhos num armário da sala de aula, pedindo-lhes que se mantivessem em silêncio como se de um jogo se tratasse.
     Depois foi entregar-se ao algoz. Antes disse-lhe que as 17 crianças tinham ido para uma aula de ginástica. E, assim, ofereceu a sua vida em troca de 17.

domingo, 16 de dezembro de 2012

Reação do MEC aos resultados do TIMSS e PIRLS

     Confrontado com os resultados avançados nos «posts» infra, o MEC produziu um comunicado, em forma de vómito, que, como muito bem assinalou Paulo Guinote (aqui), desrespeita o trabalho de professores, alunos e pais / encarregados de educação.

     O comunicado é o seguinte: 
«2012-12-11 às 10:09

ESTUDOS INTERNACIONAIS MOSTRAM NECESSIDADE DE MELHORAR CONHECIMENTOS DOS ALUNOS EM MATEMÁTICA E CIÊNCIAS

Foram divulgados os resultados dos estudos Tendências Internacionais no Estudo da Matemática e das Ciências (Trends in International Mathematics and Science Study [TIMSS]) e Progressos no Estudo Internacional de Leitura e Literacia (Progress in International Reading Literacy Study [PIRLS]), realizados pela  Associação Internacional para a Avaliação das Realizações Educacionais (International Association for the Evaluation of Educational Achievement [IEA]). Ambos os estudos foram realizados por alunos do 4.º ano em matemática e ciências e em leitura, respetivamente. O TIMSS foi também aplicado a alunos do 8.º ano, mas Portugal não participou nesta avaliação.
Foi a primeira vez que Portugal participou no PIRLS. Quanto ao TIMSS, Portugal já tinha participado em 1995, numa altura em que a avaliação externa era muito mais reduzida do que é hoje. O País participou nos 3.º, 4.º, 7.º e 8.º anos, e ficou sempre entre os 5 últimos colocados à exceção de ciências no 8.º ano, em que ficou entre os 9 últimos colocados. O País não voltou a participar até 2011.
Nesta edição do TIMSS & PIRLS 2011, no 4.º ano de escolaridade participaram 50 e 45 países, respetivamente. Portugal ficou em 15.º lugar em matemática e em 19.º em ciências e leitura. A pressão por uma maior exigência por parte da sociedade civil, a introdução de uma avaliação continuada, através de provas de aferição no primeiro ciclo, e um maior controle sobre os manuais escolares não foram de certeza indiferentes para estes resultados. 
Ainda assim, em todos os estudos mais de metade dos alunos portugueses não ultrapassam o nível intermédio de benchmark (melhores práticas), o segundo mais baixo em quatro níveis. Quer isso dizer que em ciências estes alunos têm quando muito conhecimentos e compreensão elementares sobre situações práticas, mas não têm domínio suficiente desses conhecimentos; em matemática, podem conseguir aplicar conhecimentos básicos em situações de resolução imediata, mas não têm domínio desses conhecimentos suficiente para resolver problemas; e em leitura, podem ser capazes de fazer inferência direta, mas não tem fluência suficiente de fazer inferências e interpretações baseando-se no texto. Ainda há, portanto, a necessidade de melhorar significativamente estes conhecimentos.
A avaliação externa é um fator fundamental para o progresso de qualquer sistema de ensino. Esta avaliação deve ocorrer sempre em dois níveis: nacional, através da realização de provas finais e exames, e internacional, através da participação em estudos como estes. Em 2012/2013, pela primeira vez os alunos de todos os ciclos de ensino realizam provas finais e exames, que permitem ter um melhor conhecimento do sistema.»

Resultados do PIRLS 2011 - Leitura

     Portugal, com 541 pontos, encontra-se na 19.ª posição entre 45 países, com um registo igual ao da Alemanha, sendo de assinalar, também, o tombo da Suécia, que muitos veem como o modelo a seguir na introdução do cheque-ensino, liberdade de escolha, etc.


     Nesta área, não é possível estabelecer comparações, dado que o nosso país participou unicamente em 2011.

Resultados do TIMSS 2011 - Ciências

     Relativamente às Ciências, Portugal situa-se 22 pontos acima da média, com 522.


     Comparativamente, os alunos portugueses encontram-se, tal como a Matemática, entre o grupo das nações que melhoraram o seu desempenho: + 70 pontos (452 > 522).



Resultados do TIMSS 2011 - Matemática

     Os resultados - quer do TIMSS quer do PIRLS - são apresentados numa escala de 0-1000 com um ponto médio de referência de 500 e um desvio padrão de 100.

     Embora ambos tenham avaliado alunos do 4.º e do 8.º anos de escolaridade, Portugal participou no estudo centrado nos alunos do primeiro ciclo.

     No que diz respeito à Matemática, Portugal obteve 532 pontos, o que o coloca entre os 15 países com melhor desempenho, superando, entre outros, a Alemanha, que a equipa do atual MEC encara como modelo para a introdução do chamado ensino dual entre nós.


     Comparando os resultados de 1995 (data da nossa única participação) com os de 2011, verifica-se que Portugal se encontra no grupo dos que melhoraram o seu desempenho: + 90 pontos (442 > 532).




TIMSS e PIRLS 2011


     Desde o final do século passado que Portugal participa em estudos internacionais que avaliam o desempenho dos alunos em áreas fulcrais do Ensino, como leitura, matemática e ciências.
     O estudo mais conhecido e que tem servido de base para a produção de inúmeros considerandos sobre a qualidade do ensino português é o PISA, programa dirigido a alunos com 15 anos de idade e que tem uma periodicidade de três anos. Os resultados dos alunos portugueses no último PISA - datado de 2009 - podem ser encontrados aqui.
     Outros estudos de âmbito internacional são o TIMSS - Trends in International Mathematics and Science Study -, que se realiza de quatro em quatro anos, e o PIRLS - Progress in International Reading Literacy Study -, com uma periodicidade de 5 anos, tendo ambos como «alvo» os alunos do ensino básico (4.º e 8.º anos).
     Há poucos dias, foram divulgados os dados dos últimos TIMSS e PIRLS, aplicados aos alunos do 4.º ano de escolaridade, que contêm os resultados seguintes:
  • Leitura: 541 pontos - 19.º lugar em 45 países;
  • Matemática: 532 pontos - 15.º lugar em 50 países;
  • Ciências: 541 pontos - 19.º lugar em 50 países.
     A última vez que Portugal tinha integrado estes programas data de 1995. Comparando a variação de resultados de então com os de 2011, verifica-se que o nosso país foi o que mais melhorou a Matemática, passando de 442 para 532 pontos. Na área das Ciências, a melhoria cifrou-se nos 70 pontos.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Da miséria: trabalhar a 43 cêntimos à hora

     A Associação Empresarial de Penafiel contratou quatro desempregados para se vestirem de Pai Natal por 43 cêntimos à hora. Operários da construção civil, trabalham de segunda-feira a domingo e permanecem seis horas e meia por dia em casinhas natalícias espalhadas pelas ruas da cidade, distribuindo balões a quem passa.
     Os sortudos distribuem também afeto, algo que não será fácil para quem recebe 83 euros por 30 dias de trabalho, além dos subsídios de transporte e alimentação e do subsídio de desemprego (que mantêm).
     Parece que, finalmente, vamos ser capazes de competir com as chinas deste mundo.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

A relação Homem / Deuses / Destino

     A relação entre Homem, a divindade e o Destino, na poesia de Ricardo Reis, ocupa um lugar central e é uma relação de subordinação:
          . Homem:
                    » a sua liberdade é condicionada, tem limites;
                    » sente-se fraco e inútil;
          . Deuses:
                    » paganismo;
                    » conceito de deuses;
                    » sobrepõem-se ao ser humano;
          . Destino / Fatum:
                    » é uma ameaça implacável e inexorável que paira sobre o Homem;
                    » situa-se acima do Homem e dos próprios deuses;
                    » dita todas as leis do Universo;
                    » conduz à morte;
                    » é inútil resistir-lhe ou procurar contrariá-lo.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Futurismo

Manifesto de Marinetti

. Origem:
  • Publicação do manifesto «Fundação e Manifesto do Futurismo», na primeira página do jornal Le Figaro, a 20 de fevereiro de 1909, da autoria de Marinetti.
. Linguagem:
  • excessiva, agressiva e violenta, com intuito provocatório.
. Objetivos e ideais:
  • reação à permanência de valores considerados obsoletos;
  • edificação de um futuro caraterizado pela exaltação da técnica e do dinamismo, pela simultaneidade de espaços, de tempos e sensações, pela fusão de expressões artísticas e pela adoção de formas artísticas, particularmente as literárias, que combatem as convenções vigentes.


                O futurismo é um movimento artístico e literário que teve origem no início do século XX e que foi desencadeado pela publicação do texto “Fundação e Manifesto do Futurismo”, na primeira página do jornal Le Figaro, a 20 de fevereiro de 1909, da autoria do poeta italiano Fillipo Tommaso Marinetti, que estudara em Paris e adotara a forma do manifesto do “Manifesto Comunista” de Karl Marx e Engels, datado de 1848. Depois deste texto, foram publicados outros nos anos seguintes que contribuíram para o alastramento das ideias futuristas por toda a Europa.

                O original de Marinetti contém as seguintes premissas:

1. Queremos cantar o amor do perigo, o hábito da energia e da temeridade.
2. A coragem, a audácia e a rebelião serão elementos essenciais da nossa poesia.
3. Até hoje a literatura tem exaltado a imobilidade pensativa, o êxtase e o sono. Queremos exaltar o movimento agressivo, a insónia febril, a velocidade, o salto mortal, a bofetada e o murro.
4. Afirmamos que a magnificência do mundo se enriqueceu de uma beleza nova: a beleza da velocidade. Um carro de corrida adornado de grossos tubos semelhantes a serpentes de hálito explosivo... um automóvel rugidor, que parece correr sobre a metralha, é mais belo que a Vitória de Samotrácia.
5. Queremos celebrar o homem que segura o volante, cuja haste ideal atravessa a Terra, lançada a toda velocidade no circuito de sua própria órbita.
6. O poeta deve prodigalizar-se com ardor, fausto e munificência, a fim de aumentar o entusiástico fervor dos elementos primordiais.
7. Já não há beleza senão na luta. Nenhuma obra que não tenha um carácter agressivo pode ser uma obra-prima. A poesia deve ser concebida como um violento assalto contra as forças ignotas para obrigá-las a prostrar-se ante o homem.
8. Estamos no promontório extremo dos séculos!... Por que haveremos de olhar para trás, se queremos arrombar as misteriosas portas do Impossível? O Tempo e o Espaço morreram ontem. Vivemos já o absoluto, pois criamos a eterna velocidade omnipresente.
9. Queremos glorificar a guerra - única higiene do mundo -, o militarismo, o patriotismo, o gesto destruidor dos anarquistas, as belas ideias pelas quais se morre e o desprezo da mulher.
10. Queremos destruir os museus, as bibliotecas, as academias de todo o tipo, e combater o moralismo, o feminismo e toda vileza oportunista e utilitária.
11. Cantaremos as grandes multidões agitadas pelo trabalho, pelo prazer ou pela sublevação; cantaremos a maré multicor e polifônica das revoluções nas capitais modernas; cantaremos o vibrante fervor noturno dos arsenais e dos estaleiros incendiados por violentas luas elétricas: as estações insaciáveis, devoradoras de serpentes fumegantes: as fábricas suspensas das nuvens pelos contorcidos fios de suas fumaças; as pontes semelhantes a ginastas gigantes que transpõem as fumaças, cintilantes ao sol com um fulgor de facas; os navios a vapor aventurosos que farejam o horizonte, as locomotivas de amplo peito que se empertigam sobre os trilhos como enormes cavalos de aço refreados por tubos e o voo deslizante dos aviões, cujas hélices se agitam ao vento como bandeiras e parecem aplaudir como uma multidão entusiasta.

                Inicialmente, o futurismo era um movimento puramente literário que pretendia «libertar-se das regras da gramática e da sintaxe na celebração dos sons e sensações de um mundo tecnológico futuro». De facto, Marinetti apelava a uma rutura com o passado e com a tradição e, em simultâneo, exaltava um novo estilo de vida, em consonância como dinamismo dos tempos modernos. E procurou fazê-lo através de uma linguagem chocante pela sua agressividade e pelo seu caráter iconoclasta, num tom violento, interpelativo e provocatório presente nos textos futuristas que se fundia num ultimato lançado com fúria a um passado que vigora ainda no presente nas formas estéticas, ideias, crenças e atitudes dominantes, por vezes simbolizadas numa figura pública que urge abater espiritualmente. É o que acontece, em Portugal, com o ManifestoAnti-Dantas, da autoria de Almada Negreiros.
                A partir de 1910, pintores e escultores italianos aderiram ao movimento futurista: Umberto Boccioni, Carlo Carrà, Giacomo Balla, Luigi Russolo e Gino Severini. Nesse mesmo ano, surgiram dois outros manifestos que estabeleceram as bases da estética futurista, exaltando as sensações dinâmicas do mundo moderno, as máquinas, o automóvel, o comboio, o aeroplano, a guerra e a força física, a velocidade, a luz elétrica, etc. Os pintores procuraram expressar, por linhas de força e planos fragmentados e entrecruzados, impressões sensoriais subjetivas e objetivas. Na sua fase inicial, o futurismo apresentava influências do pontilhismo, do cubismo e do orfismo. O simultaneísmo era utilizado para a representação de fases sucessivas do movimento: «Um cavalo em corrida não tem quatro patas mas vinte». Nesse mesmo ano, tiveram início as «Soirées Futuristas», que eram saraus de agitação e propaganda de cunho anarquista, envolvendo diversas formas de arte, durante os quais os futuristas insultavam o público e se agrediam mutuamente, originando tumultos que eram habitualmente encerrados pela polícia e noticiados posteriormente nos jornais.
                Outra das formas de arte influenciadas pelo futurismo foi o cinema, visto então, nos seus primórdios, como uma nova arte de grande alcance expressivo. Marinetti chegou a sugerir a realização de um filme futurista, que viu a luz do dia em 1916, com o título «Vida Futurista», no qual se levantavam questões de âmbito social e psicológico.
                Em fevereiro de 1911, liderado sempre por Marinetti, o grupo de futuristas apresentou-se em Paris, ruidoso, violento e agressivo, onde expôs a sua obra e adquiriu notoriedade internacional. Entre 1911 e 1912, Boccioni e Balla produziram obras totalmente abstratas, procurando, deste modo, representar o movimento e a luz.
                Nos anos seguintes, os futuristas publicaram múltiplos manifestos sobre as várias formas de arte (literatura, pintura, escultura, cartaz e composição tipográfica, música (cujo teórico foi Balilla, que fez tábua rasa da harmonia, defendendo o uso de gritos e barulhos expressivos), cinema, teatro, moda, fotografia, arquitetura e urbanismo (Sant’Elia publicou o «Manifesto Futurista da Arquitetura em 914, onde advogava a segregação dos fluxos pedonais e de trânsito na cidade e onde propunha uma estética visionária e utopista de centrais elétricas e arranha-céus em betão armado que influenciará o Movimento Moderno na arquitetura).
                O movimento futurista chegará ao fim por alturas da Primeira Guerra Mundial (1918), mas as suas características e princípios influenciarão outros movimentos, nomeadamente o dadaísmo suíço e o cubo-futurismo, o suprematismo e o construtivismo na Rússia.

                No plano literário, os traços definidores do futurismo concentram-se «no dinamismo, na exaltação da técnica, na simultaneidade de espaços, de tempos e de sensações, na fusão de expressões artísticas, na dessacralização das poéticas convencionais». A escrita é encarada como um meio de representar a velocidade, a violência, que exprimem o dinamismo da vida moderna, em oposição a formas tradicionais de expressão. Deste modo, rompe-se com a estética literária aristotélica, contesta-se o sentimentalismo e exalta-se o homem de ação. Procura-se, com afã, a originalidade, que Marinetti entrevê no elogio ao progresso, à máquina, ao motor, a tudo o que represente o que é moderno e imprevisto.
                Os poemas de índole futurista caracterizam-se por um conjunto de recursos destinados a abalar o leitor: profusão de exclamações, de apelos, de neologismos criados pela associação inédita de palavras, pelo emprego de termos insultuosos, pela autonomia concedida ao significante linguístico, procurando explorar os efeitos visuais e fónicos das palavras, através da introdução de grafismos no poema, da rutura com a lógica sintática tradicional: longas enumerações de frases nominais, uso do verbo no infinitivo, uso aleatório da pontuação e de maiúsculas. É o que Marinetti defende no «Manifesto Técnico da Literatura de 1912, bem como a abolição de adjetivos, advérbios e conjunções, a supressão do “eu” na literatura e o uso de símbolos matemáticos.

                Por outro lado, o futurismo não esteve, de modo algum, alheado da política. Marinetti, por exemplo, colaborou com Mussolini e o fascismo italiano e fomentou o esplendor da guerra, do militarismo, do nacionalismo e do patriotismo.


                O futurismo português

                O futurismo não se limitou à França e à Itália. No caso português, terá sido o jornal «Diário dos Açores» o único meio de comunicação social a reproduzir o manifesto inicial de Marinetti e a publicar uma entrevista com o autor.
                Posteriormente, Portugal contactou com o futurismo graças a intelectuais lusos que residiam em Paris, concretamente o poeta Mário de Sá-Carneiro, Amadeo de Souza-Cardoso e Santa-Rita Pintor, tendo-se este último assumido como o líder do movimento em solo nacional.
                Os principais textos portugueses de índole futurista são «A Cena do Ódio» (1915), de Almada Negreiros, «Manucure e Apoteose» (195), de Mário de Sá-Carneiro, «Ode Marítima» e «Ode Triunfal» (1915), de Álvaro de Campos, e «O Manifesto Anti-Dantas», de Almada Negreiros, estando muitos deles ligados à publicação da revista “Orpheu”.
                Em 1917, materializou-se o fugaz momento de apoteose do futurismo português, com (1) a primeira Conferência Futurista, realizada a 14 de maio desse ano, onde Almada Negreiros leu o seu «Manifesto Futurista às Gerações Portuguesas do Século XX», com (1) a formação do Comité Futurista de Lisboa ‑ iniciativa de Almada e Santa-Rita – e com (3) o lançamento, em novembro, da revista “Portugal Futurista”, que continha textos de Apollinaire, Almada e Álvaro de Campos e que foi apreendida pela polícia após a publicação do número inaugural por causa do seu caráter provocatório e da polémica e escândalo que gerou.

                Com a morte prematura de Amadeo de Souza-Cardoso e de Santa-Rita Pintor, em 1918, e com a dispersão de outras figuras de proa do futurismo, este movimento acabou por se dissipar.



Fontes:

     » http://www.unknown.nu/futurism/manifesto.html
     » http://www.futurismo.noradar.com/index.htm
     » http://www.slideshare.net/michelepo/futurismo_1298096#btnNext

Alargamento do horário de trabalho dos professores

O Governo prepara-se para alargar o período de trabalho lectivo dos professores no âmbito do aumento do horário da Função Pública de 35 para 40 horas por semana
     O Governo prepara-se para alargar o período de trabalho lectivo dos professores no âmbito do aumento do horário da Função Pública de 35 para 40 horas por semana, a exemplo do que já aconteceu com os médicos. Actualmente, os professores do ensino básico e secundário distribuem o tempo de trabalho semanal entre as salas de aula (22 horas) e reuniões, apoio aos alunos e preparação de aulas (13 horas). A ideia é aumentar o número de horas de aulas que passarão para 27 semanais. 

     O Governo engloba assim os professores na revisão da organização e tempo de trabalho da Função Pública. Uma medida que se ajusta à aproximação das condições dos funcionários do Estado daqueles que trabalham no sector privado.

     No caso dos professores, admite-se que o aumento do número de horas de trabalho lectivo redunde na redução do número de docentes contratados, estimando os sindicalistas que possam ser reduzidos 15 mil contratações. Esta medida justifica-se para toda a Função Pública e os professores não são, naturalmente, excepção. É uma forma de clarificar as necessidades de pessoal nos diferentes sectores e de racionalizar os gastos do Estado que, até aqui, tem estado a financiar com dinheiros públicos, ou seja de todos nós, postos de trabalho fictícios e ir aproximando as condições de trabalho entre o sector privado e a Função Pública. 

     A legislação laboral no nosso país para o sector privado limita o número de horas de trabalho a oito diárias e 40 por semana, mas o limite diário pode ser aumentado até quatro horas e o limite semanal pode atingir as 60 horas por períodos de tempo limitados. A aproximação do tempo de trabalho e das regalias entre os sectores públicos e privado responde à exigência constitucional de igualdade entre todos os trabalhadores.

Fonte: Económico

domingo, 9 de dezembro de 2012

Medina Carreira, ou 'Maus a investigar, bons a enlamear'

Por Ferreira Fernandes
     FRANCISCO Canas tinha um esquema de dinheiro para a Suíça, o que levou a Polícia Judiciária a investigar. Traduzido: a Judite pôs debaixo d'olho o Zé das Medalhas no caso Monte Branco. 
     À polícia dá-se a alcunha da bíblica Judite, o comerciante da Baixa lisboeta passa a ser Zé das Medalhas e a Helvécia esconde-se atrás da sua célebre montanha. E porquê esses biombos? Porque um bom caso policial precisa sempre de mistérios que apimentem a coisa. 
     Agora, sigamos um investigador português dando com o livro escondido do Zé das Medalhas, onde este apontava os seus clientes e verbas. Um livro destes seria lido por qualquer investigador como as mensagens da Rádio Londres eram ouvidas pelos nazis durante a II Guerra Mundial. Se a mensagem era "les sanglots longs des violons...", eles não diziam: "Olha, agora deu-lhes para a poesia de Verlaine!" Desconfiavam: "Aqui há gato...", mesmo não sabendo se persa ou siamês. 
     Da mesma forma, um investigador lendo o nome "Medina Carreira" no livro do Zé das Medalhas desconfiaria. Tentava traduzir aquele código. Um investigador, disse eu. Em geral. Mas se o investigador for português, aí já marra a direito: "Medina Carreira? Olha, o gajo que tem a mania de dar lições." E ia direito a buscas na casa e escritório do "indiciado". 
     Não deu em nada, claro, era mesmo código. Porém, se os investigadores portugueses marram mal, pegam de cernelha bem: os jornais ficaram logo a saber que houve buscas... 
Diário de Notícias, 9 de dezembro de 2012

Os progressos da Educação em Portugal

É igual ao litro (I)


Indecentemente roubado
ao Sorumbático

O engraçadismo e a enfermeira

Por Ferreira Fernandes
     DA AUSTRÁLIA, um duo de engraçadistas profissionais entrou no quarto do hospital londrino de Kate, a mulher do príncipe William. Gravando para uma rádio, a mulher do duo telefonou para a receção e apresentou-se como "a Rainha". A enfermeira Jacintha Saldanha, que recebeu a chamada, nem deu pela pronúncia grosseira, passou o telefonema para o quarto de Kate, onde outra enfermeira, também enganada, forneceu dados sobre a gravidez ducal ou lá o que é. 
     Os australianos gozaram que nem uns perdidos e a casa real protestou. Ontem, Jacintha Saldanha foi encontrada morta; por suicídio, julga a polícia. 
     O engraçadismo vai continuar, é um género cruel e popular, gosta-se sempre de ver gente ridicularizada; e é um género fácil, as vítimas são sempre os mais fracos, mesmo quando parece querer beliscar-se a Rainha quem sai esfolado são enfermeiras (veja-se, ainda, como os nossos "apanhados" televisivos são quase sempre imigrantes ou pobres, nunca poderosos). 
     A casa real britânica vai também continuar a filtrar as notícias pessoais que lhe interessam e a indignar-se com as outras. De novo, neste caso, só o mexilhão que não acolheu o vexame mansamente. 
     Jacintha Saldanha não suportou que se tivessem rido da forma como ela exerceu a sua profissão. É uma surpresa extraordinária, isso de haver gente com pundonor. Olha, pode ser a desculpa dos australianos: como é que engraçadistas iam adivinhar que ainda havia gente assim?

Diário de Notícias, 8 de dezembro de 2012
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